• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O TEOR DE COMPOSTOS FENÓLICOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE EXTRATOS DE FOLHAS, FRUTOS E FLORES DE ORA-PRO-NÓBIS (Pereskia aculeata Mill.)

Autores

Cruz, T.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA - UEPG) ; Stelle, Y. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA - UEPG) ; Granato, D. (UNIVERSITY OF LIMERICK) ; Marques, M.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA - UEPG)

Resumo

As folhas de ora-pro-nóbis (OPN) são a parte da planta mais conhecida, mas existem lacunas no estudo de flores e frutos. Com isso, o objetivo deste trabalho foi comparar o teor de fenólicos (CFT) e a atividade antioxidante (AA) de extratos destas matrizes. Para isto, foi quantificado o teor de CFT e AA de captura de radicais (DPPH e ABTS), potencial redutor (FRAP e CRT) e inibição de peroxidação lipídica (IPL). Os extratos são ricos em compostos fenólicos e são eficientes como antioxidantes, entretanto é possível destacar os extratos hidroalcoólicos, especialmente o hidroalcoólico de flores, que apresenta o maior teor de fenólicos (41 mg AGE/g) e AA (IC50, DPPH = 47 mg/L; CRT = 120 mg QE/g; IC50, IPL = 152 mg/L), o que indica o potencial bioativo de outras partes da OPN que não as folhas.

Palavras chaves

Groselha-de-Barbados; PANC; Peroxidação Lipídica

Introdução

Pereskia aculeata Mill. é uma planta popularmente conhecida como ora-pro-nóbis (OPN), groselha-de-Barbados, entre outros nomes, com distribuição preferencial desde a Bahia até o Rio Grande do Sul (SOUZA et al, 2016). Caracteriza-se como uma uma planta alimentícia não-convencional (PANC) e suas folhas, frutos e flores são comestíveis. Suas folhas são a parte mais consumida e estudada da planta e são ricas em proteínas, ferro, vitaminas e fenólicos (Cruz et al, 2021; Takeiti et al, 2009), o que as caracteriza como um alimento nutritivo e funcional. Estas características corroboram seu uso culinário (de Almeida & Corrêa, 2012), podendo, ainda, ser uma alternativa ao consumo de proteína animal, pois seu teor proteico ultrapassa 20% (base seca) (Takeiti et al, 2009). Seus frutos são ricos em carotenoides e fenólicos (da Silva et al, 2018), dentre os quais já foram identificados quercetina e ácido cafeico, entre outros (Moraes et al, 2021). Na medicina popular, são utilizados como antissifilíticos e expectorantes (Pinto & Scio, 2014), mas outras propriedades biológicas já foram demonstradas in vitro, como as atividades antioxidante, antiproliferativa e neuroprotetora (Massocatto et al, 2021; Moraes et al, 2021). As flores da OPN são a parte menos estudada, sendo ricas em ácidos fenólicos, como os ácidos p-cumárico e vanílico, além de alcaloides como a mescalina e triptamina. Além disso, o extrato aquoso apresenta atividade antioxidante mais intensa que a verificada para os frutos, indicando o seu potencial nutracêutico (Moraes et al, 2021). Entretanto, ainda existem lacunas no estudo de propriedades funcionais de flores e frutos de OPN. Com isso, o objetivo deste trabalho foi comparar o teor de compostos fenólicos e a atividade antioxidante dos frutos, folhas e flores de OPN.

Material e métodos

As amostras de folhas (coletadas em 18/04/22), flores (coletadas em 09/03/22) e frutos (coletadas em 16/07/22) foram coletadas de um mesmo espécime (Voucher nº 22692) localizado no município de Ponta Grossa, PR (25º08’79.7’’S, 50º09’35.8’’W). As partes foram secas em estufa de circulação de ar a 40 ºC até massa constante. Em seguida, foram realizadas extrações com etanol, água ultrapura e mistura hidroalcoólica (50% água, 50% etanol), a 50 ºC por 30 minutos. O teor de compostos fenólicos totais (CFT) foi quantificado segundo Margraf et al (2015), com curva analítica de 20-100 mg/L, R² = 0,9971 e os resultados expressos em mg de ácido gálico equivalente (AGE)/g. A atividade antioxidante (AA) dos extratos foi avaliada pela inibição dos radicais 2,2-difenil-2- picrilhidrazil (DPPH) (BRAND-WILLIAMS et al, 1995) e 2,2’-azinobis-(3- etilbenzotiazolina-6-ácido sulfônico) (ABTS+•) (RE et al, 1999), com resultados expressos em IC50 (mg/L). Também foram avaliadas a capacidade antioxidante de redução de Fe (III) (FRAP) (faixa de trabalho de 20-100 mg/L, R² = 0,9971 e os resultados expressos em mg de ácido ascórbico equivalente (AAE)/g, GRANATO et al, 2015), a capacidade redutora total (CRT) (faixa de trabalho de 20-120 mg/L, R² = 0,9988 e os resultados expressos em mg de quercetina equivalente (QE)/g, BERKER et al, 2013) e a inibição de peroxidação lipídica (IPL) (amostras a 200 µg/mL; Margraf et al, 2016). Os resultados foram expressos em média ± desvio-padrão. A homocedasticidade dos resultados foi avaliada pelo teste de Brown-Forsythe. As respostas foram comparadas com análise de variância unidimensional. Os testes foram realizados no Software Statistica v. 13.2 e o nível de significância aplicado foi de 0,05.

Resultado e discussão

O teor de CFT dos extratos variou entre 12-41 mg AGE/g (Tabela 1), sendo o extrato hidroalcoólico de flores o mais rico nesta classe de compostos. Este é o primeiro relato do teor de CFT para extratos de flores e frutos de OPN. Na literatura, o teor de CFT dos extratos aquoso, etanólico e hidroalcoólico de folhas varia entre 13-65 mg AGE/g (CRUZ et al, 2021; MACIEL et al, 2021), que valores similares aos encontrados neste trabalho. Os resultados de AA estão mostrados na Tabela 2. Na inibição de radicais, os extratos apresentaram IC50 de 47-570 mg/L (DPPH) e 42-440 mg/L (ABTS). O extrato hidroalcoólico de flores apresentou o menor IC50 para ambos os radicais (DPPH = 47 mg/L; ABTS = 42 mg/L), o que pode ser atribuído ao seu teor de CFT. Estes resultados são melhores que os encontrados para ácido ascórbico (IC50,DPPH = 4 mg/L; IC50,ABTS = 3 mg/L) e BHT (IC50,DPPH = 66 mg/L; IC50,ABTS = 13 mg/L) e os da literatura para o extrato hidroalcoólico de folhas (IC50,DPPH = 72,9 mg/L; IC50,ABTS = 72,9 mg/L; GARCIA et al, 2019). Nas análises de poder redutor, a eficiência dos extratos variou entre 26-76 mg AAE/g (FRAP) e 26-120 mg QE/g (CRT). Novamente, o extrato hidroalcoólico de flores demonstrou a maior eficiência dentre as amostras, apresentando AA mais expressiva que a verificada por Cruz et al (2021) para extrato hidroalcoólico de folhas de OPN (61 mg AAE/g para FRAP; 80 mg QE/g para CRT). Para IPL, os extratos aquosos de frutos e folhas e o etanólico de frutos apresentaram IC50 maior que 500 mg/L. A amostra mais eficiente foi o extrato hidroalcoólico de flores (IC50 = 152 mg/L), apesar de não tão eficiente quanto a quercetina (IC50 = 69 mg/L) e o BHT (IC50 = 70 mg/L). Na literatura, o IC50 reportado para o extrato hidroalcoólico de folhas é de 39 mg/L (GARCIA et al, 2019).

Tabela 1

Rendimento e teor de compostos fenólicos totais (CFT) dos extratos de folhas, frutos e flores de ora-pro-nóbis.

Tabela 2

Atividade antioxidante dos extratos de folhas, frutos e flores de ora-pro-nóbis.

Conclusões

Extratos de flores, folhas e frutos de OPN são ricos em fenólicos, especialmente o extrato hidroalcoólico de flores, que apresentou o maior teor de CFT entre as amostras. Quanto à AA, o melhor solvente para extração de compostos antioxidantes é o hidroalcoólico e extratos de flores são mais eficientes que os de frutos que, por sua vez, são mais eficientes que os de folhas. Este trabalho mostra que, apesar das folhas serem a parte mais consumida da OPN, seus extratos apresentam menores teores de CFT e AA in vitro que os de flores e frutos, sugerindo o potencial bioativo destas matrizes.

Agradecimentos

Às agências de fomento de pesquisa (CAPES e CNPq), à UEPG, c-LABMU pela estrutura, equipamentos e análises. À equipe do LAQUA e do grupo de Química de Alimentos da UEPG pelo auxílio e apoio.

Referências

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