ÁREA
Química Orgânica
Autores
Matos, M.F.P. (UFES) ; Bigui, W.C.C. (UFES) ; Zampilli, J.C. (UFES) ; Costa, A.V. (UFES) ; Queiroz, V.T. (UFES) ; Santos, D.C.M. (UFES)
RESUMO
A endometrite equina pode ser causada por bactérias, fungos ou através da pós- cobertura e o tratamento medicamentoso enfrenta desafios devido à resistência dos microrganismos. Fenóis naturais, como o timol (TIM), mostram potencial bactericida e fungicida e foram incorporados a um complexo, a ciclodextrina, para melhorar suas características. Este trabalho teve como objetivo desenvolver e caracterizar géis contendo TIM-βCD, bem como sua toxicidade in vitro. Foram realizados testes para analisar solubilidade, características da formulação, pH, textura e atividade hemolítica in vitro. A formulação desenvolvida demonstra ser promissora no tratamento da endometrite equina.
Palavras Chaves
Equinos; Monoterpeno; Carbapol
Introdução
A endometrite é uma inflamação do endométrio uterino, sendo uma das principais causas de infertilidade em éguas (WATSON, 2000). Os tratamentos medicamentosos atuais para endometrite enfrentam desafios devido à crescente resistência microbiana (SHARIFZADEH; SHOKRI, 2021). Assim, compostos naturais como o timol (5-metil-2-isopropilfenol) um fenol da classe de monoterpenos oxigenados têm apresentado potencial bactericida e fungicida, além de sinergia com medicamentos para o tratamento de infecções reprodutivas (BASKARAN et al., 2009; SHARIFZADEH; SHOKRI, 2021; PAIANO et al., 2020). Para superar os desafios da alta volatilidade e baixa solubilidade em água desses compostos, o desenvolvimento de complexo de inclusão entre timol e ciclodextrinas (CD), estruturas capazes de aumentar a solubilidade e reduzir a volatilidade dos compostos (LORENZONI, 2021). As ciclodextrinas são capazes de encapsular moléculas, aumentando sua solubilidade em água (LORENZONI, 2021), o que tem implicações importantes para seu uso como adjuvantes em formulações medicamentosas. A administração intravaginal dos complexos timol + β-CD (TIM-βCD) requer a incorporação em um veículo que facilite sua aplicação. Os Carbopóis, polímeros sintéticos do ácido acrílico, formam dispersões aquosas, hidroalcoólicas e com solventes orgânicos devido ao seu alto peso molecular e caráter aniônico (SWEETMAN, 2006). Por outro lado, o Natrosol, derivado da celulose com caráter não-iônico, é solúvel em água devido aos grupos hidroxila presentes na sua estrutura (ARAÚJO, 2019). Realizar testes de estabilidade desses géis é fundamental para monitorar variações em suas propriedades físico-químicas ao longo do armazenamento, garantindo a qualidade do produto.
Material e métodos
O teste para avaliação da solubilidade em água foi realizado com o TIM-βCD e TIM-HPβCD. 0,025 g dos complexos foram pesados e adicionados até 6,8 mL de água, para se obter uma concentração de 20% de complexo. A solução que apresentou a maior solubilidade foi escolhida para ser adicionada nas formulações. Foram desenvolvidas formulações de géis, contendo carbopol em diferentes concentrações. O gel foi preparado dispersando o carbopol no propilenoglicol, adicionando, em seguida, o nipagin, o EDTA e a água. Após repouso de 24 h, a dispersão foi homogeneizada, adicionando o NaOH 1M até o pH 7,0. A estabilidade preliminar das formulações foi avaliada nos tempos de 0, 15 e 30 dias, após armazenagem do produto em temperatura ambiente e sob refrigeração (ANVISA, 2004). Para determinação do pH, as amostras foram diluídas e analisadas com o auxílio de um pHmetro (DIGIMED, modelo DM 22) nos tempos de 0, 15 e 30 dias. A textura foi avaliada com o auxílio de um analisador de textura (BrasEq - CT3/ CTX Brookfield), através de uma sonda analítica com diâmetro de 10 mm, a uma taxa de 2,0 mm/s e a uma profundidade de 15 mm (TUĞCU-DEMIRÖZ; ACARTÜRK; ÖZKUL, 2015). Os parâmetros analisados foram: dureza, adesividade, coesividade e elasticidade.
Resultado e discussão
O TIM-βCD foi pouco solúvel em água, enquanto o TIM-HPβCD solubilizou-se
facilmente graças aos grupos 2-hidroxipropil presentes (LOFTSSON et al., 2005).
Os géis de Carbopol a 1% com 20% de TIM-HPβCD (C20) e Carbopol a 1% (C0)
apresentaram características satisfatórias em relação ao odor, cor e aspecto da
superfície e textura, durante os 30 dias à temperatura ambiente (C20A).
Entretanto, sob refrigeração (C20R) o gel apresentou leve modificação da
aparência, contendo grumos na análise de 30 dias. O pH desses géis na formulação
foram avaliados ao longo dos 30 dias (Tabela 1).
O pH intravaginal de éguas normalmente possui um valor médio de 7 (FRAGA et al.,
2008). Em situações como a presença de microrganismos infecciosos pode haver
redução do pH entre 5,5 e 6,0 (LEBLANC; CAUSEY, 2009). Durante o teste de
estabilidade, observou-se que o valor do pH das formulações variou entre 6,0 e
6,2 demonstrando estabilidade ao longo dos dias. As propriedades mecânicas dos
géis com TIM-HPβCD na presença e ausência do complexo no decorrer de 30 dias,
estão presentes na Tabela 2.
A análise de textura é útil para avaliar o comportamento dos géis após a adição
do complexo TIM-HPβCD. Devido a imprevistos ocorridos não foi possível analisar
as propriedades mecânicas no dia 30 para o C20G. Entretanto, os géis C20G
apresentaram valores elevados de adesividade, coesividade e elasticidade aos 15
dias quando comparado ao C20A, caracterizando-se adequadamente para aplicação na
mucosa vaginal das éguas. Estes parâmetros são responsáveis pela ligação do gel
à superfície da mucosa e pela capacidade do gel de se reconstruir após a
aplicação (TUĞCU-DEMIRÖZ; ACARTÜRK; ÖZKUL, 2015).
Conclusões
A solubilidade do TIM-βCD é inferior ao TIM-HPβCD. O gel de carbopol com TIM-HPβCD se manteve estável frente a análises sensoriais e físico-químicas. Entretanto, testes como a eficácia microbiológica ainda devem ser realizados. O gel contendo TIM-HPβCD apresenta uma inovação no tratamento de mucosa vaginal. O TIM-HPβCD é capaz de minimizar efeitos colaterais do TIM puro. Este estudo se torna relevante na capacidade de modular a ação do timol, tornando-a uma opção terapêutica eficaz e segura para melhorar a saúde reprodutiva das éguas.
Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPES e à CAPES, por todo apoio financeiro fornecido. Os autores agradecem também aos pesquisadores do PPGAQ e do GEAPS-UFES-CNPq pela orientação recebida.
Referências
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia de Estabilidade de Produtos Cosméticos. 1ª edição. Brasília, 2004. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/cosmeticos/manuais-e-guias/guia-de-estabilidade-de-cosmeticos.pdf/view.
ARAÚJO, Arthur Tadeu Freitas de Almeida. Produção e caracterização de polieletrólitos catiônicos derivados da celulose. 2019. 28f. Dissertação (Mestrado em Química) - Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Química de Minas Gerais, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2019.
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LORENZONI, Priscila de Oliveira. Atividade antimicrobiana de fenóis naturais contra microrganismos isolados do trato genital de éguas. 2021. 52p. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, 2021.
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SWEETMAN, S. C. Martindale: Guia Completa De Consulta Farmacoterapeutica. 2. ed., p. 2950, Barcelona, Pharma Editores, 2006.
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WATSON, E. D. Post-breeding endometritis in the mare. Animal Reproduction Science, v. 60-61, n. 1, p. 221-232, 2000.