• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

SESQUITERPENOS E FENILPROPANOIDES EM RESÍDUOS MADEIREIROS DE Licaria aritu Ducke

Autores

Lima, J.A.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Lima, M.P. (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA) ; Nascimento, C.C. (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA)

Resumo

A Amazônia brasileira ocupa um total de 68% do território das florestas do Brasil. Através de estudos com espécies da família Lauraceae já foram identificadas diversas classes de substâncias como lignoides e terpenoides. Contudo para a espécie Licaria aritu há apenas um estudo relatado. Por isso considerando a escassez de estudos químicos é que submeteu-se o louro-aritu ao estudo fitoquímico. Utilizou-se colunas cromatográficas e placa preparativa de sílica gel e a identificação das substâncias isoladas foi realizada pela técnica de Ressonância Magnética Nuclear unidimensionais e bidimensionais. Com o fracionamento do extrato metanólico obteve-se o isolamento dos sesquiterpenos (-)-T-muurolol (1), ent-T-muurolol (2) e α-cadinol (5) e os fenilpropanoides apiol (3) e dilapiol (4).

Palavras chaves

Lauraceae; RMN; Fitoquímica

Introdução

O Brasil possui a maior biodiversidade do planeta. Essa rica biodiversidade é fonte de oportunidades que representam sua conservação, uso sustentável e patrimônio genético. O país abriga uma extensa área florestal, onde se destaca a Amazônia brasileira, que é detentora de cerca de 334 milhões de hectares de área de florestas naturais, representando cerca de 68% do território florestal do Brasil (SNIF, 2018; MMA, 2022). Dentre as famílias vegetais encontrados no país está a Lauraceae contendo cerca de 2500 espécies com diversos estudos realizados, de onde identificaram-se classes de substâncias quimicamente bioativas tais como: alcaloides, terpenoides, flavonoides, lignoides (GRECCO et al., 2016). Da espécie Licaria aritu Ducke, conhecida popularmente como louro-aritu, há apenas um estudo químico descrito na literatura por Aiba e Gottlieb (1973) no qual isolaram do tronco da madeira duas neolignanas denominadas de licarina A e B. É necessárias mais pesquisas serem realizadas com esta espécie das diferentes partes vegetativas. Estudos fitoquímicos vem sendo realizados com resíduos madeireiros mostrando resultados promissores. Onde Melo e colaboradores (2019) isolaram do resíduo de ipê amarelo (Handroanthus serratifolius (Vahl) S. Grose) três naftoquinonas que apresentaram atividade antiplasmódica contra Plasmodium falciparum e atividade antifúngica significativa contra Cryptococcus neoformans. Portanto considerando a escassez de estudos fitoquímicos realizados com a parte da madeira de L. aritu e a disponibilidade desses resíduos madeireiros no âmbito do projeto INCT- Madeiras da Amazônia, é que se visou o estudo fitoquímico a fim de contribuir para o conhecimento da composição química da espécie.

Material e métodos

Os resíduos madeireiros tiveram suas propriedades tecnológicas avaliadas pelo Laboratório de Tecnologia da Madeira da Coordenação de Tecnologia e Inovação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (COTI/INPA) e os resíduos resultantes foram fornecidos para os estudos fitoquímicos. Inicialmente os resíduos (1219,8 g) foram submetidos a macerações à frio com hexano, seguido por metanol (ver figura 1), separadamente, por um período de sete dias para cada solvente. Obteve-se o extrato hexânico (LAH) e metanólico (LAM) com as massas de 3,6 g e 19,8 g respectivamente. O extrato metanólico foi fracionado em coluna aberta em sílica gel 70-230 mesh (h=35,0 cm e Ø=4,5 cm) em ordem crescente de polaridade (Hex; Hex/Acetato; Acetato/MeOH; MeOH), obtendo-se 25 frações. As frações foram analisadas em CCD, seguindo-se de fracionamentos posteriores. Da fração codificada como LAM-5 (1133,3 mg) retirou-se 40 mg da amostra para purificação por cromatografia em camada delgada preparativa (20 cm X 20 cm) em sílica gel fase normal eluída em DCM 100%. Deste fracionamento obteve-se 4 subfrações, que resultou no isolamento 4 substâncias em mistura: 1, 2 (subfração 2), 3 e 4 (subfração 4). A fração LAM-7 (302,9 mg) verificou-se em CCD a presença de uma única macha roxa resultando no isolamento da substância 3 e em CCD a fração LAM-8 (185,4 mg) apresentou o mesmo Rf da substância sitosterol que é comumente encontrado nas plantas. Todas as substâncias isoladas foram analisadas em ressonância magnética nuclear (300 MHz para RMN 1H e 75 MHz para RMN 13C), aparelho Bruker, modelo Fourier-300. As identificações estruturais foram realizadas com base nas técnicas de unidimensionais RMN (1H, 13C e DEPT) e bidimensionais (HSQC e HMBC).

Resultado e discussão

O espectro de RMN 1H das substâncias 1 e 2 mostrou sinais em regiões características de hidrogênios olefínicos em δ 5,58 (d; J= 1,41 Hz) com intensidade menor ( 2) e δ 5,56 (d; J=1, 41 Hz) com intensidade maior (1). A presença de 8 metilas foi observada sendo quatro pertencentes a dois grupos isopropílicos em δ 0,93 e 0,91 (d, J=7,0 Hz) 0,81 e 0,85 (d, J=7,0 Hz), duas geminais ao grupo hidroxi (δ 1,23 s e 1,21 s) e duas metilas vinílicas δ 1,67 sl e 1,65 sl, para as substâncias 1 e 2 respectivamente. Com base nos resultados a substância 1 foi identificada como (-)-T-muurolol (majoritária) e a substância 2 como ent-T-muurolol. As substâncias 3 e 4 mostrou no espectro de RMN 1H sinais de hidrogênios aromáticos em δ 6,31 s com intensidade maior (3) e δ 6,36 s com intensidade menor (4), grupo metileno dióxido (δ 5,96 s e 5,89 s), metoxilas (δ 3,86; 3,88; 3,76 e 4,02). Além de sinais de dupla terminal (δ 5,94 e 5,03). No espectro de RMN de 13C observou-se sinais de carbonos metoxílicos (δ 56,86; 60,02; 59,78 e 61,30) dupla terminal (δ 137,36; 115,39 e 115,57), e do metileno dióxido (δ 101,55 e 101,11). Após análise dos espectros e em comparação com a literatura (MOHAMAD et al., 2015) a substância 3 foi identificada como apiol (majoritária) e a substância 4 como dilapiol. A substância 5 apresentou no espectro de RMN de 1H sinais característicos das metilas do grupo isopropila em δ 0,78 (d; J=6,93 Hz) e 0,93 (J=6,93 Hz), sinais de singletos em δ 1,68 (H-14) e 1,11 (H-15) e sinal de hidrogênio olefínico (δ 5,50 sl). No espectro de RMN de 13C observaram-se sinais de carbonos olefínicos (δ 122,30 e 134,99) e carbinólico (δ 72,46). Com base nesses resultados em comparações com a literatura (HOAI et al., 2021) a substância 5 foi identificada como o sesquiterpeno α-cadinol.

Estrutura química dos sesquiterpenos e fenilpropanoides isolados de L.



Conclusões

O estudo colaborou com o conhecimento do perfil químico da madeira de Licaria aritu Ducke. E proporcionou o isolamento e identificação dos sesquiterpenos T- muurolol (1), ent-T-muurolol (2) e α-cadinol (5) e dos fenilpropanóides apiol (3) e dilapiol (4), assim como do sitosterol que é frequentemente encontrado nas plantas. Todas as substâncias estão sendo relatadas pela primeira vez na espécie de Licaria aritu Ducke, evidenciando a importância de estudar os resíduos madeireiros.

Agradecimentos

Ao Laboratório de Química de Produtos Naturais (LQPN), a Central Analítica do Laboratório Temático de Química de Produtos Naturais (CALTPQN) pela análise em RMN e a FAPEAM pelo apoio financeiro.

Referências

AIBA, C.J.; CORREA, R.G.C.; GOTTLIEB, O.R. Natural occurrence of erdtman’s dehydrodiisoeugenol, Phytochemistry, vol. 12, n.5, 1163-1164, 1973.
GRECCO, S. S.; LORENZI, H.; TEMPONE, A. G.; LAGO, J. H. G. biological and chemical aspects of Nectandra genus (Lauraceae), Tetrahedron: Asymmetry, v. 27, n. 17, 793-810, 2016.
HOAI, L.T.T.; ANH, T.N.; LUU, N.T.; HIEU, N.V.; NINH, P.T.; LOC, T.V.; CHI, N.L.; NAM, N.X.; THAO, T.T.P. Sesquiterpenoidsfrom the barksand rootsof Michelia alba collected in Xuan Maitown, HanoiCity, Viet Nam. Vietnam Journal of Chemistry, vol. 59, n.1, 120-126, 2021.
MELO, L.E.S.; CRUZ, K.S.; SOARES, P.I.L.; NASCIMENTO, C.C.; SOUZA, J.V.B.; MARCELINO, B.M.M.; ANDRADE NETO, V.F.; FERREIRA, A.G.; LIMA, M.P. Antifungal and antiplasmodial activity of isolated compounds from Handroanthus serratifolius (Vahl) S. Grose Sawdusts. International Journal of Advanced Engineering Research and Science, Vol.6, n.9, 270-275, 2019.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Biodiversidade Brasileira. Disponível em: <http://www.mma.gov.br>. Acesso em: 16 de setembro de 2022.
MOHAMAD, H.; ANDRIANI, Y.; BAKAR, K.; SIANG, C.C.; SYAMSUMIR, D.F.; ALIAS, A.; RADZI, SAM. Effect of drying method on antimicrobial, antioxidant activities and isolation of bioactive compounds from Peperomia pellucida (L) HBK. Journal of Chemical and Pharmaceutical Research, Vol. 7, n.8, 578–584, 2015.
SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES FLORESTAIS – SNIF. Brasília, 2018. Disponível em:< https://snif.florestal.gov.br/pt-br/os-biomas-e-suas-florestas>. Acesso em: 16 de setembro de 2022.

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