• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Comparação de diferentes metodologias para extração da manteiga de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) para aplicação em cosméticos

Autores

Leão Pessoa, M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Brandão Góes, K.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Gomes da Silva, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Couto de Sá, M.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; da Costa Paes, (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS)

Resumo

O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) é um fruto amazônico muito popular entre os moradores da região norte. Do fruto, pode-se obter a polpa que é utilizada na culinária local para o preparo de sucos, cremes, sorvetes, balas e outros produtos regionais; de suas sementes é possível extrair manteiga, a qual é aplicada tanto par afins alimentícios na fabricação de cupulate quanto para fins cosméticos na formulação de xampus, sabonetes, cremes hidratantes e de pentear. Considerando as propriedades do fruto citado, e a falta de informações mais atuais sobre o processo de extração de sua manteiga, o presente estudo propôs a análise e verificação de qual melhor metodologia para extração do produto.

Palavras chaves

extração; manteiga; fruto amazônico

Introdução

O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) é um fruto neotropical de origem do sul e sudeste da Amazônia, com casca lisa e verde, pelagem marrom, formato arredondando, com grande valor econômico para o Norte e Nordeste do Brasil. Do fruto usa-se tanto a semente, quanto a polpa e casca; no Norte, da polpa se fazem variados produtos como balas, cremes, sorvetes, geleias, vinho e suco (SANTOS et al., 2010; LÓPEZ, 2015; SILVA; PIERRE, 2021). A casca pode ser utilizada na produção de pães e artesanato e as sementes tem grande valia para a indústria alimentícia, pois delas se extrai manteiga utilizada na produção de cupulate, a cada 100 kg de sementes se obtêm 13,5 kg de manteiga, tal uso ocorre pelo cupuaçu ser da mesma família que o cacau (Theobroma cacao) (LÓPEZ, 2015; MOTA; SERUFFO; ROCHA, 2020; SILVA; PIERRE, 2021). Além de cupulate, a manteiga pode ser aplicada em cosméticos, devido a presença de ácidos graxos insaturados, aminoácidos e vitaminas, originando propriedades hidratantes e umectantes, sendo utilizada em hidratantes no geral (HUBER et al., 2008; GOMES et al., 2022). Assim, a manteiga de cupuaçu por ser uma matéria- prima natural pode dar origem a cosméticos naturais e veganos, os quais atendem segundo Flor et al. (2019), a um público com “grande potencial de crescimento”. Apesar disso, realizando uma busca na literatura, vê-se que não há relatos atuais sobre as técnicas de extração, somente metodologias antigas. Com isso, devido o fruto e seus derivados serem rentáveis e amplamente aplicados no enriquecimento da cultura e economia, também são conhecidos pela obtenção de propriedades benéficas em formulações cosméticas. Baseado no exposto, o presente estudo propôs analisar os melhores métodos para extração da manteiga de cupuaçu.

Material e métodos

- Local de estudo Laboratórios de Farmacotécnica e Cosmetologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas – UFAM/FCF. - Obtenção das sementes de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) 5 kg de sementes foram compradas de um comerciante local, que as vendia para fabricação de cupulate. - Processo de fermentação e secagem As metodologias escolhidas foram uma adaptação da EMBRAPA, 1990; SOUZA et al., 2016; e EMBRAPA, 2018. As sementes foram catadas manualmente e pesadas com auxílio de uma balança, em seguida armazenadas em um saco de rafia acondicionado em uma caixa de isopor com buracos ao fundo de 5cm x 5cm, após o armazenamento uma solução de açúcar a 30% (correspondente a 1% do peso de sementes) foi acrescentada dentro do saco de rafia e as sementes revolvidas, tal processo ocorreu de 48h em 48h durante uma semana. Depois dos sete dias, as amêndoas foram lavadas em água corrente e submetidas ao processo de secagem na estufa de ar circulante pelo período de um dia, sendo 6h a 105º e 18h a 41º, até que ficassem torradas. Após a torra, as amêndoas foram descascadas manualmente e armazenadas em um recipiente de vidro à espera da prensagem. É interessante ressaltar que foi decidido seguir com duas amostras, a primeira passaria pelo processo de fermentação (2 kg) e a segunda iria direto para a prensagem (3 kg), com a finalidade de verificar se o processo provocaria diferenças em relação as características organolépticas da manteiga. - Extração da manteiga As amêndoas foram pesadas, aquecidas em um forno elétrico à 100 °C por dez minutos, quebradas ao meio e prensadas em uma mini prensa de óleos (oil press machine), de uso pessoal.

Resultado e discussão

Para a 1° tentativa utilizou-se as metodologias EMBRAPA (2018) e EMBRAPA (1990), e não se obteve nenhum líquido. Com isso, foi sugerido realizar a ativação das amêndoas por cozimento em água semelhante ao processo de extração da andiroba, sendo adaptada a metodologia descrita em Mendonça; Ferraz (2007) e Lira et al., (2021). Como resultado houve a saída de um líquido de coloração marrom e com cheiro adocicado, após três dias observou-se a formação de manteiga em poucas quantidades, porém observou-se um baixo rendimento (16,001g). A 3° tentativa foi realizada com uma mini extratora de óleo automática, e após o processo, observou-se a saída de um pó com cheiro adocicado sem obtenção de líquido. Em seguida, uma nova amostra foi usada, a qual optou-se por realizar a prensagem sem o processo de cozimento com água, porém levando a aquecimento em forno elétrico à 100°C por 10 min. Por fim, observou-se a saída de líquido oleoso de coloração marrom e cheiro adocicado sendo decantado e formando 139,067g de manteiga. As dificuldades encontradas em relação a extração do óleo para obtenção da manteiga, podem estar relacionados a umidade e temperatura. Segundo Pighinelli et al., (2008), o alto rendimento está diretamente ligado ao aquecimento e ao teor de umidade, logo se a umidade estiver alta como foi o caso das sementes durante as tentativas, diminui a fricção causando o baixo rendimento. E a baixa umidade, juntamente com o aquecimento ajuda a saída dos lipídios proporcionando uma maior extração de produto durante o processo de prensagem. No caso do presente estudo a umidade foi resolvida quando as sementes foram levadas a aquecimento no forno, proporcionando o controle da umidade, acarretando um bom rendimento durante a extração (PIGHINELLI, et al, 2008).

Conclusões

A manteiga é um produto é rico em lipídios e devido suas propriedades pode ser amplamente utilizada na indústria de cosméticos e alimentícia, e pela dificuldade de extração vê-se a necessidade de mais pesquisas e análises atuais sobre o processo para facilitar sua obtenção e enriquecer a cultura nortista e nordestina através da valorização de produtos regionais. Além disso, através do presente estudo vê-se que a melhor maneira de ativar as sementes é sob aquecimento sem que elas sejam molhadas antes, a fim de controlar umidade, para um melhor rendimento da extração.

Agradecimentos

À Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo recurso, ao Laboratório de Pesca da UFAM pela ajuda de materiais, e especialmente à Esmeraldina Kubatamaia e Celso Kubatamaia pelo tempo, conhecimento e material disponilizado.

Referências

EMBRAPA. Fermentação e Secagem de Amêndoas de Cupuaçu para Agroindústrias Familiares. Folheto, 1ª ed. Novembro, 2018.

EMBRAPA. Processamento das Sementes de Cupuaçu Para Obtenção de Cupulate, Boletim de Pesquisa, n. 108, p. 3, 1990.

FLOR, J; MAZIN, M.R.; FERREIRA, L.A. Cosméticos naturais, orgânicos e veganos. Cosmetics&Toiletries, vol. 31, mai-jun, 2019.

GOMES, I.V. et al. Desenvolvimento de sabonete em barra com manteiga de caupuaçu (Theobroma grandiflorum). Research, Society and Development. V. 11, n. 8, jun-2022.

HUBER, L.A. et al. Nanopartículas lipídicas sólidas preparadas a partir de manteiga de cupuaçu (Theobroma grandiflorum). Livro de resumos (Tecnologia Farmacêutica), 2008.

LIRA, G.B. et al. Processos de extração e usos industriais de óleos de andiroba e açaí: uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 12, setembro, 2021.

LÓPEZ, P.A., Avaliação da cadeia produtiva do Cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Wild. Ex Spreng.) Schum) nos municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manaus. Dissertação de mestrado – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. p. 100, 2015.

MENDONÇA, A.P; FERRAZ, I.D. Óleo de andiroba: processo tradicional da extração, uso e aspectos sociais no estado do Amazonas, Brasil. Acta Amazônica, vol. 37, n. 3, 2007.

MOTA, L.S.; SERUFFO, H.H.; ROCHA, C.A. Prospecção tecnológica de Theobroma grandiflorum: mapeamento de tecnologias geradas a patir do cupuaçu. Cadernos de prospecção – Salvador, v. 13, n. 3, junho, 2020.

PIGHINELLI, A,L. et al. Otimização da prensagem de grãos de girassol e sua caracterização. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, n. 1, p. 63-67, 2008.

SILVA, L.S.; PIERRE, F.C. Aplicabilidade do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (willd. Ex. sprend) em produtos e subprodutos processados. Tekhne e Logos, v. 12, n. 1, abril, 2021.

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