• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

A experimentação envolvendo alunos com deficiência visual como proposta para minimizar os efeitos causados pelo Ensino Remoto Emergencial

Autores

Silva, R.M. (UFG) ; Morais, A.M.M. (UFG) ; França, F.A. (UFG) ; Vargas, G.N. (UFG) ; Benite, C.R.M. (UFG)

Resumo

Este estudo versa sobre um experimento de separação de mistura com material alternativo realizado por alunos com deficiência visual (DV) objetivando minimizar os efeitos causados pelo isolamento social e as barreiras intensificadas pelo ensino remoto emergencial (ERE) durante a pandemia da COVID-19. Contendo elementos da pesquisa participante (PP), a intervenção foi realizada pelo Google Meet envolvendo alunos do ensino médio de uma instituição pública de apoio a DV parceira do nosso laboratório de pesquisas. Ressaltamos que apesar do experimento ter possibilitado sensações conscientes que comumente não são exploradas no ensino online a atividade só foi possível pela experiência dos docentes em atuarem com a especificidade distante da diversidade da sala de aula regular.

Palavras chaves

Experimentação inclusiva; Deficiência visual; Ensino Remoto Emergencial

Introdução

No ensino de Química, a visão é um importante canal de aquisição de informações para a interpretação, discussão e apropriação de conteúdos, processos nos quais alunos com deficiência visual (DV) possuem limitações (BENITE et al., 2017a). Ensinar Química para DV requer um trabalho sistematizado que privilegie a linguagem, a vivência de experiências, a mediação do professor e o uso de recursos/instrumentos que estimulem a aprendizagem (MIRANDA, 2010). Por ser uma Ciência teórico-prática, a Química tem o experimento como uma etapa de sua constituição que usa a observação visual como canal de coleta e interpretação dos dados visualmente observáveis, etapa excludente para esses alunos. Além disso, em 2020, o mundo foi atingido pelo grande número de casos de Covid-19 e o isolamento social foi a forma inicial mais eficaz de conter o aumento dos contágios. Diante desse cenário, o Ministério da Educação lançou em 17 de março de 2020 a Portaria nº 343 autorizando, em caráter excepcional, a substituição do ensino presencial pelo ensino remoto emergencial (ERE) desafiando professores e alunos a assumirem novas maneiras de ensinar e aprender (BRASIL, 2020) “evidenciando a problemática que já existia de forma presencial: a dificuldade no processo de inclusão de alunos” (OLIVEIRA, SILVA E MEDEIROS, 2020, p.40). Posto isso, este trabalho versa sobre como um experimento sobre separação de mistura com material alternativo realizado por DV em suas residências com a orientação dos professores via Google Meet foi pensado para minimizar os efeitos causados pelo isolamento social e as barreiras intensificadas pelo ensino remoto, já que nesse formato o único sentido comumente usado pelo DV é a audição.

Material e métodos

Contendo elementos da pesquisa participante (PP), os pesquisadores que também são sujeitos da investigação se desenvolvem e se qualificam incorporando, aprendendo e transformando a cultura local (NOVAES e SOUZA, 2019; BRANDÃO,1987). Assim, os professores em formação continuada (PFC) refletiram suas práticas na busca de formas de ensinar Química numa perspectiva inclusiva durante o ERE. A aula remota envolveu alunos (A) do ensino médio, gravada em áudio e vídeo via Google Meet e transcrita para posterior análise da conversação (MARCUSCHI, 2000). O experimento foi planejado para ser realizado pelos DV em suas residências utilizando materiais alternativos e de fácil acesso, como: garrafa PET, algodão, óleo usado e água. Apesar do desafio, a estratégia objetivou despertar a curiosidade favorecendo o envolvimento dos DV nas aulas e a tentativa de participação autônoma, mas principalmente como meio de diminuir o atraso do conteúdo provocado pelo isolamento social minimizando, também, as barreiras de acesso ao conhecimento por alunos com deficiência implicando na mobilização de recursos que possibilitassem a participação nos diversos ambientes (OLIVA, 2016). Concordamos com Arruda (2020) que mesmo com toda evolução da tecnologia e internet muitos desafios foram encontrados durante a pandemia, como a dificuldade de prender a atenção dos alunos e tornar o ambiente online um espaço de possível aprendizado. Assim, durante o ERE assumimos como essencial a permanência do contato dos professores com os DV, mesmo que de maneira online, tanto para tentar conter a ampliação do atraso escolar como para a manutenção do vínculo social e educacional (ROCHA e VIEIRA, 2021).

Resultado e discussão

Uma aula presencial de misturas permite a abordagem de variados conceitos além do manuseio de equipamentos que foram impossibilitados pelo ERE. Neste estudo, a experimentação com material alternativo foi uma forma de envolver o DV na aula minimizando os problemas agravados pelas barreiras da distância e da deficiência, pois acreditamos que o uso de recursos didáticos adequados tem reflexos positivos na aprendizagem (NETA, NASCIMENTO E FALCÃO, 2020). A Figura 1 mostra o print do experimento montado pelo DV filmado com o auxílio da mãe e a Figura 2 a audiodescrição do experimento por PFC que enquanto tecnologia assistiva assumiu o papel de instrumento de mediação auxiliando-os na atividade proposta. A Química é uma Ciência abstrata, com linguagem simbólica própria e carregada de representações visuais, aspectos que dificultam a aprendizagem principalmente dos DV para coleta e interpretação dos dados observáveis no fenômeno reproduzido (BENITE et al., 2017b). Considerando que a separação da mistura se completa quando o óleo fica retido pelo algodão e a água para de escoar para o reservatório inferior, nossos resultados salientam que apesar das limitações e dificuldades enfrentadas no ERE, a montagem do experimento foi uma maneira de permiti-los a sensação tátil para a compreensão da atividade (fala de A2) e o som do escoamento da água de estímulo externo para a audição, canais sensitivos que possibilitaram a interpretação teórica orientada (OLIVEIRA et al., 2020). No entanto, os resultados também demonstram que diante das dificuldades do ERE, a aula só foi possível devido à experiência adquirida de atuarmos com a especificidade há mais de uma década e não ser uma sala de aula virtual com a diversidade de alunos do ensino regular (MORAIS et al., 2022).

Figura 1

Experimento montado com materiais alternativos

Figura 2

Legenda: Extrato retirado da transcrição da aula

Conclusões

Buscando estratégias que minimizassem os efeitos causados no ERE, os PFC realizaram experimentos via Google meet com material alternativo objetivando promover a participação ativa dos DV no processo de ensino- aprendizagem estimulando diferentes sensações, conscientes, para a interpretação teórica dos dados observados. No entanto, a proposta só foi possível de ser realizada por ser uma aula de apoio, com baixo grau de complexidade e realizada por docentes da Química experientes em atuarem com a especificidade, elementos necessários à formação docente, mas que evidenciaram fragilidades do ERE.

Agradecimentos



Referências

Referências
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