• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE QUÍMICA PARA ABORDAR PLANTAS MEDICINAIS E FRUTOS COMESTÍVEIS COM ESTUDANTES DA ILHA DO COMBÚ (BELÉM-PA)

Autores

Leite, W.C. (UFPA - CAMPUS DE ANANINDEUA) ; Botelho, E.V.D. (UFPA - CAMPUS DE ANANINDEUA) ; Santos, J.K.R. (UFPA - CAMPUS DE ANANINDEUA)

Resumo

O presente trabalho analisa elementos de uma sequência didática lúdica sobre a composição química do açaí e uso de plantas medicinais da Amazônia para o ensino de química. Ela foi realizada com estudantes residentes na Ilha do Combu, localizada na região insular de Belém-Pará. Tal sequência foi pautada em roda de conversa sobre o assunto, produções artísticas contextualizadas com as plantas, realização de experimentos científicos com o açaí e jogos didáticos para fixação dos conteúdos. Os resultados demonstraram o grande interesse dos alunos sobre a temática resultando na eficácia da aplicação da sequência didática para os alunos da região ribeirinha.

Palavras chaves

Sequência didática; Ludicidade; Educação ribeirinha

Introdução

A região insular de Belém no Estado do Pará é composta por 39 ilhas que estão espalhadas por este território (BELÉM; CODEM, 2020), entre elas está o Combu onde estima-se que a população seja de 1.500 habitantes (PROTEÇÃO, 2018). Seus moradores vivem em palafitas às margens do rio. A educação escolar na ilha é feita até o ensino fundamental, para os níveis seguintes os estudantes se deslocam diariamente para estudar em Belém. A ilha é responsável pela produção do fruto de açaí e palmito (BELÉM, 2018). Diante disso, as plantas têm seu papel bem diversificado para a região, como na alimentação no cultivo de plantas frutíferas ricas em nutrientes, plantas medicinais possuem um potencial rico de pesquisa e ensino sobre a composição química e seu uso diverso. Pautado neste contexto, utilizar as vivências dos estudantes ribeirinhos pode possibilitar uma aprendizagem significativa, promovendo assim o ensino de química contextualizado e dinâmico por meio de atividades lúdicas que sejam envolventes, interativas e despertem a motivação pelo aprender. Segundo Knechtel e Brancalhão (2008, p.2354-8) “o lúdico pode ser utilizado como promotor da aprendizagem nas práticas escolares, possibilitando a aproximação dos alunos ao conhecimento científico”. O trabalho tem como objetivo analisar elementos de uma na sequência didática lúdica utilizada para ensinar sobre a composição química de frutos comestíveis e plantas medicinais encontradas na Ilha do Combu para a promoção da aprendizagem em química.

Material e métodos

O presente trabalho de viés qualitativo apresenta uma síntese de experiências educacionais para uso didático e experimental visando o ensino de química. Nestes termos, tal sequência didática foi construída pautada nos quatro pontos sistematizados. Tal proposição foi executada com estudantes do ensino fundamental na Sala de Leitura localizada na Ilha do Combu, durante uma oficina realizada em uma manhã de sábado com cerca de 50 participantes de faixa etária diversificada (a maioria eram crianças e adolescentes). A atividade foi desenvolvida pelas autoras deste trabalho. Para o primeiro momento, de forma dialogada ouvindo as experiências dos estudantes sobre a temática abordada, utilizou-se dois materiais didáticos informativos em forma de livretos produzidos pelas autoras deste trabalho contendo ilustrações sobre o açaí, plantas medicinais e tóxicas. Posteriormente, os estudantes fizeram produções artísticas com desenhos para representar cenários de sua marca ambiental e relação com o contexto ambiental, utilizando para isso material orgânico de plantas coletadas ao redor da Sala de Leitura (serapilheira). Em seguida, foram realizadas experiências científicas com o açaí de forma expositiva e dialogada enfatizando os elementos químicos e componentes nutricionais do fruto, destacando seu caráter ácido/básico. Vale ressaltar que o extrato utilizado nas práticas foi trazido pelos familiares dos alunos para lanche coletivo no dia da oficina. Na sequência, através de jogos e brincadeiras, foram relacionados elementos essenciais para a composição da Babosa (Aloe vera) e para o processo de fotossíntese. Nesta última fase, para fixação de conteúdo do livreto e exposição realizada pelas pesquisadoras foram utilizados no jogo de boliche onde os alunos afirmavam em quais alimentos apresentavam, por exemplo: Cálcio, Potássio e Magnésio. Para além, foi realizado experimento científico para sinalizar a composição do açaí, associando a características ácidas e básicas.

Resultado e discussão

No primeiro momento da sequência didática (Figura 1), sendo uma exposição dialogada, observou-se grande interação dos alunos com a temática. Por se tratar de assuntos com abordagem relacionada ao cotidiano dos alunos, demonstrou-se de suma importância para o despertar do aluno com a ciência. Moreira (2011) ressalta sobre a importância da utilização de materiais diversificados como método de fortalecimento do ensino-aprendizagem, no qual facilite a aprendizagem do alunando. Os procedimentos experimentais (Figura 2) foram cruciais para que os alunos compreendessem que para além do consumo, o açaí pode ser um indicador de ácidos e bases. Tal procedimento despertou vasta curiosidade mediante o assunto e a variação de pigmentos das soluções utilizadas (limão, vinagre, água sanitária e detergente), essa variação se dá pela variação no pH dessas soluções. Couto et. al. (1990) afirmam que a principal características dessa variação de cores é a principal características para o uso didático, principalmente relacionada ao ensino-aprendizagem de química. As atividades lúdicas desenvolvidas nessa sequência didática foram relacionadas a vivência e experiência do alunando. Tal eixo pode contar com a participação de toda a comunidade presente no local na qual despertou curiosidade sobre o método de fixação de conteúdo e o desenvolvimento do raciocínio lógico. Foi observado, também, que as atividades proporcionaram uma troca de experiências entre os estudantes, o que proporcionou uma ajuda mútua em relação ao conteúdo relacionado aos elementos presentes na composição química do açaí. Para além, tal ludicidade proporcionou conhecimento para além das plantas e do fruto comestível. Os alunos identificaram em quais outros alimentos estavam presentes o Cálcio, Potássio e Magnésio, por exemplo. Para Fialho (2007) o alunando precisa de muito mais do que o simples ouvir. Neste contexto, é de suma importância a realização de práticas pedagógicas para o ensino-aprendizagem de química, principalmente relacionada ao cotidiano como é a relação deles com a floresta e o consumo diário do açaí. Observando o conhecimento limitado relacionado à química, pode-se dizer que a sequência didática apresentada aos alunos da comunidade ribeirinha da Ilha do Combu, foi essencial para a compreensão da temática aplicada.

Figura 1 – Sequência didática realizada

Fonte: as autoras (2022)

Figura 2: Sequência Lúdica da Temática

Fonte: as autoras (2022)

Conclusões

Dessa forma, através do ensino lúdico e diversificado da ciência química potencializado pelo uso de livretos de produção autoral, brincadeiras/jogos e experimentos todos pautados no contexto da vida ribeirinha da região amazônica, foi possível notar que a atividade despertou nos estudantes interesse e afeição com os assuntos abordados, por meio da inovação metodológica com a associação com a vivência deles. Portanto, a sequência de ensino realizada o demonstrou que o aprendizado vai além da sala de aula e que a Universidade tem o papel social fundamental visando a formação dos futuros docentes com a realidade escolar promovendo cidadania através de ações sociais de valorização cultural e informação científica com estratégias que atinjam a diversidade e especificidades da clientela estudantil da Amazônia.

Agradecimentos

A Universidade Federal do Pará, ao Projeto de Extensão LudQuí, a PROEX, a orientadora Drª. Janes Kened, a comunidade da Ilha do Combu, e aos coordenadores da Sala de Leitura Canto do Rio, muito obrigada.

Referências

BELÉM. CODEM. Anuário Estatístico do Município de Belém – 2010, 2020. Belém 2020.
BELÉM. PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM. Ver-Belém, 2018.
COUTO, A.B. et. al. Aplicação de Pigmentos de Flores do Ensino de Química. Química Nova, vol. 21, nº 2, p. 221-227, 1998.
FIALHO, N. N. Jogos no Ensino de Química e Biologia – Curitiba: Ibpex. 2007.
PROTEÇÃO Ambiental da Ilha do Combu, 2018. Disponível em https://ideflorbio.pa.gov.br/unidades-de-conservacao/regiao-administrativa-de-belem/area-de-protecao-ambiental-da-ilha-do-combu/. Acesso em: 14 out. 2022.
KNECHTEL, C. M.; BRANCALHÃO, R. M. C. Estratégias lúdicas no ensino de ciências. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. O professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, p. 2354-8, 2008.
MOREIRA, M.A, Teorias de Aprendizagens, São Paulo, EPU, 2011.

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