Autores
Sousa, E.J.R. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS MARACANAÚ) ; Oliveira, M.M.R. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS MARACANAÚ) ; Teixeira, J.P.O. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS MARACANAÚ) ; Ribeiro, J.A.S. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS FORTALEZA) ; Freitas, C.R. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS MARACANAÚ) ; Araujo, R.S. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS FORTALEZA) ; Salgado, B.C.B. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ, CAMPUS MARACANAÚ)
Resumo
O aumento da demanda energética mundial durante as próximas décadas tem pressionado o desenvolvimento de outras fontes de energia. O H2 é um destaque frente à essa crescente demanda. O desenvolvimento de rotas alternativas de síntese é essencial a uma nova economia a base de H2 e nesse contexto a fotocatálise é importante. Este trabalho tem por objetivo avaliar um sistema de produção de H2 sob uma metodologia de otimização utilizando catalisadores bimetálicos. O planejamento avaliou o efeito das variáveis: % Cu, concentração de glicerina e pH inicial sobre o volume e taxa de evolução de H2. Resultados de otimização promissores foram obtidos com o catalisador Cu0,6/Ni0,4; em pH = 7,0 e 15,54% de glicerina, com volume produzido de H2 de 10,67 mL e taxa de evolução de 5.795,9 μmol/g.h
Palavras chaves
Hidrogênio; fotocatálise; otimização
Introdução
É esperado o aumento da demanda energética mundial em 35% durante os próximos 20 anos, decorrente do crescimento econômico dos países em desenvolvimento. O iminente esgotamento dos combustíveis fósseis e as crescentes exigências por políticas voltadas à sustentabilidade têm incentivado a maior oferta de fontes renováveis de energia mais eficientes para suplementar tais demandas (CHAUDRY; BAHRI; MOHEIMANJI, 2015; JOHSON; KJARSTAD, ROOTZÉN, 2019). O H2 é uma das principais alternativas complementares aos derivados do petróleo, com capacidade de servir aos setores industrial, de transporte e para abastecimento doméstico. O H2 como fonte de energia não produz CO2 após combustão, o principal gás de efeito estufa (SANTOS, et al., 2020). Cerca de 120 Mt de H2 são produzidos anualmente, o que equivale a cerca de 14,4 EJ ou 4000TWh, das quais cerca de 95% são produzidos a partir do gás natural e carvão. Hidrogênio é um combustível cuja relação custo-eficiência tem potencial de beneficiar a economia dadas suas características físico-químicas que o tornariam competitivo frente a outras fontes energéticas (KAKOULAKI, et al.,2021; ABE, et al., 2019).O uso extensivo do H2 atualmente enfrenta dificuldades pela disparidade de seu preço quando comparado às matrizes energéticas tipicamente empregadas, o que o torna menos competitivo principalmente pela ausência de tecnologias compatíveis. Schenckery et al. (2020) traçaram um plano cujas políticas de incentivos tornam o H2 rentável, o qual se baseia no desenvolvimento de um eixo tecnológico baseado na certificação da redução da emissão de CO2 por um equivalente de H2 produzido e a redução dos riscos de investimentos por implementação tecnológica a base de hidrogênio. Como principal fonte de H2, a reforma de CH4 é responsável pela emissão anual de até 830 milhões de toneladas de CO2 e CO. Atualmente, a principal tecnologia limpa empregada para produção de H2 envolve a eletrólise com fontes solar e eólica, e de maneira complementar, a produção de H2 por fotocatalisadores é uma alternativa renovável e promissora (SERPONE, 2000; AMETA, 2018).Quando irradiados por fótons de energia adequada, os fotocatalisadores assumem estado de excitação, podendo realizar reações catalíticas. O ganho de energia promovido pela luz gera o deslocamento do elétron excitado (e-) para a banda de condução (CB), deixando uma lacuna (h+) na banda de valência (VB), formando sítios de redução e oxidação, respectivamente (Fig. 1). Grande parte dos pares e-/h+ irão se recombinar, no entanto, uma migração superficial poderá iniciar uma série de reações com as espécies químicas adsorvidas sobre o catalisador (ACAR; DINCER; ZAMFIRESCU, 2014; FAJRINA; TAHIR, 2019).O TiO2 é um material promissor para aplicação em estudos fotocatalíticos de evolução de H2, no entanto a elevada band-gap (3,2 eV) limita a separação de H2O sob luz visível. Reações não espontâneas como a redução de CO2 e a evolução de H2 tendem a gerar acúmulo de cargas sobre a superfície de fotocatalisadores, o que acelera a recombinação dos pares. Modificações sobre a estrutura de TiO2 possibilitam melhor desempenho do sólido, como o controle de morfologia, modificação superficial, heterojunção, dopagem e deposição de cocatalisador (LIU et al., 2022; TAHIR, 2019; ZHONG, et al., 2021). Alguns metais nobres ou óxidos metálicos, como: Pt, Pd, Au e Ag, RuOx e IrOx apresentam excelente atividade fotocatalítica para evolução de H2, no entanto a escassez e custo são obstáculos para aplicações em larga escala e, portanto, o uso de metais menos nobres é recomendado (LIAO, et al., 2012; BAI, et al., 2014).Metais atuantes como cocatalisadores aumentam o tempo de separação entre os pares eletrônicos gerados sobre a superfície de TiO2, gerados a partir das mudanças na estrutura eletrônica do semicondutor. O efeito sinérgico da combinação de metais decorrente de diferentes sítios ativos em ligas metálicas geralmente apresenta características eletrônicas, ópticas e fotocatalíticas superiores àquelas verificadas em partículas monometálicas (XIAO et al, 2019).Han et al. (2021) avaliaram o efeito das ligas bimetálicas de Ru e Ni sobre g-C3N4 na produção de H2. Os resultados mostraram aumento da atividade de g-C3N4, que na forma pura apresentou taxa de geração de H2 de 310 μmol.g-1.h-1. Em contrapartida, a combinação de Ru e Ni eficientemente produziram cerca de 35.100 μmol.g-1.h-1 de H2. Os resultados dos materiais bimetálicos se mostraram superiores à atividade dos monometálicos, correspondentes a 230 μmol H2.g-1.h-1 para o Ni e 10.960 μmol H2.g-1.h-1 para o Ru. Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo avaliar o potencial de cocatalisadores bimetálicos a base de Cu e Ni em reações fotocatalíticas para produção de H2.
Material e métodos
Reagentes Álcool metílico e glicerina foram fornecidos pela Êxodo Científica. Cu(NO3).3H2O foi adquirido da Dinâmica e Ni(NO3).6H2O foi fornecido pela Alphatec, ambos sem qualquer processo adicional de purificação. H2SO4 e NaOH foram adquiridos da Dinâmica, também sem qualquer processo adicional de purificação. O TiO2 P25 utilizado foi fornecido pela Evonik®. Síntese dos catalisadores A dopagem bimetálica foi realizada por fotodeposição em sistema de múltiplas reações simultâneas (M.R.S) sob patente BR 1020210170980 (Figura 2). Para a síntese, aproximadamente 500 mg de TiO2 foram misturados a 25 mL de metanol e volumes adequados das soluções estoques de Cu e Ni (ambas 0,1 M). O percentual de metal total foi mantido em 1% com razão variável de Cu e Ni. A mistura foi mantida sob agitação a 160 rpm por 2 h, seguida de irradiação por lâmpada xênon (300 W) por 3 h. O sólido resultante foi submetido a lavagem e separado por centrifugação e finalmente seco em estufa a 80°C por 24 h. O material obtido foi denominado TiO2 – Cux1.Ni(1-x1), onde x1 e (1-x1) são os percentuais de Cu e Ni em relação ao total de dopante (1,0%), respectivamente. Produção fotocatalítica de H2 Para os estudos de otimização do sistema foi empregado um planejamento fatorial do tipo estrela de três partes: fatorial, axial e pontos centrais. As variáveis empregadas estão destacadas na Tabela 1. O volume de H2 produzido (mL) e a taxa de evolução de H2 (H2 Evolution Rate, HER, μmol.g-1.h-1) foram definidos como respostas experimentais de interesse. Os ensaios catalíticos foram realizados em duplicata e estão descritos na Tabela 2.As reações foram conduzidas por 3 h em reator M.R.S usando vials com soluções de glicerina e catalisador (1,0 g.L-1 ) para um volume reacional de 25 mL. A temperatura de reação foi mantida constante em 35°C ± 2°C com auxílio de um ventilador cooler. O pH das soluções foi ajustado com emprego de soluções aquosas 0,01 M de H2SO4 ou NaOH. Análise do H2 produzido O H2 foi quantificado utilizando um cromatógrafo gasoso (Trace 1310, da Thermo) equipado com coluna Carboxen 1010 PLOT e detector de condutividade térmica (TCD). O tempo de corrida foi mantido em 6 min com fluxo constante de gás de arraste de N2 a 20,0 mL.min-1, fluxo do gás de referência de 1,0 mL.min-1 e polaridade negativa. A temperatura do injetor foi mantida em 200°C e a temperatura do forno em 50°C. O detector foi mantido com temperatura de 230°C e o filamento a 380°C.
Resultado e discussão
A Tabela 2 destaca a matriz de experimentos e os resultados de evolução de H2 e sua taxa de evolução (HER, μmol.g-1.h-1) para catalisadores os bimetálicos TiO2 – Cux1.Ni(1-x1)empregados.A priori, os experimentos fotocatalíticos realizados confirmam que o método de síntese utilizado se mostrou eficiente para a evolução de H2, haja vista a atividade fotocatalítica superior em relação ao TiO2 puro (< 1,0 mL) nas mesmas condições experimentais. Em relação a razão Cu/Ni, os testes 1 e 2 mostram que o aumento do percentual de Cu, de 20 para 80%, em relação ao total de metais desempenha efeito positivo para a produção de H2, com incremento de 6,22 para 10,18 mL e elevação da taxa de evolução de H2 em 66,3%. No entanto, sob 80% de Cu, pode ser observado que o aumento do pH do meio reacional (de 5,0 a 9,0) reduz significativamente a eficiência de geração de H2, como indicado nos experimentos 2 e 4. Preliminarmente, pode-se assumir que a relação pH e proporção % de Cu, quando aumentadas simultaneamente, afetam negativamente a produção de H2. Com o aumento de pH, a diferença dos potenciais de oxidação – redução de H+/H2 e o nível de Fermi nos sítios Cu/Ni tende contra a evolução de H2 (Tian et al., 2015). Empregando Ni a 80% (experimentos 1 e 3), observa-se que mesmo que o pH seja aumentado de 5,0 a 9,0, o efeito é pouco significativo para a evolução de H2, ocorre apenas um leve aumento da produção de H2 de 6,22 para 6,50 mL com a taxa de evolução de gás incrementada de 3.338,8 para 3.502,9 μmol.g-1.h-1 (4,9%). Os resultados demonstram que um maior conteúdo de Ni garante maior estabilidade do potencial de oxidação/redução do catalisador no intervalo observado (5,0 a 9,0) para a evolução de H2 (ZHANG, et al., 2019). A análise de variância (ANOVA) para a otimização da evolução de H2 está apresentada na Tabela 3 (fatores significativos em negrito). Os resultados encontrados indicam que o modelo gerado é eficiente para descrever a produção fotocatalítica de H2. O valor de R2 de 0,8932 é elevado para este tipo de aplicação (KADIER et al., 2022), sendo capaz de explicar 89% da variabilidade para a produção de H2. A qualidade do ajuste do modelo também é validada pelo valor de R2Ajustado (> 0,70), o que indica a adequação dos fatores significativos ao modelo obtido e explica cerca de 73% da variabilidade observada na produção de H2. O teste F para a regressão dos dados mostra valores de p inferiores a 0,05 para a dosagem de Cu e pH (quadrático), indicando significância satisfatória para os níveis dos fatores escolhidos (Chen et al., 2014). A Figura 3 apresenta o gráfico de Pareto do planejamento fatorial, incluindo os fatores significativos do modelo para a evolução de H2, bem como o efeito padrão de cada fator e suas interações. Os fatores x1, x12 e x22 apresentam as maiores contribuições (17,71%, 16,18% e 28,09%), respondendo por aproximadamente 62% sobre a resposta experimental. Como esperado, o incremento da proporção % de Cu apresenta uma contribuição positiva entre os efeitos, indicando que o aumento de x1 em 0,3% em relação ao total de dopante contribui em 17,71% sobre o total de H2 produzido. Em contrapartida para as variáveis quadráticas x1 e x2, são observadas significâncias negativas para a evolução de H2. Os valores indicam que o aumento nas variáveis x1 e x2 acima de um valor ideal reduzem a evolução de H2 de 16,18 e 28,09%, respectivamente, conforme pode ser visto na Figura 3. A partir do modelo de regressão otimizado, a evolução de H2 pode ser descrita com nível de confiabilidade de 95% pela Equação 1, onde 9,40642 é o intercepto, x1 é o percentual de Cu em relação ao total de dopante e x2 é o pH inicial. A Figura 4 mostra que os dados previstos estão em concordância com os valores experimentais (R2 = 0,8856). Quando comparado ao R2Ajustado, a diferença apresentada é inferior a 0,2 indicando boa adequação do modelo (KUMAR et al.,2016). Assim, a equação de regressão pode ser usada para prever satisfatoriamente evolução de H2 a partir das condições experimentais utilizadas. A superfície de resposta para a produção de H2 sobre os catalisadores bimetálico usando a glicerina como substrato está apresentada na Figura 5. A Figura 5 mostra que sob baixo conteúdo de Cu (0,2%) e alto percentual de Ni (0,8%) a produção de H2 é limitada a um volume inferior a 7,0 mL quando a reação ocorre em meio ácido (5,0 a 6,6). Volumes de H2 superiores a 9,0 mL são alcançados nos intervalos de Cu de 0,56 a 0,68 % para valores de pH inicial entre 6,6 e 7,0 o que indica o efeito sinérgico das composições de Cu e Ni nas condições reacionais empregadas (SPANU et al., 2018). O desempenho dos catalisadores nas condições otimizadas do sistema pode ser verificado a partir dos resultados dos pontos críticos destacados na Tabela 4. Os dados obtidos neste trabalho sugerem que a metodologia adotada é eficiente para a produção de H2 e resultados promissores quando comparados a outros trabalhos da literatura. Sawar, Tahir e Alias (2022) utilizaram g-C3N4 dopado com ligas bimetálicas de Ni – Ag e obtiveram uma taxa máxima de evolução de H2 de 2.137,5 μmol.g-1.h-1. Li et al. (2020) avaliaram o ZnCdS modificado com ligas de Ni – Co e obtiveram cerca de 3.500 μmol.g-1.h-1. Ambos os trabalhos apresentaram taxas de evolução de hidrogênio inferior ao reportado no presente estudo.
Figura 1, Figura 2, Tabela 1 , Tabela 2, Equação 1.
Tabela 3, Figura 3, Figura 4, Figura 5, Tabela 4.
Conclusões
A escolha das condições experimentais se mostrou eficiente para a elaboração de um modelo matemático capaz de descrever o sistema fotocatalítico, apresentando ajuste dos experimentos superiores a 89%. A metodologia de síntese também pode ser considerada eficiente, como verificado a partir do aumento significativo da atividade de TiO2 quando dopado com Cu e Ni. Os resultados de produção de H2 para os catalisadores bimetálicos são promissores e demonstram que há grande potencial para o aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas pesquisas de componentes bimetálicos para evolução fotocatalítica de hidrogênio.
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio financeiro da Fundação Cearense de Apoio Científico e Tecnológico (FUNCAP) por meio do projeto Produção Sustentável de Hidrogênio Verde a partir de resíduo de biomassa e radiação solar,Edital Nº 6/2020
Referências
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