Autores
Leão Pessoa, M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Brandão Góes, K.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Gomes da Silva, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; Couto de Sá, M.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS) ; da Costa Paes, (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS)
Resumo
O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) é um fruto amazônico muito popular entre os
moradores da região norte. Do fruto, pode-se obter a polpa que é utilizada na
culinária local para o preparo de sucos, cremes, sorvetes, balas e outros produtos
regionais; de suas sementes é possível extrair manteiga, a qual é aplicada tanto
par afins alimentícios na fabricação de cupulate quanto para fins cosméticos na
formulação de xampus, sabonetes, cremes hidratantes e de pentear. Considerando as
propriedades do fruto citado, e a falta de informações mais atuais sobre o
processo de extração de sua manteiga, o presente estudo propôs a análise e
verificação de qual melhor metodologia para extração do produto.
Palavras chaves
extração; manteiga; fruto amazônico
Introdução
O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) é um fruto neotropical de origem do sul e
sudeste da Amazônia, com casca lisa e verde, pelagem marrom, formato
arredondando, com grande valor econômico para o Norte e Nordeste do Brasil. Do
fruto usa-se tanto a semente, quanto a polpa e casca; no Norte, da polpa se
fazem variados produtos como balas, cremes, sorvetes, geleias, vinho e suco
(SANTOS et al., 2010; LÓPEZ, 2015; SILVA; PIERRE, 2021).
A casca pode ser utilizada na produção de pães e artesanato e as sementes tem
grande valia para a indústria alimentícia, pois delas se extrai manteiga
utilizada na produção de cupulate, a cada 100 kg de sementes se obtêm 13,5 kg de
manteiga, tal uso ocorre pelo cupuaçu ser da mesma família que o cacau
(Theobroma cacao) (LÓPEZ, 2015; MOTA; SERUFFO; ROCHA, 2020; SILVA; PIERRE,
2021).
Além de cupulate, a manteiga pode ser aplicada em cosméticos, devido a presença
de ácidos graxos insaturados, aminoácidos e vitaminas, originando propriedades
hidratantes e umectantes, sendo utilizada em hidratantes no geral (HUBER et al.,
2008; GOMES et al., 2022). Assim, a manteiga de cupuaçu por ser uma matéria-
prima natural pode dar origem a cosméticos naturais e veganos, os quais atendem
segundo Flor et al. (2019), a um público com “grande potencial de crescimento”.
Apesar disso, realizando uma busca na literatura, vê-se que não há relatos
atuais sobre as técnicas de extração, somente metodologias antigas. Com isso,
devido o fruto e seus derivados serem rentáveis e amplamente aplicados no
enriquecimento da cultura e economia, também são conhecidos pela obtenção de
propriedades benéficas em formulações cosméticas. Baseado no exposto, o presente
estudo propôs analisar os melhores métodos para extração da manteiga de cupuaçu.
Material e métodos
- Local de estudo
Laboratórios de Farmacotécnica e Cosmetologia da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas – UFAM/FCF.
- Obtenção das sementes de cupuaçu (Theobroma grandiflorum)
5 kg de sementes foram compradas de um comerciante local, que as vendia para
fabricação de cupulate.
- Processo de fermentação e secagem
As metodologias escolhidas foram uma adaptação da EMBRAPA, 1990; SOUZA et al.,
2016; e EMBRAPA, 2018.
As sementes foram catadas manualmente e pesadas com auxílio de uma balança, em
seguida armazenadas em um saco de rafia acondicionado em uma caixa de isopor com
buracos ao fundo de 5cm x 5cm, após o armazenamento uma solução de açúcar a 30%
(correspondente a 1% do peso de sementes) foi acrescentada dentro do saco de
rafia e as sementes revolvidas, tal processo ocorreu de 48h em 48h durante uma
semana. Depois dos sete dias, as amêndoas foram lavadas em água corrente e
submetidas ao processo de secagem na estufa de ar circulante pelo período de um
dia, sendo 6h a 105º e 18h a 41º, até que ficassem torradas. Após a torra, as
amêndoas foram descascadas manualmente e armazenadas em um recipiente de vidro à
espera da prensagem.
É interessante ressaltar que foi decidido seguir com duas amostras, a primeira
passaria pelo processo de fermentação (2 kg) e a segunda iria direto para a
prensagem (3 kg), com a finalidade de verificar se o processo provocaria
diferenças em relação as características organolépticas da manteiga.
- Extração da manteiga
As amêndoas foram pesadas, aquecidas em um forno elétrico à 100 °C por dez
minutos, quebradas ao meio e prensadas em uma mini prensa de óleos (oil press
machine), de uso pessoal.
Resultado e discussão
Para a 1° tentativa utilizou-se as metodologias EMBRAPA (2018) e EMBRAPA (1990),
e não se obteve nenhum líquido. Com isso, foi sugerido realizar a ativação das
amêndoas por cozimento em água semelhante ao processo de extração da andiroba,
sendo adaptada a metodologia descrita em Mendonça; Ferraz (2007) e Lira et al.,
(2021). Como resultado houve a saída de um líquido de coloração marrom e com
cheiro adocicado, após três dias observou-se a formação de manteiga em poucas
quantidades, porém observou-se um baixo rendimento (16,001g).
A 3° tentativa foi realizada com uma mini extratora de óleo automática, e após o
processo, observou-se a saída de um pó com cheiro adocicado sem obtenção de
líquido. Em seguida, uma nova amostra foi usada, a qual optou-se por realizar a
prensagem sem o processo de cozimento com água, porém levando a aquecimento em
forno elétrico à 100°C por 10 min. Por fim, observou-se a saída de líquido
oleoso de coloração marrom e cheiro adocicado sendo decantado e formando
139,067g de manteiga.
As dificuldades encontradas em relação a extração do óleo para obtenção da
manteiga, podem estar relacionados a umidade e temperatura. Segundo Pighinelli
et al., (2008), o alto rendimento está diretamente ligado ao aquecimento e ao
teor de umidade, logo se a umidade estiver alta como foi o caso das sementes
durante as tentativas, diminui a fricção causando o baixo rendimento. E a baixa
umidade, juntamente com o aquecimento ajuda a saída dos lipídios proporcionando
uma maior extração de produto durante o processo de prensagem. No caso do
presente estudo a umidade foi resolvida quando as sementes foram levadas a
aquecimento no forno, proporcionando o controle da umidade, acarretando um bom
rendimento durante a extração (PIGHINELLI, et al, 2008).
Conclusões
A manteiga é um produto é rico em lipídios e devido suas propriedades pode ser
amplamente utilizada na indústria de cosméticos e alimentícia, e pela dificuldade
de extração vê-se a necessidade de mais pesquisas e análises atuais sobre o
processo para facilitar sua obtenção e enriquecer a cultura nortista e nordestina
através da valorização de produtos regionais. Além disso, através do presente
estudo vê-se que a melhor maneira de ativar as sementes é sob aquecimento sem que
elas sejam molhadas antes, a fim de controlar umidade, para um melhor rendimento
da extração.
Agradecimentos
À Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo recurso, ao Laboratório de Pesca da
UFAM pela ajuda de materiais, e especialmente à Esmeraldina Kubatamaia e Celso
Kubatamaia pelo tempo, conhecimento e material disponilizado.
Referências
EMBRAPA. Fermentação e Secagem de Amêndoas de Cupuaçu para Agroindústrias Familiares. Folheto, 1ª ed. Novembro, 2018.
EMBRAPA. Processamento das Sementes de Cupuaçu Para Obtenção de Cupulate, Boletim de Pesquisa, n. 108, p. 3, 1990.
FLOR, J; MAZIN, M.R.; FERREIRA, L.A. Cosméticos naturais, orgânicos e veganos. Cosmetics&Toiletries, vol. 31, mai-jun, 2019.
GOMES, I.V. et al. Desenvolvimento de sabonete em barra com manteiga de caupuaçu (Theobroma grandiflorum). Research, Society and Development. V. 11, n. 8, jun-2022.
HUBER, L.A. et al. Nanopartículas lipídicas sólidas preparadas a partir de manteiga de cupuaçu (Theobroma grandiflorum). Livro de resumos (Tecnologia Farmacêutica), 2008.
LIRA, G.B. et al. Processos de extração e usos industriais de óleos de andiroba e açaí: uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 12, setembro, 2021.
LÓPEZ, P.A., Avaliação da cadeia produtiva do Cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Wild. Ex Spreng.) Schum) nos municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manaus. Dissertação de mestrado – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. p. 100, 2015.
MENDONÇA, A.P; FERRAZ, I.D. Óleo de andiroba: processo tradicional da extração, uso e aspectos sociais no estado do Amazonas, Brasil. Acta Amazônica, vol. 37, n. 3, 2007.
MOTA, L.S.; SERUFFO, H.H.; ROCHA, C.A. Prospecção tecnológica de Theobroma grandiflorum: mapeamento de tecnologias geradas a patir do cupuaçu. Cadernos de prospecção – Salvador, v. 13, n. 3, junho, 2020.
PIGHINELLI, A,L. et al. Otimização da prensagem de grãos de girassol e sua caracterização. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, n. 1, p. 63-67, 2008.
SILVA, L.S.; PIERRE, F.C. Aplicabilidade do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (willd. Ex. sprend) em produtos e subprodutos processados. Tekhne e Logos, v. 12, n. 1, abril, 2021.