Autores
Oliveira, G.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Silva, R.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Ribeiro, E.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Adorni, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Gonzaga, F.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA)
Resumo
O primeiro contato que o aluno-futuroprofessor tem com a sala de aula como campo
de atuação é através do Estágio Supervisionado. Dessa forma fica evidente a
importância do estágio supervisionado e da observação, e de como influencia
positivamente na carreira do licenciando. Sendo assim, esse trabalho tem como
objetivo identificar nas observações habilidades desenvolvidas dentro da sala de
aula, no período do ensino remoto, e posteriormente discutir cada ponto observado.
Em virtude da pandemia do COVID-19, as observações das aulas foram feitas através
da plataforma do Google Meet.
Palavras chaves
Estágio Supervisionado; Estágio em Química; Ensino Remoto
Introdução
O Estágio Supervisionado é o primeiro contato que o aluno-futuroprofessor tem
com seu campo de atuação profissional. Onde, por meio da observação, da
participação e da regência, o licenciando poderá refletir sobre e vislumbrar
futuras ações pedagógicas. Assim, sua formação tornar-se-á mais significativa
quando essas experiências forem socializadas em sua sala de aula com seus
colegas, produzindo discussão, possibilitando uma reflexão crítica, construindo
a sua identidade docente e criando suas próprias perspectivas sobre o ensino e o
exercício do magistério. Pessoas que não atuam no interior da escola possuem
conhecimentos diferentes e superficiais da realidade escolar. Sendo que, o
estágio aliado/concomitante a uma fundamentação teórica, propiciará aos futuros
professores um entendimento mais claro das situações ocorridas no interior das
escolas e, consequentemente, possibilitará uma adequada intervenção na realidade
Assim sendo, o estágio é um meio que pode levar o acadêmico a identificar novas
e variadas estratégias para solucionar problemas que muitas vezes ele nem
imaginava encontrar na sua área profissional. Ele passa a desenvolver mais o
raciocínio, a capacidade e o espírito crítico, além da liberdade do uso da
criatividade (LINHARES, 2014)
Como destaca Pimenta (1997 apud POSSEBON; PUCHOLOBEK; FARIAS, 2016, p.3).
O estágio supervisionado torna-se imprescindível no processo de formação
docente, pois oferece condições aos futuros educadores, em específico aos
estudantes da graduação, uma relação próxima com o ambiente que envolve o
cotidiano de um professor e, a partir desta experiência os acadêmicos começarão
a se compreenderem como futuros professores, pela primeira vez encarando o
desafio de conviver, falar e ouvir, com linguagens e saberes distintos do seu
meio, mais acessível à criança.
A reflexão prática que para Brito (2021), está relacionada ao significado da
reflexão docente como ponto de partida para que o/a professor/a se constitua
investigador de sua própria prática. Dessa forma a reflexão prática se inicia no
momento do estágio será de grande relevância para a formação do futuro
professor, uma vez que é neste momento que de fato se ocorre um contato direto
com o meio escolar na qual desempenha futuramente sua função enquanto
profissional. Podemos assim compreender o estágio como oportunidade de inserção
numa realidade, no caso, nas escolas de educação básica, que permite comparar o
saber acadêmico com o saber da escola, possibilitando aos estudantes aprender
como se dão as relações de trabalho. (OLIVEIRA, 2019).
A prática da observação está relacionada a processos de aprendizagem humana, e
desde a infância, a observação cumpre um papel importante em nossa aprendizagem
e na descoberta do mundo. Em termos profissionais, os professores aprendem seu
ofício também por meio do que cunhou de “apprenticeship of observation”, abrindo
caminho para o reconhecimento de que ser professor envolve um processo de
socialização iniciado nos primeiros contatos com a escola (BIAZI, 2011).
Sabe-se a importância do estágio supervisionado e da observação, e de como
influencia positivamente na carreira do licenciando. Comumente os estágios da
licenciatura são realizados de forma presencial. No entanto, entre o final do
ano de 2019 e o início de 2020 o mundo foi surpreendido por um vírus altamente
perigoso e contagioso, chamado de SARS-CoV-2. O surto foi declarado como
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional em 30 de janeiro de
2020. A Organização Mundial de Saúde declarou, em 11 de março do mesmo ano, que
a disseminação comunitária da COVID-19, doença causada pelo vírus, em todos os
continentes a caracteriza como pandemia. A COVID-19 matou milhões de pessoas ao
redor mundo todo. Medidas de isolamento social para reduzir a contaminação foram
implementadas em todo o mundo, com maior ou menor rigidez. Quase sempre, as
primeiras instituições alcançadas por essas medidas são as educacionais,
ambientes que mantêm muitos indivíduos confinados juntos por longos períodos
(SARAIVA et al., 2020). Desta forma, sendo impossível continuar as aulas
presenciais nas escolas e outras instituições de ensino, por conta da crise
sanitária mundial provocada pela COVI-19, as alternativas que as autoridades
encontraram foram o ensino remoto e a educação a distância.
Material e métodos
O presente estudo foi desenvolvido no final do segundo semestre letivo de 2020.
Foram realizadas 12 horas/aula de observação direta no Ensino Médio (aulas de
Química) em um colégio da rede pública de ensino no município de Itapetinga-Ba.
Foi utilizado um protocolo de observação que continha seis categorias: organizar o
contexto, relação professor/aluno, intervenção criativa, propor feedback,
contextualização do conteúdo e avaliação da aprendizagem. Os dados coletados foram
analisados à luz das teorias estudadas e discutido por cada categoria. Em virtude
da pandemia do COVID-19, as observações das aulas foram feitas através da
plataforma do Google Meet. No total 4 (quatro) turmas do Ensino Médio foram
observadas no período de 30 de abril de 2021 à 18 de maio de 2021. Essa
experiência teve como objetivo identificar nas observações habilidades
desenvolvidas dentro da sala de aula, do Google Meet, e posteriormente discutir
cada ponto observado.
Resultado e discussão
Na habilidade, organização do conteúdo, foi observado algumas dinâmicas na sala
de aula, como por exemplo, se a aula teve início, meio e fim, objetivo, qual foi
o processo de estímulos e a organização do conteúdo. Foi notado que todas as
aulas observadas nas 4 (quatro) turmas tiveram início, meio e fim.
Também foi observado que 100% das aulas em todas as 4 turmas apresentaram
organização do conteúdo e algum tipo de processo de estímulo. Entre esses
processos de estímulos foi observado materiais didáticos como por exemplo slides
e apostilas. Nas turmas 1, 2 e 3 o objetivo da aula foi apresentar aos alunos,
porém isso não ocorreu na turma 4.
Fonsêca e Adorni (2017), diz que “o simples fato de planejar e
organizar o conteúdo que se pretende ensinar interfere no resultado da aula”.
Para Castro (2008), os profissionais da área da educação deve estar atento à
importância de se elaborar planos de aula, principalmente os de início de
carreira, pois, esses profissionais iniciando sua carreira no magistério
adquirem confiança para dar aula, uma vez que, no plano de aula, é possível
esclarecer os objetivos da mesma, sistematizar as atividades e facilitar seu
acompanhamento.
Souza, Vilaça e Villaça (2020), destaca que os desafios e perspectivas
dos professores em tempos de pandemia, referente às aulas remotas, precisam
adentrar ao universo educacional, e isso não ocorre de um dia para o outro, é
necessário investimento, planejamento e tempo. Das 4 turmas observadas apenas
50% das aulas de uma única turma tiveram intervenção criativa.
O distanciamento social em tempos de pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2),
ultrapassou o período de mais de um ano, desencadeando uma série de modificações
e ajustes no âmbito educacional. Muitos professores tiveram que reinventar e
ressignificar suas práticas didático-metodológicas. Entende-se que o uso
exclusivo das aulas remotas não é suficiente para promover uma aprendizagem
significativa.
A relação professor-aluno é muito importante, a ponto de estabelecer
posicionamentos pessoais em relação à metodologia, à avaliação e aos conteúdos.
Se a relação entre ambos for positiva, a probabilidade de um maior aprendizado
aumenta. A força da relação professor-aluno é significativa e acaba produzindo
resultados variados nos indivíduos (BELOTTI, 2010). Nas turmas observadas, todas
as aulas tiveram interação do tipo professor/aluno.
No entanto, foi observado interação do tipo aluno/aluno em apenas 50% das aulas
da turma 2. A interação aluno-aluno entre membros de uma classe ou outro grupo
por vezes é um recurso extremamente valioso para o aprendizado, e é por vezes
inclusive essencial (MOORE, 1986).
A formação dos professores e o seu relacionamento com os alunos tem sido
largamente discutida, estudada, pesquisada e exposta à luz de teorias das mais
diversas. Entende-se que educar ou ensinar com entusiasmo é fator determinante
no processo de aprendizagem. No entanto, Belotti (2010) diz que, muitos
professores relatam que têm dificuldades para interagir com o aluno. Segundo a
autora, existem diferentes ritmos de aprendizagem e os educadores devem
incorporar as necessidades de grupos específicos de educandos. Falta diálogo
entre educadores e educandos. Pode-se considerar que o diálogo é fundamental
para qualquer tipo de relacionamento. No caso do ensino e aprendizagem é
fundamental que o educador se volte ao educando, de forma que o enxergue como um
sujeito que vem já com muitos saberes, mas no seu contexto de vida.
A avaliação da aprendizagem é um processo sistematizado de registro e apreciação
dos resultados obtidos em relação a metas educativas estabelecidas previamente,
nesse sentido é constituída por meio de teste, provas escritas e trabalho orais.
Alguns autores avaliam o método da avaliação através de teste e provas
interpessoal e artificial, ou seja, nem sempre esses métodos têm como definir ou
avaliar a capacidade do aluno por meio desses tipos de avaliação. A quantidade
de aulas observada em algumas turmas foi insuficiente para determinar quais
estratégias foram utilizadas na avaliação da aprendizagem.
O conceito de feedback, na área educacional, refere-se à informação dada ao
aluno que descreve e/ou discute seu desempenho em determinada situação ou
atividade, como por exemplo nas avaliações escritas. Esse processo de retorno
fornece ao aluno uma orientação clara e objetiva de como melhorar sua
aprendizagem e desempenho. Com isso, o estudante se permite evoluir
constantemente em todo o processo de ensino (DAROS; PRADO, 2015).
Foi notado que 100% das aulas observadas nas 4 turmas foi utilizado feedback por
meio de perguntas, como mostra a imagem 1. Essa atitude do professor que
pratica o feedback deve ter início com o planejamento e organização das aulas e
avaliações. Em um estudo de Castro, Tucunduva e Arns (2008, p. 60) as autoras
concluem em seu artigo a importância do planejamento das aulas e o fato de que
“o planejamento não deve ser usado como um regulador das ações humanas e sim um
norteador na busca da autonomia e nas escolhas dos caminhos a serem
percorridos”. Esse planejamento interfere diretamente no contexto de ensino e
aprendizagem, afinal o professor só irá conseguir transmitir um feedback eficaz
e efetivo se suas aulas e avaliações forem organizadas e planejadas.
Vale ressaltar que não existe um único jeito ou maneira de se transmitir um
feedback, mas sim vários esquemas e/ou modelos. O importante é que o professor
deve estar sempre atento de que o aluno se torne muito mais motivado e participe
desse processo quando ele realmente entende seus erros, acertos, falhas e
desempenho (DAROS; PRADO, 2015).
Contextualizar é construir significados, incorporando valores que citem o
cotidiano, com uma abordagem social e cultural, que promovam o processo da
descoberta. É levar o aluno a entender a importância do conhecimento e aplicá-lo
na compreensão dos fatos que o cercam. Para contextualizar um conteúdo, deve-se
relacionar o mesmo com questões sociais, políticas e econômicas, uma vez que,
esteja de acordo com os conhecimentos dos alunos diante das situações
encontradas no cotidiano, e assim trabalhar o conteúdo em foco. (LEVORATO,2014).
As aulas observadas nas turmas 1 e 2, foi notado que 50% das aulas possibilita
ao aluno estabelecer relações entre o conteúdo e o cotidiano e 50% das aulas
permitia que fizessem reflexão crítica sobre a realidade na qual está inserido.
Na turma 3, em 100% das aulas os alunos conseguiam estabelecer relação com o
conteúdo e o cotidiano e reflexão crítica sobre a realidade. Já na turma 4, não
foi observado nenhuma contextualização do conteúdo. Contudo, essas relações de
contextualização devem ser oportunizadas, pois “[...] a contextualização é um
recurso que deve ser utilizado como forma de possibilitar a apreensão dos
conceitos científicos construídos ao longo da história e que permite a
compreensão de fatos naturais, sociais, políticos, econômicos que fazem parte do
cotidiano do aluno” (PELLEGRIN; DAMAZIO; 2015, p. 491). Dessa forma a
contextualização possibilita dar significado às temáticas estudadas e,
consequentemente, promove uma aprendizagem mais efetiva (MAFF, 2019).
grafico
Conclusões
Este trabalho apresentou os resultados de uma observação feita nas aulas de 4
turma do Ensino Médio. Destacou-se nas habilidades encontradas em cada categoria
proposta no roteiro de observação. Evidenciou-se a importância da organização do
conteúdo, assim como o planejamento é fundamental para um bom desempenho na
aprendizagem, indo de encontro com o objetivo do trabalho.
Agradecimentos
Ao Grupo de Pesquisa em Inovação Química (GPEIQ) e a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB).
Referências
BELOTTI , Salua Helena Abdalla; FARIA, Moacir Alves de. Relação Professor/Aluno. Saberes da Educação, [S. l.], p. 1-12, 5 maio 2010
BIAZI, Terezinha Marcondes Diniz et al. O Papel da Observação de Aulas Durante o Estágio Supervisionado de Inglês. ., [S. l.], p. 1-22. 2011
BRITO, Antonia Edna. O significado da reflexão na prática docente e na produção dos saberes profissionais do/a professor/a. Revista Iberoamericana de Educación, [s. l.], 2021.
CASTRO, P. A. P. P.; TUCUNDUVA, C. C.; ARNS, E. M. A importância do planejamento das aulas para organização do trabalho do professor em sua prática docente. Athena Revista Científica de Educação, São Paulo, v. 10, n. 10, p. 49-62, jan./jun. 2008.
DAROS, Fernanda de Andrade Galliano; PRADO, Maria Rosa Machado. FEEDBACK NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR. FORMAÇÃO DE PROFESSORES, COMPLEXIDADE E TRABALHO DOCENTE, [s. l.], 2015.
FARIAS, Isabel Maria Sabino de et al. Didática e docência: aprendendo a profissão. 1.ed. Brasília: Liberlivro, 2009. 179 p.
FONSÊCA, Monyke Hellen dos Santos; ADORNI, Dulcinéia da Silva. REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO FUNDAMENTAL II E MÉDIO EM ITAPETINGA-BA: FORMAÇÃO INICIAL EM FÍSICA. XII COLÓQUIO NACIONAL E V COLÓQUIO INTERNACIONAL DO MUSEU PEDAGÓGICO. [s. l.], p. 1-5, Setembro 2017.
LEVORATO, Anselma Regina. ENSINO DE ÁCIDOS E BASES COM EXPERIMENTOS: UMA PROPOSTA PARA O SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO. Produções Didático-Pedagógicas, Londrina, v. 2, 2014.
LINHARES, Paulo Cássio Alves et al. A IMPORT NCIA DA ESCOLA, ALUNO, ESTÁGIO SUPERVISIONADO E TODO O PROCESSO EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR., [S. l.], p. 1-13, 2014
MAFF, Caroline. A Contextualização Na Aprendizagem: Percepções De Docentes De Ciências E Matemática. Revista Conhecimento Online, [s. l.], 2019.
MOORE, Michael G. Três Tipos de Interação. American Journal of Distance Education, [S. l.], p. 1-8, 1986.
OLIVEIRA, Lueny Amorim de et al. A importância do estágio supervisionado na formação dos acadêmicos do curso de licenciatura em química do ifma campus zé doca. [S. l.], p. 1-14. 2019.
PELLEGRIN, T. P. DAMAZIO, A. Manifestações da contextualização no ensino de ciências naturais nos documentos oficiais de educação: reflexões com a teoria da vida cotidiana. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 477-496, 2015.
POSSEBON, R. C. PUCHOLOBEK, G. FARIAS, A. J. O Estágio Supervisionado na Formação Docente no Curso de Licenciatura em Química e a experiência da semi regência. In: XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química - XVIII ENEQ, 2016. Florianópolis.
SARAIVA, Karla et al. A educação em tempos de COVID-19: ensino remoto e exaustão docente*. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, 2020.
SOUZA, Aliny Leda de Azevedo; VILAÇA, Manassés Alves; VILLAÇA, Argicely Leda de Azevedo. Planejamento docente em tempos de pandemia: desafios e perspectivas com as aulas remotas no amazonas. Estratégias e Práticas para Atividades a Distância: Vivências, recursos e possibilidades, Quirinópolis - GO, v. 1, ed. 1, p. 25-36, 2020.