Autores
Fonseca, G.C.F. (ISB/UFAM) ; Rebelo, K.S. (UFAM) ; Rodrigues, C.N. (UFAM) ; Gonçalves, T.M. (UFSCAR) ; Pessoa Junior, E.S.F. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Pieri, F.A. (UFJF) ; Yamaguchi, K.K.L.Y. (ISB/UFAM)
Resumo
O percurso de adaptação dos discentes ao ingressar em cursos universitários nem
sempre é fácil, pois exigem uma série de mudanças e condições que nem sempre o
acadêmico está preparado. Dessa forma, este projeto buscou identificar as
motivações e adaptação de alunos ingressantes do curso de Licenciatura em
Ciências: Biologia e Química do Instituto de Saúde e Biotecnologia ISB / UFAM. O
método utilizado para identificar as motivações e adaptações dos discentes do
referido curso, foi a pesquisa de campo, com a abordagem qualitativa-
quantitativa, com a finalidade de descrever e explorar sobre a temática
referenciado pelas pesquisas bibliográficas. Verificou-se que cerca de 31% dos
ingressantes não se identificam com a docência e que inicialmente não tem a
pretensão de ser professor.
Palavras chaves
Ensino superior; Desafios acadêmicos; Formação universitária
Introdução
No Brasil os índices de evasão e abandono do curso são evidentes, principalmente
em cursos considerados mais difíceis . Segundo os dados do Censo da Educação
Superior feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira – INEP, em 2016 o aumento foi de 1,9 % (INEP, 2016). Atrelado a
esses dados, pôde-se verificar que os índices estatísticos sobre a evasão
universitária nos cursos de Ciências, Física e Química podem chegar a mais de
50% (YAMAGUCHI e SILVA, 2019), como os descritos para as licenciaturas de Física
(57,2%), Química (52,3%) e Matemática (52,6%), o que agrava consideravelmente o
problema do grande déficit de professores de ciências no Brasil (INEP, 2016).
Na avaliação dos cursos superiores no Brasil, realizada pelo MEC (Ministério da
Educação e Cultura) em 2017, o curso de Ciências: Biologia e Química da
Universidade Federal do Amazonas alcançou nota quatro, próxima ao máximo
(cinco). Embora o resultado favorável sobre a qualidade do curso, verifica-se
empiricamente que há uma alta evasão, analisada pela quantidade de formados e
pela percepção da quantidade de vagas ociosas no curso. Verifica-se que as
motivações acadêmicas, bem como o ambiente universitário podem influenciar de
forma direta na permanência dos universitários. Nesse cenário, o acompanhamento
dos acadêmicos desde os períodos iniciais é de vital importância para
diagnosticar as dificuldades e motivações para continuar o curso (MATTA, LEBRRÃO
e HELENO, 2017). Almeida (2018) ressalta a importância de pesquisas sobre o
acompanhamento dos acadêmicos para a avaliação dos cursos de forma mais efetiva,
constituindo-se de uma ação importante para o planejamento de políticas
educacionais no Ensino Superior, buscando fornecer informações sobre essa
problemática e respostas que possibilitem intervenções de modo a ampliar o
conhecimento sobre o tema.
É unânime nas pesquisas sobre essa temática, a recomendação de políticas
institucionais visando o acolhimento e acompanhamento dos acadêmicos para
atenuar o quadro de permanência prolongada e a evasão (YAMAGUCHI e SILVA, 2020).
Dessa forma, essa pesquisa busca identificar as motivações e adaptações dos
discentes nos primeiros períodos do curso de Ciências: Biologia e Química e os
fatores que interferem positivamente e negativamente para a adaptação
universitária, bem como avaliar as variações significativas de adaptação entre
os diferentes perfis de estudantes, com a expectativa de diagnosticar as
principais dificuldades de ordem pessoal, interpessoal e institucional.
Material e métodos
A pesquisa foi realizada com discentes ingressantes e/ou dos períodos iniciais
do curso de Ciências: Biologia e Química do Instituto de Saúde e Biotecnologia
da Universidade Federal do Amazonas, município de Coari. Esta pesquisa faz parte
de um projeto maior intitulado : "Trajetória acadêmcia no curso de Ciências" e
apresenta uma metodologia integrante entre uma pesquisa bibliográfica e uma
pesquisa de campo, com abordagem qualitativa e quantitativa, sendo exploratória
e descritiva (GIL, 2019). Houve a aplicação de um instrumento de pesquisa que
teve como foco a identificação da adaptação, dificuldades e motivação dos
discentes na universidade e no curso. A participação dos acadêmicos ocorreu de
forma voluntária e com garantia do anonimato de cada participante. Todos os
sujeitos receberam um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O TCLE
com as assinaturas dos participantes da pesquisa, assim como os questionários
submetidos. Essa pesquisa possui autorização do comitê de ética segundo os
parâmetros de realização de pesquisa instaurados pela Resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde e a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
com CAAE: 31813220.7.0000.5020.
Resultado e discussão
Pode-se dizer que “ser-professor é uma construção angariada no decorrer de
um longo processo, pois é preciso tempo para assimilar a formação, para aprender
como agir, para tomar decisões e principalmente para se reconhecer como um
formador das futuras gerações” (IZA et al, 2014, p.276).
Nesse sentido, é significante ter um acompanhamento em fase inicial da formação,
em que alguns acadêmicos estão no processo de escolher sua atuação profissional.
Na pesquisa realizada, verificou-se que a maioria dos discentes fez o ensino
básico em escolas púbicas (93,75%) e são munícipes da cidade sede da
universidade (81,25%). Na autoavaliação sobre sua base em química, 62%
consideram boa ou ótima.
Em relação a motivação para seleção do curso, a afinidade e/ou facilidade com a
disciplina de Química, Biologia ou Ciências foi preponderante (74%).
Apesar de escolherem o curso de licenciatura, 69% afirmaram que pretendem ser
professores e 31% afirmaram não querer ou de estarem indecisos. É compreensível
que nesse primeiro contato com a universidade os discentes estejam cercado por
expectativas que nem sempre são alcançadas ou superadas, deixando margem para as
incertezas sobre a futura profissão, visto que, nesse processo é comum uma não
identificação com o curso, ocasionando a troca de curso, trancamento ou evasão
(YAMAGUCHI e SILVA, 2020).
Assim, a qualidade da adaptação e a motivação dos discentes é um fator
importante para o sucesso acadêmico. Entre eles, cita-se um conjunto alargado de
fatores, como as habilidades cognitivas, as competências de autonomia e
autorregulação, a identidade vocacional atingida, o suporte familiar, o
envolvimento académico, a participação em atividades extracurriculares, a
qualidade da vinculação com a instituição como um todo, questões familiares e o
estabelecimento de relações positivas com os pares e professores (NHACHENGO e
ALMEIDA, 2020, p.109)
A educação é a base para que ocorra o desenvolvimento sociocultural,
contribuindo para avanços sociais, científicos e tecnológicos. Pautado nisso, a
formação docente e o acompanhamento dos futuros profissionais durante a
graduação é de suma importância para que um ensino de qualidade possa ocorrer e
transformar a todos que estão envolvidos nesse processo, sejam eles alunos,
professores, familiares e a sociedade como um todo (PIMENTA, 2012; BEHREND;
COUSIN; SCHMIDT, 2019).
Caracterização e motivações dos ingressantes do curso de Ciências: Biologia e Química
Conclusões
Medidas para conter a evasão universitária vem sendo aplicadas e desenvolvidas
nas universidades, o que vem apresentando resultados positivos para os diversos
fatores que dificultam e algumas vezes acabam por impedirem que alunos de
graduação terminem seus cursos e assim cometam evasão universitária
Entre os fatores estão as dificuldades financeiras, falta de apoio familiar,
falta de acolhimento institucional e quebra de expectativas. Onde esses
empecilhos tornam o percurso acadêmico algo desestimulante e desincentivador para
o aluno.
Com a presente pesquisa pudemos identificar o perfil dos discentes e verificou-se
que a motivação para os ingressantes relaciona-se a afinidade com as disciplinas
de Química, Biologia e/ou Ciências e que mesmo sendo um curso de licenciatura,
ainda há ingressantes que não se identificam com a docência e que inicialmente
não tem a pretensão de ser professor.
Agradecimentos
UFAM, CAPES e FAPEAM pela bolsa concedida no Projeto de PIBIC
Referências
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