Autores
Carvalho, G.C.P. (UFLA) ; Cardoso, M.G. (UFLA) ; Ferreira, V.R.F. (UFLA) ; Campolina, G.A. (UFLA) ; Freire, C.S. (UFLA) ; Fernandes, A.I. (UFLA) ; Oliveira, C.D. (UFLA) ; Batista, L.R. (UFLA) ; Silva, M.L. (UFLA) ; Campos, A.B.S. (UFLA)
Resumo
Este trabalho objetivou extrair e caracterizar óleos essenciais de hortelã e
manjericão desidratados e avaliar o potencial antifúngico destes. Os óleos
essenciais foram obtidos por hidrodestilação, por um período 2 horas. Os
constituintes químicos dos óleos essenciais foram identificados por GC-MS e
quantificados por GC-FID e a atividade antifúngica foi avaliada pelo teste de
fumigação. Os óleos essenciais de hortelã e manjericão apresentaram rendimentos
de 0,98% e 0,50%, respectivamente. Estragol (manjericão), carvona e pulegona
(hortelã) foram os constituintes majoritários. O óleo de manjericão apresentou
atividade de inibição superior quando comparado com o óleo de hortelã. Assim,
conclui-se que o óleo essencial de manjericão apresentou uma maior atividade
antifúngica.
Palavras chaves
FUMIGAÇÃO; ÓLEOS ESSENCIAIS; CONSTITUINTES QUÍMICOS
Introdução
Os componentes dos óleos essenciais possuem diversas aplicabilidades
principalmente nos segmentos industriais, pois apresentam várias propriedades
como antioxidante, antibacteriana, antifúngica, antisséptica, anti-
inflamatórias, antitumorais e repelentes. Nas indústrias alimentícias, ocorre
uma alta preocupação na conservação dos alimentos, uma vez que se estes
estiverem contaminados vai ocorrer tanto prejuízo para o setor industrial quanto
para a saúde humana. Sabe-se que os alimentos apresentam uma certa facilidade de
serem contaminados por microrganismos durante sua manipulação e seu
processamento, sendo necessários o emprego de conservantes. A contaminação dos
alimentos por fungos e bactérias é classificada como biológica, existindo também
a contaminação química (metais pesados, pesticidas, detergentes, toxinas de
plantas e de animais e antibióticos); e a contaminação física (partículas
metálicas, fragmentos de insetos, pedaços de vidro, poeira e outros particulados
sujos) (FRANCO; LANDGRAF, 2008)
Entretanto devido a um interesse cada vez maior da população por alimentos
saudáveis, aumenta-se a busca por alternativas aos conservantes convencionais
sintéticos. Neste contexto destacam-se os componentes presentes nos óleos
essenciais, considerados como agentes antimicrobianos e antifúngicos naturais
possuindo potencial para combater patógenos alimentares e microrganismos
deteriorantes.
O presente trabalho, teve como objetivos extrair e caracterizar os óleos
essenciais das plantas de hortelã e manjericão, bem como avaliar sua atividade
antifúngica.
Material e métodos
Obtenção do material vegetal
Os materiais vegetais manjericão e hortelã foram adquiridos na forma de
plantas secas em estabelecimentos comerciais.
Extração do óleo essencial
Os óleos essenciais foram obtidos por hidrodestilação, utilizando um
aparelho de Clevenger modificado acoplado a um balão de fundo redondo de 1 L, de
acordo com a metodologia descrita por Brasil (2010). Aproximadamente 70 g do
material vegetal das espécies manjericão e hortelã, foram adicionados em um
balão de fundo redondo com aproximadamente 500 mL de água. O processo de
destilação foi realizado por um período de 2 horas, para a obtenção do
hidrolato. Decorrido esse tempo, o óleo essencial foi separado do hidrolato por
centrifugação, utilizando uma centrífuga de cruzeta horizontal (FANEM, 206-R) a
9,6 G por 15 min. O óleo foi retirado com o auxílio de uma pipeta de
Pasteur,
acondicionado em frasco de vidro, armazenado ao abrigo de luz e calor. O
processo de extração foi realizado em triplicata, para determinação do
rendimento de extração. Paralelamente foi realizado o teste de umidade.
Caracterização química dos óleos essenciais
A caracterização e quantificação química dos óleos essenciais foi
realizada no Centro de Análises e Prospecção Química – CAPQ, no Departamento de
Química da UFLA. Os constituintes químicos dos óleos essenciais foram
identificados por cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de
massas (CG/EM- Shimadzu, QP5050A). Na avaliação quantitativa, utilizou-se um
cromatógrafo gasoso (Shimadzu CG – 17A) equipado com detector por ionização de
chamas (FID).
Atividade antifúngica
O teste antifúngico foi realizado pelo método de fumigação, que avalia o
efeito dos compostos voláteis dos óleos essenciais sobre a inibição do
crescimento micelial do fungo (GUIMARÃES et al., 2011). O fungo Aspergillus
ochraceus (CCDCA 10506) foi adquirido da Coleção de Cultura de Microrganismos do
Departamento de Ciência dos Alimentos da UFLA. Este foi ativado em placas de
Petri contendo meio Agar Malt Extract (MEA) e incubado a 25°C por 7 dias.
Posteriormente à solidificação do meio de cultura foi anexado com fita crepe na
parte superior da placa de Petri discos de papel filtro de 4cm de diâmetro.
Nestes discos foram aplicados 25 µL de óleo essencial diluídos em
dimetilsulfóxido (DMSO) nas diferentes concentrações de 100; 250; 500; 1000;
1500; 2000; 3000 µL L-1. Foi preparado um controle negativo
utilizando DMSO puro
e um controle positivo, sem adição nenhuma de amostra. Por último, o fungo foi
inoculado no meio de cultura solidificado. Todas as placas foram incubadas em
BOD a 25 °C, por 7 dias, sendo realizadas as medições do diâmetro do crescimento
micelial após os 7 dias de incubação. Essas análises foram realizadas em
triplicata. As médias da atividade antifúngica para os óleos essenciais foram
comparadas pelo teste Scott-Knott com 5% de significância (FERREIRA et al.,
2011).
Resultado e discussão
Rendimento dos óleos essenciais
Os resultados obtidos para o teor de umidade (%) e rendimento em base
livre de umidade (%p/p BLU) dos óleos essenciais em estudo, estão apresentados
na Tabela 1.
Pelos dados descritos na Tabela 1 percebe-se que apesar dos óleos essenciais
serem obtidos das plantas secas ainda há uma certa porcentagem de água, uma vez
que os teores de umidade variaram entre 6,36% e 7,97%. Rosado et al. (2011),
destacaram que o processo de secagem não esgota totalmente a água da planta, mas
retarda e interrompe muitas reações enzimáticas que continuam mesmo após a
colheita. Para os pesquisadores citados, apesar das plantas secas ainda
apresentarem um teor de água, este está abaixo de 10%. Para eles, valores acima
de 10% favorecem o desenvolvimento de fungos e bactérias, o que acaba
possibilitando a atividade hidrolítica de diversas enzimas além de influenciar o
princípio ativo das plantas. Assim, a secagem em uma temperatura não monitorada
pode interferir no princípio ativo também.
Em relação ao rendimento em base livre de umidade o óleo que obteve maior
rendimento foi o de hortelã, seguido pelo de manjericão. Ferreira (2018),
estudando o óleo essencial de hortelã, obteve 0,34% de rendimento, valor que
diverge um pouco do presente estudo. Teixeira (2013), estudando o óleo essencial
de folhas frescas de Mentha spicata L. obteve um rendimento de 0,15%, valor
relativamente inferior ao obtido neste estudo, fato que pode estar relacionado à
época de coleta das plantas.
Brandão et al. (2020), estudando os óleos essenciais de folhas frescas de
manjericão coletadas na parte da manhã obtiveram um rendimento de 2,27%, valores
relativamente superiores, ao do presente estudo. Miranda et al. (2015) estudando
o óleo essencial das folhas frescas de manjericão coletadas em Lavras obtiveram
um rendimento de 1,4%. O processo de secagem quando não é bem feito pode reduzir
o rendimento, pois os compostos presentes no óleo essencial, podem ser
volatilizados fazendo com que o rendimento diminua.
Nota-se que embora as espécies sejam da mesma família o rendimento varia. Isto
pode estar relacionado à capacidade geneticamente de uma planta em produzir ou
não metabólitos secundários. Também podem ser atribuídas às diferenças na época
de colheita, tipo de solo, clima da região, tempo de secagem e umidade relativa
do ar no dia da colheita (GOBBO-NETO; LOPES, 2007).
Caracterização Química
Os resultados obtidos na caracterização química dos compostos presentes
nos óleos das espécies em estudos estão apresentados na Tabela 2.
O óleo de hortelã apresentou nove constituintes, sendo os majoritários a carvona
(71,50%) e a pulegona (16,76%). A carvona é uma cetona terpênica e pertence à
classe dos monoterpenos oxigenados. Estes compostos são derivados da Via DXPS,
uma vez que essa favorece principalmente a formação de monoterpenos, ocorrendo
nos plastídios das plantas (DUDAREVA et al., 2005). Shahsavarpour et al. (2017),
estudando o óleo essencial de hortelã, obtiveram como constituintes majoritários
carvona (45,96 %), pulegona (13,89%) e limoneno (12,81%) em valores inferiores
aos encontrados para o óleo essencial no presente estudo. O limoneno também foi
caracterizado no presente estudo, porém em concentração traço.
O constituinte majoritário encontrado para o óleo de manjericão foi o
estragol (75,19%). Brandão et al. (2022) encontraram como constituintes
majoritários no óleo de manjericão o linalol, o 1,8-cineol e a cânfora.
Anteriormente, estudos de Gökçe et al. (2021), encontraram como constituintes o
linalol (24,69%) como principal constituinte, juntamente com o éster metílico do
ácido cinâmico (19,14%) e o 1,8-cineol (13,11%). Estudando a composição química
do óleo essencial de manjericão Volpe et al. (2018) encontraram os seguintes
constituintes: estragol (93,20%), linalol (2,81%) e cineol (0,57%). Estes dados
corroboram com o componente principal encontrado no presente estudo. As
diferentes composições dos óleos essenciais são em razão das diferentes
características geográficas, tipo de colheita e temperatura de secagem (ROSADO
et al, 2011).
Atividade antifúngica
Os efeitos da atividade antifúngica dos óleos essenciais de manjericão e hortelã
sobre o fungoAspergillus ochraceus estão descritos na Tabela 3.
O óleo essencial que apresentou melhor atividade antifúngica foi o óleo de
manjericão com uma porcentagem de inibição de 72,13% na concentração de 3000 μL
L−1.
O constituinte majoritário encontrado no óleo essencial de manjericão foi o
estragol, um composto orgânico aromático pertencente à classe dos
fenilpropanóides. Kalemba e Kunicka (2003), citam que os componentes dos óleos
essenciais sobre o fungo, pode depender também da presença de certas funções
químicas presentes nos compostos dos óleos essenciais. Assim na ação
antimicrobiana, os constituintes químicos dos óleos essenciais de caráter
lipofílico do esqueleto de hidrocarboneto e o caráter hidrofílico dos grupos
funcionais são de grande importância. Desta forma a atividade dos componentes é
classificada na seguinte ordem: compostos fenólicos > aldeídos > cetonas >
álcoois > éteres > hidrocarbonetos. De acordo com Chiang et al (2005) os óleos
de manjericão com alto teor de estragol e linalol mostraram serem antifúngicos.
Quando os constituintes apresentam grupos funcionais, como fenóis, álcoois e
aldeídos, pode ocorrer interação com proteínas enzimáticas associadas às
membranas, inibindo a produção ou atividade dos microrganismos, isso ocorre pelo
fato dos óleos essenciais apresentarem caráter lipofílico. Desta forma essas
substâncias desencadeiam efeitos tóxicos na estrutura da parede celular fúngica
e da membrana citoplasmática, resultando em vazamentos dos constituintes
citoplasmáticos, alteração na fluidez e na permeabilidade, e consequentemente
interação com as organelas. (KALEMBA; KUNICKA, 2003). Os dados da literatura
mostram que compostos como o estragol presentes no óleo essencial de manjericão
tem efeito antifúngico como no caso do presente trabalho.
O óleo essencial de hortelã apresentou uma atividade mais baixa o que pode estar
relacionado ao fato do constituinte pulegona mesmo sendo um dos majoritários ter
uma percentagem menor na sua constituição do óleo que a carvona. Pesquisas de De
Souza Barros et al (2015) descrevem que o composto pulegona encontrado no óleo
de hortelã, apresentou um potencial antifúngico. Anteriormente, Oumzil et al.
(2002) já haviam citado que a pulegona era considerada um excelente fungicida.
Para os autores, os óleos essenciais que apresentam moderada atividade
antifúngica são justificados pela presença de componentes como D-carvona,
limoneno, óxido de piperitenona, mentol e mentona como no caso deste trabalho
que apresentou carvona com uma percentagem de 71,50%.
Fonte: Dos autores (2022)
RI cal – Índice de retenção calculado; IRtab – Índice de retenção tabelado; Fonte: Dos autores (2022)
Conclusões
O óleo essencial de hortelã apresentou um rendimento de (0,98%) em base livre de
umidade e o óleo de manjericão (0,50%). Os constituintes majoritários encontrados
no óleo essencial de hortelã foram carvona e pulegona; e o estragol no óleo
essencial de manjericão. O óleo essencial de manjericão apresentou uma melhor
atividade sobre o fungo Aspergillus ochraceus.
Agradecimentos
À Universidade Federal de Lavras (UFLA), (FAPEMIG – projeto CAG/APQ 02390/2018),
CAPES (001), CNPq projeto nº 309733/2017-0) e a Embrapa pela concessão de bolsas e
apoio financeiro.
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