• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

INVESTIGAÇÃO COMPUTACIONAL DA FORMAÇÃO DE COMPLEXOS E ESTABILIDADE DAS MUR LIGASES DE STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE.

Autores

Marinho, C.V.S. (UFPA) ; Santos, A.M. (UNICAMP) ; Araújo, J.O. (UFPA) ; Santos, H.B.T. (UFPA) ; Lima, A.D.N. (UFPA) ; Lima, A.H.L. (UFPA)

Resumo

A estabilidade entre os complexos de proteínas Mur é essencial para se conhecer as possíveis conformações contínuas que os heterodimeros podem assumir em meio biológico. Foram estudadas por meio de Ancoragem e Dinâmica molecular as conformacões adotadas para cada dímero formado pelas Mur ligases sendo eles MurC:MurF e MurD:MurF. A ancoragem molecular foi feita com base em diferentes servidores e algoritmos para a formação de cada dimero. A dinâmica molecular analisou a estabilidade em 50ns de simulação, separando os melhores servidores e conformações correspondentes. Concluímos que o servidor AlphaFold foi o melhor para o dimero MurC:MurF e o servidor Gramm-X foi o melhor para o dimero MurD:MurF. Com isso separa-se que seja possível a determinação futura do dímero nativo das Mur ligases.

Palavras chaves

Dinâmica Molecular; Complexos Binários; Mur Ligases

Introdução

O Streptococcus pneumoniae é o principal organismo causador da doença “pneumonia” adquirida entre crianças e adultos no mundo, causando milhões de mortes por ano e contando com um custo financeiro alto para o controle da doença (MICHELIN et al., 2019). As enzimas Mur são responsáveis pela síntese dos lipídios I e II presentes no peptidoglicano (PG) um dos principais componentes da parede celular responsável pela estrutura e estabilidade da célula (LADDOMADA et al., 2016). Neste trabalho analisamos a atividade entres as enzimas Mur do patógeno humano Streptococcus pneumoniae R6, com a finalidade de investigar a estabilidade estrutural entre os complexos formados pelas enzimas MurC:MurF e MurD:MurF (MIYACHIRO et al., 2019). A estabilidade entre as proteínas Mur é essencial para se conhecer as possíveis conformações contínuas que o heterodimero estudado pode assumir em meio biológico. Estudos utilizando métodos de química computacional como a homologia de estruturas, a docagem molecular e simulações de Dinâmica Molecular (DM) têm se mostrado promissores na prospecção de compostos multi-alvos na biossíntese de PG (KUMARI; SUBBARAO, 2021), espera-se que os resultados possam contribuir para o planejamento racional de fármacos multi- alvos e ratificar a importância e potencial da polifarmacologia, principalmente no tratamento de doenças bacterianas (BARREIRO et al., 1997).

Material e métodos

A homologia das estruturas foi feita após a obtenção da sequência de aminoácidos (FASTA) de cada enzima depositadas no banco de dados Protein Data Bank e foi realizado o alinhamento entre o organismo existente a cada enzima e o organismo alvo no servidor BLAST que fez alinhamento a partir da comparação de dados selecionados resultando em sequências FASTA ranqueadas de acordo com a similaridade com o organismo alvo. A modelagem das proteínas foi feita no Swiss-Model (WATERHOUSE et al.,2018) que a partir da FASTA submetida realiza a modelagem comparativa gerando os modelos de cada proteína e o Alpha Fold que combina as informações presentes da sequência de aminoácido das proteínas para prever a estruturas das cadeias (EVANS et al. 2021). Para a realização da docagem molecular foram utilizados diferentes servidores online: Haddock no qual agrega sete interfaces diferentes associada a um nível de controle sobre o protocolo de encaixe refletido (VAN ZUNDERT et al. 2016), FireDock que utiliza um método de refinamento das proteínas e as classifica de acordo com a energia livre de ligação de cada uma (MASHIACH et al. 2008), Gramm- X que utiliza a melhor correspondência entre a superfície das enzimas usando a correlação pelo método de FFT (TOVCHIGRECHKO AND VAKSER. 2006), MdockPP que faz uso de uma previsão hierárquica estrutural das proteínas também por meio de método FFT e faz uma Avaliação Crítica de Predição de Interações (XU et al. 2016). A DM foi realizada em etapas, uma na qual descartamos os complexos menos estáveis fazendo uma simulação de 20ns. Em seguida, continuou a simulação partindo dos 20ns até 50ns para a análise da manutenção do número das ligações de hidrogênio (JANDOVA et al. 2021). O pacote AMBER foi utilizado para o preparo e a execução das simulações (CASE et al. 2005). O campo de força ff14SB foi utilizado para construir a topologia e os parâmetros dos sistemas proteicos. O módulo tLeap foi usado para solvatar o sistema em uma caixa cúbica com água explícita do tipo TIP3P. Foram realizadas 4 etapas de minimização: a primeira minimizando a água e os contra íons em um total de 8000 ciclos, a segunda minimizando o complexo proteico em um total de 5000 ciclos, a terceira minimizando o complexo proteico e a água em um total de 4000 ciclos e a quarta minimiza todos os componentes em um total de 10000 ciclos. Em seguida, foi realizada a etapa de aquecimento dos sistemas gradualmente de 0 a 298 K utilizando o termostato de Langevin para o controle de temperatura com um tempo de simulação a 200 ps, continuando com a equilibração mantendo a temperatura constante em 298 K utilizando o barostato Berendsen.

Resultado e discussão

A Construção dos modelos foi feita a partir do Swiss-model que gerou estruturas tridimensionais de cada proteína modelada, essas estruturas foram validadas a partir da análise do gráfico Ramachandran que mostrou a porcentagem de configurações prováveis de 94,01% para MurF, 92,38% para MurC e 97,38% para MurD. O Alpha Fold foi usado para a construção dos complexos direto pela sequência obtida no BLAST sem a necessidade de uma docagem posterior, e a sua validação mostrou 96.80% de configurações prováveis para os dois complexos. Para os complexos MurC:MurF e MurD:MurF, a melhor docagem em questão de alinhamento em comparação foi à do servidor Haddock. Os complexos resultante da docagem molecular foram comparados com a ferramenta "Matchmaker" que alinha as poses carregadas no programa UCSF Chimera e foi obtido um resultado inesperado pois o alinhamento de todos os servidores juntos cada pose localizou-se em um local diferente da proteína, mostrando que mesmo com parâmetros diferentes não houve poses em domínios iguais, assim análise seguiu para classificar qual servidor gerou o complexo que seria o mais estável, através de uma análise da estabilidade de cada um a partir da DM. A produção de 20 ns de DM foi analisada com o cálculo de RMSD (do inglês: Root Mean Square Deviation) para cada sistema, que calcula o desvio dos átomos dos complexos com base em uma estrutura de referência, a partir desse cálculo foram gerados gráficos que auxiliaram a avaliação da estabilidade de cada complexo proveniente da docagem molecular depois da DM. Desde a primeira fase da DM percebeu-se que os complexos com o maior número de ligações de hidrogênio (LH) entre elas as proteínas eram aqueles com maior estabilidade. O servidor FireDock obteve uma instabilidade muito grande para os dois complexos: MurC:MurF e MurD:MurF, assim ele foi descartado devido a sua elevada movimentação durante as simulações e não obter LH entre o complexo significativa. Para o complexo MurC:MurF a primeira fase nos mostrou que os servidores MDock, AlphaFold e Gramm-X eram os mais estáveis. O servidor Haddock se mostrou instável no início da simulação, no entanto obteve com uma pequena estabilidade no final, para avaliar de fato essa possível estabilidade foi necessário a continuação da simulação, passando-o assim para segunda fase de DM. Na segunda simulação os servidores Alpha Fold, Haddock e MDock foram os melhores complexos pois mantiveram e aumentaram as LH entre as proteínas assim aumentando sua estabilidade. Para um melhor refinamento do melhor servidor, foi comparado entre três melhores resultados o desvio padrão das distâncias dos átomos obtido a partir do gráfico RMSD, assim o melhor resultado seria aquele com o menor valor do desvio padrão. O complexo de MDock obteve 1,01 σ de desvio padrão e foi o mais elevado em comparação aos outros dois que obtiveram um valor de desvio padrão semelhantes para o Haddock um valor de 0,69 σ e para o AlphaFold um valor de 0,51 σ. Nos servidores Haddock e AlphaFold foram os mais estáveis após a finalização da produção de DM. Para o complexo MurD:MurF a primeira simulação de DM mostrou que dois servidores obtiveram uma instabilidade muito grande: Alpha Fold e FireDock. O resultado do Alpha Fold foi surpreendente, pois foi o servidor mais instável da DM, sem nenhuma LH entre as proteínas ao fim da simulação. Os servidores Mdock, Gramm-x e Haddock foram os melhores respectivamente nesta fase da DM. Na segunda fase de simulação obtivemos o MDockPP como melhor resultado justamente por ser o servidor mais estável e com um desvio de 0,28 σ seguido apenas pelo Gramm-X que resultou em um desvio de 0,41 σ iniciando a simulação com uma estabilidade aceitável e terminando com um pico de instabilidade relativamente grande.

RMSD-DF

a estabilidade dos servidores a partir da dinâmica molecular para o complexo MurD e MurF.

RMSD-CF

A estabilidade dos servidores a partir da dinâmica molecular para o complexo MurC e MurF.

Conclusões

Os resultados refinaram a busca pela conformação mais estável dos heterodimeros formados pelas Mur ligases. A ancoragem molecular nos mostrou as possíveis conformações estruturais que cada dímero poderia assumir, resultando em várias poses com certa semelhança para cada dimero, vale ressalta que para o complexo MurC e MurF as poses ficaram uma em cada domínio da proteína diferente do heterodimero MurD e MurF que somente um complexo se posicionou em um domínio proteico diferente. A dinâmica molecular avaliou o início da estabilidade de cada dímero resultando em 2 conformações possivelmente estáveis para cada sistema

Agradecimentos

Agradeço a toda a equipe do LPDF ( laboratório de planejamento e desenvolvimento de fármacos) pela ajuda e ensinamentos, ao programa de iniciação científica da UFPA pela bolsa de pesquisa e os meus amigos e família pelo apoio.

Referências

BARREIRO, ELIEZER J., “Modelagem Molecular: Uma Ferramenta Para o Planejamento Racional De Fármacos Em Química medicinal.” Química Nova, vol.20, no. 3, june 1997. pp. 300-310,10.1590/s0100-40421997000300011;

CASE, D. A. et al. The Amber biomolecular simulation programs. Journal of Computational Chemistry, v. 26, n. 16, p. 1668–1688, 2005;

EVANS, RICHARD, et al. Protein Complex Prediction with AlphaFold-Multimer. 4 Oct. 2021, 10.1101/2021.10.04.463034;

JANDOVA, ZUZANA, et al. “Native or Non-Native Protein–Protein Docking Models? Molecular Dynamics to the Rescue.” Journal of Chemical Theory and Computation, vol. 17, no. 9, 3 Aug. 2021, pp. 5944–5954,10.1021/acs.jctc.1c00336;

KUMARI, MADHULATA, AND NAIDU SUBBARAO. “Deep Learning Model for
Virtual Screening of Novel 3C-like Protease Enzyme Inhibitors Against
SARS Coronavirus Diseases.” Computers in Biology and Medicine, vol. 132,
no. 1,May 2021, p. 104317, 10.1016/j.compbiomed.2021.104317. Accessed 18
Apr. 2021;

LADDOMADA, FEDERICA, et al. “Structural Insights into Protein-Protein Interactions Involved in Bacterial Cell Wall Biogenesis.” Antibiotics, vol. 5, no. 2, 28 Apr. 2016, p. 14, 10.3390/antibiotics5020014;

MICHELIN, L. et al. “Mortalidade e custos da pneumonia pneumocócica em adultos: um estudo transversal”. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 45, 17 out. 2019;

MIYACHIRO, MAYARA M., et al. “Complex Formation between Mur
Enzymes from Streptococcus Pneumoniae.” Biochemistry, vol. 58, no. 30, 2
July 2019,pp. 3314–3324, 10.1021/acs.biochem.9b00277;

MASHIACH, EFRAT, et al. “An Integrated Suite of Fast Docking Algorithms.” Proteins: Structure, Function, and Bioinformatics, vol. 78, no. 15, 6 July 2010, pp. 3197–3204, 10.1002/prot.22790;

TOVCHIGRECHKO, A., AND I. A. VAKSER. “GRAMM-X Public Web Server for Protein-Protein Docking.” Nucleic Acids Research, vol. 34, no. Web Server, 1 July 2006, pp. W310–W314, 10.1093/nar/gkl206;

VAN ZUNDERT, G.C.P., et al. “The HADDOCK2.2 Web Server: User-Friendly Integrative Modeling of Biomolecular Complexes.” Journal of Molecular Biology, vol. 428, no. 4, Feb. 2016, pp. 720–725, 10.1016/j.jmb.2015.09.014;

WATERHOUSE, ANDREW, et al. “SWISS-MODEL: Homology Modelling of Protein Structures and Complexes.” Nucleic Acids Research, vol. 46, no. W1, 21 May 2018, pp.W296–W303, 10.1093/nar/gky427;

XU, XIANJIN, et al. “Performance of MDockPP in CAPRI Rounds 28-29 and 31-35 Including the Prediction of Water-Mediated Interactions.” Proteins: Structure, Function, and Bioinformatics, vol. 85, no. 3, 2 Dec. 2016, pp. 424–434, 10.1002/prot.25203.

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau