• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

ELEMENTOS CULTURAIS NO ENSINO DE QUÍMICA: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DIANTE DE UM RECURSO ALTERNATIVO DE ENSINO CONFECCIONADO COM MIRITI (Mauritia flexuosa) COMO MATRIZ AMAZÔNICA

Autores

Barbosa, A.K.S. (INSTITUTO FEDERAL DO PARA) ; Silva, H.D.F.R. (INSTITUTO FEDERAL DO PARA) ; Pereira, M.A.R. (INSTITUTO FEDERAL DO PARA) ; Porfírio, R.N.S. (INSTITUTO FEDERAL DO PARA)

Resumo

A busca por alternativas que busquem facilitar a explanação de conceitos químicos no ensino médio vem sendo um desafio. O Miriti (Mauritia flexuosa), por ser leve e resistente, foi usado como matéria-prima para a construção de um mediador semiótico que vise facilitar conceitos relacionados aos ácidos nucléicos. O miriti foi adquirido no mercado do ver-o-peso em Belém-PA, e com ele foram confeccionados modelos em 3-D da estruturação e das substâncias químicas que formam o DNA e RNA. Assim, o objetivo desde trabalho consiste em analisar de forma quali-quantitativo a percepção de alunos inseridos no ensino médio diante do recurso confeccionado. Observou-se que ocorreu aumento dos curiosidade e interesse dos alunos pelo conteúdo e recurso utilizado.

Palavras chaves

Ensino de Química; Ensino de Química; Ensino de Química

Introdução

O miriti, o qual também é conhecido como isopor da Amazônia, é uma palmeira da região que possui nome cientifico de Mauritia flexuosa, fazendo parte do cotidiano de muitos ribeirinhos do estado do Pará, sobretudo dos habitantes do município de Abaetetuba; município o qual foi nomeado como “a capital mundial do brinquedo de miriti” (RIBEIRO, LOBATO, 2019; RODRIGUES, LEAO, PEREZ, 2017). Essa palmeira pode ser utilizada de diversas maneiras: sendo fonte de alimento como sucos, picolés, mingau, entre outros; das folhas são produzidos artesanatos como tapetes, bolsas, sacolas, bijuterias, dentre outros; por fim, o caule é utilizado para construção de pontes ou trapiches para os ribeirinhos (SANTOS, PEREIRA, LIMA, 2019). E dentro do contexto educacional, alguns trabalhos já foram realizados utilizando o miriti, desde o seu uso para construção de recurso didático para deficientes visuais (REIS, SILVA, SA, 2020), ao seu uso sustentável como matéria prima e ferramenta didática no ensino (ROCHA et al, 2019). No âmbito educacional a importância dada para a preservação e conservação da flora teve aumento após a inclusão da temática sobre meio ambiente no campo educacional (RAMOS et al, 2020). O uso da matéria-prima para construção dos brinquedos de miriti é uma pratica sustentável pois a sua extração não compromete a vida útil da palmeira, além disso, o material é muito resistente e pode durar bastante tempo quando mantido longe da umidade, é valido ressaltar que quando o miriti é descartado ele se decompõe na natureza de forma mais rápida quando comparado com materiais de plástico, dentre outros (REIS, SILVA E SA, 2020). Dessa forma, é possível levar o miriti para o contexto educacional em discursões acerca da educação ambiental, fazer relações do miriti com diversas disciplinas ministradas no ensino médio; e também o professor poderá utiliza-ló como mediador semiótico, sendo ele o recurso o qual o professor utilizará para transmitir o conhecimento aos alunos. Os mediadores semióticos são todos os objetos construídos pelo homem com a finalidade de facilitar a compreensão da realidade. Visando proporcionar maior entendimento aos alunos durante a explanação de conteúdos da disciplina de Química, em especifico ao assunto “ácidos nucleicos”, o objetivo deste trabalho consiste em analisar de forma quali-quantitativa a percepção dos alunos de uma turma de ensino médio técnico do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – Campus Belém quanto ao uso de um recurso alternativo de ensino para sua aprendizagem os quais possuam elementos culturais inseridos na região amazônica no recurso a ser utilizado.

Material e métodos

O recurso alternativo de ensino utilizado, construído com miriti, foi elaborado e confeccionado conforme a metodologia descrita por BARBOSA e PORFÍRIO (2021). O recurso alternativo de ensino foi levado ao IFPA-Campus Belém e expostas as estruturas em 3-D do DNA e RNA, a uma turma do 3º ano do ensino técnico em química, composta por 17 alunos. Após isso, verificou-se através de um questionário informações a cerca da disciplina já estuda pelos discentes, sobre percepção deles quanto ao modelos em 3-D a eles mostrados, quanto ao conhecimento de cada um quando se tratava do assunto DNA e RNA abordado no curso, como a forma abordada sobre o tema aferiram os seus conhecimentos, o impacto de recursos alternativos de ensino para o seu aprimoramento da aprendizagem e qual o impacto de um recurso alternativo do tipo apresentado construído com uma matéria prima da matriz amazônica. As perguntas propostas no questionário estão expostas na tabela 1. Tabela 1 – Perguntas aplicadas no questionário 1. Você já estudou o conteúdo envolvendo DNA e RNA? Se sim, em qual disciplina? 2. Você consegue identificar pontos sobre o assunto DNA e RNA abordado? 3. Você já utilizou algum recurso físico ou virtual para facilitar a sua compreensão durante seus estudos sobre Ácidos Nucleicos? 4. Se não utilizou, você acredita que a utilização de um recurso que mostre as estruturas dos ácidos nucleicos em 3-D, poderia ajudar você a compreender esse assunto? 5. Durante a sua jornada escolar, foi utilizado algum tipo de recurso feito com materiais regionais? 6. Você considera importante para a formação ter contato com elementos que façam parte da cultura e flora da região amazônica, em específico do Estado do Pará? 7. Você já ouviu falar ou conhece algo sobre o Miriti? 8. Os modelos em 3-D apresentados, ajudariam no aprimoramento do seu conhecimento e entendimento sobre os ácidos nucleicos? Fonte: Autor, 2022

Resultado e discussão

Nos dias atuais diversas instituições de ensino possuem diferentes recursos para demostrar estruturas químicas, sejam por simulação computacional, por kits específicos para montagem de estruturas, porém a diferença na utilização dos modelos citados para o modelo confeccionado está agregada no valor cultural atribuído na construção das estruturas de miriti. Para os paraenses, a relação cultural é construída com os brinquedos de miriti ainda quando são crianças. Com o passar do tempo, principalmente por conta dos avanços tecnológicos e a globalização, alguns elementos culturais são esquecidos ou passam a não ser lembrados com o devido valor que deveria ser atribuído a aquele elemento da cultura. Foi possível constatar forma clara no momento e posteriormente a análise, que enquanto os alunos observavam e tateavam o recurso didático que houve um aguçamento da curiosidade sobre a diversidade ecológica presente na região amazônica, a atenção em como são, funcionam, em como os ácidos nucleicos estão presentes na vida dos seres, aumentando o interesse dos alunos pelo assunto abordado, e pelo material utilizado. Deste modo, propõe-se que a utilização desse recurso educacional alternativo construído a partir do miriti possa auxiliar professores na explanação de conteúdos atrelados a química e a bioquímica para facilitar o entendimento dos discentes. A interação dos alunos com o recurso alternativo de ensino pode ser visualizada na figura 1. O questionário aplicado na turma foi respondido por 17 alunos, e o resultados obtidos podem ser visualizados na figura 2. Todos alegaram ter estudado DNA e RNA na disciplina de bioquímica do ensino médio, reforçando que retiveram informações a cerca desse conteúdo também nas disciplinas de Química e Biologia. Entretanto, 64,7% da turma assinalou que não conseguia lembrar de pontos específicos sobre o conteúdo envolvendo ácidos nucleicos, por conta do tempo que se passou pela pandemia, enquanto os outros 35,3% da turma lembrava do que foi trabalhado em sala de aula. De acordo com esse questionário, cerca de 58,8% dos alunos não utilizaram algum recurso alternativo de ensino que visasse o reforço da aprendizagem sobre o conteúdo ácidos nucléicos, enquanto 41,2% dos estudantes utilizaram em seus estudos recursos visuais (vídeo aulas), modelos moleculares ou jogos lúdicos. Os alunos relataram que não conseguiam lembrar de forma clara naquele momento do conteúdo estudado, talvez por não terem utilizados reforços de aprendizagem como os apresentados a eles. Tantos os alunos que tiveram dificuldade em lembrar do conteúdo quanto os que atestaram lembrar da temática, foram unânimes em afirmar que o uso do recurso didático alternativos mostrado, poderia ter lhes proporcionado um aprofundamento mais rápido e significativo, uma vez que, eles podem tocar e ver a estrutura do DNA e RNA de forma presencial. A cerca das estruturas expostas e disponibilizadas para a turma, todos alegaram que durante a jornada escolar, não haviam utilizado algum recurso facilitador de aprendizagem confeccionado com materiais regionais, e que gostariam de ter um contato maior com elementos regionais que façam parte da cultura e flora da região amazônica, como o uso do Miriti. Vale ressaltar que 94,1% dos alunos da turma já conheciam o miriti, mas não conheciam esse tipo de aplicação. Todos os alunos alegaram que o recurso apresentado ajudaria na sua compreensão e entendimento acerca do conteúdo.

Figura 1

Exposição das recurso de miriti aos alunos

Figura 2

Resultado das perguntas apresentadas no questionário aplicado.

Conclusões

O trabalho mostrou que grande parte da turma não se recordava do conteúdo ministrado sobre ácidos nucléicos, indicando um ponto de possível aprimoramento durante o processo de ensino-aprendizagem que poderá ser efetivo mediante o uso de recursos didáticos estruturais em 3-D como o apresentado nesse trabalho. Como percebido no momento da exposição e apresentação do modelo em 3-D do DNA e RNA, quando houve um aguçamento da curiosidade e aumento do interesse dos alunos pelo assunto abordado, o que leva a pensar que, é possível construir e empregar recursos alternativos regionais como proposta de aprimoramento do ensino e na construção do saber empregando mediadores típicos da cultura local. Dessa forma, pode concluir que é viável a verificação do uso de recursos alternativos de ensino utilizando elementos culturais a partir de matrizes amazônicas para o aprimoramento da aprendizagem e mudança de paradigma, particularmente relacionados ao tema sobre ácidos nucléicos.

Agradecimentos

Ao Laboratório de Tecnologia (LABTEC), situado no Instituto Federal do Pará (IFPA) – Campus Belém.

Referências

BARBOSA, A.K.S.; PORFÍRIO, R.N.S. MEDIADORES SEMIÓTICOS: CONSTRUINDO UM RECURSO ALTERNATIVO DE ENSINO COM MIRITI (MAURITIA FLEXUOSA) PARA AULAS DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA. In: Anais do Simpósio Latinomericano de Química: “Los desafíos de la investigación en América Latina". Disponível em: <https//www.even3.com.br/anais/slaq2021/372235-MEDIADORES-SEMIOTICOS--CONSTRUINDO-UM-RECURSO-ALTERNATIVO-DE-ENSINO-COM-MIRITI-(MAURITIA-FLEXUOSA)-PARA-AULAS-DE->. Acesso em: 28 dez. 21.

DAHM, R. Friedrich Miescher and the discovery of DNA. Developmental Biology, [S.L.], v. 278, n. 2, p. 274-288, fev. 2005. Elsevier BV.

HALL, K.; SANKARAN, N. DNA translated: friedrich miescher's discovery of nuclein in its originais context. The British Journal For The History Of Science, [S.L.], v. 54, n. 1, p. 99-107, 19 fev. 2021. Cambridge University Press (CUP).

REIS, F.B.; SILVA, J. R.; SÁ, L. R. GEOMETRIA PLANA E DEFICIÊNCIA VISUAL: uma proposta de ensino sobre as características do triângulo retângulo utilizando miriti / plane geometry and visual impairment. Brazilian Journal Of Development, [S.L.], v. 6, n. 9, p. 66637-66649, 2020. Brazilian Journal of Development.

RIBEIRO, J.O.S.; LOBATO, L.S. BRINQUEDO DE MIRITI, ARTE E CURRÍCULO: alquimia decorrente de experiência etnográfica outra. Atos de Pesquisa em Educação, [S.L.], v. 14, n. 3, p. 1092, 18 dez. 2019. Fundação Universidade Regional de Blumenau.

ROCHA, H.S.C. (org.). Tecnologia educacional: instrumentalização para o trato com a diversidade etnicorracial na educação básica. Belém: IFPA, 2014.

ROCHA, T.O.S.; GOMES, I.S.; SILVA, D.S.; ANDRADE, J.S.; SILVA, F.X.L.; VILHENA, E.S.; PEREIRA, L.C.O.; FUJIYAMA, R.T. Uso sustentável da palmeira de miriti como matéria prima e ferramenta didática no ensino/aprendizagem na disciplina de usinagem de materiais na engenharia mecânica. Brazilian Applied Science Review, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 608-619, 2019.

RODRIGUES, S.S.; LEÃO, A.M.C.; PEREZ, M.C.A. As contribuições do brinquedo de miriti na construção sócio-histórico-cultural da criança: artefato cultural. Doxa: Revista Brasileira de Psicologia e Educação, [S.L.], v. 19, n. 2, p. 308-320, 1 dez. 2017. Doxa Revista Brasileira de Psicologia e Educação.

SANTOS, M.A.R.; PEREIRA, H.J.C.; LIMA, R.B. Cultura amazônica e educação: os brinquedos de miriti no currículo prescrito. Revista Cocar, [s. l], p. 50-67, 2019.

THESS, A.; HOERR, I.; PANAH, B.Y.; JUNG, G.; DAHM, R. Historic nucleic acids isolated by Friedrich Miescher contain RNA besides DNA. Biological Chemistry, [S.L.], v. 402, n. 10, p. 1179-1185, 23 ago. 2021. Walter de Gruyter GmbH

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau