Autores
Fernandes, G. (IFMT - CAMPUS CONFRESA) ; Silva, S. (IFMT - CAMPUS CONFRESA) ; Caetano, V. (IFMT - CAMPUS CONFRESA) ; Leão, M. (IFMT - CAMPUS CONFRESA)
Resumo
A experimentação é uma atividade fundamental para o ensino de Química, pois
possibilita observar fenômenos naturais de maneira prática. No entanto, nem
sempre as escolas disponibilizam de espaços adequados, materiais e reagentes
para sua realização. Esse estudo teve como objetivo realizar levantamento dos
materiais alternativos que estão sendo utilizados em aulas de Química de acordo
com a produção científica da Revista Química Nova na Escola nos últimos oito
anos (2014-2021). Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem
qualitativa, do tipo estado do conhecimento. Ao todo foram analisados 6 artigos,
dos quais se observou os seguintes critérios: etapa escolar, conteúdos
abordados, instrumento/experimento de construção sugerido, materiais
alternativos e materiais de laboratório.
Palavras chaves
Atividades experimentais; Ensino de Química; Materiais alternativos
Introdução
A química é considerada uma ciência experimental, e possui grande importância
para a vida humana, pois está presente em praticamente tudo que nos rodeia, ou
seja, dos fenômenos do nosso dia a dia. Portanto, compreender os fenômenos
químicos básicos é de suma importância, pois permite uma melhor interpretação do
mundo em que vivemos. Interpretar os fenômenos cotidianos por meio da
experimentação é essencial, já que possui um caráter interativo e dinâmico,
quando utilizada de forma explicita e contextualizada.
Diversos estudos comprovam que, para que o conhecimento cientifico seja
adquirido é necessário a abordagem de atividades práticas junto a abordagem
teórica. Uma vez que as atividades práticas possuem um formato educativo,
estimulando a criatividade, a crítica e a reflexão no processo educativo,
levando aos estudantes uma motivação para adquirir conhecimento e um
aprendizagem significativa (COSTA; BATISTA, 2017).
Contudo, para Pereira et al (2021) o ensino de química é realizado com os
estudantes de maneira que eles decorem fórmulas, conceitos e reações, gerando
dificuldades no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que os estudantes
passam a enxergar essa disciplina como algo longe da sua realidade, ocasionando
desinteresse pela a mesma. Portanto, faz-se necessárias práticas experimentais
nas aulas de químicas, pois permitem ao estudante ter uma aprendizagem lúdica,
interativa, facilitadora e motivadora.
Apesar das atividades experimentais possuírem um caráter lúdico e motivador,
acaba sendo ignorada no ambiente escolar. O maior motivo é a falta de
laboratório nas escolas, seguido pela pouca quantidade de equipamentos ou até
mesmo despreparo dos professores. Segundo Krasilchik (2004), na área das
ciências da natureza da rede pública de ensino, pouco se desenvolvem atividades
práticas e experimentais, por vezes o motivo é a falta de laboratório, ou quando
existem raramente são utilizados.
Ainda de acordo com o autor supracitado, a ausência da prática para complementar
a teoria, pode comprometer o aprendizado científico, uma vez que, ao serem
ministradas, possibilitam ao estudante a vivência de experiências onde pode se
adquirir o conhecimento de forma facilitadora e sintetizando-os.
No entanto, o processo de aprendizagem dos estudantes independe de
laboratórios, pois a aprendizagem precisa ser baseada em princípios científicos
por meio de observações e interpretações dos fenômenos estudados, e não há
necessidade de equipamentos, vidrarias e reagentes padrões para que isto ocorra.
Assim, muitas práticas podem ocorrer utilizando materiais alternativos, de baixo
custo ou até mesmo adaptados, de fácil acesso e encontrados facilmente no dia a
dia.
Diante desta temática, este estudo tem por objetivo realizar levantamento dos
materiais alternativos que estão sendo utilizados em aulas de Química de acordo
com a produção científica da Revista Química Nova na Escola nos últimos oito
anos (2014-2021). Assim, por meio desses dados, o intuito é refletir as
possibilidades de utilizar equipamentos e reagentes alternativos para ensinar
Química na sala de aula e refletir sobre a importância de utilizar a
experimentação no ensino de Química.
Material e métodos
Este estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica exploratória, fez-se uso
da abordagem qualitativa, desenvolvida no mês de agosto de 2022. Se consiste em
um levantamento de equipamento/materiais alternativos utilizados para ensinar
química que foram publicados na Revista Química Nova na Escola (QNEsc)
disponível em: http://qnesc.sbq.org.br, buscou se informações entre os anos de
2014 e 2021, optou se por este recorte temporal, pois nesses últimos anos vem se
discutindo cada vez mais a necessidade de implementar as práticas experimentais
na sala de aula, tendo em vista que a maioria das escolas não possuem
laboratórios, é de grande importância perceber se apesar deste fato as
atividades práticas estão sendo realizadas de maneiras alternativas.
Inicialmente foi feito a seleção dos artigos, com a intenção de identificar a
produção existente nos 48 números publicados pela revista dentro do período
delimitado, sendo que a revista possui publicações bimestrais, ou seja, seis
números por ano. A busca dos artigos se deu a partir da leitura dos títulos,
resumos e palavras-chaves.
Em seguida, foi realizado o download e a leitura na íntegra dos textos
selecionados (que abordavam sobre a utilização de materiais alternativos). Foram
observados os seguintes critérios: etapa escolar, conteúdos abordados,
instrumento/experimento de construção sugerido, materiais alternativos e
materiais de laboratório. Logo após, foi realizada uma reflexão sob a luz do
referencial teórico que embasou o estudo.
Resultado e discussão
Os resultados foram apresentados por experimento e pelo fato de um artigo
apresentar mais de um experimento e em mais de uma etapa escolar, optou se por
apresentar de maneira individual.
O estudo de Guimarães e Dorn (2015), foi voltado para o 9° ano do Ensino
Fundamental e 1° ano do Ensino Médio. Na atividade, foi proposto um experimento
que utilizou como matérias alternativos: Garrafas Pets, mangueira, cola de
silicone, cronometro, bicabornato de sódio, vinagre e prego. Como material de
laboratório, o único que foi utilizado foi o termômetro.
O estudo de Silva et al. (2014), foi voltado para estudantes do 1° ano do Ensino
Médio. Na atividade, foi proposto um experimento que utilizou como materiais
alternativos: Água, areia, limalhas de metal, raspas de lápis e sal de cozinha.
Utilizou-se este experimento para discutir sobre separação de misturas.
Silva et al. (2014), desenvolveu um estudo que estava voltado ao 1° ano do
Ensino Médio, para ensinar o conteúdo de ligações químicas, para isso foi
realizado um experimento com os seguintes materiais alternativos: Lâmpada
(pisca-pisca), cartolina, fios condutores, tesoura, pilhas, fita isolante, água
e sal de cozinha.
Silva et al. (2014), apresentaram em seus estudos uma atividade voltada para
estudantes do 2° ano de Ensino Médio, onde trabalhou sobre estudo dos gases, o
experimento realizado possuía os seguintes materiais alternativos: Bexiga de
sopro, caixa de fósforos, água e prendedor de madeira.
Em seus estudos Silva et al. (2014), propuseram uma atividade voltada para o 2°
ano do Ensino Médio, afim de trabalhar o conceito de soluções, para isso
utilizou um experimento simples que possuía como materiais alternativos: Açúcar,
sal de cozinha e água.
Silva et al. (2014), utilizaram um experimento com materiais alternativos para
ensinar sobre polaridade para estudantes do 3° ano do Ensino Médio, onde
utilizaram os seguintes materiais alternativos para desenvolver a atividade:
Gasolina e solução saturada de sal de cozinha.
Em seus estudos Silva et al. (2014), desenvolveram uma atividade voltada para
estudantes do 3° ano do Ensino Médio, na qual foi construída uma pilha
eletroquímica para discutir conceitos de eletroquímica, para isso foram
utilizadas como materiais alternativos: Limões, lâmpada de lanterna pequena,
moedas de cobre (5 centavos), fios condutores e clipes escolares.
Silva et al. (2016), realizaram uma atividade direcionada a estudantes do 2° ano
do Ensino Médio, onde discutiram através do experimento que se tratava da
construção de uma pilha natural o conteúdo de eletroquímica e cinética química,
como materiais alternativos foram utilizados: Laranja, parafuso, prego, folha
de alumínio, meda de cobre, fio, bico de jacaré e faca. Como materiais de
laboratório, utilizou-se um multímetro.
O estudo de Quadros et al. (2015), foi voltado para o 2° ano do Ensino Médio. A
atividade desenvolvida possuía como intuito ensinar sobre energia, calor e
temperatura. Desta forma foi realizado um experimento com os seguintes materiais
alternativos: Recipientes e água em diferentes temperaturas.
Em seus estudos Quadros et al. (2015), desenvolveram um experimento alternativo
voltado para o 2° ano do Ensino Médio, para trabalhar os conteúdos de energia,
calor e temperatura, e possuía como materiais alternativos: Copo de plástico
descartável e água. Como materiais de laboratório: Chama de lamparina.
Mendonça et al (2017), propôs uma atividade experimental voltada ao 9° ano do
Ensino Fundamental, na qual buscou-se discutir o conteúdo de misturas. Utilizou-
se como materiais alternativos: Copos descartáveis, água, areia (construção
civil), sal de cozinha, serragem, óleo vegetal (de soja), açúcar, papel A4 e
lápis de cor
Já Santos et al. (2018), em seus estudos tratou de uma atividade voltada para
estudantes do 3° ano do Ensino Médio, para ensinar sobre eletroquímica. Onde
foram utilizados como materiais alternativos: Prego, batata, limão, fios de
cobre, moedas de cobre, garras, led e entre outros.
Com isso, fica evidente que houve um maior número de práticas experimentais no
ensino de química voltadas para estudantes do 2° ano do Ensino Médio, ao todo
foram cinco práticas voltadas para esse público, seguido por quatro praticas
voltadas ao primeiro 1° ano, três para estudantes do 3° ano e outra uma
realizada com estudantes do 9° ano do Ensino Fundamental. Esses dados comprovam
que as práticas experimentais são plenamente viáveis para qualquer etapa de
escolarização. O que comprova a teoria de Valadares (2001), que diz que a
utilização de experimentos com materiais alternativos e de baixo custo em toda
etapa de escolarização no ensino de química é uma ótima alternativa.
Com a análise dos resultados, e levando em consideração a quantidade em anos do
recorte temporal, sugere-se a pouca quantidade de textos que relatam a
utilização de práticas experimentais utilizando materiais alternativos, ou seja,
a maior parte do currículo escolar de química não foram abordados nesses textos.
Sobre os conteúdos mais recorrentes na produção cientifica analisada, podemos
citar: Eletroquímica e misturas. Em relação aos tipos de materiais alternativos,
percebe-se que são materiais simples e que podem ser encontrados facilmente no
dia a dia. Percebe-se também que apesar das atividades experimentais
desenvolvidas serem realizadas com materiais alternativos, três delas foram
realizadas com o auxílio de materiais de laboratório, que dificilmente são
substituíveis.
Conclusões
Diante do estudo realizado, percebe-se que utilização deste recurso didático
deveria ser mais explorado em sala de aula, pois a química é uma ciência
experimental e as atividades práticas auxiliam na compreensão dos fenômenos e
conceitos científicos presentes na natureza. Logo, é indicado que os professores,
sobretudo os de escolas que não possuem laboratório, necessitam se adaptar a esse
método para ensinar química, visto que os experimentos com materiais, equipamentos
e reagentes alternativos podem ser utilizados para auxiliar e facilitar no
processo de aprendizagem dos estudantes.
É válido ressaltar que estes recursos não substituem os equipamentos de
laboratórios, mas se caracterizam como uma alternativa viável para não deixar de
realizar as práticas experimentais na falta de um laboratório químico completo de
vidrarias, reagentes e equipamentos.
Agradecimentos
Referências
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VALADARES, E. C. Propostas de experimentos de baixo custo centradas no aluno e nas comunidades. Química Nova na Escola, n. 13, p. 38-40, 2001.