Autores
Santos, H.B.T. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)  ; Araújo, J.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)  ; Marinho, C.V.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)  ; Lima, A.H.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)
Resumo
A enzima PcEST, do fungo Penicillium chrysogenum, apresenta um enorme potencial 
na indústria farmacêutica, pois atua na conversão da catálise da lovastatina em 
monacolina J, precursora na produção de sinvastatina, droga redutora do 
colesterol. Este trabalho tem como objetivo avaliar a estabilidade da enzima 
PcEST mutantes, através de Métodos de dinâmica molecular. Os resultados 
mostraram que a mutação D106A apresentou um complexo proteína-ligante com maior 
afinidade, o que está de acordo com os resultados experimentais. Ademais a 
dinâmica molecular demonstrou que a mutação D106A é mais ativa devido as muitas 
interações efetivas. Entretanto a mutação W344K, exibiu a perda de interações 
durante a dinâmica molecular com os principais resíduos localizados no sítio 
ativo da enzima PcEST. 
Palavras chaves
Dinâmica molecular; PcEST; Sinvastatina
Introdução
As doenças cardiovasculares (DCV) configuram uma das principais causas de morte 
no mundo e de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) 17,9 milhões de 
pessoas morrem a cada ano, sendo aproximadamente 32% de todas as mortes no mundo 
(WHO, 2022). Dentre os principais fatores de risco para a doença cardiovascular 
que podemos destacar está a hipercolesterolemia, doença responsável por elevar 
as taxas de colesterol no sangue. O colesterol é um precursor dos hormônios 
esteróides e um elemento essencial da membrana celular, contudo, a regulação 
alterada da síntese, absorção e excreção do colesterol predispõe a doenças 
cardiovasculares de origem aterosclerótica (ZARATE et al., 2016).
Em uma das formas de se combater esta enfermidade, utiliza-se a sinvastatina 
sigla IUPAC, [(1S,3R,7S,8S,8aR)-8-[2-[(2R,4R)-4-hydroxy-6oxooan-2-yl]ethyl]-3,7-
dimethyl-1,2,3,7,8,8a-hexahydronaphthalen-1-yl] 2,2-dimethylbutanolenate (Figura 
1), fármaco semissintético fabricado através da lovastatina, metabólito 
secundário produzido pelo fungo Aspergillius terreus. A sinvastatina pertence à 
classe de fármacos inibidores da hidroximetilglutaril-coenzimaA (HMG-CoA) 
reductase, este medicamento tem como função atuar na redução significativa do 
mau colesterol, LDL (Low Density Lipoprotein), bem como dos triglicérides 
(substância gordurosa). A sinvastatina também aumenta os níveis do bom 
colesterol, HDL (High Density Lipoprotein), no sangue, reduzindo os níveis de 
doenças cardíacas relacionadas à hipercolesterolemia (XIE; TANG, 2007).
Entretanto, seu processo de produção é complexo, trabalhoso, caro e prejudicial 
ao meio ambiente, pois são utilizados uma alta concentração de reagentes ácidos, 
alcalinos e orgânicos em sua formação. Desta forma, a biossíntese enzimática 
utilizando uma hidrolase específica de lovastatina é uma das formas alternativas 
para a produção sustentável de sinvastatina (LIANG; LU., 2020).
Neste âmbito a química medicinal se propõe a estudar as razões moleculares da 
ação dos fármacos, a relação estrutura química e a atividade farmacológica, 
incluindo o planejamento e o desenho estrutural de novas substâncias que possuam 
propriedades farmacoterapêuticas úteis capazes de representarem novos fármacos 
(BARREIRO; FRAGA, 2021). Desta forma, o desenvolvimento de enzimas na 
biossíntese de sinvastatina tem auxiliado na descoberta de novos candidatos a 
fármacos.
Deste modo, a PcEST, enzima do fungo Penicillium chrysogenum, apresenta um 
enorme potencial na indústria farmacêutica, haja vista que possui a função de 
hidrolisar a cadeia lateral da lovastatina para produzir monacolina J, principal 
precursor para a síntese de sinvastatina, fármaco importante para o tratamento 
da hipercolesterolemia (XIE; TANG, 2007).
Contudo, estudos relatam que a enzima PcEST apresenta baixa solubilidade e 
termoestabilidade (LIANG et al, 2018). As posições de alta flexibilidade das 
proteínas podem afetar a solubilidade e/ou diminuem sua termoestabilidade, uma 
vez que elevam a entropia durante o desdobramento de proteínas, aumentado a 
quantidade de conformações desdobradas (FANG et al., 2014; LIANG; LU., 2020; 
MALAKAUSKAS; MAYO., 1998; YAINOY et al., 2019).
Nesta perspectiva, este trabalho tem como objetivo simular a enzima PcEST, 
através da avaliação de estabilidade, por meio dos métodos computacionais de 
dinâmica molecular, em busca de entender a atividade catalítica da enzima PcEST, 
deste modo agregando informações para aumentar a sua resistência nessas 
condições e contribuir para a produção de Monacolina J e consequentemente para a 
síntese de sinvastatina. As informações obtidas a partir de sua análise serão de 
suma importância para a conjectura de novas variantes da enzima PcEST propostas 
para futura síntese e ensaios biológicos
Material e métodos
Inicialmente, após a busca de dados na literatura foi obtida a estrutura 
tridimensional da enzima PcEST do fungo Penicillium chrysogenum, pelo banco de 
dados de proteína (PDB) com o código 6KJD (LIANG; LU, 2020). Para a preparação 
dos sistemas utilizou-se a enzima PcEST em complexo com o substrato Lovastatina. 
As mutações constituíram na produção de sete mutações, são elas: D106A, D131A, 
S57A, W344F, W344K, Y127A, Y127F, conforme a literatura.
Para o preparo das estruturas utilizou-se o servidor PDB2PQR. Os estados de 
protonação foram atribuídos pelo programa PROPKA à pH 7.0. Para o preparo do 
substrato utilizou-se a lovastatina presente na estrutura cristalográfica com o 
código pdb (6KJD), as cargas da lovastatina foram calculadas no programa 
Gaussian 09, utilizando o método Hartree-Fock com o conjunto de base 6-31G*. 
Com o intuito de investigar a estabilidade da enzima PcEST realizou-se a 
simulação de dinâmica molecular utilizando o programa Amber18 (CASE et al, 
2005). Utilizou-se o módulo tLeap para criar os arquivos de entrada para a 
simulação de DM, o campo de força Amber ff14SB (KAMENIK et al., 2020) foi 
utilizado para descrever o conjunto de átomos da enzima. Em seguida, o sistema 
foi solvatado em uma caixa de formato cúbico representada pelo modelo de água 
TIP3P com tamanho 12 Å entre o limite da caixa e os átomos do sistema usando 
condições periódicas de contorno. Íons de Na+ foram incluídos no intuito de 
preservar a eletroneutralidade do sistema.
A Dinâmica molecular envolve quatro etapas: minimização de energia, aquecimento, 
equilíbrio e simulação de dinâmica de produção (YE; LI; HU, 2021). Primeiramente 
todas as moléculas de água e contra íons foram minimizadas por 8000 ciclos, logo 
após todos átomos de hidrogênio da enzima foram minimizados por 3000 ciclos 
utilizando o método steepest-descent seguido de 2000 ciclos de gradiente 
conjugados, os átomos de hidrogênio das moléculas de água foram minimizados por 
8000 ciclos, por último todo sistema foi minimizado por 5000 ciclos com 
steepest-descente e 5000 ciclos de gradiente conjugado totalizando 10000 ciclos.
Após a minimização, iniciou-se o aquecimento do sistema utilizando o termostato 
de Langevin, através de 200 picossegundos de dinâmica molecular com o objetivo 
de aquecer o sistema gradativamente de 0 a 303,15 K (30 ºC). Todos os sistemas 
foram equilibrados para iniciar a etapa da produção de 500 ns de DM com ensemble 
NPT à pressão de (1atm) e temperatura de (303,15 K) constantes. Para diferenciar 
as interações de longa distância utilizou-se o raio de corte (cutoff) de 8, 0 Å. 
O algoritmo SHAKE (SONG et al., 2019) foi empregado para restringir as ligações 
envolvendo átomos de hidrogênio mantendo-os em suas distâncias de equilíbrio 
pré-definidas durante as minimizações possibilitando utilizar um passo de 
integração de 2 fs para realização dos cálculos de DM.
Resultado e discussão
A amostragem foi obtida para os sistemas mutantes para avaliar parâmetros 
estruturais e energéticos dos sistemas de estudo. No estudo acerca da enzima 
PcEST, a presença das mutações (D106A, D131A, S57A, W344F, W344K, Y127A e Y127F) 
podem desempenhar uma função estrutural relevante em relação a estabilidade e 
dinâmica.
As evoluções das conformações nos sistemas foram analisadas através do desvio 
médio quadrático (do inglês, Root Mean Square Deviation  − RMSD), bem como da 
flutuação quadrática média (do inglês, Root Mean Square Fluctuation −RMSF) de 
cada estrutura com relação à estrutura de referência do passo de equilíbrio, 
calculado após o alinhamento baseado nos átomos da espinha dorsal.
Figura 1,  mostra o gráfico RMSD, em que o receptor é representado na cor preto, 
o complexo pela cor vermelha e os ligantes representados por suas respectivas 
cores. Por meio da análise o gráfico RMSD exibe uma variação estável nos 
sistemas D106A, D131A, S57A, W344F, Y127A e Y127F, onde os valores RMSD de todos 
os complexos encontravam-se dentro de uma flutuação aceitável em uma faixa de 1 
a 3Å indicando o alcance do equilíbrio estrutural destes sistemas. 
Conquanto, o sistema W344K apresentou uma elevada variação, de acordo o gráfico 
RMSD, com variação de 1 à 10 Å, apontando a instabilidade neste sistema ao longo 
da simulação de dinâmica molecular, além disso a mutação Y127A sofreu uma 
elevada oscilação ao longo da DM, no entanto permaneceu estável dentro dos 3 Å. 
Deste modo, a partir da visualização das estruturas apresentadas nas trajetórias 
é possível notar um elevado movimento do complexo com a mutação W344K, quando 
comparado as demais mutações, que apresentaram oscilações moderadas.
Os resultados alcançados com o gráfico RMSF apontam sentidos semelhantes entre 
todos os sistemas. Os resíduos que possuem maiores valores de flutuação se 
encontram na região C-terminal Através do estudo é possível observar que as 
flutuações relevantes encontram-se presentes na região de loop R2 (127-153), com 
oscilação que se aproxima à 5 Å, e loop R1 (222-248), com flutuações próximas a 
4 Å. As regiões N-terminais formam diferentes oscilações, enquanto as regiões C-
terminais formaram flutuações semelhantes com flutuação que chega próximo à 6 Å.
Observou-se que os ligantes apresentaram interações de hidrogênio diferente uma 
das outras. Ademais, conforme os resultados obtidos, as interações de hidrogênio 
mais estáveis presentes no sítio catalítico da proteína envolvem os resíduos 
presentes no Loop R1 das enzimas mutantes. Estudos apontam a importância dos 
loops R1 (resíduos 222-248), R2 (resíduos 127-153) e R3 (resíduos 290-319) ao 
redor do sítio catalítico, pois são capazes de determinar a abertura e o fundo 
da bolsa de ligação ao substrato, respectivamente, atuando como uma trava para 
abertura do túnel de ligação do ligante (LIANG; LU., 2020).
Por meio das análises realizadas, verificou-se que todos os sistemas apresentam 
divergências em suas interações de hidrogênio, em virtude de suas mutações. A 
mutação D106A formou interação com o resíduo Glu242, o mutante D131A apresentou 
interação com o resíduo Ser58, já o mutante S57A, formou interação de hidrogênio 
com o resíduo Gly348. Os mutantes W344F e W344K não apresentaram interações de 
hidrogênio significativas. A mutação Y127A, apresentou uma ligação de hidrogênio 
com o resíduo Arg139. O mutante Y127F apresentou interações com os resíduos 
Ser58 e Tyr171. Ademais, verificou-se que os resíduos Gly348, Phe130 e Phe310 
contribuem na estabilidade do ligante lovastatina devido à formação de 
interações de van der Waals.
Ademais, foi realizado um estudo de análise energética, nesta análise, utilizou-
se os últimos 100ns de simulação de Dinâmica Molecular dos sistemas mutantes 
para os cálculos de energia livre de ligação proteína-ligante usando o método  
SIE . Na análise energética utiliza-se uma parte da trajetória em que os 
intervalos estabelecidos (últimos 100ns) foram selecionados. Sendo utilizados 
10.000 frames com intervalo igual a 2, resultando em 5.000 frames para o 
cálculo. 
O método utilizado foi capaz de predizer a afinidade de ligação de todos os 
sistemas. Empregando a abordagem SIE, foi possível obter os seguintes valores de 
energia, -8,48 kcal/mol para o mutante D106A, com melhor afinidade e -2.82 
kcal/mol para o mutante W344K de menor afinidade.

Representação do gráfico RMSD da simulação de Dinâmica Molecular.

Representação do Gráfico RMSF ao longo da simulação de dinâmica molecular.
Conclusões
Neste estudo, empregamos a dinâmica molecular e cálculos de energia livre de 
ligação para fornecer insights sobre s estabilidade da PcEST, Enzima responsável 
pela hidrólise da lovastatina em Monacolina J, principal precursora na síntese 
de sinvastatina. De acordo com os nossos resultados a mutação D106A apresentou o 
complexo proteína-ligante (∆G bind) com maior afinidade o que está de acordo com 
os resultados experimentais que o representam com maior estabilidade em termos 
de termoestabilidade e solubilidade. Entretanto, a mutação W344K, exibiu menor 
afinidade devido o rompimento das interações de hidrogênio, bem como a perda 
interações durante a simulação de dinâmica molecular com os principais resíduos 
localizados no sítio ativo da enzima PcEST
Nossos resultados apresentaram que essa alta afinidade deve-se à relativa alta 
no número de interações com os resíduos-chave nos sítios ativos da enzima, em 
especial Ser58, Phe130, Tyr171, Phe310, Trp345 e Gly348. Além disso os resíduos 
Phe 130 e Phe310 formam empilhamentos pi com o anel naftaleno da lovastatina, 
apresentando forte interações de van der Waals. Portanto, este estudo permite 
uma interpretação molecular das principais interações que ocorrem entre a enzima 
PcEST e seu substrato lovastatina, contribuindo assim para uma melhor análise e 
compreensão dos processos catalíticos desse alvo biológico e auxiliando no 
processo de novos candidatos a fármacos. Espera-se que os resultados aqui 
relatados possam ser úteis para  agregar informações para aumentar a sua 
resistência nessas condições e contribuir para a produção de Monacolina J e 
consequentemente para a síntese de sinvastatina. Deste modo, as informações 
obtidas a partir de sua análise serão de suma importância para a conjectura de 
novas variantes da enzima PcEST propostas para futura síntese e ensaios 
biológicos.
Agradecimentos
Agradeço à toda equipe LPDF (laboratório de planejamento e desenvolvimento de 
fármacos) pelo suporte e ensinamentos, ao programa PPGQMMM, à Fapespa pela bolsa 
de pesquisa e a meus familiares e amigos pelo apoio e incentivo.
Referências
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