Autores
Oliveira, G.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Pereira, T.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Silva, R.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Ribeiro, E.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Gonzaga, F.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA)
Resumo
O estágio supervisionado consente ao futuro profissional docente analisar,
conhecer e refletir sobre seu ambiente de trabalho. Este artigo é um relato das
atividades desenvolvidas na disciplina Estágio Supervisionado IV, na turma do EJA
VI e VII. Durante a regência abordou-se o conteúdo de métodos de separação de
misturas em ambas turmas. A partir da identificação do método de separação de cada
aluno, foi proposto a eles, que construíssem um sistema de separação de misturas
utilizando materiais alternativos de fácil acesso e/ou de baixo custo. O objetivo
do experimento foi fazer uma destilação simples, separando a água do sal. A
Educação de Jovens e Adultos tem uma diversidade enorme de pessoas e realidades.
Palavras chaves
Estágio Supervisionado; EJA; Métodos de separação
Introdução
Um dos elementos mais importantes na formação profissional dos docentes é, sem
dúvida, o momento do estágio. É nesta etapa que o acadêmico tem a oportunidade
de ver aliadas a teoria e a prática, possibilitando-o a compreensão das
situações concretas que se dão nas situações escolares onde eles atuarão. O
estágio supervisionado consente ao futuro profissional docente analisar,
conhecer e refletir sobre seu ambiente de trabalho. Para tanto, o docente de
estágio necessita enfrentar a realidade usando as teorias que aprende ao longo
do curso, das reflexões que faz a partir da prática que observa, de experiências
que viveu e que vive enquanto estudante, das concepções que carrega sobre o que
é ensinar e aprender. Dessa forma, “considerar o estágio como campo de
conhecimento significa atribuir-lhe um estatuto epistemológico que supere sua
tradicional redução à atividade prática instrumental. ” (PIMENTA e LIMA, 2012,
p.29).
O ensino de química ainda se baseia numa metodologia expositiva que visa à
transmissão do conhecimento de maneira passiva, focando no acúmulo de
informações (VEIGA, QUENENHENN e CARGNIN, 2012). Portanto, muitos alunos não se
interessam por
esta ciência, devido muitas das vezes, pela a metodologia de ensino, pois na
grande maioria, os alunos não participam ativamente do processo de aprendizagem
e nem conseguem relacionar o conteúdo com seu cotidiano. Perante isso, se torna
necessário o aperfeiçoamento dos processos de ensino aprendizagem, como a
utilização das denominadas metodologias ativas que elevam o aluno para uma
posição mais ativa e participativa na prática pedagógica, através de atividades
que estimulam habilidades de criatividade e compreensão. Portanto, uma das
alternativas para trabalhar conteúdos referentes à química é a inclusão de
atividades experimentais por meio de abordagens investigativas.
Para Cachapuz (2005), o processo de investigação é uma oportunidade de o
professor refletir sobre a sua prática. No repensar a prática pedagógica, cabe
ao professor, pesquisar metodologias que se adaptem a realidade do educando e a
partir daí promover atividades experimentais que possam estimular e ajudar o
aluno na compreensão dos conceitos e no entendimento da ciência como construção
histórica e saber prático; que despertem a curiosidade e a criatividade do
aluno, que o torne capaz de fazer uso de informações e conhecimentos científicos
para entender o mundo que o circunda e resolver problemas e questões que lhes
são colocadas. Criar atividades investigativas para a construção de conceitos é
uma forma de oportunizar ao aluno participar de seu processo de aprendizagem.
Entretanto, a consumação deste tipo de atividade se torna mais significativa,
benéfica e motivadora para os alunos se for contextualizada com o cotidiano.
Segundo Medeiros e Lobato (2010, p. 66), “a contextualização do ensino tem
relação com a motivação do aluno, por dar sentido àquilo que ele aprende,
fazendo com que relacione o que está sendo ensinado com a sua experiência
cotidiana”. Sendo assim, os conteúdos a serem abordados em sala de aula devem
ter um significado relacionando a teoria com a prática, de modo que, acenda o
interesse do aluno, permitindo que ele reflita, e tenha uma melhor compreensão
sobre o que está a sua volta.
Em todos os níveis e modalidades de ensino a escola deve estar voltada ao aluno,
buscando sempre compreender que o tempo de aprendizagem de cada aluno é
diferente. A EJA( Educação de Jovens e Adultos), é uma modalidade do ensino
fundamental e do ensino médio, que possibilita a oportunidade para muitas
pessoas que não tiveram acesso ao conhecimento científico em idade própria dando
oportunidade para jovens e adultos iniciar e ou dar continuidade aos seus
estudos, desse modo visa garantir um direito aqueles que não tiveram
oportunidades ou por motivos que variam desde de ordem pessoal, como cansaço
após a jornada de trabalho, foram excluídos dos bancos escolares. O perfil dos
alunos do EJA são trabalhadores, que dividem seu tempo entre os estudos e o
trabalho, e buscam uma melhoria de vida. Segundo Pedroso(2010), o público
atendido pela EJA é de pessoas que na idade regular não puderam estudar, ou por
não sentirem-se atraídos pelo conteúdo escolar acabaram deixando a escola. Logo
se torna importante ressaltar que a EJA é uma modalidade de ensino que exige
flexibilidade é necessário levar em consideração as condições de vida do aluno,
seu trabalho e seus interesses que muitas vezes está estudando novamente para
conseguir um trabalho melhor.
Material e métodos
Este artigo é um relato das atividades desenvolvidas na disciplina Estágio
Supervisionado IV, a qual faz parte do curso de Licenciatura em Química da
Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia (UESB). O estágio supervisionado teve
início no mês de fevereiro de 2022, efetuou-se na turma do EJA VI e VII, no
período matutino do Programa de Educação de Jovens e Adultos, no Colégio Estadual
Alfredo Dutra, situado no município de Itapetinga-Ba.
A turma do EJA VI, era composta por 7 alunos, onde as aulas aconteciam às terças-
feiras, das 7:50h às 8:40h, sendo 1h/aula/dia. Na turma do EJA VII, continha 8
alunos frequentando regularmente, as aulas ocorriam às segundas das 7:00h às 8:40h
e às sextas das 9:00 às 10:40h, sendo 2 h/aula/dia. Durante a regência abordou-se
o conteúdo de métodos de separação de misturas em ambas turmas.
Resultado e discussão
Nas aulas iniciais em cada turma ocorreu apenas observação com o professor
titular. Logo após, iniciamos a regência abordando sobre os métodos de separação
misturas heterogêneas e homogêneas, e aplicamos um questionário, para
compreendermos quais os conhecimentos prévios dos alunos sobre o conteúdo. Foram
apresentados aos alunos um estudo de caso, com a situação problema um acidente
envolvendo vazamento de óleo no mar, tendo como sua resolução um método de
separação de misturas específico. A partir da identificação do método de
separação de cada aluno, foi proposto a eles, que construíssem um sistema de
separação de misturas utilizando materiais alternativos de fácil acesso e/ou de
baixo custo. Foi utilizado uma garrafa pet de 2L, 1 garrafa de vidro de 500mL, 2
pedaços de mangueira de 40cm, um suporte de metal encontrado em ferro velho,
velas, arame, fita adesiva, água, corante alimentício, gelo, isqueiro e sal de
cozinha. As turmas eram compostas por poucos alunos, foi sugerido que
trabalhassem em grupo, como pode ser observado nas imagens abaixo.
Geralmente, o conteúdo métodos de separação de misturas é abordado pelo
professor ou publicado nos livros didáticos como unidade isolada, e não realiza
nenhuma ligação com o dia a dia do aluno, simplesmente apresenta os métodos de
separação. Deste modo, considerando a relevância do desenvolvimento de
atividades experimentais contextualizadas no ensino de química, no presente
estudo, visa-se a abordagem do conteúdo de métodos de separação de misturas
através de uma atividade experimental investigativa. Assim, a partir das
situações-problemas dadas, os alunos tiveram que investigar e indicar o processo
de separação de mistura adequado para resolver a situação-problema.
O objetivo do experimento foi fazer uma destilação simples, separando a água do
sal. O sal se dissolveu na água, durante o processo a água vai ser evaporada e o
sal ficará na garrafa de vidro. Com este processo foi possível separar o sal da
água, é o mesmo que acontece nas salinas.
Segundo Maldaner (1999), o conhecimento químico deve ser construído por meio de
manipulações orientadas, de modo a desenvolver os conteúdos a partir de algum
fato recente ou ainda do próprio cotidiano. Isso proporciona ao aluno
compreender, organizar e relacionar as informações necessárias na construção dos
conceitos fundamentais da disciplina de química. Dessa forma, formular
hipóteses, preparar experiências, realizá-las, recolher, e analisar os dados
obtidos favorece a motivação dos alunos, e desperta a curiosidade sobre os
resultados obtidos.
Os métodos de separação de misturas é um tema abordado no ensino de química,
onde é possível afirmar que há várias possibilidades de contextualizar o
conteúdo com o cotidiano do estudante, e, a partir dele, realizar atividades
experimentais. Além do mais, trabalhar os processos de separação de misturas a
partir de atividades experimentais contextualizadas permite que o professor
construa um elo entre o conteúdo e auxilia na construção e compreensão de
conceitos trabalhados em sala de aula, dando suporte no desenvolvimento da
construção do aprendizado.
Após a aplicação do estudo de caso sobre o vazamento de petróleo e a realização
do experimento, foi aplicada uma atividade, onde os alunos foram questionados
sobre os principais métodos de separação de misturas. O resultado pode ser
observado na imagem 2, figura A.
Como mostra no gráfico, decantação foi o método de separação de mistura mais
citado pelos alunos. A decantação é a separação entre substâncias que apresentam
densidades diferentes. Ela pode ser realizada entre líquido-sólido e líquido-
líquido. No caso, o sólido deve ser mais denso que o líquido. O sólido ficará
depositado no fundo do recipiente. Para esse processo, é utilizado o funil de
decantação. Exemplo: separação de água e areia ou separar água de um líquido
menos denso, como o óleo. Como foi muito discutido em sala durante o debate do
estudo de caso.
Também foi perguntado aos alunos em que parte do seu cotidiano o conhecimento
sobre os processos de separação de misturas são importantes, e tivemos as
seguintes respostas:
Resposta 1: “Esses conceitos são importantes em todos os momentos, as vezes nem
percebemos mas colocamos em práticas involuntariamente esses conceitos”.
Resposta 2: “Como coar o café, fazer suco separa a semente do suco”.
Resposta 3: "São importantes a todo momento principalmente na hora do café e
almoço".
Resposta 4: “Para fazer comida, limpeza…”
Segundo Friggi (2016), é possível afirmar que há inúmeras possibilidades de
contextualizar os conceitos. Muitas dessas situações estão relacionadas a
diversas atividades realizadas no nosso dia a dia; do mais simples e presente
diariamente, podemos citar como exemplos, a coleta seletiva do lixo, coar café,
catar feijão, centrifugar a roupa, entre outros. E os mais complexos, como os
que encontramos nas indústrias petroquímicas, farmacêuticas, alimentícias,
cosméticas, cerâmica, reciclagem etc. Deste modo, podemos dizer que os processos
de separação de misturas estão intensamente presentes no nosso cotidiano.
Entendemos que os processos de separação de misturas são importantes para
diferentes aspectos da vida, a citar a separação de poluentes, o processo de
produção de metais, a obtenção de sal de cozinha e outros. Porém, mediante a
composição dessas misturas são necessárias técnicas e métodos específicos de
separação das substâncias.
As respostas dos alunos foram transcritas exatamente como eles escreveram na
atividade. 60% dos alunos não quiseram ou não souberam responder. percebemos nas
respostas obtidas falta de profundidade no conteúdo abordado, isso pode ser
notado também na imagem 2, figura B, quando perguntado o que são misturas
homogêneas e heterogêneas.
Como mostra a imagem, 67% dos alunos não souberam responder, ou não quiseram
responder, levando em consideração que muitos alunos preferiram entregar a
atividade em branco por desânimo ou falta de interesse.
Dessa forma percebemos um problema estrutural, esse aluno que vem para a escola
com seus problemas, muitas vezes com a baixa autoestima por ser sentir
discriminado em seu contexto de oprimido, quando chega à escola, diante um mundo
novo e diferente sente-se reprimido, por situações de cansaço e desestímulo que
os fazem acreditar que são incapazes de prosseguir. Diante dessa situação,
percebe-se que o educando jovem e adulto vive uma realidade totalmente diferente
da realidade de um educando que se encontra no ensino regular. (PEDROSO, 2010).
A Educação de Jovens e Adultos tem uma diversidade enorme de pessoas e
realidades. Conforme observado em pesquisa de campo, por Fanti (2018), têm-se
dois grupos principais que foram excluídos de seus direitos educativos:
Um grupo de pessoas em geral com idade avançada, idosas, que viveram em uma
época em que o acesso à educação era mais difícil, principalmente e áreas
rurais. Neste grupo temos os analfabetos, e pessoas com baixa escolaridade.
Outro grupo muito numeroso e bastante heterogêneo abandonaram os estudos por
fatores extraescolares que tem a ver com pobreza, necessidade de ingresso
precoce no mercado de trabalho, mas também por fatores escolares em função do
fracasso de terem tido uma trajetória escolar interrompida, malsucedida com
sucessivas reprovações que acabam desestimulando e levando ao abandono escolar
precoce e outro grupo que está surgindo devido à valorização da criminalidade e
distorção de valores. (FANTI, 2018).
Diante disso, pode se perceber que a modalidade de Educação de Jovens e Adultos
ainda continua necessitada de políticas públicas eficazes, pois existem muitas
questões a serem revistas pelos órgãos competentes.
Alunos no laboratório
Gráficos
Conclusões
A finalidade do referido estágio foi conhecer e vivenciar a realidade no contexto
escolar, a qual teve como base as observações de aulas do professor titular de
Química do Ensino Médio e, em seguida, a regência nas duas turmas observadas. As
oportunidades propiciadas pelo Estágio IV foram de grande valor, haja vista a
contribuição teórica e prática, por meio da observação e da regência em sala de
aula, cujo intuito foi de ensinar e, ao mesmo tempo, aprender.
Podemos acentuar que o Estágio foi um desafio, uma experiência marcante, que
trouxe uma grande aprendizagem para os estudantes do curso de licenciatura em
Química. Percebemos que mesmo o professor montando estratégias e metodologias
adequadas que possam aguçar o interesse pela aprendizagem, a educação de jovens e
adultos continua com suas limitações.
Agradecimentos
Ao Grupo de Pesquisa em Inovação Química (GPEIQ) e a Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB).
Referências
CACHAPUTZ, Antonio et al. A necessária renovação do ensino de ciências. São Paulo: Cortez, 2005.
FANTI, Karoline Bragança. As dificuldades da educação de jovens e adultos. Faculdade Capixaba da Serra., [S. l.], p. 1-14, 2018.
FRIGGI, Daniela do Amaral. O ensino de processo de separação de misturas por meio de analises de livros didáticos e usos de atividade experimentais investigativas. Dissertação (Mestre, Educação em Ciências) - Universidade Federal de Santa Maria, [S. l.], 2016.
MALDANER, O. A. A pesquisa como perspectiva de formação continuada do professor de química. Química Nova, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 289-292, abril, 1999.
MEDEIROS, M. De A.; LOBATO, A. C. Contextualizando a abordagem de radiações no ensino de química. Revista Ensaio. v.12, n. 03, p.65-84, 2010.
PEDROSO, Sandra Gramilich. Dificuldades encontradas no processo de educação de jovens e adultos. In: I Congresso Internacional da Cátedra Unesco de Educação de Jovens e Adultos, 2010, João Pessoa. Jovens, Adultos e Idosos: os sujeitos da EJA. João Pessoa: EDITORA UNIVERSITÁRIA UFPB, 2010.
PIMENTA, Selma G.; LIMA, Maria S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2012.
VEIGA, M. S. M.; QUENENHENN, A.; CARGNIN, C. O ensino de química: algumas reflexões. In: FÓRUM DE PROFESSORES DE DIDÁTICA DO ESTADO DO PARANÁ, 1., 2012, Campo Mourão, PR. Anais... Curitiba: UEL, 2012.