• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

NOVOS POLIACETILENOS ISOLADOS DE RESÍDUOS MADEIREIROS DE Cedrela odorata L. (MELIACEAE)

Autores

Nogueira, P.A.D. (UFAM/ INPA) ; Santos, H.C. (UFAM/ INPA) ; Souza, P.B.A. (UFAM/ INPA) ; Ramos, H.G. (UFAM/ INPA) ; Lima, J.A.O. (UFAM/ INPA) ; Oliveira, D.S. (UFAM/ INPA) ; Oliveira, M.V.S. (UFAM) ; Nascimento, C.C. (INPA) ; Lima, M.P. (INPA)

Resumo

A família Meliaceae é reportada como fonte rica em metabólitos secundários. Estudos fitoquímicos do gênero Cedrela revelam compostos como ácidos alifáticos e álcoois, flavonóides, tocoferol, mono, sesqui e triterpenos, esteróides e limonóides. Esse trabalho teve como objetivo conhecer o perfil químico dos resíduos madeireiros de C. odorata. Os fracionamentos cromatográficos do extrato metanólico foram efetuados em colunas abertas com suportes variados de sephadex LH-20 e sílica gel-60, fornecendo uma mistura que foi elucidada por análises de RMN em 1 e 2D, em comparação com a literatura, permitindo a identificação da mistura epimérica dos poliacetilenos 1α e 1β (4,6-heptadecadiyne-3,9,10,11-tetraol). Este é o primeiro relato de um poliacetileno neste genero.

Palavras chaves

cedro-rosa; madeiras de demolição; poliinos

Introdução

A fitoquímica da madeira está diretamente relacionada as suas propriedades tecnológicas e proteção contra xilófagos sendo importantes para definir a forma mais adequada para seu uso, e pode ser dividida em metabólitos primários e secundários (SEVERO et al, 2006; KLOCK et al, 2005). Os metabólitos secundários encontrados em diversas madeiras agregam valor à elas, e auxiliam na busca de novas aplicações dos seus rejeitos, além de proporcionar conhecimento sobre o perfil químico de espécies que são protegidas por lei (GRANATO et al, 2005). Por muito tempo, as madeiras de algumas espécies de meliáceas, especialmente dos gêneros Cedrela e Swietenia, foram exploradas exaustivamente em todo o mundo para serem utilizadas principalmente na construção civil e fabricação de móveis finos, o que levou ao esgotamento de muitas de suas populações naturais em diversas regiões do planeta (O’NEILL et al, 2001; LAURANCE, 1999; VERISSIMO et al, 1998; KEAY, 1996; MABBERLEY et al, 1995). A família Meliaceae possui cerca 58 gêneros e 740 espécies, divididos em duas subfamílias, Melioideae, e Cedreloideae, cujo gênero mais representativo, desta última, é o Cedrela com 18 espécies e possui distribuição por toda a região Pantropical (APG, 2022). A família tem inúmeros registros de estudos fitoquímicos em diversas partes vegetativas, mas com bastante restrição aos estudos relacionados à madeira. Estudos fitoquímicos no gênero Cedrela revelam diversos compostos como como ácido alifático e álcool, flavonóides, tocoferol, monoterpenos, sesquiterpenos, triterpenos cicloartanos, esteróides e limonóides (NOGUEIRA et al, 2020). Embora os metabólitos secundários dessa família sejam bastante reportados, algumas classes como poliacetileno por exemplo, apresenta poucos registros. Das plantas superiores, mais de mil poliacetilenos foram isolados em aproximadamente 21 famílias. Recentemente, essa classe de compostos, muitas vezes instáveis, contendo pelo menos uma ligação tripla carbono-carbono que já demonstrou possuir potente atividade imunossupressora seletiva e baixa citotoxicidade também foram encontrados na família Meliaceae (NENG et al, 2019; WANG et al, 2018; WANG et al, 2014; ZHANG et al, 2012; NING et al, 2011; MINTO e BLACKLOCK, 2008; WAKABAYASHI et al, 1991). Devido à presença de diferentes ligações do tipo alquinil, os poliacetilenos tornam-se atraente devido às suas estruturas intrigantes, bioatividades significativas e modos surpreendentes de biossíntese (WANG et al, 2018; MINTO e BLACKLOCK, 2008). No presente trabalho, apresentamos o isolamento e elucidação estrutural de um novo poliacetileno, ressaltando que essa classe de substancia é inédita para o gênero Cedrela.

Material e métodos

As investigações fitoquímicas foram conduzidas no Laboratório de Química de Produtos Naturais (LQPN) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). A obtenção dos resíduos madeireiros, oriundos de demolição de um prédio do INPA com cerca de quarenta e cinco anos de uso em estrutura de esquadria de janelas, foram cedidos pelo Laboratório de Tecnologia da Madeira (LTM) do INPA, para serem submetidos à investigação fitoquímica. Os resíduos madeireiros foram moídos em moinho de facas e submetidos a uma extração a frio em metanol por sete dias, dando origem ao extrato metanólico. O fracionamento cromatográfico inicial foi efetuado em coluna cromatográfica aberta utilizando sílica gel tipo filtrante (70-230 mesh) empregando diferentes gradientes de polaridade dos solventes, partindo do Hexano à MeOH, originando 28 frações. As frações obtidas foram analisadas por coluna cromatográfica delgada comparativa-CCDC e submetidas a novos procedimentos de purificação. A água-mãe da fração COM-16 foi refracionada diversas vezes, fornecendo a Substância 1α e 1β codificada como COM-16H.3.8.7.5 (6 mg, figura 01), possuindo aspecto de óleo com aroma agradável. Em CCDC apresentou-se como uma florescência fraca na UV 254nm e como uma mancha de cor violeta ao ser revelada em vanilina sulfúrica. Para identificação dessa substância realizou-se análises de RMN 1H 13C, DEPT 135, HSQC, HMBC, COSY e NOESY em espectrômetros da Bruker, modelos AVANCE III HD (500 MHz -1H e 125 MHz - 13C) e Fourier-300 (300 MHz - 1H e 75 MHz - 13C), além da espectrometria de massas (EM) em espectrômetro da Bruker, modelo microTOF-Q II, analisador time of flight. Fonte ESI em modo positivo com resolução de 17500 (FWHM), utilizando-se o programa Compass, versão 4.1, para controle, aquisição e processamento de dados.

Resultado e discussão

Elucidação estrutural das substâncias A fração COM-16H.3.8.7.5 (6 mg), denominada de mistura isomérica das substâncias 1α e 1β (fig. 2) obtida após os fracionamentos cromatográficos apresentado na fig. 1, demonstrou possuir aspecto oleoso, cor laranja amarelado, polar, cheiro forte amadeirado. Em CCDC apresentou-se pura como uma mancha única de cor violeta ao ser revelada em vanilina sulfúrica e uma florescência visível em luz UV com comprimento de onda de 254nm. As substancias 1α e 1β foram caracterizadas com base nos dados de RMN uni e bidimensionais e espectrometria de massas de alta resolução (EMAR) no modo positivo de ionização. As análises em LC-MS, indicaram um pseudo-íon equivalente a uma mistura epimérica com pico [M+H]+ m/z 297,2052 sugerindo a fórmula molecular C17H29O4. No espectro de RMN 1H, foram observadas a presença de dois sinais de hidrogênios característicos de metilas na região entre ᵟH 0,96 (t, J = 7,45 Hz; H-1) e 0,88 (t, J = 6,63 Hz; H-17). Ainda foi possível observar quatro sinais de hidrogênio dos carbonos metínicos em ᵟH 4,29 (t, J = 6,0 Hz; H-3), 4,08 (m; H-9), 3,33 e 3,39 (d, J = 7,1 Hz e t, J = 3,4 Hz; H-10), 3,62 e 3,86 (m; H-11) e os metilenicos em ᵟH 2,55 e 2,67 (dd, J = 6,4-6,6 e 17,2-17,1 Hz; H-8). O COSY possibilitou a confirmação dos acoplamentos de H-8 à H-17, bem como os de H-1 à H-3 (fig. 2). Os espectros de RMN de 13C mostraram sinais referentes a 17 carbonos, incluindo dois metílicos (C-1 e C-17), sete metilenicos (C-2, C-8, C-12 a C-16), quatro metínicos (C-3, C-9 a C-11), quatro carbonos desidrogenados (C-4 a C-7). Com base no DEPT 135 foi possível confirmar os carbonos dos grupos acetilenos de ᵟC 78,99 e 79,27 (C-4), 69,38 e 69,32 (C-5), 66,54 e 66,40 (C-6), 78,99 e 78,94 (C-7). O mapa de contorno HSQC (fig. 2) mostrou a correlação do H-3 com o carbono metínico em ᵟC 63,81(C-3), além dos H-9, H-10 e H-11 com os carbonos metínicos em ᵟC 70,17 (C-9), 75,24 e 74,78 (C-10) e 72,82 e 72,22 (C-11). O mapa de contorno HMBC (fig. 2) mostrou as correlações do H-3 com os carbonos em ᵟC 9,89 (C-1), 31,70 (C-2), 78,99 e 79,27 (C-4), 69,38 e 69,32 (C-5), 66,54 e 66,40 (C-6), também são observadas as correlações entre os H-8 como os carbonos em ᵟC 66,54 e 66,40 (C-6), 78,99 e 78,94 (C-7), 70,17 (C-9), 75,24 e 74,78 (C-10) e 72,82 e 72,22 (C-11). As analises 1D e 2D aliadas aos dados de EMAR, possibilitaram a identificação da mistura de dois estereoisômeros pertencentes a classe dos poliacetilenos e foram comparados com os dados de RMN 1H e 13C do dihydropanaxacol (FUJIMOTO e SATOH, 1987). Esses poliacetilenos foram identificados como 4,6-heptadecadiyne-3,9,10,11-tetraol () e 4,6- heptadecadiyne-3,9,10,11-tetraol (), respectivamente. Recentemente foram identificados alguns poliacetilenos na família Meliaceae, isoladas nos gêneros Swietenia (NENG et al, 2019; WAKABAYASHI et al, 1991), Toona (WANG et al, 2018; NING et al, 2011) e Khaya (WANG et al, 2014; ZHANG et al, 2012). Este, porém é o primeiro registro de isolamento de um poliacetileno para o gênero Cedrela.

Figura 1 - Esquema dos fracionamentos de COM-16H.3.8.7.5

Imagem mostra o esquema dos fraciomanentos ao lado dos residuos madeireiros de C. odorata.

Figura 2 - Estrutura dos poliacetilenos 1α e 1β com HMBC e COSY

A imagem demonstra a provavel configuração espacial das moleculas elucidadas e suas correlações no mapa de contorno HMBC e acoplamentos no COSY.

Conclusões

Os dois poliacetilenos isolados e identificados a partir dos resíduos madeireiros de C. odorata são os primeiros relatos desses compostos na literatura e também no gênero Cedrela. Nesse sentido os estudos fitoquímicos a partir de resíduos madeireiros demonstram contribuir na busca por novos compostos com possíveis potenciais biológicos.

Agradecimentos

Ao INPA, FAPEAM, Projeto INCT Madeiras da Amazônia, LTM, LQPN e UFAM.

Referências

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