• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

EXPERIMENTAÇÃO COM MATERIAIS ALTERNATIVOS: UMA ANÁLISE NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA VEICULADA PELA REVISTA QUÍMICA NOVA NA ESCOLA NOS ÚLTIMOS OITO ANOS (2014-2021)

Autores

Fernandes, G. (IFMT - CAMPUS CONFRESA) ; Silva, S. (IFMT - CAMPUS CONFRESA) ; Caetano, V. (IFMT - CAMPUS CONFRESA) ; Leão, M. (IFMT - CAMPUS CONFRESA)

Resumo

A experimentação é uma atividade fundamental para o ensino de Química, pois possibilita observar fenômenos naturais de maneira prática. No entanto, nem sempre as escolas disponibilizam de espaços adequados, materiais e reagentes para sua realização. Esse estudo teve como objetivo realizar levantamento dos materiais alternativos que estão sendo utilizados em aulas de Química de acordo com a produção científica da Revista Química Nova na Escola nos últimos oito anos (2014-2021). Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, do tipo estado do conhecimento. Ao todo foram analisados 6 artigos, dos quais se observou os seguintes critérios: etapa escolar, conteúdos abordados, instrumento/experimento de construção sugerido, materiais alternativos e materiais de laboratório.

Palavras chaves

Atividades experimentais; Ensino de Química; Materiais alternativos

Introdução

A química é considerada uma ciência experimental, e possui grande importância para a vida humana, pois está presente em praticamente tudo que nos rodeia, ou seja, dos fenômenos do nosso dia a dia. Portanto, compreender os fenômenos químicos básicos é de suma importância, pois permite uma melhor interpretação do mundo em que vivemos. Interpretar os fenômenos cotidianos por meio da experimentação é essencial, já que possui um caráter interativo e dinâmico, quando utilizada de forma explicita e contextualizada. Diversos estudos comprovam que, para que o conhecimento cientifico seja adquirido é necessário a abordagem de atividades práticas junto a abordagem teórica. Uma vez que as atividades práticas possuem um formato educativo, estimulando a criatividade, a crítica e a reflexão no processo educativo, levando aos estudantes uma motivação para adquirir conhecimento e um aprendizagem significativa (COSTA; BATISTA, 2017). Contudo, para Pereira et al (2021) o ensino de química é realizado com os estudantes de maneira que eles decorem fórmulas, conceitos e reações, gerando dificuldades no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que os estudantes passam a enxergar essa disciplina como algo longe da sua realidade, ocasionando desinteresse pela a mesma. Portanto, faz-se necessárias práticas experimentais nas aulas de químicas, pois permitem ao estudante ter uma aprendizagem lúdica, interativa, facilitadora e motivadora. Apesar das atividades experimentais possuírem um caráter lúdico e motivador, acaba sendo ignorada no ambiente escolar. O maior motivo é a falta de laboratório nas escolas, seguido pela pouca quantidade de equipamentos ou até mesmo despreparo dos professores. Segundo Krasilchik (2004), na área das ciências da natureza da rede pública de ensino, pouco se desenvolvem atividades práticas e experimentais, por vezes o motivo é a falta de laboratório, ou quando existem raramente são utilizados. Ainda de acordo com o autor supracitado, a ausência da prática para complementar a teoria, pode comprometer o aprendizado científico, uma vez que, ao serem ministradas, possibilitam ao estudante a vivência de experiências onde pode se adquirir o conhecimento de forma facilitadora e sintetizando-os. No entanto, o processo de aprendizagem dos estudantes independe de laboratórios, pois a aprendizagem precisa ser baseada em princípios científicos por meio de observações e interpretações dos fenômenos estudados, e não há necessidade de equipamentos, vidrarias e reagentes padrões para que isto ocorra. Assim, muitas práticas podem ocorrer utilizando materiais alternativos, de baixo custo ou até mesmo adaptados, de fácil acesso e encontrados facilmente no dia a dia. Diante desta temática, este estudo tem por objetivo realizar levantamento dos materiais alternativos que estão sendo utilizados em aulas de Química de acordo com a produção científica da Revista Química Nova na Escola nos últimos oito anos (2014-2021). Assim, por meio desses dados, o intuito é refletir as possibilidades de utilizar equipamentos e reagentes alternativos para ensinar Química na sala de aula e refletir sobre a importância de utilizar a experimentação no ensino de Química.

Material e métodos

Este estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica exploratória, fez-se uso da abordagem qualitativa, desenvolvida no mês de agosto de 2022. Se consiste em um levantamento de equipamento/materiais alternativos utilizados para ensinar química que foram publicados na Revista Química Nova na Escola (QNEsc) disponível em: http://qnesc.sbq.org.br, buscou se informações entre os anos de 2014 e 2021, optou se por este recorte temporal, pois nesses últimos anos vem se discutindo cada vez mais a necessidade de implementar as práticas experimentais na sala de aula, tendo em vista que a maioria das escolas não possuem laboratórios, é de grande importância perceber se apesar deste fato as atividades práticas estão sendo realizadas de maneiras alternativas. Inicialmente foi feito a seleção dos artigos, com a intenção de identificar a produção existente nos 48 números publicados pela revista dentro do período delimitado, sendo que a revista possui publicações bimestrais, ou seja, seis números por ano. A busca dos artigos se deu a partir da leitura dos títulos, resumos e palavras-chaves. Em seguida, foi realizado o download e a leitura na íntegra dos textos selecionados (que abordavam sobre a utilização de materiais alternativos). Foram observados os seguintes critérios: etapa escolar, conteúdos abordados, instrumento/experimento de construção sugerido, materiais alternativos e materiais de laboratório. Logo após, foi realizada uma reflexão sob a luz do referencial teórico que embasou o estudo.

Resultado e discussão

Os resultados foram apresentados por experimento e pelo fato de um artigo apresentar mais de um experimento e em mais de uma etapa escolar, optou se por apresentar de maneira individual. O estudo de Guimarães e Dorn (2015), foi voltado para o 9° ano do Ensino Fundamental e 1° ano do Ensino Médio. Na atividade, foi proposto um experimento que utilizou como matérias alternativos: Garrafas Pets, mangueira, cola de silicone, cronometro, bicabornato de sódio, vinagre e prego. Como material de laboratório, o único que foi utilizado foi o termômetro. O estudo de Silva et al. (2014), foi voltado para estudantes do 1° ano do Ensino Médio. Na atividade, foi proposto um experimento que utilizou como materiais alternativos: Água, areia, limalhas de metal, raspas de lápis e sal de cozinha. Utilizou-se este experimento para discutir sobre separação de misturas. Silva et al. (2014), desenvolveu um estudo que estava voltado ao 1° ano do Ensino Médio, para ensinar o conteúdo de ligações químicas, para isso foi realizado um experimento com os seguintes materiais alternativos: Lâmpada (pisca-pisca), cartolina, fios condutores, tesoura, pilhas, fita isolante, água e sal de cozinha. Silva et al. (2014), apresentaram em seus estudos uma atividade voltada para estudantes do 2° ano de Ensino Médio, onde trabalhou sobre estudo dos gases, o experimento realizado possuía os seguintes materiais alternativos: Bexiga de sopro, caixa de fósforos, água e prendedor de madeira. Em seus estudos Silva et al. (2014), propuseram uma atividade voltada para o 2° ano do Ensino Médio, afim de trabalhar o conceito de soluções, para isso utilizou um experimento simples que possuía como materiais alternativos: Açúcar, sal de cozinha e água. Silva et al. (2014), utilizaram um experimento com materiais alternativos para ensinar sobre polaridade para estudantes do 3° ano do Ensino Médio, onde utilizaram os seguintes materiais alternativos para desenvolver a atividade: Gasolina e solução saturada de sal de cozinha. Em seus estudos Silva et al. (2014), desenvolveram uma atividade voltada para estudantes do 3° ano do Ensino Médio, na qual foi construída uma pilha eletroquímica para discutir conceitos de eletroquímica, para isso foram utilizadas como materiais alternativos: Limões, lâmpada de lanterna pequena, moedas de cobre (5 centavos), fios condutores e clipes escolares. Silva et al. (2016), realizaram uma atividade direcionada a estudantes do 2° ano do Ensino Médio, onde discutiram através do experimento que se tratava da construção de uma pilha natural o conteúdo de eletroquímica e cinética química, como materiais alternativos foram utilizados: Laranja, parafuso, prego, folha de alumínio, meda de cobre, fio, bico de jacaré e faca. Como materiais de laboratório, utilizou-se um multímetro. O estudo de Quadros et al. (2015), foi voltado para o 2° ano do Ensino Médio. A atividade desenvolvida possuía como intuito ensinar sobre energia, calor e temperatura. Desta forma foi realizado um experimento com os seguintes materiais alternativos: Recipientes e água em diferentes temperaturas. Em seus estudos Quadros et al. (2015), desenvolveram um experimento alternativo voltado para o 2° ano do Ensino Médio, para trabalhar os conteúdos de energia, calor e temperatura, e possuía como materiais alternativos: Copo de plástico descartável e água. Como materiais de laboratório: Chama de lamparina. Mendonça et al (2017), propôs uma atividade experimental voltada ao 9° ano do Ensino Fundamental, na qual buscou-se discutir o conteúdo de misturas. Utilizou- se como materiais alternativos: Copos descartáveis, água, areia (construção civil), sal de cozinha, serragem, óleo vegetal (de soja), açúcar, papel A4 e lápis de cor Já Santos et al. (2018), em seus estudos tratou de uma atividade voltada para estudantes do 3° ano do Ensino Médio, para ensinar sobre eletroquímica. Onde foram utilizados como materiais alternativos: Prego, batata, limão, fios de cobre, moedas de cobre, garras, led e entre outros. Com isso, fica evidente que houve um maior número de práticas experimentais no ensino de química voltadas para estudantes do 2° ano do Ensino Médio, ao todo foram cinco práticas voltadas para esse público, seguido por quatro praticas voltadas ao primeiro 1° ano, três para estudantes do 3° ano e outra uma realizada com estudantes do 9° ano do Ensino Fundamental. Esses dados comprovam que as práticas experimentais são plenamente viáveis para qualquer etapa de escolarização. O que comprova a teoria de Valadares (2001), que diz que a utilização de experimentos com materiais alternativos e de baixo custo em toda etapa de escolarização no ensino de química é uma ótima alternativa. Com a análise dos resultados, e levando em consideração a quantidade em anos do recorte temporal, sugere-se a pouca quantidade de textos que relatam a utilização de práticas experimentais utilizando materiais alternativos, ou seja, a maior parte do currículo escolar de química não foram abordados nesses textos. Sobre os conteúdos mais recorrentes na produção cientifica analisada, podemos citar: Eletroquímica e misturas. Em relação aos tipos de materiais alternativos, percebe-se que são materiais simples e que podem ser encontrados facilmente no dia a dia. Percebe-se também que apesar das atividades experimentais desenvolvidas serem realizadas com materiais alternativos, três delas foram realizadas com o auxílio de materiais de laboratório, que dificilmente são substituíveis.

Conclusões

Diante do estudo realizado, percebe-se que utilização deste recurso didático deveria ser mais explorado em sala de aula, pois a química é uma ciência experimental e as atividades práticas auxiliam na compreensão dos fenômenos e conceitos científicos presentes na natureza. Logo, é indicado que os professores, sobretudo os de escolas que não possuem laboratório, necessitam se adaptar a esse método para ensinar química, visto que os experimentos com materiais, equipamentos e reagentes alternativos podem ser utilizados para auxiliar e facilitar no processo de aprendizagem dos estudantes. É válido ressaltar que estes recursos não substituem os equipamentos de laboratórios, mas se caracterizam como uma alternativa viável para não deixar de realizar as práticas experimentais na falta de um laboratório químico completo de vidrarias, reagentes e equipamentos.

Agradecimentos



Referências

COSTA, G. R.; BATISTA, K. M. A importância das atividades práticas nas aulas de ciências nas turmas do ensino fundamental. REVASF, Petrolina-PE, vol. 7, n.12, p. 06-20, abril, 2017.
GUIMARÃES, C. C.; DORN, R. C. Efeito estufa usando materiais alternativos. Rev. Química Nova na Escola – QNESC. São Paulo – SP, Vol. 37, N° 2, p. 153-157, mai. 2015.
KRASILCHIK M. Prática de ensino em biologia. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo-USP; 2004.
MENDONÇA, N. C. S. et al. O ensino de química para alunos: o conceito de misturas no ensino de ciências. Rev. Química Nova na Escola – QNESC. São Paulo – SP, Vol. 39, N° 4, p. 347-355, nov. 2017.
PEREIRA, W. M. et al. A importância das aulas práticas para o ensino de química no ensino médio. Scientia Naturalis, Rio Branco, v. 3, n. 4, p. 1805-1813, 2021.
QUADROS, A. L. et al. A construção de significados em química: a interpretação de experimentos por meio do uso de discurso dialógico. Rev. Química Nova na Escola – QNESC. São Paulo – SP, Vol. 37, N° 3, p. 204-213, ago. 2015.
SANTOS, T. N. P. et al. Aprendizagem Ativo-Colaborativo-Interativa: Inter‑Relações e Experimentação Investigativa no Ensino de Eletroquímica. Rev. Química Nova na Escola – QNESC. São Paulo - SP, Vol. 40, N° 4, p. 258-266, nov. 2018
SILVA, K. S. et al. A Importância do PIBID para a Realização de Atividades Experimentais Alternativas no Ensino de Química. Rev. Química Nova na Escola -QNESC. São Paulo – SP, Vol. 36, N° 4, p. 283-288, nov. 2014.
SILVA. R. M. et al. Conexões entre Cinética Química e Eletroquímica: A Experimentação na Perspectiva de Uma Aprendizagem Significativa. Rev. Química Nova na Escola – QNESC. São Paulo – SP, Vol. 38, N° 3, p. 237-243, ago. 2016.
VALADARES, E. C. Propostas de experimentos de baixo custo centradas no aluno e nas comunidades. Química Nova na Escola, n. 13, p. 38-40, 2001.

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