Autores
Xavier, S.C.S. (IF GOIANO CAMPUS IPORÁ) ; Nobre-da-silva, N.A. (IF GOIANO CAMPUS IPORÁ)
Resumo
O objetivo consiste em relatar as narrativas de uma estagiária acerca das
atividades desenvolvidas no Estágio Supervisionado I de um curso de Licenciatura
em Química, tendo como foco as interações discursivas de três professoras regentes
durante suas aulas. A abordagem é de cunho qualitativo, recorrendo à técnica de
observação não participante. Os resultados apontam o uso de questões de
complementaridade, retórica, de duas possibilidades. Em contraponto, a ausência de
perguntas que levam o aluno a refletir.
Palavras chaves
Ensino de Química; Formação inicial; Interações verbais
Introdução
O Estágio Supervisionado é momento ímpar na formação inicial em que os
estudantes potencializam o desenvolvimento de saberes docentes. Além disso, é um
espaço único da relação teoria e prática, e torna o aprendizado mais eficiente,
por isso o estudante deve levar essa oportunidade a sério, com comprometimento e
responsabilidade. Essa troca de realidades, segundo Almeida e Pimenta (2014,
p.117) “pode contribuir para uma atitude questionadora e para a construção de
saberes, na medida em que supere uma relação distanciada entre os estagiários,
os professores universitários e os professores da Educação Básica”.
Com isso, sabe-se que o futuro professor está se apropriando de teorias que
orientarão sua prática. No entanto, ele não será um reprodutor de técnicas e
modelos práticos dominantes. Busca-se a formação de um profissional capaz de
desenvolver a atividade material para transformar o mundo natural e social
humano. Nesta perpesctiva, acrescenta Ghedin e col.:
[...] É importante ressaltar que o saber docente não é formado apenas da
prática, sendo também nutrido pelas teorias da educação. Porém, o processo de
acesso a teorização da prática só é possível por um processo de reorganização
interpretativa do fazer à luz de outras interpretações a respeito da realidade.
Deste modo podemos dizer que a teoria tem importância fundamental na formação
dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação
contextualizada [...] (GHEDIN et al., 2015, p. 173).
Assim, o presente trabalho busca relatar as narrativas de uma estagiária acerca
das atividades desenvolvidas no Estágio Supervisionado I de um curso de
Licenciatura em Química, tendo como foco as interações discursivas de três
professoras regentes.
Material e métodos
Este trabalho recorre a uma abordagem qualitativa cuja centralidade se dá no
processo e nas descrições das atividades realizada durante o Estágio
Supervisionado de um curso de Licenciatura em Química ofertado por uma
instituição pública do interior de Goiás. A etapa destacada é a de Observação,
que compreende diagnóstico da escola com base no estudo do Projeto Político
Pedagógico, acompanhamento de aulas de Ciências do 9º ano do Ensino Fundamental
e de Química da 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio. Teve duração de 40h e foi
realizado no primeiro semestre de 2022 em um Colégio da Rede Pública Estadual de
Goiás, contando com o acompanhamento de três professoras regentes (P1, P2, P3).
Adiante, a construção dos dados se deu por meio da técnica de observação não
participante, nas quais destacavam-se das aulas aspectos como: tema, conteúdo,
metodologia de ensino, e principalmente as questões utilizadas pelas professoras
regentes ao concretizar as interações verbais. No total, foram observadas 20
aulas, e dada a saturação, neste trabalho destacaremos os dados de quatro aulas.
A análise dos dados se deu de forma descritivo-interpretativa orientados pelo
referencial teórico acerca de interações discursivas. A ênfase foram os tipos de
questões: perguntas retóricas; sem sentido; de complementaridade; com somente
duas possibilidades; que levam os alunos a raciocinar (CARVALHO, 2012).
Resultado e discussão
A primeira aula trata-se do 9º ano e teve como tema “evolução dos modelos
atômicos”. Para explanação P1 escreveu atividades no quadro e após, realizou a
correção. Nesta aula, foi possível perceber a presença de muitas perguntas
retóricas, na qual a regente perguntava sem a intenção de obter respostas dos
alunos. Numa segunda aula, ela explorou o tema “distribuição de elétrons em
camadas” utilizando o quadro para exercícios, a fim de responder junto com os
discentes, momento que fazia perguntas para determinar o nível de conhecimento
dos mesmos. Nesta aula, observou-se o uso recorrente de perguntas
complementares, a professora perguntava algo mas, dando uma “dica” para os
alunos apenas complementar, como por exemplo, “faz se a distribuição em camadas,
e é representado a camada mais energética, e...”.
A terceira aula teve como regente P2, sendo o assunto “distribuição eletrônica”.
Esse conteúdo se estendeu por algumas aulas, para promover a participação ela
exigiu a indicação de elementos pelos discentes, os quais sugeriram, por
exemplo, o Mendelévio. Nesta aula, entre as interações verbais estavam as
perguntas com somente duas possibilidades. Por exemplo: “o sódio termina sua
distribuição no s ou p?”.
Já a quarta aula foi ministrada por P3 e o conteúdo foi “função orgânica –
álcoois”. A aula foi expositiva com uso do quadro e atividades de fixação. Os
alunos estavam bem agitados, porém a docente não tolera muitas brincadeiras,
portanto não as realiza e, aplica repreensões quando percebe uma brincadeira de
cunho sem graça. As perguntas retóricas eram as únicas presentes nessa aula, já
que a professora não abria espaço para que os alunos pudessem realizar
perguntas, as únicas eram as que ela realizava, como por exemplo, a hidroxila
irá ficar nesse carbono 3, certo?
Conclusões
O Estágio Supervisionado de Observação é momento de estimular a interpretação da
realidade a partir dos estudos teóricos, incentivando a reflexão acerca da
docência. Este trabalho teve como foco as narrativas de uma estagiária acerca de
uma das etapas de estágio do curso de Licenciatura em Química. Dentre as aulas
observadas foi possível notar o quanto o tipo de pergunta elaborada pelas regentes
influencia no nível de participação e potencializa a apropriação de conhecimentos
científicos. Além disso, a ausência de perguntas que levam os alunos a raciocinar.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal Goiano.
Referências
ALMEIDA, M.; PIMENTA, S. Estágios supervisionados na formação docente: educação básica e educação de jovens e adultos. São Paulo: Cortez, 2014.
CARVALHO, A. M. P. Os estágios nos cursos de licenciatura. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
GHEDIN, E. et al. Estágio com pesquisa. São Paulo: Cortez, 2015.