Autores
Nobre-da-silva, N.A. (IF GOIANO CAMPUS IPORÁ) ; Silva, R.R. (UNB)
Resumo
Este trabalho tem como objetivo traçar
um panorama da oferta dos cursos de Química pelos Institutos Federais do Estado
de
Goiás, bem como da trajetória formativa dos docentes de Química que atuam frente
a verticalização do ensino nos referidos cursos. Para tanto, utilizamos uma
abordagem qualitativa e descritiva englobando
pesquisa documental cujos dados foram extraídos da Plataforma Nilo Peçanha, e-
MEC,
currículo Lattes e, entrevista semiestruturada com 14 docentes vinculados ao IFs
do Estado de Goiás. Os resultados foram organizados em três categorias: a) Os
Institutos Federais do Estado de Goiás e a verticalização na área de Química; b)
A
trajetória dos docentes; c) Estratégias dos IFs para se tornarem centro de
excelência em ensino de ciências.
Palavras chaves
Institutos Federais; Química; Verticalização do ensino
Introdução
Os Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia (IFs) surgiram a partir
da promulgação da Lei 11.892/2008, em que os Centros Federais de Educação
Tecnológica (CEFET), Escolas Agrotécnicas Federais (EAF) e as Escolas Técnicas
vinculadas às Universidades Federais (ETF), a Universidade Tecnológica Federal
do Paraná e o Colégio Pedro II foram integrados para compor a Rede Federal de
Educação Profissional Científica e Tecnológica (RFEPCT).
A partir da Lei de criação, é endossada aos Institutos Federais, formados por
antigas e novas unidades, a necessidade de reconstruir sua identidade, visto a
nova organização. Embora haja semelhanças com os CEFET no sentido de oferta de
ensino técnico de nível médio, tecnólogo e licenciaturas, a nova redação define
os Institutos Federais como instituições de nível superior, só que agora, com
uma estrutura pluricurricular e multicampi. Ademais, as licenciaturas, que
logravam segundo plano no quadro de cursos oferecidos pelos CEFET, são agora
garantidas, pois a Lei 11.892/2008, em seu artigo 7º, determina o mínimo de 20%
das vagas a tais cursos, bem como programas de formação pedagógica.
Em continuidade, dois princípios balizam e fortalecem o projeto de criação dos
institutos: a interiorização e a verticalização do ensino. Compreendemos esta
última como uma proposta pedagógica de compartilhamento de conhecimentos entre
os atores envolvidos, nos processos educativos das mais diferentes modalidades e
níveis de ensino. Em decorrência, se concretiza também, na oferta de cursos em
diferentes modalidades e níveis, como: ensino técnico - médio integrado,
concomitante ou subsequente; educação de jovens e adultos; curso superior -
licenciaturas, tecnólogos, bacharelados, engenharias; cursos de formação inicial
e continuada; especializações lato e stricto sensu. Uma preocupação quanto à
proposta é que o professor, em grande parte, atua na Educação Profissional de
Nível Médio, nos cursos superiores, e ainda, nas pós-graduações. No entanto,
desconsidera-se que ele não passou por um processo formativo que contemple tanta
diversidade. Ele é formado em seu exercício. São os saberes, em sua maioria,
provenientes da prática, que orientam suas ações e fatores como este têm nos
provocado inquietações. Dado que os docentes da Rede Federal atuam em diferentes
níveis e modalidade de ensino, eles são enquadrados na carreira de magistério do
Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT).
É também preciso ressaltar que a Lei 11.892/2008 estabelece como princípios e
finalidades dos IF “constituir-se como um centro de excelência na oferta de
ensino de ciências” (BRASIL, 2008). Diante disso, surgem questionamentos: A
verticalização de ensino na área da Química tem ocorrido nos Institutos Federais
do Estado de Goiás? Qual a trajetória formativa dos docentes que atuam nos
cursos de Química de nível médio e superior no Estado de Goiás? Qual o suporte à
formação docente em Química tem sido ofertado pelos IF a fim de se consolidar
enquanto centro de excelência na oferta de ensino de ciências?
Assim, este trabalho é um recorte de uma pesquisa de doutorado e tem como
objetivo traçar um panorama da oferta dos cursos de Química pelos Institutos
Federais do Estado de Goiás, bem como da trajetória formativa dos docentes de
Química que atuam frente a verticalização do ensino nos referidos cursos.
Material e métodos
Situamos esta investigação no contexto das pesquisas qualitativas, e um estudo
do tipo descritivo. A pesquisa qualitativa é reconhecida por sua característica
descritiva, que não é acrítica, mas coerente, lógica e consistente, guiada pelos
pressupostos teóricos do pesquisador. A preocupação é centralizada no processo e
não no resultado, uma vez que o significado que os sujeitos atribuem às coisas,
sua trajetória, a relação sujeito-objeto são elementos importantes (LUDKE;
ANDRÉ, 1986).
O recorte da pesquisa aqui apresentado compreende três etapas: 1) estudo
documental – nessa etapa foi realizado o levantamento de cursos de Química
ofertados pelos Institutos Federais do Estado de Goiás (Instituto Federal de
Goiás - IFG e, Instituto Federal Goiano – IF Goiano), a fim de identificar quais
as regiões ofertavam cursos na área e quais os níveis de ensino ofertados. Para
coleta de dados utilizamos as informações da Plataforma Nilo Peçanha e do
sistema e-MEC. Após identificados os cursos, utilizamos como critério investigar
apenas os campi que atendiam o princípio de verticalização do ensino na área de
Química.
2) identificação dos professores: prosseguimos com estudo documental, analisando
as informações disponibilizadas pelos sites oficiais do IFG e IF Goiano para
mapear os docentes da área de Química. Feito isso, entramos em contato com 31
docentes convidando para participar do estudo. Destes, 14 deram retorno
positivo. Assim, recorremos ao currículo Lattes e à uma entrevista
semiestruturada cujo objetivo foi obter dados de sua trajetória formativa antes
e após o ingresso na carreira EBTT. 3) Prosseguimos no estudo documental
coletando as notas do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) dos
cursos de Química ofertados pelos IFs, como um indicativo da consolidação dos
IFs como centro de excelência no ensino de ciências. Em prosseguimento, os dados
foram analisados de forma descritivo-interpretativa, tendo como fundamentação a
literatura acerca da formação de professores e formação de professores para a
Educação Profissional e Tecnológica. Os resultados foram organizados em três
categorias: a) Os Institutos Federais do Estado de Goiás e a verticalização na
área de Química; b) A trajetória dos docentes; c) Estratégias dos IFs para se
tornarem centro de excelência em ensino de ciências.
Resultado e discussão
a) A partir da Lei 11.892/2008, foram implementados, no estado de Goiás, dois
Institutos Federais: Instituto Federal de Goiás e Instituto Federal Goiano. O
IFG segue uma linha histórica, cujo marco inicial foi a criação da Escola de
Aprendizes e Artífices, em 1909, na então capital do estado, a cidade de Goiás
(antiga Vila Boa). Já o IF Goiano tem como precedente as escolas
agrotécnicas/ginásios agrícolas de Rio Verde, Ceres e de Urutaí e sua unidade
descentralizada de Morrinhos. Atualmente, o IFG conta com 14 unidades e o IF
Goiano com 12 unidades e um polo de inovação.
Nosso levantamento indicou a oferta de cursos de Química em diferentes unidades,
conforme indica o Quadro 1.
A partir do Quadro 1 é possível observar que o IFG oferta um maior quantitativo
de cursos de Química em nível médio técnico, isso pode estar relacionado com as
características econômicas e produtivas das regiões em que estão instalados. Por
exemplo, Aparecida de Goiânia e Anápolis possuem um número expressivo de
empresas que empregam técnicos em química. Além disso, no que tange a oferta de
cursos como meio de concretizar a verticalização do ensino, percebemos que o IFG
se destaca. Isto porque no IF Goiano apenas o campus Iporá permite que o
discente formado no curso técnico em química possa permanecer na mesma
instituição e continue na mesma área. Já no IFG isso ocorre em cinco campi:
Anápolis, Inhumas, Itumbiara, Luziânia e Uruaçu.
No que tange a atingir o ideal de centro de excelência no ensino de ciências,
ambos os IFs têm investido na estrutura física, em projetos de pesquisa,
Laboratório Maker, na capacitação docente. Contudo, considerando o ENADE como um
dos indicadores da qualidade do ensino superior, os resultados de 2021 indicam
fragilidade nos cursos de Licenciatura em Química. Dentre os campi do IF Goiano
que ofertam o curso supracitado, apenas Rio Verde e Morrinhos tiveram nota 3, os
demais
obtiveram nota 2. Já do IFG, apenas Anápolis teve nota 3, os demais também
obtiveram nota 2. Cabe destacar que as notas vão de 1 a 5.
b) No que tange à formação inicial, nossos participantes se dividem entre a
Licenciatura em Química (2), Bacharelado em Química (5), Licenciatura e
Bacharelado em Química (5), Química Industrial (2), aparecendo ainda graduação
em Farmácia e Bioquímica, e Tecnologia em Química Agro-industrial. No tocante à
pós-graduação, temos 5 doutoras e 2 doutores (Química, Ciências Biológicas,
Ciências da Saúde e Ensino de Ciências e Matemática), e 5 mestres e 2 mestras
(Ciências de Materiais, Química, Química ênfase em ensino). Dentre os/as
mestres/as, 3 estão em processo de doutoramento, 1 em Química e 2 em Ensino
de Ciências. A especialização em Formação Pedagógica para a Educação
Profissional e Tecnológica aparece no currículo de 3 professoras que não
cursaram a modalidade licenciatura, indicando uma preocupação delas com os
aspectos didático-pedagógicos.
É possível observar que a formação se dá, preponderantemente, nos cursos
voltados para o setor produtivo e a carreira científica como Química Industrial
e o Bacharelado. Não por acaso, esses cursos são reconhecidos pelo foco na
formação científica e o desenvolvimento de atividades experimentais voltadas
para as habilidades procedimentais e atitudinais. Ademais, “a literatura sobre a
formação de bacharéis ressalta a forte presença da educação bancária a que estes
são submetidos” (SOUZA; NASCIMENTO, 2013, p. 422). Cinco docentes cursaram tanto
o bacharelado, quanto a licenciatura. No entanto, a maioria a fez em caráter de
complementação, para “ter o currículo completinho”. Uma das entrevistadas relata
que inicialmente trabalhou em uma indústria de folheação de joias e após decidir
pela docência, por afinidade com o exercício da profissão, a formação apenas no
bacharelado limitava suas possibilidades de concorrer às vagas ofertadas pelos
concursos. Como aponta Kuenzer (2011), a licenciatura é vista como chance de
alargar as possibilidades de trabalho, em situações que o bacharelado não o faz.
c) Os trabalhos de Lima (2012, 2016), Lima e Silva (2014) e Silva (2017)
denunciam uma proposta tecnicista, pragmática e mercadológica como base do
projeto de oferta das licenciaturas nos IFs. No sentido de superar essa marca e
ir ao encontro da formação de professores crítico-reflexiva, o IF Goiano tem
apostado na oferta de cursos de complementação pedagógica para os docentes não-
licenciados, o que posteriormente, refletirá na qualidade da formação dos
futuros professores. Além disso, seguindo a legislação pertinente, IFG e IF
Goiano utilizam editais para liberação de servidor para capacitação. O IF Goiano
possui parceria com o programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e
Matemática da Universidade Federal de Goiás, com reserva de vagas para seus
servidores.
Conclusões
Uma das características dos Institutos Federais é a verticalização do ensino que
deve ser tomada como um princípio pedagógico e administrativo e se materializa,
também, na oferta de cursos de diferentes níveis de ensino. Nesse ínterim, este
trabalho buscou traçar um panorama da oferta dos cursos de Química pelos
Institutos Federais do Estado de Goiás, bem como da trajetória formativa dos
docentes de Química que atuam nesses cursos.
O mapeamento indicou a oferta dos cursos de Química por diferentes microrregiões
do Estado, sendo que o IFG atua em seis municípios: Anápolis, Aparecida de
Goiânia, Inhumas, Itumbiara, Luziânia e Uruaçu, e o IF Goiano em cinco: Ceres,
Iporá, Morrinhos, Rio Verde e Urutaí. Contudo, em termos de contemplar a
verticalização na área, o IFG se destaca com a oferta de curso Técnico Integrado
em Química e Licenciatura em Química em 5 campi. Por outro lado, isso só ocorre
em um campus do IF Goiano.
No tocante à formação dos docentes que atuam frente à verticalização do ensino
na área de Química, dos 14 entrevistados, 7 possuem Licenciatura porém, 5 desses
a fizeram em caráter de complementação ou dupla formação. Um aspecto positivo é
o número de docentes com mestrado e/ou doutorado. No total, 7 doutores sendo uma
em Ensino de Ciências e Matemática e, 3 em processo de doutoramento, dos quais
2 em Ensino de Ciências. Dentre as estratégias adotadas pelas instituições para
fortalecer a formação de seus servidores estão a oferta de cursos de
complementação pedagógica, editais de afastamento para capacitação e parcerias
com programas de pós-graduação com reserva de vagas.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal Goiano pelo apoio financeiro.
Referências
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