• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DAS ZEÓLITAS REY E USY NA PIRÓLISE CATALÍTICA DE POLIETILENO E RESÍDUO PLÁSTICO PARA A MAXIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE NAFTA

Autores

Mesquita, K. (UFRJ) ; Pacheco, H. (UFRJ) ; Pinto, J.C. (UFRJ)

Resumo

Os desempenhos das zeólitas REY e USY foram avaliados na pirólise catalítica de polietileno e resíduo plástico, visando à obtenção do maior rendimento de líquido e seletividade para hidrocarbonetos leves na faixa C5-C12. Por meio do estudo, foi observado que o aumento da temperatura da etapa catalítica contribuiu para o maior craqueamento dos produtos e rendimento da fração C5-C12, embora reações de aromatização sejam simultaneamente favorecidas, resultando na diminuição da qualidade do óleo de pirólise. Ao comparar os resultados para polietileno e resíduo, identificou-se que o rendimento de líquido foi pouco afetado pelos contaminantes presentes no lixo. Contudo, os teores das frações C5-C12 diminuíram, sobretudo para a zeólita USY, embora tenha apresentado um líquido com melhor qualidade

Palavras chaves

Reciclagem Química; Pirólise Catalítica; Plásticos

Introdução

Por apresentarem características como versatilidade, leveza, resistência, durabilidade e baixo custo, os materiais plásticos oferecem soluções para incontáveis necessidades da sociedade, sendo atualmente praticamente impossível viver sem eles. Diante das consequências dos impactos ambientais gerados no planeta pelas ações humanas, a preocupação com o meio ambiente vem crescendo nos últimos anos. Nesse cenário, os plásticos são vistos como um dos principais vilões, em especial por conta do acúmulo em lixões e aterros sanitários, transtornos urbanos, poluição de ecossistemas e baixa biodegradabilidade. No entanto, considerando as inúmeras aplicações e demanda crescente, o problema gerado no meio ambiente pelos plásticos está associado principalmente à destinação pós-consumo inapropriada e não ao material em si, como muitos proclamam. Isso revela um dos problemas ambientais mais urgentes a serem solucionados nos tempos atuais: o que fazer com o resíduo plástico produzido? Podemos assumir uma postura melhor do que deixar nosso lixo e os impactos gerados por ele como herança para as futuras gerações? Apenas 9 % de todos os resíduos plásticos já produzidos no mundo foram reciclados, cerca de 12 % foram incinerados, enquanto os 79 % restantes se acumularam em aterros, lixões ou ambiente natural. Se não houver mudança nos padrões de consumo atuais e a implantação de práticas de gestão de resíduos, em 2050 estudos apontam que haverá cerca de 12 bilhões de toneladas de plástico acumulados em aterros sanitários e no meio ambiente (UNEP, 2018). Alternativas mais sustentáveis, como o reaproveitamento e os processos de reciclagem, podem contribuir com a redução da geração de resíduo plástico e da demanda por matéria-prima virgem para a produção de novos materiais, além de permitir a redução do consumo de energia e das emissões de CO2 (DUAILIBE, DELGADO e PINTO, 2019). Dentre as técnicas de reciclagem química, a pirólise constitui uma alternativa promissora para a destinação dos resíduos plásticos. Tal processo consiste na decomposição térmica controlada das cadeias poliméricas a elevadas temperaturas e na ausência de oxigênio, convertendo o material pirolisado em três frações principais de produtos: sólido, líquido e gás (WAMPLER, 2006). A utilização da pirólise em escala industrial para a conversão dos resíduos plásticos em outros compostos de alto valor agregado está sujeita a alguns desafios, como: qualidade da matéria-prima, segregação dos materiais, operações dos reatores, estabilidade e padronização dos produtos finais (ARMENISE et al., 2021). Diante desse cenário, a busca por melhores conversões, padronização e qualidade dos produtos pode ser muito beneficiada pelo uso de catalisadores. A temperatura do processo constitui o parâmetro principal de influência sobre a distribuição dos produtos obtidos da pirólise térmica. Já a pirólise catalítica envolve também a atividade do catalisador adotado e sua seletividade para os produtos de interesse, o que pode contribuir para a obtenção de produtos com maior valor agregado. Além disso, o uso de catalisadores pode afetar a temperatura ótima requerida para o processo e levar à diminuição do tempo característico de operação (DALIGAUX, RICHARD e MANERO, 2021). Catalisadores ácidos favorecem reações de craqueamento, contribuindo, assim, para a produção de frações líquidas mais leves e maior produção de gás, em comparação com a pirólise térmica. Em geral, o líquido produzido nos processos de pirólise na presença de catalisadores ácidos apresenta uma composição rica em hidrocarbonetos leves semelhante à da nafta petroquímica, o que justifica o amplo interesse no estudo desses materiais (DALIGAUX, RICHARD e MANERO, 2021). Dentre os materiais de caráter ácido estudados como catalisadores no processo de pirólise de plásticos, as zeólitas se destacam, pois favorecem maior seletividade na distribuição dos produtos obtidos, como consequência de suas propriedades de acidez e porosidade (LOPEZ et al., 2017). Na literatura, são encontrados vários trabalhos que avaliam o desempenho de materiais como HZSM-5, HUSY, Hβ e HMOR. Porém, percebe-se que, embora a pirólise catalítica se apresente como uma alternativa interessante para contribuir para a solução da problemática da destinação dos resíduos plásticos, ainda há muito o que explorar na busca por soluções para desafios como a redução do consumo de energia no processo, redução do custo e aumento da disponibilidade de catalisadores mais ativos, seletivos, resistentes à desativação e de fácil regeneração. Assim, o presente trabalho pretende avaliar o desempenho das zeólitas REY e USY na pirólise catalítica de plásticos, visando à obtenção de maiores rendimentos da fração líquida e maiores seletividades para a produção de hidrocarbonetos leves na faixa da nafta petroquímica (C5-C12).

Material e métodos

Os materiais adotados como catalisadores no trabalho foram a zeólita REY, que consiste em uma zeólita Y contendo terras raras como cátions de compensação em sua estrutura, e a zeólita USY, forma ultraestabilizada da zeólita Y. Para a caracterização das propriedades físico-químicas dos catalisadores, foram adotadas as técnicas de fisissorção de N2, para determinação de propriedades texturais, e dessorção a temperatura programada de amônia (TPD-NH3), para quantificação dos sítios ácidos. Os desempenhos dos catalisadores estudados foram avaliados por meio de ensaios de pirólise realizados em modo ex-situ, ou seja, com a etapa catalítica ocorrendo separadamente da etapa de degradação térmica. Desse modo, apenas os vapores oriundos da etapa térmica entram em contato com o catalisador. Tal modelo de operação possibilita o melhor controle da temperatura na etapa catalítica, buscando favorecer a atividade do catalisador e a seletividade para os produtos desejados. No processo estudado, o material plástico foi convertido em quatro frações classificadas como: gás (hidrocarbonetos leves não condensáveis), líquido (espécies condensáveis), sólido (material remanescente não degradado na etapa térmica) e material retido no catalisador (mistura de coque depositado, água e produto retido). As condições operacionais de temperatura da etapa de degradação térmica, tempo de reação, razão catalisador/alimentação e vazão de N2 foram fixadas em 500 °C, 30 min, 1/1 e 80 mL/min, respectivamente (MIRANDA, 2016; AL-SALEM, 2019; KUMAR e SINGH, 2013). Foram realizados ensaios de pirólise utilizando amostra industrial virgem de polietileno de alta densidade (PEAD), variando a temperatura da etapa catalítica em 350 °C, 400 °C, 450 °C e 500 °C, visando a identificar a condição que favorecesse o maior rendimento da fração líquida com composição rica em hidrocarbonetos leves na faixa de C5-C12, com maior teor de olefinas e parafinas e menor formação de aromáticos. Em seguida, foram realizados ensaios de pirólise com resíduo plástico real triturado e seco, proveniente da coleta seletiva de resíduo sólido urbano da cidade de Carapicuíba-SP, adotando as melhores condições de temperatura identificadas na etapa anterior. Também foram realizados experimentos de reação com PEAD e resíduo plástico na ausência de catalisador, para fins de comparação com os resultados da pirólise catalítica. A composição química da fração líquida proveniente dos ensaios de pirólise foi determinada por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC- MS). Já os hidrocarbonetos leves presentes na fração gasosa foram identificados por cromatografia gasosa. Os rendimentos das frações de sólido, líquido e gás foram obtidos por balanço de massa dos componentes da unidade de operação antes e após a reação. Já o teor de material retido no catalisador foi determinado pela diferença de massa do catalisador pós-reação antes e após ser submetido ao tratamento térmico de 900 °C por 3 h.

Resultado e discussão

A densidade de sítios ácidos obtida por TPD de amônia foi de 2671 µmol NH3/g e 124 µmol NH3/g para as zeólitas REY e USY, respectivamente, indicando a maior acidez da zeólita REY. Por meio dos ensaios de variação da temperatura da etapa catalítica utilizando PEAD (Fig. 1a) e a zeólita USY como catalisador, foi observado que o rendimento da fração de líquido diminuiu com o aumento da temperatura e que a quantidade de gás aumentou, indicando que temperaturas mais elevadas favoreceram o craqueamento das espécies em produtos mais leves não condensáveis (C1-C4). A fração de material retido no catalisador diminuiu com o aumento da temperatura e isso está possivelmente associado ao tipo de coque formado e à maior retenção de produtos no catalisador quando se opera a temperaturas menores. Já a zeólita REY apresentou pouca variação de rendimento para as temperaturas de 350 °C e 400 °C e uma descontinuidade de tendência no rendimento de líquido para a temperatura de 450 °C em comparação com 500 °C, sendo a condição de 450 °C a que apresentou o menor rendimento de líquido e a maior produção de gás. Já o teor de material retido no catalisador apresentou pouca dependência com a temperatura. Com base na análise da composição do líquido por distribuição do número de carbonos (Fig. 1b), foi possível observar a tendência dos catalisadores ácidos de favorecer o craqueamento das espécies oriundas da etapa térmica, ao comparar os resultados das reações de pirólise catalítica com os de pirólise realizada na ausência de catalisador. Além disso, identificou-se que o aumento da temperatura da etapa catalítica favoreceu o maior rendimento da fração C5-C12. Ao especificar e agrupar as espécies químicas presentes no líquido (Fig. 1(c- j)), observou-se que, embora as temperaturas mais elevadas favoreçam o maior craqueamento, tais condições reacionais também contribuem para a maior formação de aromáticos em detrimento de parafinas e olefinas, sendo esses últimos produtos mais desejados industrialmente. Assim, com base nos resultados obtidos de rendimento de líquido, fração C5-C12 e formação de olefinas e parafinas em detrimento a aromáticos, os ensaios variando a temperatura da etapa catalítica mostraram que as condições que melhor favoreceram os produtos de interesse foram 400 e 350 °C para os catalisadores REY e USY, respectivamente. A avaliação do desempenho dos catalisadores adotando o resíduo plástico proveniente da coleta seletiva de resíduo sólido urbano mostrou que ambas as zeólitas foram capazes de favorecer um rendimento de líquido muito próximo do obtido com o polímero virgem (Fig. 2a). Também foi observado que, embora a zeólita REY tenha favorecido um líquido com maior teor de aromáticos (Fig. 2e e 2f), seu rendimento da fração C5-C12 (35%) em comparação com a USY (26%) foi maior (Fig. 2b). Ao comparar os rendimentos da fração C5-C12 nas reações com PEAD e resíduo, percebeu-se que o efeito de craqueamento provocado pelos catalisadores foi afetado. Isso possivelmente ocorreu devido à influência de contaminantes presentes no resíduo. Além disso, foi observada a formação de álcoois na composição do óleo da pirólise, o que se deve à presença de água e contaminantes oxigenados na composição do resíduo plástico. Por meio da análise das frações gasosas (Fig. 2g), verificou-se a tendência da zeólita USY favorecer a maior formação de propeno, enquanto a zeólita REY contribuiu para a maior produção de propano, em comparação com a pirólise térmica conduzida com PEAD. Já nos ensaios utilizando o resíduo plástico, foi observado que a zeólita USY praticamente não afetou a composição do gás, ao comparar dados dos produtos obtidos na ausência de catalisador, ao passo que a zeólita REY continuou favorecendo a maior formação de propano.

Figura 1

(a) Rendimento dos produtos, (b) composição do líquido por distribuição de número de carbonos e (c- j) por grupos químicos para as reações com PEAD.

Figura 2

(a) Rendimento dos produtos, (b) composição do líquido por faixa de número de carbonos e (d-f) por grupos e (g) composição do gás para o resíduo.

Conclusões

Com base dos ensaios de pirólise utilizando PEAD para avaliar os desempenhos dos catalisadores REY e USY como função da temperatura da etapa catalítica, constatou- se o impacto desse parâmetro no rendimento dos produtos da pirólise, assim como na composição do líquido, o que permitiu selecionar as condições que melhor favoreceram os produtos de interesse: 400 °C para a REY e 350 °C para a USY. No presente trabalho também foi evidenciado que, embora afetados pela presença de contaminações contidos no resíduo plástico proveniente do resíduo sólido urbano, os catalisadores avaliados favoreceram o craqueamento das espécies e maior rendimento da fração C5-C12 em comparação com a pirólise térmica. Isso reforça que, ao serem utilizados na pirólise catalítica, tais materiais constituem alternativas interessantes capazes de contribuir para a tratativa do problema da destinação do resíduo plástico, possibilitando convertê-lo em novas matérias- primas de alto valor agregado.

Agradecimentos

Os autores agradecem a COPPE/UFRJ, o apoio financeiro concedido pela CAPES, CNPq e FAPERJ e o apoio técnico da Braskem e Petrobras, em relação às amostras de polímero e catalisador, respectivamente.

Referências

AL-SALEM, S. M. Thermal pyrolysis of high density polyethylene (HDPE) in a novel fixed bed reactor system for the production of high value gasoline range hydrocarbons (HC). Process Safety and Environmental Protection, 2019. 171-179.

ARMENISE, S.; SYIELUING, W.; RAMÍREZ-VELÁSQUEZ, J. M.; LAUNAY, F.; WUEBBEN, D.; NGADI, N.; MUÑOZ, J. R. M. Plastic waste recycling via pyrolysis: A bibliometric survey and literature review. Journal of Analytical and Applied Pyrolysis, v. 158, 2021.

DALIGAUX, V.; RICHARD, R.; MANERO, M.-H. Deactivation and Regeneration of Zeolite Catalysts Used in Pyrolysis of PlasticWastes - A Process and Analytical Review. Catalysts, v. 11, 2021.

DUAILIBE, A.; DELGADO, J. J. S.; PINTO, J. C. Reciclagem Química de Resíduos Plásticos: Tecnologias e Impactos. 1ª. ed. Rio de Janeiro: E-papers, 2019.

KUMAR, S.; SINGH, R. K. Thermolysis of High-Density Polyethylene to Petroleum Products. Journal of Petroleum Engineering, 2013.

LOPEZ, G.; ARTETXE, M; AMUTIO, M.; BILBAO, J.; OLAZAR, M. Thermochemical routes for the valorization of waste polyolefinic plastics to produce fuels and chemicals. A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 73, 346–368, 2017.

MIRANDA, D. M. V. D. Degradação térmica e catalítica dos polímeros poli(acrilonitrila-co-butadieno-co-estireno) (ABS) e poliestireno de alto impacto (HIPS) oriundos de resíduos eletroeletrônicos. UFRJ/COPPE. Rio de Janeiro. 2016.

UNEP. Single-Use Plastics: A Roadmap for Sustainability. UNEP - United Nations Environment Programme. 2018.

WAMPLER, T. P. Applied Pyrolysis Handbook. 2ª. ed. CRC Press, 2006.

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