Autores
Oliveira, M.V.S. (UFAM) ; Nogueira, P.A.D. (UFAM/ INPA) ; Santos, H.C. (UFAM/ INPA) ; Lima, M.P. (INPA) ; Silva, N.M. (UFAM)
Resumo
A Bemisia tabaci é um inseto fitófago de difícil controle, causador de
prejuízos a diversas culturas de importância econômica, como a couve. Este estudo
objetivou avaliar o efeito ninficida dos extratos de Annona mucosa sobre
ninfas de B. tabaci biótipo B em couve (Brassica oleraceae var.
acephala). As sementes do biribá foram secas e trituradas, sendo maceradas em
água, obtendo o extrato aquoso. Os extratos orgânicos foram obtidos por maceração
em lavadora ultrassônica. A CL50 obtida com os extratos aquosos foi de 4,9%, e foi
utilizado nos testes com os extratos orgânicos. O extrato hexânico apresentou
melhor resultado de mortalidade sobre as ninfas com 66,55%, demonstrando o
potencial para o controle alternativo para as ninfas de B. tabaci.
Palavras chaves
Planta inseticida; Controle alternativo; Bemisia
Introdução
A mosca-branca (B. tabaci) é um inseto fitófago e sugador de seiva
(BERNARDINO et al, 2019) considerada como a segunda praga invasiva mais
difundida e economicamente importante do mundo, com relatos de resistência a 56
inseticidas diferentes, em 165 países (WILLIS, 2017).
Mede de 1 a 2 mm de comprimento, 0,36 a 0,51 mm de largura, com dorso amarelo-
pálido e asas brancas (SOUZA e VENDRAMIM, 2000) com as fêmeas podendo depositar
entre 100 e 300 ovos durante seu ciclo de vida (BROWN e BIRD 1992). A sucção da
seiva, principalmente pelas ninfas, reduz o vigor da planta e a deposição de
excremento açucarado (honeydew) favorece a ocorrência da fumagina (Capnodium sp)
(INBAR e GERLING 2008; NARANJO e LEGG 2010). Contudo o principal dano está
relacionado à transmissão de fitovírus que causam nanismo severo, enrolamento
das folhas, intensa clorose e diminuição da produção (HAJI et al, 2004; POLSTON
et al, 2014).
É uma praga de difícil controle devido a sua plasticidade genética, podendo
rapidamente desenvolver resistência a inseticidas de diferentes grupos químicos
(LOURENÇÃO et al, 2015), de modo que extratos de plantas com propriedades
tóxicas a esta praga, são alvo de pesquisas em busca de um controle alternativo
que atue em conjunto ao manejo integrado de pragas (EMILIE et al, 2015; ROCHA e
SUJII 2019).
Muitas famílias botânicas possuem plantas inseticidas atestadas cientificamente,
contudo ainda há muitas outras a serem estudadas, como no caso das Annonaceaes,
constituídas por cerca de 100 gêneros e aproximadamente 2.300 espécies (CHATROU
et al, 2012), e apesar de sua grande diversidade, a quantidade de estudos destas
plantas visando o controle de insetos pragas ainda é baixo, provavelmente devido
a descoberta de suas propriedades inseticidas serem relativamente “recentes”
(KRINSKI et al, 2014).
Entre as Annonaceaes destaca-se a Annona mucosa Jacq., uma fruteira
nativa da Amazônia e Mata Atlântica, popularmente conhecida como Biribá
(FERREIRA et al, 2010), onde a maior expressão de seu potencial bioativo está
nas sementes, segundo o conhecimento popular da região.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a atividade inseticida dos extratos
aquoso e orgânico do Biribá (A. mucosa) no controle das ninfas da mosca-
branca, B. tabaci, em condições de semi-campo.
Material e métodos
Os bioensaios foram realizados no Laboratório de Entomologia e Acarologia
Agrícola (LEA) e casa de vegetação da área experimental da Faculdade de Ciências
Agrárias (FCA), ambos da UFAM.
As análises de DNA dos insetos foram realizadas no Laboratório de Entomologia e
Biotecnologia da Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás/GO,
utilizando a técnica PCR. Os resultados do biótipo analisado foram comparados
com os trabalhos de Bosco et al, (2006) e Marubayashi et al, (2013). As coletas
de B. tabaci e A. mucosa foram realizadas sob o cód. SISBIO: 77294 do Sistema de
Autorização e Informação em Biodiversidade. Os exemplares foram coletados da
criação estoque em Manaus, com os Voucher Specimens depositados na coleção
entomológica do LEA. As sementes de biribá foram coletadas no Sítio Vô Agenor
(02°46’53,2” S, 60°08’11,4” W). A exsicata foi identificada no laboratório de
botânica do ICB/UFAM, sob o cód. HUAM12267.
O material vegetal foi seco em estufa de circulação de ar forçado a 40ºC e
triturado em moinho de facas.
Para a criação-estoque, as moscas-branca foram atraídas naturalmente da área
experimental da FCA. Mudas de couve foram produzidas continuamente, utilizando
sementes da marca Horticeres® Sementes variedade Folha Manteiga da Geórgia, em
substrato Tropstrato HT Hortaliças® em tubetes de Ø=4 cm (55 cm3). A montagem
dos bioensaios foram adaptados de Pena (2012).
Para o preparo do extrato aquoso, o pó da semente de Biribá foi pesado de 1 a 5
g e diluído em 100 mL água destilada, obtendo-se as concentrações de 1, 2, 3, 4
e 5 % (m/v). A solução foi agitada por 15 min. e mantida em repouso por 24h. As
amostras foram filtradas e aplicou-se 1 ml de cada, com auxílio da Torre de
Potter (Burkard Scientific® 1kg/cm2), sobre as mudas de couve infestadas com as
ninfas.
Os extratos orgânicos foram obtidos a partir de 159 g de pó das sementes de A.
mucosa, em gradiente de polaridade, partindo de hexano, sendo 100ml de cada em
lavadora ultrassônica à 60°C/1h. Aplicou-se 1 ml de cada nas mudas infestadas,
com auxílio da Torre de Potter.
O teste de mortalidade se deu pela contagem de ninfas mortas observadas. A
mortalidade natural corrigida foi calculada pela fórmula de Abbott (1925): Mc
(%) = (%Mo - %Mt / 100 - %Mt) x 100, (onde: Mc = Mortalidade corrigida; Mo =
Mortalidade observada; Mt = Mortalidade na testemunha).
A estimativa da CL50 foi feita pela análise de Probit (FINNEY, 1971), utilizando
o programa R®, nas concentrações de 1, 2, 3, 4 e 5%.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado com 5
repetições (± 500 ninfas por tratamento). O teste de normalidade foi realizado
utilizando o teste de Shapiro-Wilk, e quando constatada uma distribuição não
normal, realizada a transformação dos dados em arcsen [{(x+0,5) /100})0,5]. A
análise de variância foi realizada pelo teste F, e a comparação das médias pelo
teste de Tukey (p<0,05), através do programa estatístico R.
Resultado e discussão
Todas as amostras das fêmeas adultas analisadas pelo teste de DNA coletadas em
Manaus e Iranduba foram identificadas como a espécie B. tabaci Middle East Asia
Minor 1 - MEAM1 (biótipo B).
O material vegetal moído da semente do biribá gerou um pó com aspecto pastoso,
demonstrando haver uma quantidade razoável de óleo fixo nas sementes.
O teste inicial com o extrato aquosos da semente de A. mucosa (Tabela 1)
apresentou uma mortalidade de 46,3%, um resultado muito promissor, sendo mais
elevado do que a mortalidade alcançada pelo produto comercial registrado para o
controle da mosca-branca, com ambos diferindo estatisticamente.
Apesar de aproximados, o extrato aquoso do biribá à 5% ainda obteve um resultado
superior ao produto comercial, evidenciando seu potencial de mortalidade sobre a
mosca-branca. O extrato aquoso de espécies da família annonaceae vem sendo
testado por autores em diversas aplicações em relação a sua bioatividade com
resultados promissores, como Lima et al. (2019) que identificou efeito de
imobilidade (64,4%) e mortalidade (23,24%) sobre Scutellonema bradys (conhecido
como nematóide do inhame). O extrato aquoso é simples de ser preparado, e se
apresenta como alternativa para a realidade de diversos produtores.
A CL50 do extrato aquoso encontrado foi de 4,95% (Tabela 2). O resultado obtido
nas concentrações de 1% e 2%, apesar do aumento da concentração, não diferiu
estatisticamente. A partir deste ponto todo aumento de concentração foi
estatisticamente diferente, atingindo a maior mortalidade de 56,35% na
concentração mais elevada (5%).
O resultado da CL50 demonstrou a progressão dos resultados conforme o aumento
das concentrações, e tendo como base o resultado do produto comercial, todas as
concentrações testadas apresentaram resultados notáveis que ultrapassaram os
30%, contudo, deve-se destacar a partir da concentração de 3%, com quase 40% de
mortalidade, com a de 4% alcançando 44,5%, e a de 5% alcançando 56,34%. Ansante
et al, (2015) encontraram uma CL50 com valor mais baixo para A. mucosa (842.9 mg
kg-1) sobre Spodoptera frugiperda, contudo este resultado foi obtido com o
extrato etanólico, e extrações com solventes orgânicos podem apresentar efeitos
mais fortes devido a maior extração de substâncias ativas.
Entre as extrações com solventes orgânicos das sementes de A mucosa, o maior
rendimento foi obtido com a extração em hexano, com mais de 22% (Tabela 3).
A extração hexânica resultou em um extrato com aspecto de óleo, que se torna
líquido quando aquecido, mas que fica pastoso com aspecto gorduroso quando em
temperatura ambiente. Os demais tiveram aspecto pastoso. Spletozer et al. (2021)
relata a produção de substâncias com potencial inseticida de espécies da família
annonaceae, como alcaloides e terpenos, e que podem estar presentes nestas
extrações. Em uma análise previa dos dados de RMN 1H e 13C bem como os de CG-MS
demonstram que o extrato hexânico possui uma quantidade elevada de ácidos graxos
em sua composição, entre os principais constituintes químicos estão os ácidos
oleico, linoleico, esteárico e palmítico.
Entre os extratos orgânicos, o extrato hexânico foi o que apresentou melhor
resultado, alcançando 66,5% de mortalidade (Tabela 4).
Este resultado indica que as substâncias ativas extraídas em maior quantidade
por esta metodologia são apolares. Os resultados de Soares et al. (2021)
corroboram com estes resultados, pois ao testarem extratos das sementes de A.
mucosa com diferentes solventes (Hexano, Diclorometano e Etanol) na concentração
de 500 mg L-1 em tomateiro, obtiveram após 7 dias, mortalidades próximas a 100%
em todos os extratos testados sobre as ninfas da mosca-branca, contudo, foram
realizadas sucessivas extrações, com um tempo maior de maceração entre os
solventes (3 dias), o que pode ter aumentado a extração das substâncias ativas
presentes nas sementes. Um tempo maior de extração entre os solventes é
recomendado em novos testes.
Conclusões
Os resultados obtidos são considerados promissores e atestam o potencial ninficida
do extrato aquoso de A. mucosa sobre B. tabaci, de forma que este extrato se
apresenta interessante para estudos futuros como possível alternativa de controle
para a mosca-branca no contexto do Manejo Integrado de Pragas (MIP) em cultivos de
couve.
Agradecimentos
A CAPES, ao PPGAT, ao LEA, a UFAM, ao LABCEM, ao Laboratório de Entomologia e
Biotecnologia da Embrapa Arroz e Feijão de Santo Antônio de Goiás/GO, ao LQPN -
INPA.
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