Autores
Souza de Sá, E. (IEMA) ; Silva Lima, A. (IEMA) ; Araújo Costa, T.N. (IEMA) ; Brito Rodrigues, E.K. (IEMA) ; da Silva Oliveira, W.F. (IEMA) ; de Sousa Pereira, G. (IEMA) ; Mano Mesquita, E.C. (IEMA) ; Lima, L.O. (IEMA)
Resumo
Não é de hoje que a Educação enfrenta dificuldades em seu desenvolvimento e
aplicação. O advento da televisão, bem como da internet tornou a luta por atenção
dos alunos algo ainda mais corriqueiro na sala de aula. Isso ocorre, pelo fato das
crianças acharem muito mais relevante a atrativo o conteúdo exposto na TV, do que
o visto em sala de aula. A partir do desenvolvimento desse trabalho obtivemos uma
proposta de aula utilizando ferramentas didáticas não convencionais como anime
Fullmetal Alchimist. Apresentando então, um processo de ensino e aprendizagem é
mais proveitoso onde os alunos tenham capacidade de utilizar o material visto nos
animes, como presunçores para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa.
Palavras chaves
Aprendizagem; Ensino de Química; Recursos didáticos
Introdução
Não é de hoje que a Educação enfrenta dificuldades em seu desenvolvimento e
aplicação. O advento da televisão, bem como da internet tornou a luta por
atenção dos alunos algo ainda mais corriqueiro na sala de aula. Isso ocorre,
pelo fato das crianças acharem muito mais relevante a atrativo o conteúdo
exposto na TV, do que o visto em sala de aula (OROZCO-GÓMEZ, 1997). Isso tornou,
por muito tempo a relação entre pais/ professores/responsáveis com a TV um
posicionamento antagônico e até mesmo repreensível.
Apesar de ter perdurado por um bom tempo essa rivalidade entre profissionais da
educação e as mídias, essa relação se inverteu e percebeu-se que, não somente é
possível, como também eficaz, utilizar dessas mídias para acelerar ou melhorar o
processo de ensino e aprendizagem. Todavia, para que isso ocorra, é necessário
que professor e alunos tenham o que Hodson (2014) chama de alfabetização
midiática, que diz respeito a capacidade de compreender, analisar, avaliar,
comparar e constatar as informações contidas no material assistido, com a
realidade em que se vive.
Entendendo isto, cabe ao professor, desde o nível básico até o mais avançado
tornar o contato dos estudantes para com esse tipo de material (mídias digitais
e desenhos animados) o mais proveitoso possível, uma vez que a proibição do
mesmo é inviável. Ou seja, torna-se opcional ao docente fazer uso desses
artefatos que compõem o cotidiano do aluno, podendo assim fazer uso dos mesmos
para auxiliar na formação de um espectador crítico e curioso daquilo que se
consome diariamente na TV e internet (CUNHA & GIORDAN, 2009).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), preveem que é “possível propor
estudos comparativos de personagens e ambientes de novelas, desenhos, seriados”
(BRASIL, 1998, p.143). Assim como, propostas do tipo que “favorecem o
desenvolvimento de habilidades relacionadas à linguagem oral e escrita, e de uma
atitude mais crítica diante da televisão como veículo de informação e
comunicação” (BRASIL, 1998, p. 143).
Dessa forma, utilização de animes como recursos não tradicionais para o ensino
vem se tornando uma realidade cada vez mais comum em sala de aula. Haja vista
que, é uma forma de se aproveitar dos recursos de aprendizagem por intermédio de
histórias e personagens das quais o aluno já é familiarizado, proporcionando
entretenimento aliado à informação científica nas seções destinadas à explicação
do conteúdo (BARROS, 2021).
Assim sendo, o presente trabalho trata-se de uma proposta de ensino para a
disciplina de Química no Ensino Médio, utilizando o anime Fullmetal Alchemist
como propulsor de discussão de conceitos abordados no episódio, visando tornar o
aprendizado mais dinâmico, leve e ainda assim eficiente.
Material e métodos
Para o desenvolvimento do trabalho, utilizou-se o episódio introdutório de
Fullmetal Alchemist (Figura 1) nos quais são utilizadas palavras pertencentes ao
cotidiano de assuntos voltados para o ensino de disciplinas da área de Ciências
da Natureza de um modo geral, mas principalmente alguns processos laboratoriais,
como Destilação, Fermentação, produção de condimentos e conservação alimentar,
etc.
Inicialmente foram transcritas todas as falas que possuíam conceitos
potencialmente discutíveis. Este momento é denominado como etapa de decomposição
do material audiovisual; e posteriormente analisou-se através da literatura se
os conceitos haviam sido aplicados corretamente no contexto do anime; a esta
etapa dar-se o nome de interpretação, ainda de acordo com o referido autor.
Em seguida uma associação entre as palavras ou tópicos com os assuntos
pertencentes a grade curricular da disciplina de Química no Ensino Médio foi
realizada afim de se preparar formas de discuti-las em sala de aula. Para
auxilio e aplicação do mesmo nas aulas foi utilizado além do episódio em si,
ferramentas de gamificação sobre o episódio para dar início aos debates
pertinentes, como por exemplo Kahoot.
Após assistir o episódio, participar do quiz no site de gamificação, os alunos
foram indagados a respeito de algumas questões abordadas durante o vídeo, tal
como o significado de falas de cunho científicos apresentadas por alguns
personagens. Falas que são cruciais para a utilização do anime como ferramenta
didática não tradicional, haja vista que as informações contidas na mesma são
corretas e podem sim auxiliar no processo de ensino e aprendizagem do conteúdo
pragmático de Química no Ensino Médio.
Resultado e discussão
A partir do desenvolvimento desse trabalho obtivemos uma proposta de aula
utilizando ferramentas didáticas não convencionais, pautando-se em conceitos
químicos e utilizando animes como equipamento desenvolvedor de discussões. O
anime em questão trata-se de Fullmetal Alchemist, o anime tem como personagens
principais jovens que acreditam no princípio da alquimia, ou seja, na lei da
troca equivalente. Acreditando nessa lei, duas crianças Edward e Alphonse Elric
quebraram o maior tabu entre todos os alquimistas e realizaram uma transmutação
humana.
A partir de então, tendo os irmãos sido transmutados para corpos que não
são os seus, saem em busca da Pedra filosofal, objeto este que acreditam ter a
capacidade de ampliar seus poderes a ponto dos mesmos conseguirem realizar uma
transmutação de volta para seus corpos originais. Durante todo o percurso de
busca, eles enfrentam outras alquimistas, cada um deste controlando um elemento
e realizando experimentações que envolvem princípios químicos. O diálogo
presente no episódio um, que foi utilizado para a criação dessa proposta é um
exemplo disso.
FUNDAMENTAÇÃO DO EPISÓDIO
Isaac McDougall (Alquimista Glacial): Congelamento e ebulição. Os elementos da
água. [...] Sacrifícios são necessários para fazer algo grandioso... é a troca
equivalente.
O diálogo começa a partir da fala do personagem antagonista do episódio. A
situação em questão se dar com o mesmo invadindo a cidade em busca de
concretizar um plano contra o governo do local. Para se livrar dos guardas que
perceberam sua presença e estão a lhe caçar, o mesmo faz uso de suas habilidades
de alquimia e congela ou evapora a água presente nos corpos de alguns dos
guardas.
Sabendo que o congelamento e a ebulição são procedimentos pelos quais a água ou
substâncias líquidas são passam quando submetidas a variações muito drásticas de
temperatura (FELTRE, 2004), acredita-se então que Isaac McDOugall através de
suas habilidades consegue induzir a mudança do estado da matéria da água para os
produtos destes dois eventos.
Além disso, pode-se questionar também se o modo como tal personagem realiza tal
proeza é por indução na temperatura interna do líquido no corpo, ou por
modificação na pressão que o mesmo se encontre, haja vista que, a pressão também
é um fator preponderante no processo de ebulição, como ressalta Gref (1991) e
Balf (2002).
Além destas falas, durante a luta entre Isaac McDougall e Edward Elric, ao tocar
no braço que até então não se sabia ser de metal e não ocorrer nada, Isaac fala:
Era para qualquer pingo de água ter fervido!
Independentemente de qual seja a maneira que o personagem induz a mudança do
estado da água presente no interior dos corpos dos demais, é necessário o toque
físico para isso.
Logo em seguida, após ser capturado, Isaac McDougall cai sobre uma poça de água
e a evapora para formar uma espécie de neblina enquanto foge. O processo
realizado no momento da fuga, nada mais é do que a indução ou aceleração do
processo de mudança da natureza química da água do seu estado líquido para o
gasoso. Esse procedimento ocorre de forma natural nos ciclos geoquímicos da
água, mas pode muito bem ser induzido em nossos lares ou laboratórios com a
exposição ao aumento de temperatura (MIRANDA; OLIVEIRA; SILVA, 2010).
Raciocinando sobre o que acontece com quem enfrenta Isaac McDougall, Edward
Elric chega a mesma conclusão já explicada anteriormente pela literatura:
Edward Elric: Foi uma explosão de vapor. Quando a temperatura da água sobe muito
rapidamente, a expansão é explosiva. Afinal, o corpo humano é composto por 70%
de água.
Dessa forma, é possível observar a concordância das informações geradas a partir
do episódio e aqueles disponibilizados na nossa literatura. O que é bom para a
utilização do mesmo em sala de aula. Além disso, no decorrer do restante do
episódio, outro personagem é inserido em cenário e mostra traz à tona outra
habilidade que a água apresenta quando controlada e posta em alta pressão:
Amstrong: Água em alta pressão consegue cortar muitas coisas [...] mas é inútil
contra meus punhos.
A água quando disposta em alta pressão em direção a um objeto, em um fluxo
contínuo, apresenta a capacidade de perfuração ou corte sob a mesma. Os
personagens trazem tal habilidade em questão, assim como os demais conceitos já
elucidados.
APLICAÇÃO EM SALA DE AULA
Dessa maneira, levando em consideração que o processo de ensino e aprendizagem é
mais proveitoso quando os alunos apresentam conhecimento prévios ou, como
Ausubel et al. (1980) se refere, os subsunçores, apresentar o anime como uma
âncora
para as explicações dos conceitos a serem discutidos em sala de aula pode
aumentar drasticamente as chances de os alunos obterem uma aprendizagem
significativa ao invés de simplesmente, mecânica.
O produto deste trabalho ultrapassa a simples criação de uma aula diferenciada,
o mesmo se trata de um passo em direção a uma educação desvinculada da prática
da memorização e preparação de jovens repetidores de ideias, a inovação em sala
de aula visa unicamente a otimização na formação real dos estudantes.
Capa do Anime Fullmetal Alchemist. Link: https://img1.ak.crunchyroll.com/i/spire4/fabddf1040a bbd18948b9aacc18011b31475523493_full.jpg
Conclusões
Através de aulas inovadoras o processo de ensino e aprendizagem de áreas complexas
e mal recebidas pelos alunos, como a Química, passam a serem visualizadas com
outros olhos pelos estudantes. O processo de criação de âncoras cognitivas na
mente dos alunos é um passo em direção de um aprendizagem significativa e real.
Utilizar animes como recursos didáticos é não somente uma opção, como uma opção
eficiente e viável.
Agradecimentos
Agradecemos ao Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia pelo incentivo a
prática da pesquisa e pela contribuição com ambiente educacional de qualidade.
Referências
AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
BALF, T. O último rio. São Paulo: Manole, 2002.
BARROS, A. D. S. S. O discurso sobre o anime como gênero educativo (Conclusão de Curso – TCC Pedagogia, UFBP, Paraíba), 2021. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/21853. Acesso em: 30 ago 2022.
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: língua portuguesa. Brasília, DF, 1998.
CUNHA, M. B., & GIORDAN, M. A imagem da ciência no cinema. Química Nova na Escola, 31(1), 9-17, 2009.
GREF, Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Física 2 – Física Térmica e Óptica. Universidade de São Paulo, EDUSP 1991. 366 p. Disponível em: <http://www.if.usp.br/gref/termo/termo3.pdf>.(2002). Acesso em: 30 ago 2022.
HODSON, D. Learning Science, Learning about Science, Doing Science: Different goals demand different learning methods. International Journal of Science Education. V. 36, n. 15, p. 2534-2553, 2014. 8.
MIRANDA, R. A. C.; OLIVEIRA, M. V. S.; SILVA, D. F. Ciclo Hidrológico Planetário: abordagens e conceitos. Geo UERJ, v. 21, n. 1, 2010.
OROZCO-GÓMEZ, G. Professores e meios de comunicação: desafios, estereótipos e pesquisas. Comunicação & Educação, n. 10, p. 57-68, 1997.