Autores
Passos, G.H. (INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA) ; Miranda, L.M. (INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA) ; Silva, R.A. (INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA) ; Silva, M.G. (INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA)
Resumo
Neste trabalho avaliou-se a atividade antimicrobiana de frações etanólica e em
acetato de etila de rizomas de carapiá. Utilizou-se o método de difusão em ágar e
cepas padrão de Staphylococcus aureus (NEWP 0023), Escherichia coli (NEWP 0018) e
Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853). Os resultados mostraram potencial
antimicrobiano das frações orgânicas testadas contra cepas de S. aureus e P.
aeruginosa. Para estas cepas, o halo de inibição apurado para a fração etanólica
foi de 19% do halo padrão. Resultado semelhante foi obtido pelos halos formados a
partir do teste com a fração em acetato de etila, com medidas correspondentes a
20% do halo padrão. Este estudo demonstrou a potencialidade das frações orgânicas
de carapiá quanto ao desenvolvimento de agentes com atividade antimicrobiana.
Palavras chaves
química ; antibiograma; produtos naturais
Introdução
A química de produtos naturais constitui uma importante área de pesquisa,
identificação e desenvolvimento de substâncias com atividades terapêuticas que
culminam em protótipos de fármacos para uma aplicação específica. Os produtos
naturais representam uma excelente fonte de novos fármacos. Estima-se que cerca
de 60 a 80% de novos antibióticos e de novas drogas antitumorais aprovadas pelo
FDA e entidades similares de outros países, são produtos naturais ou seus
derivados (HARVEY, 2000). Dorstenia asaroides é uma espécie da família Moraceae
e conhecida popularmente como caapiá ou carapiá. Uma característica marcante
desta planta são rizomas com odor adocicado, indicando a presença de
furanocumarinas (BAUER, NOLL, 1986). Apesar da escassez de dados sobre o gênero
Dorstenia sabe-se que todas as espécies são dotadas de propriedades medicinais
como atividade analgésica e/ou antiinflamatória, atividade antileishmania,
atividade antioxidante, atividade citotóxica, atividade giardicida, efeitos
antihipertensivos e diminuição nos níveis de colesterol e insulina (BALESTRIN et
al., 2008). O cultivo de espécies de carapiá tem sido alvo de diversas
pesquisas, com vistas à determinação das melhores condições para a produção de
metabólitos secundários de interesse (REZENDE et al, 2020). O objetivo deste
trabalho foi avaliar a atividade antimicrobiana de extratos e frações orgânicas
obtidas de Dorstenia asaroides. A pesquisa por agentes antimicrobianos deve ser
contínua a partir de espécies brasileiras, considerando a variedade de
bactérias, fungos e leveduras que adquirem resistência aos antibióticos
disponíveis bem como na descoberta de bactérias multirresistentes, como aquelas
isoladas de ambiente hospitalar.
Material e métodos
Rizomas de D. asaroides foram obtidos no comércio em Brasília (CNPJ
09.471.535/0001-15). Após lavagem e secagem, 30 g de rizomas de carapiá foram
submetidos a tratamento com acetato de etila por maceração com ultrassom,
objetivando a extração geral de componentes dos rizomas. Em seguida, procedeu-se
a extração com etanol. Após cada processo extrativo, os solventes foram
eliminados em rotavapor a pressão reduzida, obtendo-se as frações em etanol
(FrEtOH) e acetato de etila (FrACT). O perfil químico destas frações foi
analisado por meio de cromatografia em camada delgada, utilizando-se placas de
sílica gel (70/230 mesh, Fluka Analytical), GF254 5 x 10 cm e para a fase móvel
(FM) utilizou-se uma mistura de hexano e acetato de etila 1:1. Gotas de ácido
acético foram adicionadas à FM de modo a minimizar efeitos de cauda. Após a
eluição dos componentes das frações, as placas foram reveladas por radiação
ultravioleta nos comprimentos de onda 254 e 365 nm com vistas ao cálculo do
fator de retenção. Para os ensaios da atividade antimicrobiana das frações
FrEtOH e FrACT utilizou-se o método de difusão em ágar Mueller Hinton. Foram
utilizadas cepas padrão de S. aureus (NEWP 0023) e E. coli (NEWP 0018)
fornecidas pela Newprov e P. aeruginosa (ATCC 27853) fornecida pela CentralLab,
tendo sido padronizadas ao equiparar a turbidez do inóculo com uma solução
padrão de McFarland 0,5, equivalente à 2x108 UFC/mL. As frações foram preparadas
em DMSO 20% a uma concentração de 100mg/100µL. Como padrões, utilizou-se DMSO
20% e antibiótico específico para cada bactéria. Ao fim do período de incubação,
as placas foram examinadas para observar a formação dos halos de inibição e a
análise dos resultados foi realizada por meio da comparação dos halos de
inibição das amostras e do controle positivo
Resultado e discussão
Verificou-se que o processo de maceração seguido por ultrassom foi eficiente e
permitiu a ruptura de estruturas celulares da amostra e assim a extração dos
metabólitos secundários. Quanto à composição química das frações obtidas neste
trabalho e analisadas por cromatografia em camada delgada, verificou-se que os
valores de Rf (fator de retenção) foram similares, consequência da polaridade
dos solventes utilizados. Relativo aos metabólitos secundários de Dorstenia, a
presença de derivados de cumarinas e furanocumarinas figuram como importantes
marcadores químicos desta espécie, sendo facilmente detectadas sob luz
ultravioleta com comprimento de onda próximo a 365 nm. Na análise das frações, o
Rf calculado em 0,586 muito provavelmente seja correspondente a derivados
cumarínicos. Relativo a análise da atividade antimicrobiana, verificou-se que a
fração em etanol foi efetiva contra S. aureus e P. aeruginosa. Esta fração
apresentou 19,1% de atividade quando comparado ao padrão para as duas bactérias
testadas. De forma análoga, a FrACT apresentou 20% da atividade do antibiótico
padrão. Estes resultados estão de acordo com dados da literatura e em
conformidade, por exemplo, com estudos realizados por Ali, Saeed, Fdhel, 2019.
Além de atividade antibacteriana, estudos com espécies de Dorstenia têm
demonstrado que os metabólitos secundários desta planta também são capazes de
inibir o crescimento de fungos, como Trichophytn rubrum, um fungo dermatófito de
interesse clínico (NGAMENI et al., 2009). Os resultados apresentados neste
trabalho indicaram que o processo extrativo foi capaz de obter substâncias de
interesse farmacêutico, contribuindo para o desenvolvimento da química de
produtos naturais e para o desenvolvimento de novos medicamentos antibióticos.
Conclusões
O presente estudo possibilitou a observação de uma série de substâncias presentes
nos extratos obtidos além da atividade antimicrobiana das frações orgânicas da
carapiá. A partir dos resultados, outros estudos podem vir a ser realizados
visando o isolamento destas substâncias por meio de métodos cromatográficos mais
precisos. É um resultado importante, pois é um indicativo real da presença de
substâncias bioativas que podem servir para o design de novas drogas com atividade
antimicrobiana.
Agradecimentos
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Programa de
Iniciação Científica (PIBIC) – Instituto Federal de Brasília.
Referências
ALI, A. M., SAEED, A. A. M., FDHEL, T. A. Phytochemical analysis and antimicrobial screening of select Yemeni folk medicinal plants. Journal of Medicinal Plants Studies, v. 7, n. 5, p. 108-114, 2019.
BALESTRIN, L. et al. Contribuição ao estudo fi toquímico de Dorstenia multiformis Miquel (Moraceae) com abordagem em atividade antioxidante. Brazilian Journal of Pharmacognosy 18(2), p. 230-235, Abr./Jun. 2008.
BAUER, L., NOLL, IB. Furanocumarinas de Dorstenia brasiliensis Lam. Caderno de Farmácia 2, p. 163-170, 1986.
HARVEY, Alan. Strategies for discovering drugs from previously unexplored natural products. Drug Discovery Today, v. 5, n. 7, p. 294-300, 2000.
NGAMENI, B. et al. Antibacterial and antifungal activities of the crude extract and compounds from Dorstenia turbinata (Moraceae). South African Journal of Botany, v. 75, n. 2, p. 256-261, 2009.
REZENDE, M.N. et al. Relação entre fontes de adubação na produção de furanocumarina no cultivo de carapiá (D. brasiliensis). Científica Multidisciplinary Journal, v. 8, n. 2, 2020.