• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

ADIÇÃO DE FIBRAS E ÓLEO VEGETAL PARA MELHORAMENTO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DE BRIQUETES VISANDO SUA APLICAÇÃO NA SIDERURGIA

Autores

Vieira, J.S. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Rodrigues, M.R.M. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; e Santos, J.C.S. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Pereira, V.F. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Pereira, A.R. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Macedo, A.E.P. (IFMA-CAMPUS MONTE CASTELO) ; Cesário, V.M. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Moraes, D.S. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA)

Resumo

O setor siderúrgico é o maior consumidor de carvão vegetal visando a produção de ferro-gusa. Os objetivos deste trabalho foram produzir briquetes a partir de resíduos de carvão vegetal, caracterizá-los termomecanicamente e investigar a viabilidade de sua aplicação na siderurgia. À massa base dos briquetes foram incorporados fibras de cana-de-açúcar e óleo de copaíba. Os briquetes foram caracterizados físico-químicamente em termos de resistência mecânica. Os corpos de prova apresentaram boas propriedades mecânicas e energéticas, tornando viável sua aplicação na siderurgia. A briquetagem produz um combustível renovável, permite o aproveitamento de resíduos de biomassa e promove o desenvolvimento socioeconômico, a redução dos impactos ambientais e geração de emprego e renda.

Palavras chaves

Biomassa; Resíduos; Briquetes

Introdução

O carvão vegetal, ou carvão de biomassa, é produzido a partir da madeira pelos processos de carbonização ou pirólise (SAMI et al., 2001). Ele é uma forma de energia renovável de expressiva importância no Brasil, uma vez que o nosso país é o maior produtor mundial desse insumo, com aproximadamente um quarto da produção mundial, seguido de países como Etiópia, Nigéria e Índia (BAILIS et al., 2013). O uso industrial do carvão vegetal ainda é largamente praticado, sendo quase a totalidade da produção brasileira destinada ao setor siderúrgico para a produção de ferro-gusa, aço e ferro-ligas. O setor residencial consome cerca de 9%, seguido pelo setor comercial com 1,5%, sendo representado por pizzarias, padarias e churrascarias (MACHADO et al., 2010; BAILIS et al., 2013). Um problema associado à característica física do carvão vegetal é a sua capacidade de se fragmentar em pequenos pedaços quando submetido a impactos (friabilidade). Durante a produção, o transporte e o manuseio do carvão produzem em torno de 25% de finos, o que dificulta ou, até mesmo, inviabiliza a sua utilização (ROUSSET et al., 2011). Nesse contexto, fica clara a necessidade da recuperação e reutilização desses finos, uma vez que eles possuem grande potencial energético e os finos quando descartados inadequadamente podem impactar negativamente na sustentabilidade ambiental (VIEIRA et al., 2019). A briquetagem é um método de compactação de materiais finos, que permite a reutilização dos finos na forma de biocombustível sólido para a geração de energia térmica ou elétrica, transformando-os em um produto com maior valor econômico agregado (DERMIBAS, 1999). O processo de produção de briquetes (produto resultante do processo de briquetagem) consiste na aplicação de pressão a uma massa de partículas, com ou sem a adição de ligante e temperatura. A briquetagem do carvão vegetal na forma de finos se faz a partir da sua compactação com o auxílio de um aglutinante, a fim de proporcionar a coesão nos briquetes (FONTES et al., 1989). A escolha do material ligante deve ser realizada de modo que ele não prejudique as características energéticas dos briquetes (diminuindo o seu poder calorífico ou aumentando seu teor de voláteis e cinzas) e não gere gastos que inviabilizem economicamente a produção dos briquetes (FONTES et al., 1984; ONAJI et al., 1993; PEREIRA et al., 2009). Apesar de os avanços tecnológicos na produção de carvão vegetal, no Brasil, continua sendo produzido em fornos rudimentares por meio de processos deficientes, quanto ao domínio sobre a carbonização ou pirólise da lenha, que aliados à heterogeneidade do carvão vegetal, característica dos processos defasados em termos de produção continua, resultam em um produto final com propriedades físicas e químicas variadas e indesejáveis, principalmente, ao setor siderúrgico. Dentre os principais problemas relacionados ao controle do processo produtivo do carvão vegetal, destacam-se a redução da resistência mecânica e a elevada taxa de friabilidade. Esses parâmetros são responsáveis pela geração de resíduos finos durante a produção, transporte e alimentação dos altos-fornos (PICANCIO et al. 2018). O excesso de finos quando injetados no alto-forno pode obstruir a passagem de ar quente na zona de combustão, especificamente nas ventaneiras, dificultando a redução dos minérios de ferro durante a produção de ferro-gusa (UHLIG, GOLDBERG e COELHO, 2008; OLIVEIRA et al., 2015). A incorporação de fibras de bagaço de cana-de-açúcar e óleo de copaíba foi o ponto culminante deste trabalho, cuja justificativa residiu na elevação termomecânica dos produtos finais obtidos. Tais aditivos visaram contribuir para o aumento do poder calorífico e da resistência ao impacto do carvão ecológico (briquete). A adição das fibras e do óleo de copaíba à massa base dos briquetes fabricados a partir de finos oriundos de carvão de coco babaçu, fécula de mandioca e água para a obtenção de um carvão ecológico contendo granulometria uniforme e mais denso, de elevada resistência mecânica devido à inserção das fibras de cana-de-açúcar e com expressivo poder calorífico em face da adição de óleo de copaíba é de fundamental importância para aplica-lo na siderurgia. Uma elevada friabilidade dos briquetes condução à geração de finos que por sua vez reduz significativamente a resistência mecânica dos briquetes e sua permeabilidade. A elevação no teor de finos causa obstrução da zona de combustão do alto-forno, especificamente nas ventaneiras que fornecem ar quente para a combustão e enorme prejuízo ao processo produtivo de ferro-gusa.

Material e métodos

A matéria-prima utilizada nesta pesquisa foram os resíduos de carvão vegetal que são deixados na avenida principal e em várias ruas da cidade da região do Alto Turi maranhense, além dos finos gerados das atividades de carvoejamento. Os resíduos são descartados e permanecem jogados contribuindo para a degradação ambiental e higiênica das cidades. A biomassa residual tida como “lixo” foi coletada e transportada para o Laboratório de Biocombustível do IFMA-Campus Zé Doca, onde foi reciclada para gerar energia limpa. COMINUIÇÃO E PENEIRAMENTO A biomassa residual coletada foi submetida ao processo de secagem em estufa a 105 ± 5 °C durante 2 horas para desumidificação. Após o carvão esfriar, foi submetido à trituração em um moinho de mandíbulas. Em seguida, o material foi submetido a um peneiramento na faixa de 1,0 a 0,15 mm. O material com granulometria a baixo de 0,12 mm foi utilizado para a fabricação dos briquetes. Preparação da massa base dos briquetes Inicialmente, cada batelada foi composta de 300g de carvão pulverizado, aglutinante (fécula de mandioca), fibra de cana-de-açúcar e óleo de copaíba em proporções adequadas e homogeneizadas em um misturador planetário durante 10 minutos. 2.3.2 Fabricação de corpos de prova A mistura carvão pulverizado, aglutinante, fibras e óleo de copaíba foi moldada numa extrusora de alta pressão de compactação. A mistura foi mantida numa pressão de 150 bars durante 15 minutos. Em seguida, os corpos de prova foram desmoldados, submetidos à secagem em estufa a 90°C durante 2 horas. Cada batelada foi composta de 4 amostras (AM1, AM2, AM3 e AM4), sendo que cada amostra foi composta de três corpos de prova (CP1.1, CP1.2 e CP1.3) moldados em extrusão de baixa compactação 2.4 ANÁLISE QUÍMICA IMEDIATA, UMIDADE E PODER CALORÍFICO As análises físico-químicas que caracterizam a capacidade energética dos briquetes produzidos foram determinadas no Laboratório de Engenharia de Materiais do Departamento de Metal Mecânica (DMM) do IFMA-Campus Monte Castelo. Os corpos de prova foram caracterizados em termos de análise química imediata (teor de cinzas, teor de materiais voláteis e teor de carbono fixo), teor de umidade e resistência mecânica conforme sugerem Adad (1982) e Pinheiro (2009) RESISTÊNCIA MECÂNICA Os ensaios de resistência à compressão foram realizados objetivando-se determinar o comportamento mecânico dos briquetes, quando submetidos à determinada carga ou esforço. As análises foram realizadas em triplicata em uma máquina de resistência mecânica, modelo Tira Teste 2024 Os ensaios de compressão mecânica foram realizados aplicando-se uma força perpendicular à seção do briquete até que ocorresse sua ruptura. A célula de carga utilizada foi de 5 toneladas, carregamento de 0,50 mm min-1 aplicada no sentido diametral dos briquetes.

Resultado e discussão

CARACTERIZAÇÃO TERMOMECÂNICA DOS CORPOS DE PROVA Após a definição das condições quantitativas ótimas para o processamentos dos briquetes foram formadas quatro amostras (AM1, AM2, AM3, AM4 e AM5), as quais foram constituídas de três corpos de prova perfazendo um total de 12 corpos de prova. Os referidos corpos de prova foram submetidos aos ensaios de caracterização em termos de análise química imediata, umidade, poder calorífico em resistência à compressão. A caracterização termomecânica foi realizada em triplicata totalizando em média 72 ensaios. A Tabela 1 ilustra os resultados revelados ao longo da caracterização dos briquetes. A produção de briquetes pode contribuir para a eliminação de resíduos com elevado potencial de queima. Os resíduos de biomassa provocam impactos tanto de ordem social, quanto de ordem ambiental. A geração de resíduos causa impactos negativos como alteração de paisagem devido à poluição visual, proliferação de macro e micro vetores, poluição do solo, do ar e dos lençóis freáticos. Os materiais particulados podem ser dispersos pela ação do vento ou serem liberados juntamente a gases tóxicos quando os resíduos são queimados. A atividade madeireira possui altos índices de desperdícios, pois apenas 1/3 da madeira extraída transforma-se em produto final, enquanto 2/3 dás árvores exploradas acabam virando sobras ou serragem e na maior parte das vezes, esses resíduos não possuem destinação correta (MARQUES, 2011). Como o processo de fabricação de briquetes envolve resíduos de biomassa, um parâmetro de controle de qualidade a ser considerado é o teor de umidade. De acordo com Quirino (1991), Lucena et al. (2008) e Oshiro (2016), o teor de umidade ideal na compactação energética está na faixa de 10 a 12% de água. Os resultados obtidos para o teor de umidade revelaram uma faixa de 4,07–4,75% de água. A umidade dos briquetes foi inferior aos resultados encontrados por Brugnera (2016) em seu estudo da produção de briquetes com resíduos da indústria de carvão, com aglutinante misto de glicerina bruta e amido de milho, que obteve umidade na faixa de 7,22 a 8,23%. O teor de umidade elevado contribui significativamente para a geração de finos, maior consumo de briquetes e qualidade baixa do ferro-gusa formado (FROEHLICH; MOURA, 2014). De acordo com Brugnera (2016), o carvão vegetal deve apresentar valores médios de composição imediata de 25% de materiais voláteis, 5% de cinzas e 70% de carbono fixo, com poder calorífico em torno de 7.000 Kcal Kg-1 quando destinado para o setor siderúrgico. Na Tabela 1 observa-se que os briquetes apresentaram elevado teor de materiais voláteis 38,30 a 49,80%, teor de carbono fixo baixo (40,74 a 48,75%), baixo teor de cinzas (2,56 – 5,07%) e poder calorífico menor (5.922 – 6.742 Kcal Kg-1), quando comparado com os valores médios especificados por Brugnera (2016). Os dados das análises obtidas para o poder calorífico dos briquetes fabricados com finos de carvão de coco babaçu, fécula de mandioca e incorporação de fibras de bagaço de cana-de-açúcar e óleo de copaíba foram satisfatórios e mais elevados em relação à média para combustíveis sólidos (briquetes) de origem vegetal destinado para o setor alimentício (padaria, pizzaria e churrascaria), cerâmico e doméstico, conforme especificou Cortez, Lora e Gomes (2008) que é de 3.749,8 Kcal Kg-1. O teor de cinzas obtido para os briquetes em estudo foram considerados bastante elevados quando se trata de aplicação para uso industrial na siderurgia, cuja especificação média é de 2% de cinzas. O aumento no teor de cinzas contribui para a ocorrência de álcalis, que desgastam sobremaneira os tijolos refratários do alto-forno e encarecimento do processo produtivo de ferro-gusa. O teor de inorgânicos, quantificados como cinzas, representa a fração incombustível e sua presença deve ser pequena e pouco significativa, pois contribui para a diminuição do teor calórico do briquete (BRUGNERA, 2016). O teor de materiais voláteis (38,30 a 49,80%) carbono fixo observado para briquetes (40,74 a 48,75%) ficou abaixo da média considerada ideal para o setor siderúrgico que é de 25% conforme descreveram Brito (2002) e Rosa et al. (2012). Em contra partida, houve redução no teor de carbono fixo (40,74 a 48,75%) e do poder calorífico (5.922 – 6.742 Kcal Kg-1). Entretanto, tais briquetes podem ser empregados para queima direta em fogões a lenha, fornalhas de caldeiras, fornos cerâmicos, pizzarias, padarias, churrascarias e fornalhas de alambique. Em termos de resistência à compressão, que mede a capacidade dos briquetes suportarem cargas altas durante o seu uso, a Figura 1 mostra que os corpos de prova apresentaram resistência mecânica na faixa de 0,58 a 0,76 MPa , ficando um pouco abaixo da faixa mínima ideal para o setor de siderurgia (0,98 MPA) indicando a necessidade de inserir um percentual de fibras de bagaço de cana-de- açúcar maior que 7,0% (percentual utilizado neste trabalho). A Figura 1 mostra os dados do teste de compressão de alguns corpos de prova analisados (CP1, CP2 e CP3) Os valores de deformação máxima revelados para os briquetes analisados revelaram aspectos visuais análogos. Tais resultados levam-nos a crer que os espaços intersticiais (porosidade) entre os corpos de prova (briquetes) produzidos são semelhantes, apesar de terem sofrido deslocamento parecido após atingirem a capacidade máxima de compactação. Os briquetes estudados se revelaram menos resistentes (0,58-0,76 MPA)) em relação aos briquetes fabricados por Concentino, Zanella e Taranto (2017), quando utilizaram pectina, com alto teor de metoxilação na produção de briquetes, a partir de carvão obtido pela pirólise do bagaço de laranja (1,77 a 3,35 MPa). Os parâmetros de qualidade para a produção de carvão vegetal destinado à siderurgia devem atender a um conjunto de especificações conforme descrito na norma PQM3-03 da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de Estado de São Paulo (SAA), Resolução SAA n. 10, de 11 de julho de 2003 (SÃO PAULO, 2003) e a Empresa de Pesquisa Energética (2008). Neste contexto, as características essenciais do carvão vegetal para atender às especificações das indústrias metalsiderúrgicas são: 0,5 a 4% de teor de cinzas, 25 a 35% de materiais voláteis, 70 a 80% de carbono fixo, 1 a 6% de umidade, além de resistência mecânica entre 0,98 a 7,84 MPa. Os resultados obtidos durante a caracterização termomecânica dos briquetes (Tabela 1) revelaram que os briquetes produzidos com a aglutinante fécula de mandioca impregnados com fibras de cana-de-açúcar e óleo de copaíba apresentaram resultados significativos em relação aos parâmetros teor de cinzas, teor de umidade, poder calorífico mais deixaram a desejar quanto ao teor de materiais voláteis, carbono fixo e resistência mecânica indicando a necessidade de ajuste na dição de fibras de cana-de-açúcar e de óleo de copaíba, que podem ter interferido significativamente na elevação de materiais voláteis e redução do carbono fixo e até mesmo no poder calorífico .

Figura 1 - Determinação da resistência ao impacto dos briquetes.

Esta figura retrata os resultados da resistência mecânica dos corpos de prova analisados

Tabela 1 – Perfil termomecânico dos briquetes obtidos a partir de fino

Esta tabela faz alusão aos resultados revelados para o perfil termomecânico dos briquetes de carvão vegetal de coco babaçu.

Conclusões

A partir da análise imediata (teor de cinzas, materiais voláteis, carbono fixo e poder calorífico), do teor de umidade e da resistência mecânica realizadas nos briquetes produzidos no decurso deste trabalho, foi possível verificar que estes insumos energéticos apresentaram propriedades que permitem sua aplicação em diversos setores da economia como na queima de fornalhas de caldeiras, fornos cerâmicos, pizzarias, padarias, churrascarias e setor doméstico. Para a aplicação na siderurgia precisa de reforço para aumentar sua resistência mecânica, o teor de carbono fixo, o poder calorífico e consequentemente a resistência ao impacto. Estudar a interferência do percentual de fibras de cana- de-açúcar e de óleo de copaíba na elevação teor de materiais voláteis e diminuição do teor de carbono fixo e certamente do poder calorífico e resistência mecânica é de fundamental importância para se adequar os referidos briquetes para aplicação no setor siderúrgico. Os briquetes fabricados no decurso deste trabalho revelaram propriedades mecânicas e energéticas boas, o que nos permite inferir a sua viabilidade na obtenção de energia renovável a partir desse insumo e reais possibilidades de empreendedorismo no processamento de conversão termoquímica, uma vez que a briquetagem produz um combustível renovável, permite o aproveitamento de resíduos de biomassa e tende a promover o desenvolvimento socioeconômico, a redução dos impactos ambientais e a geração de emprego e renda.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao apoio e aporte financeiro concedido pela PRPGI, pelo Campus Zé Doca, pelo DMM-Monte Castelo e pelo GPAQS.

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