Autores
Araújo, I.M. (UFAM) ; Rodrigues, F.N. (UFAM) ; Lima, E.S. (UFAM) ; Flores, S.L.G. (UFAM) ; Leitão, G.G. (UFRJ) ; Silva, F.M.A. (UFAM) ; Guimarães, A.C. (UFAM)
Resumo
Esse trabalho teve como finalidade desenvolver uma metodologia eficaz para o
fracionamento de compostos fenólicos por meio da técnica de Cromatografia
Contracorrente (CCC) e avaliar a atividade antioxidante do extrato e fração em
acetato de etila (LSV03) de Andira parviflora. A fração LSV03 dos resíduos
madeireiros da espécie apresentou maior capacidade de inibição dos DPPH (74,50% ±
0,24) e ABTS (30,55 µg/mL ± 1,34). As análises por CLAE-DAD e CLAE-EM das frações,
após fracionamento de LSV03 por CCC, indicaram a presença dos flavonoides:
biochina A, genisteína 7-O-β-D-glucopiranosídeo, dihidrogenisteína, caempferol e
genisteína.
Palavras chaves
Sucupira vermelha; Cromatografia contracorre; Resíduo madeireiro
Introdução
Andira parviflora Ducke (Papilionoideae subfamília, Fabaceae), pertence ao
gênero Andira que inclui o grupo de plantas popularmente conhecidas como
“angelins”. A espécie é conhecida como sucupira vermelha, é largamente explorada
pela atividade madeireira e difundida principalmente no Amazonas e Pará (MATTOS,
1979). A Amazônia é uma das principais regiões produtoras de madeira tropical no
mundo, ficando atrás somente da Indonésia e Índia no ano de 2018 (OIMT, 2018;
RAMOS et al., 2022). A. parviflora apresenta poucos estudos acerca de sua
composição química relacionada aos resíduos da indústria madeireira. A
literatura relata alguns flavonoides em resíduos de A. parviflora como:
bipterocarpan, 7,3´-dihidroxi-4´-metoxipterocarpan, nissolina, medicarpina,
biochina A, genisteína, 8-O-metilretusina e a 7,5′,6′-triidroxi-4′-
metoxiisoflavana (GARCIA et al., 2021; GARCIA et al., 2018). O processamento da
madeira na indústria gera grandes quantidades de resíduos sólidos. Boa parte
deste resíduos não possui valor comercial e são descartados no meio ambiente,
causando sérios problemas de poluição (NASCIMENTO et al., 2012). A cromatografia
contracorrente (CCC) é uma técnica cromatográfica de partição líquido-líquido,
que utiliza duas fases líquidas imiscíveis retidas dentro de uma coluna, sem a
necessidade de um suporte sólido. A técnica de CCC é uma excelente ferramenta
para a purificação de produtos naturais, uma vez que ampla variedade de sistemas
de solventes, podem ser utilizados com polaridade diversificada, possibilitando
a separação de substâncias provenientes de matrizes complexas (LEITÃO & COSTA,
2025; HUANG et al., 2016).
Material e métodos
Os resíduos madeireiros (cerne) de A. parviflora foram coletados na empresa Mil
Madeiras Preciosas Ltda, localizada da região de Itacoatiara-AM. O cerne foi
limpo, seco e triturado. O extrato bruto foi obtido a partir de 800 g de
material vegetal, utilizando uma extração a quente a 60 °C em balão, sob
refluxo, com etanol a 70% v/v. Em seguida, o extrato foi concentrado em
evaporador rotatório e seco. O extrato bruto (LSV) foi particionado em ordem
crescente de polaridade, gerando as frações: hexano (LSV01), clorofórmio
(LSV02), acetato de etila (LSV03), butanol (LSV04) e o resíduo hidroalcóolico
(LSV05). A avaliação da atividade antioxidante foi realizada com o extrato bruto
e frações frente aos radicais livres DPPH (BURITIS & BUCAR, 2000) e ABTS (SHANTY
& MOHANAN, 2017). A fração LSV03 foi escolhida para o desenvolvimento de
metodologia de separação por CCC. A escolha do método foi definida a partir da
observação da distribuição da fração nos sistemas bifásicos de solventes
testados por cromatografia em camada delgada (CCD) (tabela 1). Os testes de
sistemas foram realizados com 2 mg da fração LSV03. A amostra foi solubilizada
em 2 mL de cada sistema, agitada e em seguida, a mistura foi deixada em repouso
para entrar em equilíbrio. Posteriormente, as fases superior e inferior foram
separadas e aplicadas em CCD, utilizando o eluente CHCl3:Ác. acético:MeOH:H2O
(60:32:12:8). O fracionamento de LSV03 (500 mg) por CCC, ocorreu em modo
reverso, gradiente não-linear, utilizando a fase superior (orgânica) do sistema
12 como fase estacionária e as fases inferiores (aquosa) dos sistemas 12 e 14,
como fases móveis. O fluxo da bomba variou entre 6 mL/min e 10 mL/min, a
temperatura de 23 °C e rotação de 1600 rpm. As frações obtidas foram analisadas
por CCD, CLAE-DAD e CLAE-EM.
Resultado e discussão
O extrato bruto de A. parviflora apresentou rendimento de 8,20% (65,57 g). As
frações LSV03 5,74 g (32,73%), LSV04 6,15 g (35,02%) e LSV05 4,21 g (24,01%),
apresentaram maiores rendimentos, indicando a concentração de metabólitos
polares no cerne. A fração LSV03 apresentou maior capacidade de inibição de
inibição dos radicais ABTS e DPPH em relação ao extrato bruto (figura 1-T.2). O
fracionamento de LSV03 por CCC gerou 18 frações, que foram analisadas em CCD,
que foram reunidas gerando 16 frações (figura 1-F.1). A CCD F.1A, mostra manchas
fluorescentes Rf 0,2-0,7, laranja Rf 0,1-0,4 e verde escuro Rf 0,6 manchas
características de fenólicos. A CCD revelada em vanilina sulfúrica (F.1B),
apresenta várias manchas vermelhas e rosas (Rf entre 0,2-0,7). Observou-se
também manchas amarelas (Rf 0,5) nas frações 15 e 16 e manchas roxas (Rf 0,1 e
0,3), nas frações 11, 12 e 16. A placa F.1C, revelada com DPPH, apresentou
manchas amarelas com Rf correspondentes àquelas observadas nas placas F.1A e
F.1B, que indicou a presença de substâncias com capacidade de inibir o radical
livre DPPH, nas frações obtidas. A figura 1 apresenta os cromatogramas (F.2.) de
CLAE-DAD de quatro frações ativas analisadas (figura 2-F.1B, manchas 04, 06, 14
e 16). A tabela 3 (figura 1-T.3) indica os principais íons detectados na análise
de CLAE-EM, em modo negativo, APCI, nas frações 04,06,14 e 16. As indicações das
substâncias foram compatíveis com compostos fenólicos já descritos para o gênero
Andira.
Proporções dos solventes dos Sistemas bifásicos selecionados para o fracionamento de LSV03
Principais resultados obtidos no trabalho
Conclusões
O método desenvolvido para separação de compostos fenólicos por cromatografia
contracorrente se mostrou eficaz, pois as frações obtidas a partir de LSV03 de A.
parviflora apresentaram perfil cromatográficos correspondentes a flavonoides. Além
disso, mostraram capacidade de inibir o radical livre DPPH. Os resultados obtidos
revelam o potencial do resíduo madeireiro de A. parviflora como fonte de
substâncias antioxidantes de importância tecnológica e científica para a espécie.
Agradecimentos
Os autores agradecem pelo apoio financeiro do Cnpq e FAPEAM, a empresa Mil
Madeiras Preciosas Ltda pelo fornecimento do material vegetal, a Central Analítica
(CAM-UFAM) e a UFAM pela infraestrutura.
Referências
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