Autores
Oliveira, A.S. (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGI) ; Gomes, L.J.O. (IFG) ; Santos Gomes Oliveira, M. (IFG) ; Neto Tocchio, D. (IFG) ; Goncalves Ribeiro Maria, A. (IFG) ; Everton Santos, I. (IFG) ; Campos Santos, L. (IFG) ; Lima Ferreira Cristina, M. (IFG) ; Pureza Luis, G. (IFG) ; Junior Figueira Sousa, V. (IFG)
Resumo
Esta pesquisa correspondeu ao Ensino de Química destinado aos alunos dos cursos da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) no IFG-Câmpus Anápolis em situação de vulnerabilidade social. Ele resultou do produto
educacional elaborado no Programa de Metrado em Educação Profissional e Tecnológica do IFG (ProfEPT),
que correspondeu a um protótipo de cultivo orgânico de alimentos mediado pelas tecnologias de informação
e comunicação no contexto da COVID -19. O protótipo foi constituído por uma plataforma interativa e um kit
físico para o plantio de alimentos em pequenos espaços. Foi desenvolvido por alunos do curso de licenciatura
em Química através do ensino de Química e Biologia contextualizado na produção de alimentos orgânicos.
Palavras chaves
Ensino de Química; Covid-19; horta orgânica
Introdução
Este estudo possui natureza interdisciplinar e articula as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão.
Neste contexto, inicialmente é importante destacar que esta proposta teve início no período de 2017 quando
foi realizado o projeto de extensão “Terra, mãos e sonhos” que consistia no desenvolvimento de uma horta
comunitária para a geração de renda e combate a fome no município de Anápolis.
Articulando o ensino, a extensão e a pesquisa, em 2019 foi proposto no Programa de Mestrado Profissional
em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) o desenvolvimento de uma proposta de formação pela
educação ambiental acerca dos riscos à saúde pela ingestão de agrotóxicos nos alimentos.
Desenvolvíamos a pesquisa nessa direção. Porém, em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) declarou ao mundo a necessidade do enfrentamento da pandemia do novo coronavírus através do
isolamento social. Este período de isolamento que parecia ser breve continua até hoje com momentos de
flexibilidade e rigidez.
Além do risco iminente à vida, predominou um forte impacto econômico que expos as pessoas mais pobres
em condições ainda mais precárias de sobrevivência. As dificuldades extremas voltaram assolar o país e logo
começaram as campanhas de arrecadação de alimentos para os brasileiros submetidos às situações de fome.
Ficamos sensibilizados com esta situação e diante deste cenário de inseguranças permanentes e inusitadas
que expõem as pessoas à degradação da vida, centramos nossa atenção no contexto da fome no país. Em
especial, porque desde 2017, desenvolvemos ações nas comunidades do Residencial Copacabana, Vale das
Laranjeiras e Moro do Cachimbo; com graves situações de vulnerabilidades.
O contexto socioambiental destas comunidades caracteriza-se por situações de vulnerabilidades diversas.
Nelas predominam, em maior ou menor grau, situações de fome extrema, violências (principalmente contra as
mulheres), desempregos, alta dependência de programas assistencialistas para a sobrevivência, baixa ou
nenhuma qualificação para o mercado de trabalho, pouca ou nenhuma escolaridade, baixa organização social
e outras marginalidades.
Com o isolamento social, o projeto de extensão e a pesquisa desenvolvida no âmbito do ProfEPT foram
redirecionados para a construção de um protótipo capaz de promover a produção de alimentos em pequenos
espaços, bem como constituir posturas mais conscientes frente ao consumo de agrotóxicos nos alimentos
para uma melhor saúde no contexto da COVID-19.
Neste contexto, idealizamos um protótipo no ProfEPT para o cultivo orgânico de alimentos mediado pelas
tecnologias de informação e comunicação no contexto da pandemia. Por meio dele vislumbramos um meio de
continuidade da pesquisa e extensão, bem como de propostas de ensino.
O protótipo é constituído por uma plataforma virtual interativa: www.euqueplantei.com e um kit físico para o
plantio de alimentos em pequenos espaços. O kit físico é composto por um receptáculo sustentável, cápsula
de sementes e guia básico sobre o plantio em pequenos espaços. Este Kit será entregue de uma só vez para
os alunos da EJA em Secretaria Escolar e Transporte de Cargas e as atividades de ensino serão realizadas
pelos alunos da Licenciatura em Química do IFG-Anápolis.
Através da plataforma virtual pretende-se o ensino de Química e Biologia contextualizados no cultivo
orgânico. Todos os conteúdos serão preparados pelos licenciandos, disponibilizados na plataforma e
trabalhados com os alunos da EJA. Com isso pretendemos ensinar em Química os seguintes conceitos:
Elementos químicos, ácidos e bases, produtos sintéticos e naturais, metais pesados, poluentes orgânicos
persistentes, reações químicas e físicas. Em Biologia pretendemos os seguintes conceitos: biofertilizantes,
inseticidas naturais, adubação verde, biomineralização, composto orgânico, nutrição vegetal,
desenvolvimento calicular e foliar, ciclo biogeoquímico, alimentação saudável e riscos frente a ingestão de
agrotóxicos.
Relativo aos agrotóxicos, é importante destacar que muitos produtos químicos reconhecidos cientificamente
como danosos à saúde pública e ao meio ambiente, proibidos em outros países, tiveram acentuada circulação
no Brasil a partir do governo Bolsonaro. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dos
cinquenta agrotóxicos mais utilizados nas lavouras de nosso país, 22 são proibidos na União Europeia, o que
faz do Brasil o maior consumidor de agrotóxicos já banidos de outros países de acordo com dados do Dossiê
ABRASCO (CARNEIRO; PIGNATI; RIGOTTO; AUGUSTO; RIZOLLO; MENDONÇA; MULLER, 2015).
Material e métodos
O desenvolvimento metodologico aconteceu nas principais plataformas de pesquisa do Brasil, pela análise de
artigos de periódicos e resumos relacionados às temáticas, disponíveis no banco de dados da Capes, e
consultas bibliográficas sobre a produção de autores mais relevantes nessas temáticas.
Neste percurso seguimos com o planejamento das ações para a entrega dos Kits físicos e desenvolvimento
das metodologias de ensino-aprendizagem por meio de objetos virtuais de aprendizagem (BARROS, 2007;
BECK, 2002; BETTIO, 2000; LÉVY, 1993; MUZIO, 2001; OLIVEIRA, 2001; SÁ FILHO, 2004; TORI, 2003). Isto
para que projeto sirva como instrumento de diálogo para o objetivo principal mencionado. Nesse sentido, ele
será metodologicamente organizado por meios de informações e atividades de formação presentes nas
seções da plataforma, com a possibilidade interativa de realização das práticas de produção de alimentos por
meio dos Kits, guiadas por um tutorial, por vídeos e interações pelo chat.
Resultado e discussão
Anterior ao início das atividades de ensino foi realizado um processo formativo com os alunos bolsistas e
voluntários através de reuniões de estudos e discussões para o desenvolvimento do projeto. Estas reuniões
aconteceram durante todo o mês de agosto através da plataforma meet. Nesta etapa verificou o
pleno envolvimento, esforço e dedicação dos estudantes para o aprendizado dos conceitos, que eram
discutidos com o coordenador do projeto.Após esta etapa, o projeto de ensino foi amplamente divulgado
através das redes sociais e contou com o apoio da coordenação do curso.
Inicialmente participaram do projeto 15 estudantes da EJA. Neste processo, os estudantes do curso de
licenciatura em Química seguiram elaborando roteiros próximos ao formato das sequencias didáticas para o
ensino de Química e Biologia contextualizado na produção de alimentos orgânicos e mediados pela educação
ambiental. Alguns destes roteiros estão em ANEXO I
No período da pandemia da COVID–19 e diante de um cenário de inseguranças que expôs as pessoas ao
risco inusitado de vida, centramos nossa atenção no aumento do número de casos de situações de fome e no
risco permanente pela ingestão de agrotóxicos nos alimentos. Neste sentido, também centramos a nossa
atenção na ingestão de agrotóxicos e escolhemos o tomatinho cereja como cultivo (|Figura 03). Assim, o
desenvolvimento do projeto também constituir posturas mais conscientes frente ao consumo de agrotóxicos
nos alimentos. Para isto utilizamos a plataforma virtual acessada através do link - www.euqueplantei.com
Neste processo, planejamos a constituição física do protótipo para o plantio que foi desenvolvido junto aos
alunos da EJA. O kit físico foi composto por um receptáculo sustentável, cápsula de sementes, mudas de
tomatinho cereja e um guia básico sobre o plantio em pequenos espaços. Este Kit foi montado de uma só vez
com os estudantes de Química e os alunos da EJA, em um encontro presencial que ocorreu em novembro,
respeitando todas a orientações de segurança frente a COVID -19.
Os Kits foram entregues para os alunos da EJA (Figura 05) e todo o processo de ensino foi realizado por
mediações através dos recursos virtuais.
Os estudantes de Química realizaram o processo de ensino de conceitos de Química durante o
desenvolvimento das técnicas de cultivo orgânico. Este processo foi desenvolvido no campo da Educação
Ambiental Crítica, e os conceitos tratados foram sobre biofertilizantes, poluentes orgânicos persistentes,
produtos sintéticos e naturais, elementos químicos, pesticidas naturais e outros. Estes conceitos foram
tratados através de encontros virtuais no google meet.
que o processo esteve para além do ensino de conceitos, pois todos os alunos (EJA/bolsistas e/ou
voluntários) estiveram imersos em um processo de trocas de saberes, através do diálogo contínuo e da
valorização de saberes entre todos.
Conclusões
Como mencionado, este projeto de ensino de Química foi desenvolvido pelos alunos da licenciatura em
Química junto aos alunos em situação de vulnerabilidade social na EJA do IFG- Anápolis.
Para o público-alvo conseguimos que o projeto fosse capaz de se constituir em uma ação no combate à
situação de fome que se intensificou com a COVID-19, bem como constituir posturas mais conscientes frente
ao consumo de agrotóxicos nos alimentos e o aprendizado de conceitos em Química.
Para os alunos da licenciatura (bolsistas e/ou voluntários) apreendemos que o estudo constituiu um espaço
de exercício da docência pelo ensino de conceitos contextualizados. Também, esperamos que a proposta
contribua como um espaço de formação em ambientes de complexidade por meio da troca de saberes entre
os envolvidos.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – IFG pela concessão de recursos
financeiros para a execução da pesquisa e bolsas para os estudantes
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