Autores
Costa, G. (INSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGOA) ; de Oliveira, E.A.F. (COLÉGIO PEDRO II)
Resumo
No ensino de Química a importância da experimentação é evidente, pois além de
motivar os alunos e despertar a curiosidade, as aulas práticas auxiliam na
compreensão de conceitos químicos relacionando-os à realidade cotidiana e
contribuem para uma maior aprendizagem. Neste contexto, estudar a estruturação
das práticas de Ensino de Química em uma época em que os livros, manuais e
apostilas constituíam os principais recursos didáticos utilizados por
professores e alunos, é um campo interessante, desafiador e ainda pouco
explorado. Este trabalho faz uma análise investigativa da estruturação e a forma
de apresentação de atividades experimentais propostas no livro Química Prática
de Sumner e Vieira, publicado em 1939, sendo levantados elementos de base
histórica.
Palavras chaves
Colégio Pedro II; História da Química; Ensino experimental
Introdução
A experimentação, desde os primórdios da humanidade, pode ser considerada uma
ferramenta de extrema importância. Ouso a dizer que não seria descoberto e usado
pelo o fogo, se não houvesse já naquela época ao menos a
curiosidade, o espírito investigativo e, por fim a experimentação (OLIVEIRA,
2010; FELDENS, 2018). Da mesma forma, na invenção da roda, sem dúvidas, também
estava presente muito trabalho manual e experimentação (FELDENS, 2018).
Brevemente e entre tantas, cito apenas duas descobertas de extrema importância
para o desenvolvimento da humanidade e, quais considero essencial o trabalho
manual e experimental.
É evidente que para muitos dos atuais professores a experimentação é considerada
uma ferramenta facilitadora do ensino de Química (SANTOS, SILVA e LUZ,
2018; CAPORALIN, 2019). Como explicar experimentos, reações e fenômenos a não
ser por meio de aulas práticas? Vivemos uma era em que os professores de Química
são presenteados com diversas ferramentas tecnológicas que permitem até mesmo a
simulação de reações e experimentos. No entanto, estas facilidades não estavam
disponíveis em um período não muito distante, o início do século XX, época em
que sequer cogitava-se atingir o número atual de ferramentas digitais
direcionadas ao ensino, o excesso de tecnologia e em uma humanidade
hiperconectada. Naquela época, a principal ferramenta de ensino e aprendizagem,
era sem dúvidas o livro.
A constituição inicial das aulas de Química experimental ainda é um campo pouco
explorado. Com base nisto, este trabalho traz um recorte considerado inédito do
livro Química Prática – 1939, sendo este livro, supostamente, usado como um dos
primeiros manuais em português e exclusivo para realização de aulas
experimentais no Colégio Pedro II.
Material e métodos
Procedeu-se uma análise qualitativa e descritiva, no âmbito de uma análise
documental exploratória, a fim de se conhecer e compreender aspectos importantes
da estruturação e forma de abordagem de parte do conteúdo experimental proposto no
livro Química Prática – Química Inorgânica e Química Analítica para os cursos
Fundamental e Complementar dos professores George Sumner e Ricardo Rodrigues
Vieira – 1939.
Resultado e discussão
Neste trabalho, um recorte com experimentos e imagens foram transcritos seguindo
fielmente a apresentação do livro de Sumner e Vieira, a fim de se preservar a
memória histórica deste rico conteúdo. No referido recorte são destacadas
propriedades características do hidrogênio e sugerem-se experiências que
comprovam algumas das propriedades:
"As propriedades características do hidrogênio são as seguintes: é um gás sem
côr, sem cheiro, extremamente leve (d = 0,06948), muito difusível, muito pouco
solúvel em água, ardendo como uma chama muito pálida, porém, muito quente. Não é
comburente. Misturado com o oxigênio ou com o ar, o hidrogênio explode ao
contacto de uma chama. É o único gás condutor, de maneira sensível, do calor e
da eletricidade" (SUMNER; VIEIRA, 1939, p. 17).
Desta forma, nesta prática são abordadas algumas propriedades dos materiais, em
específico do hidrogênio gasoso, das quais a densidade, a difusibilidade, a
inflamabilidade e a explosividade. Os aparatos usados para demonstração de tais
propriedades são mostrados na Figura 1.
Destaca-se nesta proposta, a mínima e peculiar preocupação com a segurança e a
solução apresentada pelos professores, que sugerem: “O frasco deve ser pequeno
para tornar sem perigo a experiência, convindo mesmo envolve-lo em um pano
molhado a fim de evitar projeções de vidro, caso venha a arrebentar” (SUMNER;
VIEIRA, 1939, p. 20).
Não cabe neste trabalho concluir que, de fato, as propostas experimentais do
livro eram colocadas em prática, destaca-se somente a importância do conteúdo
para o desenvolvimento do Ensino de Química experimental e também a sua
importância como material histórico.
Aparatos usados para demonstração das propriedades do hidrogênio. a)Densidade; b)Combustibilidade e não comburência; c)Combustilidade; d)Explosividade
Conclusões
Não somente devido ao ineditismo deste trabalho na historiografia nacional da
Química, mas também pela função que o livro desempenhou e que pode ter refletido
em tendências na formação e desenvolvimento do conhecimento da química
experimental ao longo dos anos, realizou-se este trabalho. Observa-se que os
experimentos citados demonstram características da tradicional abordagem empirista
indutivista, baseada, principalmente na observação dos fenômenos, uma vez que os
autores detiveram-se na apresentação, descrição e roteirização do conteúdo, assim
como em muitas das propostas atuais.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Química do Colégio
Pedro II.
Referências
CAPORALIN, C. B. A experimentação como ferramenta facilitadora no ensino de química. UNIFUNEC Científica Multidisciplinar, v. 8, n. 10, p. 1-11, 2019.
FELDENS, L. O homem, a agricultura e a história. Ed. Univates, 171 p., 2018.
OLIVEIRA, A. de. A descoberta que mudou a humanidade. Revista Ciência Hoje, 2010. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/coluna/a-descoberta-que-mudou-a-humanidade/ Acesso em: 05 dez. 2021.
SANTOS, É. S. dos; SILVA, C. R. P. da; LUZ, J. A. P. da. A experimentação como ferramenta facilitadora no Ensino de Química. V Congresso Nacional de Educação, Anais V CONEDU, Campina Grande, Ed. Realize, 2018.
SUMNER, G.; VIEIRA, R. R. Química Prática: Química Inorgânica – Química Analítica para os cursos fundamental e Complementar. Série Didática. Livraria Editora Freitas Bastos, Rio de Janeiro – São Paulo, 1939.