Autores
Costa, J.S. (LPEQI - UFG) ; Santos, R.C. (LPEQI - UFG) ; Rodrigues, W.A. (LPEQI - UFG) ; Garcia, F.N.S.V. (LPEQI - UFG) ; Silva, G.M. (SEE - GO) ; Carvalho, S. (UFG) ; Benite, A.M.C. (LPEQI - UFG) ; Benite, C.R.M. (LPEQI - UFG)
Resumo
A compostagem é uma atividade que gera insumos para melhoria do solo, reduz a
poluição ambiental, estimula o exercício da cidadania e pode ser usada como
proposta de formação crítica e criativa com foco no desenvolvimento de
habilidades no ensino de Ciências. Baseados na Teoria da Atividade de Leontiev e
contendo elementos da pesquisa-ação, evidenciamos neste estudo o uso da educação
maker enquanto estratégia para ensino de conteúdos de Ciências a partir da
prototipagem de uma composteira para a fertilização de uma horta como meio de
estimular os alunos à busca de soluções criativas para questões sociais, o
acumulo de lixo orgânico na escola, por meio da manipulação de artefatos reais
com o auxílio de tecnologias potencializadoras, tornando-os agentes ativos no
processo de aprendizagem.
Palavras chaves
Ensino de Ciências; Educação Maker; Prototipagem
Introdução
O hábito excessivo do consumo de produtos tem causado o aumento exacerbado do
acúmulo de lixo e, consequentemente, provocado impactos no meio ambiente. Sobre
o lixo orgânico, uma forma de auxiliar na sua decomposição é com a compostagem,
o reaproveitamento de restos de alimentos processados durante um período cíclico
e natural permitindo a formação de adubo orgânico. A degradação da matéria
orgânica ocorre pela ação de microrganismos aeróbios e a incorporação do
oxigênio por meio do revolvimento em tempos específicos da leira ou mesmo do
material em decomposição (TEIXEIRA, 2004). Essa prática é viável uma vez que
permite a transformação desse material em um composto fertilizante nutritivo
para plantações minimizando o descarte em aterros sanitários. Visando a
compreensão e participação de alunos e o possível alcance à comunidade escolar
em ações que contribuam com a diminuição do lixo e aumento da qualidade de vida
assumimos como essencial a valorização dos temas ambientais no ensino de
Ciências defendendo propostas que valorizem o pensamento crítico e criativo
promovendo tanto a apropriação de conhecimentos quanto a formação cidadã
(UNESCO, 1987). Posto isso, encontramos na educação maker uma estratégia para o
ensino de Ciências que propõe ao aluno lidar com desafios atuais, aprendendo e
despertando habilidades capazes de encontrar soluções que modifiquem a realidade
(BACICH e HOLANDA, 2020; MACHADO e ZAGO, 2020). Pautados na Teoria da Atividade
(LEONTIEV, 1984), este trabalho versa sobre o uso da educação maker como
proposta de ensino de conceitos de Ciências a partir da prototipagem de uma
composteira para a fertilização de uma horta reaproveitando lixo orgânico gerado
na escola para auxiliar na produção de alimentos em tempos de crise ambiental.
Material e métodos
Empregando elementos da pesquisa-ação, neste estudo os professores agem como
pesquisadores da própria prática pedagógica usando suas reflexões com o intuito
de aprimora-la contribuindo para o aprendizado de seus alunos (TRIPP, 2005).
Impulsionados por questões da realidade social, a educação maker promove prática
reflexivas e criativas em que o aluno é agente ativo no processo de ensino-
aprendizagem prototipando soluções para problemas cotidianos orientados pelo
professor. A prototipagem valoriza as experiências dos alunos que convivendo com
situações de erros e acertos têm a possibilidade de compreenderem as Ciências em
assuntos relacionados ao cotidiano. Assim, o primeiro ciclo espiral de pesquisa-
ação foi caracterizado pela construção da horta (Fig.1) por professores em
formação continuada (PFC) e alunos (A) do ensino médio de uma escola pública
considerando o caráter coletivo de uma proposta que pudesse contribuir para a
reorganização do ensino de Ciências possibilitando o entendimento dos mais
variados sentidos atribuídos à educação maker. Amostras do solo foram coletadas
pelos alunos, com a orientação da professora de biologia, para análise no
laboratório da universidade apresentando resultado apropriado para cultivo. A
dinâmica é constituída de três momentos semanais: a manutenção da horta; aula no
contraturno via google meet para discussão de conceitos de Biologia, Química e
Física; e aulas de educação maker com foco na prototipagem de artefatos manuais
(Fig.2) e eletrônicos (robótica) que auxiliem na manutenção da horta e na
qualidade do ambiente escolar. O segundo ciclo espiral se referiu a construção
das composteiras (Fig.3) feitas com lixeiras grandes dispostas por camadas de 20
cm alternando restos de capina, material orgânico da escola (Fig.4) e serragem.
Resultado e discussão
O sujeito não pode apenas estar no mundo transformado pela ação de gerações
anteriores, precisa atuar sobre ele com o auxílio de ferramentas e linguagens em
busca de desenvolvimento de aptidões e patrimônio cultural (LEONTIEV, 1984).
Baseados na Teoria da atividade professores em formação continuada do nosso
laboratório fazem uso da cultura maker no ensino de Ciências desenvolvendo
atividades escolares em função da prototipagem visando refletir/solucionar
problemas sociais simples, sendo esse o cerne para a compreensão do que motiva
os alunos a realizarem algo. Numa aula sobre os impactos ambientais causados
pelo descarte de lixo, a construção da composteira foi proposta por A1, baseado
em vídeo disponível no youtube, como forma de reaproveitamento dos materiais
orgânicos na forma de insumos para fertilização da horta. Integrando elementos
da cultura maker no ensino de Ciências, PFC usa a horta como espaço de
experimentação atrelado a prática ‘Do it yourself’ que com o suporte de
computadores, dispositivos móveis e acesso a internet os alunos atuam de forma
ativa buscando/sugerindo contribuições para o desenvolvimento do projeto, como
feito por A1 e A2 (Fig.5: Extrato 1). A compostagem é um processo de
decomposição aeróbia controlada e de estabilização da matéria orgânica em
condições que permitam a obtenção de um produto final estável, sanitizado, rico
em compostos húmicos, cujo uso no solo não oferece riscos ao meio ambiente (FAN
et al., 2018). Sua eficiência também está relacionada à presença de compostos
que promovem condições ideais para os microrganismos aeróbios se multiplicarem e
atuarem na transformação da matéria orgânica, assunto abordado na aula por PFC
(Fig.6: Extrato 2), com o intuito de promover reflexão sobre a ação para tomada
de consciência.
Fig.1: Horta; Fig.2: Atividade maker; Fig3: Composteiras; Fig.4: Material orgânico
Fig.5: EXTRATO 1; Fig.6: EXTRATO 2
Conclusões
Para que a escola forme sujeitos capazes de tomar decisões coerentes na sociedade
e no ambiente é necessário que as práticas educativas estejam em consonância com
propostas que estimulem a formação crítica e criativa dos alunos promovendo
participações ativas na relação entre conteúdos escolares e a transformação do
ambiente com suas habilidades. Assim, a educação maker se mostrou uma proposta
relevante para o desenvolvimento de atitudes conscientes nos alunos quanto ao uso
dos saber escolares e tecnológicos e suas implicações no meio ambiente tornando as
aulas de Ciências mais interessantes.
Agradecimentos
Ao CNPq
Referências
BACICH, L. e HOLANDA, L. STEAM em sala de aula: aprendizagem baseada em projetos integrando conhecimentos na educação básica. Porto Alegre: Penso, 2020.
FAN, Y.V.; LEE, C.T.; KLEMES, J.J.; CHUA, L.S.; SARMIDI, M.R.; LEOW, C.W. Evaluation of effective microorganisms on home scale organic waste composting. Journal of Environmental Management, v.216, p.41-48, 2018.
LEONTIEV, A.N. Actividad, consciencia y personalidad. México: Editorial Cartago de México, 1984.
MACHADO, A.A. e ZAGO, M.R.R.S. Articulações entre práticas de educação ambiental, robótica e cultura maker no contexto das aulas de laboratório de Ciências. Tecnologia, Sociedade e conhecimento, v.7, n.2, p.143-168, 2020.
TEIXEIRA, L.B.; GERMANO, V.L.C.; OLIVEIRA, R.F.; FURLAN JUNIOR, J. Circular técnica 33: Embrapa Processo de Compostagem, a Partir de Lixo Orgânico Urbano, em Leira Estática com Ventilação Natural. Belém, Embrapa Amazônia Oriental, 2004.
TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, v.31, n.3, p.443-466, 2005.
UNESCO. Congresso Internacional UNESCO/PNUMA sobre La educacion y la Formacion Ambientales, Moscou, in: Educação Ambiental, Situação Espanhola e Estratégia Internacional. DGMA-MOPU, Madrid, 1987.