Autores
Vargas, G.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Rodrigues, W.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Xavier, J.L.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Benite, A.M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Benite, C.R.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)
Resumo
Este estudo versa sobre o uso da cultura maker, numa abordagem STEAM, como
possibilidade de formação de professores de Química para atuarem no âmbito da
inclusão escolar. Contendo elementos da Pesquisa Participante, licenciandos do
curso de Química refletem teoricamente aulas de apoio oferecidas a alunos cegos
para a identificação de barreiras enfrentadas por eles em experimento de preparo
de soluções. Nossos resultados salientam que o design e construção de uma balança
semianalítica vocalizada pode possibilitar a participação autônoma de alunos cegos
no experimento, na pesagem do soluto para o preparo de soluções, ao mesmo tempo em
que promove mudanças na forma de pensar e agir a docência no âmbito da inclusão.
Palavras chaves
Ensino de Química; Cultura Maker; Tecnologia Assistiva
Introdução
Experimentos geram informações que normalmente são coletadas pela visão excluindo
e colocando o aluno cego em posição de desvantagem na participação das aulas, ou
seja, como alunos cegos terão acesso às informações de um experimento para
discutir os conteúdos se a visão é a maior fonte de coleta de dados? (BENITE et
al., 2017b).
Um dos fundamentos da inclusão escolar é que os alunos devem aprender juntos
sempre que possível e independente de suas especificidades, desafiando os
professores de Química ao planejamento de intervenções pedagógicas com o uso de
recursos didáticos que incluam, também, a participação e desenvolvimento dos
alunos cegos (BENITE et al., 2017a).
Diante disso, vem ganhando consistência uma proposta de formação docente baseada
no desenvolvimento de projetos de pesquisa com foco na inovação, envolvendo a
integração de áreas do conhecimento na busca de soluções de problemas escolares,
bem como no desenvolvimento de posturas mais ativas do professor no atual mundo
globalizado: a abordagem STEAM (acrônimo de Ciência, Tecnologia, Engenharia,
Artes e Matemática).
Conectados a questões essenciais do ensino de Química, como a inclusão de alunos
cegos em aulas experimentais, o desenvolvimento de projetos com abordagem STEAM
se constitui como uma proposta de formação de professores pela pesquisa, com viés
inovador e interdisciplinar, impulsionada pela cultura maker envolvendo práticas
de engenharia com foco na investigação e na solução de problemas.
Baseados na Teoria da Atividade de Leontiev (1984), neste estudo apresentamos um
projeto desenvolvido por um grupo de professores em formação com foco no
desenvolvimento de tecnologia assistiva visando a construção de uma balança semi-
analítica vocalizada para a participação autônoma dos alunos cegos em experimento
Material e métodos
Contendo elementos da Pesquisa Participante (PP), este estudo se baseia na
participação docente na ação investigada como pesquisador que busca a solução de
um problema e a construção do conhecimento, isto é, investigação tendo por
perspectiva a intervenção na realidade social (LE BOTERF, 1999).
Para fins de sistematização, a PP está integrada a prática, “ligada à práxis, ou
seja, á prática histórica em termos de usar conhecimento científico para fins
explícitos de intervenção; nesse sentido, não esconde sua ideologia, sem com isso
necessariamente perder de vista o rigor metodológico” (DEMO, 2000, p.21).
Pesquisas (BENITE, CAMARGO e BENITE, 2021; PLETSCH, 2009) acerca da formação de
professores para a inclusão revelam que esses se sentem inseguros para atuarem
nesse sentido, por se perceberem despreparados para a elaboração de propostas que
atendam as especificidades e, por conseguinte, não acreditarem no êxito da
participação desses alunos nessas atividades.
Diante disso, defendemos uma proposta de formação de professores de Química em
nosso Laboratório de Pesquisas que visa promover a constituição docente
investigando estratégias e recursos didáticos que contribuam para a atuação no
âmbito da inclusão.
Discutiremos aqui um projeto de pesquisa que visa o desenvolvimento de tecnologia
assistiva para a experimentação no ensino de Química, estruturado nas quatro
fases da PP: Elaboração do projeto de pesquisa visando a experimentação
inclusiva; Estudo da especificidade envolvida, os alunos cegos; Reflexão teórica
das limitações desses alunos nos experimentos; Realização de um plano de ação -
desenvolvimento de uma balança semi-analítica vocalizada para a inclusão de
alunos cegos em experimentos. Participaram deste estudo três licenciandos do
curso de Química.
Resultado e discussão
Baseados na Teoria da atividade (LEONTIEV, 1984) licenciandos do nosso
laboratório são formados para atuarem na inclusão fazendo uso da cultura maker,
numa abordagem STEAM, “realizando atividade em razão de um objeto e uma
necessidade, sendo essa última, portanto, o ponto-chave para o entendimento do
que motiva os indivíduos a realizarem algo” (SÁ e MESSEDER NETO, 2020, p.27).
Neste estudo, a possiblidade do licenciando em Química ministrar uma aula
experimental com a participação autônoma de alunos cegos no preparo de soluções
(a necessidade) encontrou sua determinação na criação de uma balança semi-
analítica vocalizada (Figura 1) que atua como tecnologia assistiva (o objeto)
tornando o motivo do uso da cultura maker como estímulo para a prototipagem (a
atividade).
Apresentamos um recorte (Figura 2) de uma aula de Química oferecida pelo nosso
laboratório de Pesquisas numa Instituição pública parceira de apoio escolar para
alunos cegos onde são geradas as demandas para os licenciandos desenvolverem suas
pesquisas e criações.
A balança tem dois botões de comando (tara e vocalização), dimensões
20cmx15cmx5cm e pode ser alimentada pela rede elétrica convencional. O
equipamento transforma os dados da massa do soluto em informação sonora que sai
por um alto-falante externo, concomitante a informação no display LCD.
Com os avanços da eletrônica, as práticas maker de impressão 3D,
microprocessadores e microcontroladores incentivam a criatividade e a
interatividade proativa multidisciplinar (discussões envolvendo conhecimentos de
Ciências, Engenharia, Mecatrônica e Programação) nos licenciandos que elaboram
modelos mentais para a criação de protótipos que visam solucionar problemas do
cotidiano escolar: a inclusão de alunos cegos nos experimentos (SILVEIRA, 2016).
Figura 1: Balança semianalítica vocalizada; Figura 2: Diálogo referente ao ensino do uso da balança vocalizada aos alunos cegos.
Conclusões
A Química é uma Ciência teórico-prática e um dos papeis do professor é propor
experimentos que fomentem a participação da diversidade de sala de aula. Contudo,
esses professores ainda carecem de formação e recursos didáticos que contribuam
para a inclusão escolar.
Como extensão tecnológica do “Do it yourself”, a cultura maker numa abordagem
STEAM estimula os licenciandos a identificarem demandas das especificidades e
transformá-las em recursos didáticos para os experimentos e com a prototipagem
promovem mudanças na forma de pensar e agir a docência no âmbito da
inclusão.
Agradecimentos
Ao CNPq.
Referências
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