Autores
Cesario, V.M. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Vieira, J.S.C. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Reis, H.C. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Rodrigues, M.R.M. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; do Ano, J.D.A. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Costa, T.G. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Moraes, D.S. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Reis, A.C. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Sousa, F.H.S. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA) ; Rodrigues, D.S. (IFMA-CAMPUS ZÉ DOCA)
Resumo
O mosquito Aedes aegypti é um vetor de varias doenças e o seu
controle
populacional se dá por meio de inseticidas, porém eles são
prejudiciais ao ser
humano. Neste sentido, tem-se a necessidade de utilizar
repelentes naturais.
Este projeto teve por objetivo desenvolver um creme repelente a
partir da adição
do extrato glicólico de Piper aduncum e Syzygium aromaticum. As
emulsões foram
preparadas em duas fases a hidrofílicas e a fase lipofílica, a
caracterização
físico-química foi realizada em função da estabilidade acelerada.
A partir dos
ensaios observou-se que as referidas emulsões obedecem às
especificações para
emulsões cosméticas definidas pela ANVISA, porém ensaios
viscosidades e
dermatológico são necessários para confirmar a qualidade do
produto
desenvolvido.
Palavras chaves
Mosquito; Creme repelente; Óleos essenciais
Introdução
Anualmente, em todo o planeta Terra, milhares de pessoas são
acometidas por
doenças transmitidas por insetos. Os mosquitos são os principais
responsáveis
por transmitirem certas patogenias. O mosquito Aedes aegypti é o
maior vetor
para a dengue, para a febre chikungunya, para o zika vírus e para
a febre
amarela (STEFANI et al., 2009; POSSEL, 2019).
A incidência das doenças causadas pelos mosquitos é mais
agravante em
países tropicais como o Brasil. Neles os vetores encontram
melhores condições
para se desenvolverem. No estado do Maranhão os crescentes casos
de dengue,
chikungunya e zika vírus têm levado muitas pessoas a óbito. Em
2019 foram
registrados mais de 1.000.000 de casos de dengue, com 782 mortes,
o que
representou um aumento percentual de 488 em relação a 2018
(MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2019).
A quantidade de doenças transmitidas por mosquitos é
bastante elevada e
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2012) nos últimos
anos estima-se a
ocorrência de 100 milhões de infecções de dengue. No Brasil em
2016, foram
registrados 1.438.624 casos de dengue em comparação com 2018
houve um acréscimo
de 599,5% (MS, 2019). Os mosquitos vetores dessas doenças, o
Aedes aegypti e o
Aedes albopictus, são facilmente adaptados às dinâmicas sociais e
ao ambiente
das cidades, caracterizando a dengue como uma enfermidade típica
de áreas
urbanas com perfil específico (JOHANSEN et al., 2014).
O desconforto e a irritação causados pela picada de
diferentes espécies
de mosquitos podem gerar sintomas clínicos das doenças
transmitidas e até
inclusive levar o indivíduo a cometido à morte (STEFANI et al.,
2009). Estes
fatos são causadores da busca incessante por alternativas para o
combate e a
prevenção dessas patogenias (OLIVEIRA, 2015).
A forma de combate mais utilizada para conter a ação
destruidora dos
mosquitos é a aplicação de inseticidas sintéticos consistindo de
compostos
organofosforados e piretróides ou até mesmo outras composições
altamente nocivas
à saúde humana e ao meio ambiente. O consumo intensivo desses
produtos visando à
exterminação de insetos acaba alterando o equilíbrio ambiental e
consequentemente os efeitos adversos são inevitáveis (LUNA et
al., 2013).
O Brasil é um país tropical, com vasta área territorial e
uma flora
formada de uma grande variedade de plantas com elevado potencial
de atividade
inseticida. Tais plantas podem ser utilizadas como alternativa
viável para o
controle integrado de pragas. A atividade inseticida de plantas
encontradas na
flora brasileira resulta de substâncias bioativas, detentoras de
diferentes
estruturas químicas com atividades contra insetos (POSSEL, 2019).
Determinados óleos essenciais podem atuar nos processos
de detoxificação
de insetos, no qual as misturas binárias dos referidos óleos
aumentam a
toxicidade dos mesmos. Seu efeito sinergético pode acarretar a
redução
quantitativa de óleo a ser aplicado para o controle de
determinada praga podendo
diminuir os impactos ambientais (ARAÚJO, 2014). Os óleos
essenciais extraídos de
plantas são originários de misturas complexas de compostos
orgânicos voláteis
formados por monoterpenos, sesquiterpenos e fenilpropanóides. As
espécies
vegetais constituídas de óleos essenciais são chamadas de plantas
aromáticas
(CAMPOS et al., 2012).
Assim sendo, neste projeto pretende-se elaborar
formulações de cremes
repelentes, cuja composição contenha óleos essenciais extraídos
de pimenta-de-
macaco e de cravo-da-índia visando a redução de custos de
produção bem como
entravar o desenvolvimento de larvas de artrópodes na fase de
oviposição e
redimir e/ou eliminar a incidência de doenças infecciosas
causadas por
mosquitos. Portanto, pode-se afirmar que esta pesquisa tem
possibilidades de
trazer contribuições à comunidade acadêmica e à sociedade em
geral, já que se
compromete com a produção de um repelente de insetos para redimir
a incidência
de doenças endêmicas, cuja matéria-prima pode ser facilmente
encontrada na
região de Zé Doca e áreas adjacentes, onde a pesquisa será
realizada. Poderá
ainda, servir de base para pesquisas futuras na área de produção
de fármacos,
com a utilização de outras matérias-primas locais, o que poderá
contribuir para
atrair investimentos, geração de empregos e, portanto,
crescimento para a
economia local, resultando em melhoria da qualidade de vida dos
moradores do
referido município.
Material e métodos
As principais matérias-primas a serem utilizadas neste trabalho
serão álcool
cetoesteárico, óleo de amêndoas, extrato glicólico de pimenta-de-
macaco e de
cravo-da-índia, polawax e tween 80.
A preparação da fase lipofílica e hidrofílica consistiu no
aquecimento 70°C Em
seguida, a fase hidrofílica foi adicionada na fase lipofílica; o
sistema foi
mantido em agitação durante 5 minutos. O sistema de aquecimento
foi desativado e
o creme formado foi mantido em agitação por mais 45 minutos ou
até atingir a
temperatura ambiente. Finalmente, foi embalado em frascos
apropriados e
disponibilizado para avaliação da estabilidade acelerada.
Dentre os parâmetros físico-químicos foram realizados os
seguintes testes,
Centrifugação onde realizou-se durante 28 dias com intervalo de 7
em 7 dias. Em
um ensaio típico foram adicionadas 5g de cada amostra em um tubo
de Falcon de
capacidade 15 mL. As amostras foram submetidas à rotação de 3.000
rpm durante 30
minutos conforme recomendam Chorilli, Campos e Bolfar (2009).
Nos ciclos de congelamento e descongelamento foram pesadas 2g de
cada amostra em
um béquer de cadinho de porcelana. As alíquotas foram submetidas
a condições
extremas de temperatura, as quais foram denominadas de ciclos. Os
ciclos para
efeito de estabilidade foram conduzidos alternando a cada 24
horas em
temperaturas elevadas (40, 45 e 50°C) e em temperaturas baixas
(-5 °C) com
variação de ±2 °C.
As características organolépticas, em que analisou-se em termos
de aspecto
visual, cor e aroma foram verificadas durante 28 dias com
intervalos de 7 em 7
dias. Amostras constituídas de 10 g do creme foram submetidas a
três diferentes
condições controladas de temperatura, quais sejam: à temperatura
ambiente (20-25
°C), à baixa temperatura em geladeira (5± 2°C) e em estufa de
secagem a 45 ±2°C.
Os ensaios de espalhabilidade foram realizados num período de 28
dias.
Inicialmente, 0,1 g da amostra foi adicionada entre duas lâminas
de vidro de
largura 20,0 mm, comprimento 50 mm e espessura 5 mm, sendo que em
uma delas será
impregnado um papel milimetrado.
No intervalo de 7 em 7 dias serão adicionados 1,0 g, 1,5g, 2,0 g
e 2,5 g do
creme com intervalo de três minutos na placa inferior promoverá o
espalhamento
do creme na lâmina superior, que será medido como extensibilidade
em mm2 (ISAAC
et al., 2008)
Resultado e discussão
No decurso deste trabalho foram desenvolvidas três diferentes formulações de
repelentes contra picada de mosquitos. As formulações foram codificadas como
verde água, verde menta e verde turquesa. A Figura 1 mostra as referidas
formulações obtidas ao longo do desenvolvimento das formulações.
Em seguida ao desenvolvimento as formulações obtidas foram armazenadas em
frascos (bisnarga de 50 mL) e permaneceram armazenadas sob refrigeração a 10°C
durante 28 dias. A estabilidade acelerada foi realizada em quintuplicata com
intervalo de 7 em 7 dias (0 dia, 7 dias, 14 dias, 21 dias e 28 dias após o
desenvolvimento da emulsão). Para cada parâmetro de controle de qualidade
físico-química foram realizados 5 ensaios totalizando 105 análises. As alíquotas
destinadas para ensaios de estabilidade acelerada foram escolhidas ao acaso.
O ensaio de centrifugação é um parâmetro de controle de qualidade que assegura a
possibilidade da continuidade da realização de ensaios de estabilidade
acelerada. Durante os ensaios de centrifugação esperam-se que não ocorra
variação de fases. Para este parâmetro observou-se a formação de duas fases,
quais sejam: uma pastosa e outra aquosa. Embora as instruções normativas da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) especifique que a formação de
fases é um indicativo de instabilidade de emulsões cosméticas, vale ressaltar
que durante o processo produtivo foi adicionados um corante específico para
cosmético e uma essência. Neste sentido, acredita-se que a fase aquosa revelada
durante os ensaios de centrifugação estivesse diretamente relacionada ao
diluente do corante e não propriamente pelo fato de as emulsões apresentarem
vestígios de instabilidade. Os demais parâmetros de estabilidade foram
realizados e os resultados não indicaram sinais de instabilidade físico-químicas
das amostras de repelentes contra picada de mosquito.
A instabilidade física e química de um creme repelente pode ser avaliada por
intermédio de suas características organolepticas, ou seja, através da visão, do
olfato e do tato. Tais sentidos permitem a realização de uma análise de como a
composição química da amostra se encontra evitando-se que dessa forma, a
instabilidade das formulações se propague até os consumidores (SOUZA; NOBREGA,
2018).
Os resultados revelados no decurso da caracterização organoléptica
durante os 28 dias com intervalos regulares de 7 em 7 dias não apresentaram
alterações significativas de aroma, cor e aspecto físico. As amostras verde água
e verde menta apresentaram aroma característico de pimenta dioica. Enquanto que
a amostra azul turquesa revelou aroma de cravo-da-índia. As três amostras não
apresentaram mudança brusca de coloração e mantiveram um aspecto, viscoso,
pastoso.
As medidas de pH foram aferidas em um pH-metro digital portátil. Para este
parâmetro, as amostras analisadas apresentaram uma variação de pH na faixa de
4,1-5,2 para verde água, 4,0-4,81 para a amostra verde menta e na faixa de 4,0 a
4,6 para a amostra verde turquesa. A variação de pH ocorreu a partir do 7° dia
após o desenvolvimento das emulsões. Embora tenha ocorrido aumento do produto
hidrogeniônico nas três amostras, tal alteração não proíbe o uso do repelente
que possui um pH levemente ácido e sua faixa ótima para o consumo é de 4,0 -10
(MACHADO; BORGES, 2019).
A capacidade de espalhamento de emulsões cosméticas é um parâmetro que avalia
como a emulsão cosmética se distribui sobre a pele humana quando submetido a uma
força.
As placas retangulares exerceram pressão sobre a superfície da emulsão,
permitindo seu espalhamento em formato semelhante a um retângulo. Os resultados
das avaliações do parâmetro de espalhabilidade são mostrados na Figura a seguir:
A representação gráfica da distribuição das amostras de repelentes apresentou
comportamento diferente entre as amostras analisadas entre os 14 e 21 dias após
o desenvolvimento dos produtos relacionados as amostras verde água e verde
menta. A amostra verde turquesa se espalhou de modo crescente desde o primeiro
dia até o 28° dia após a produção.
A investigação da capacidade de espalhabilidade é um indicativo de
mudança na consistência das formulações ao ter sua viscosidade reduzida. O
aspecto visual das emulsões apresentou pequenas mudanças o que justifica o
comportamento crescente de espalhabilidade.
Considerando-se que densidade é a razão entre a massa da emulsão e o volume
ocupado pelo referido cosmético, nota-se que este parâmetro é diretamente
proporcional a sua massa, isto significa que ao perder massa a densidade das
amostras diminui. Essa variação de massa está relacionada ao fenômeno da
evaporação ou à vulnerabilidade das emulsões à reação de oxidação (BRASIL,
2004). Neste sentido, as condições de armazenamento e envase são de fundamental
importância para evitar a variação de massa e manter a estabilidade do produto.
No decurso do estudo de estabilidade acelerada por 28 dias, as amostras
analisadas não apresentaram mudança significativa de variação de massa e de
densidade indicando que os produtos estão estáveis físico-quimicamente. A Figura
ilustra os resultados revelados para a densidade dos repelentes.
creme(a):verde água, creme(b):verde menta, creme (c)turquesa
Conclusões
O desenvolvimento formulações repelentes contra mosquitos com a adição dos óleos
essenciais de pimenta dioica e de cravo-da-índia, cujo principio ativo, o eugenol,
que possui propriedades repelentes, permitiu a produção de três diferentes
formulações, as quais foram denominadas de verde água, verde menta e verde
turquesa.
As amostras foram caracterizadas através da estabilidade acelerada. Avaliando as
características físico químicas e organolépticas das emulsões desenvolvidas,
percebeu-se que os resultados dos parâmetros estão de acordo com o desejável para
produtos aplicáveis na pele. Estatisticamente os resultados não foram diferentes,
sendo um ponto positivo para as emulsões. Para a sua eficácia e comercialização é
necessário um tempo de pesquisa maior e outros testes como viscosidades e
dermatológico respectivamente.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio e aporte financeiro concedido pela Fundação de
Amparo à pesquisa e ao desenvolvimento do Maranhão (FAPEMA), pela PRPGI-IFMA, pelo
Campus Zé Doca e pelo GPAQS-Campus Zé Doca.
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