Autores
Siqueira, B. (UERJ) ; Goncalves, M. (UERJ)
Resumo
O contexto pandêmico expôs uma necessidade de professores dialogarem ainda mais
com as novas tecnologias no ensino remoto/ensino híbrido, a fim de promover a
divulgação e popularização da ciência na sociedade. A Base Nacional Comum
Curricular ressalta o uso da tecnologia em sala de aula, por ser entendida como
ferramenta fundamental para o mundo moderno, com grande influência nas formas de
trabalho, comunicação, relacionamento e aprendizagem. Em meio as Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação (TDICs), as redes sociais podem surgir como
um meio complementar para aproximar o cotidiano dos alunos aos conteúdos de
química. O projeto em questão se propõe a apresentar propostas de diálogo com a
sociedade (estudantes, professores, bem como o público em geral).
Palavras chaves
Redes sociais; Tecnologias digitais ; Popularização científica
Introdução
Na sociedade atual percebe-se cada vez mais que a tecnologia é uma ferramenta
parte do cotidiano, devido principalmente ao desenvolvimento de conhecimentos
nas áreas de informação e comunicação que proporcionam novas formas de relações
interpessoais, de trabalho, de execução de tarefas e de resolução de problemas
dentro do contexto social.
Essas características configuram a cibercultura, entendida como “uma forma
sociocultural que modifica os hábitos sociais, práticas de consumo cultural,
ritmos de produção e distribuição da informação, criando novas relações no
trabalho e no lazer, novas formas de sociabilidade e de comunicação social. Esse
conjunto de tecnologias e processos sociais ditam hoje o ritmo das
transformações sociais, culturais e políticas nesse início de século XXI”.
Em meio a essa Cultura Digital, as TDICs se referem ao conjunto de meios
técnicos utilizados para tratar a informação e auxiliar na comunicação,
integrando diversos ambientes e pessoas, fazendo o uso de dispositivos e
equipamentos como computadores, smartphones, modens e, também de programas,
mídias e aplicativos.
Apesar da presença marcante em grandes segmentos da sociedade e do impacto
significativo sobre a forma de comunicação entre os indivíduos, as TDICs por
vezes aparecem distantes da área da educação. A não incorporação ou não
apropriação desses recursos tecnológicos no processo de ensino e aprendizagem é
consequência do que chamamos de tecnofobia, uma condição que tem seus primeiros
registros históricos na Primeira Revolução Industrial, mas que tem sido mais
discutida nos últimos anos. Essa condição pode ser entendida como o medo,
resistência ou aversão ao uso da tecnologia. No campo da educação, um docente
com tecnofobia pode não se sentir qualificado para usar os recursos nas suas
aulas; o principal reflexo desse descompasso entre sociedade e educação é que
“as salas de aulas ainda têm a mesma estrutura e utilizam os mesmos métodos
usados na educação do século XIX”, baseadas no papel e lápis.
Observando essa e outras características, a educação ainda é baseada em um
conceito antigo de emissão e recepção de informações e conteúdo, criticada por
Paulo Freire como uma educação bancária, onde a atribuição do professor é o de
detentor do conhecimento e transmissor das informações7. Este cenário no qual o
modelo de educação ainda não se atualizou aos tempos modernos é muito bem
sintetizado e criticado por José Pacheco, um dos idealizadores do projeto Escola
da Ponte, que afirma não ser aceitável um modelo educacional em que alunos do
século XXI sejam 'ensinados' por professores do século XX, com práticas do
século XIX”. Inserir as TDICs no contexto escolar e na prática docente, é um dos
passos importantes para a educação no século XIX.
Esse distanciamento entre escola, professores e as tecnologias digitais diminuiu
consideravelmente no ano de 2020, em virtude da pandemia da COVID-19, o que
promoveu um maior estreitamento entre educação e tecnologias digitais.
O Inclusive Química é um espaço virtual de diálogo, vinculada ao Instagram,
Facebook e Youtube, que tem como foco a Divulgação Científica e Popularização da
Ciência, numa linguagem acessível e descomplicada, a fim de aproximar estudantes
e a sociedade de assuntos científicos e tecnológicos, e assim tenham maior
interesse pelos temas das aulas de ciências. É um espaço de formação para
licenciandos e professores da educação básica, como forma de formação Docente
Continuada. É possível trazer para a sociedade uma série de metodologias ativas
de ensino, práticas na área de Educação Especial e Inclusivas, e informações
recentes sobre as inovações científicas, como as vacinas contra a COVID-19,
amplamente discutidas e colocadas em dúvidas em virtude da polarização política
que nosso país se encontra. Nesse momento informação com fontes seguras, vindo
dos especialistas da área, se faz extremamente necessária, desmitificando as
Fake News, tão danosas em nossa sociedade nos últimos anos.
Material e métodos
É preciso conhecer e compreender as características da geração com a qual se vai
trabalhar, saber como pensam, o que os entretêm e como aprendem. Para isso foi
necessário adequar a linguagem acadêmica em uma abordagem que despertasse maior
interesse nos estudantes e no público em geral. Estar atualizado na prática
docente é entender o seu grupo discente, seu local de atuação e o contexto em
que está inserido; saber dos fatos, informações e acontecimento; e,
principalmente, conhecer as novas práticas pedagógicas, técnicas de condução
didática modernas e as mais recentes tendências e ferramentas educacionais, como
as TDICs. O uso delas requer uma condução que se aproprie de novas metodologias
pedagógicas e didáticas, e um uso da tecnologia de maneira crítica, inteligente
e significativa, que acompanhe os avanços.
O objeto de estudo do Inclusive Química é divulgar ciência e aproximar o público
de uma ciência temida, por se apresentar repleta de fórmulas, cálculos e
conteúdo. Verificou-se também a necessidade de um diálogo, para combater as
notícias falsas.
A criação de conteúdo digital traz importantes assuntos relacionados aos avanços
da ciência e pesquisa no Brasil e no mundo. A página promove entrevistas com
profissionais que compartilham suas experiências e práticas; divulga trabalhos;
traz práticas educacionais inclusivas, voltada aos docentes e sua formação
continuada.
Alguns conteúdos são combinados à memes (gênero digital), tornando mais lúdico o
contato com a disciplina. Os memes promovem interações nas redes sociais e se
encaixam no multiletramento, que dá foco a crescente diversidade cultural no
mundo globalizado (multicultural), e forte influência da linguagem das
tecnologias dos variados modos (multimodal), através da escrita, de imagens,
áudios e vídeos.
Atualmente a página Inclusive Química está vinculada como projeto de extensão da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e conta com uma aluna bolsista
que trabalha na página criando conteúdos digitais, de modo a promover a
divulgação científica, focando a população com uma linguagem mais acessível, nas
mídias digitais. Para tal foram criadas categorias de postagens, tais como:
ciência contada, que são histórias em quadrinhos que mostram as aventuras da
personagem Carbonila que aprende ciência conversando com pessoas próximas;
conhecendo a escola, neste é mostrado diferentes histórias de escola públicas;
divulgação cultural da ciência em espaços públicos, a fim de mostrar exposições
de baixo custo na cidade do Rio de Janeiro; história da química e outros
assuntos da área das ciências.
Resultado e discussão
A página vem entregando aos seus seguidores, desde 2016, conteúdos ligados à
ciência, com uma linguagem acessível e de fácil entendimento, de modo que possa
tocar também aos seguidores sem formação científica, além é claro, de estudantes
da educação básica e superior.
No ano de 2020 entregou uma série de entrevistas com profissionais de
instituições públicas e privadas, que dividiram seus projetos e experiências
acadêmicas.
A página vem produzindo conteúdos e materiais educacionais, com ênfase em ensino
de Ciências, Letramento e Alfabetização Científica, Divulgação e Popularização
da Ciência, que são utilizados nas turmas de Educação Básica do CAp UERJ e
outros espaços de ensino de escolas parceiras.
Ainda promoveu encontros virtuais de Divulgação e Popularização da Ciência,
palestras, cursos e minicursos, com parcerias entre outras escolas e
universidades, dialogando e interagindo com estudantes e grupos de pesquisa de
outros estados.
A promoção de palestras virtuais, com os assuntos mais pertinentes à sociedade,
foi um ponto que surtiu efeito durante os dois últimos anos pandêmicos, e se
pretende permanecer, sempre com caráter informativo, em parceria com os docentes
das instituições parceiras.
Este projeto de extensão ainda visa: possibilitar aos estudantes das
instituições envolvidas no projeto a participação em Congressos, Seminários e
Eventos em âmbitos locais e nacionais, como o CBQ (Congresso Brasileiro de
Química); produção e divulgação de artigos científicos; escrita de planejamentos
pedagógicos e planos de aula a serem aplicados inicialmente no CAp UERJ, a fim
de sejam multiplicadores das ações científicas em seus núcleos familiares;
estimular rodas de leitura e debates entre os alunos bolsistas, a partir de
conteúdos que são publicados em outras páginas de divulgação científica.
Conclusões
Apesar da sociedade contemporânea vivenciar a cibercultura, a educação ainda não
se apropriou plenamente dos recursos proporcionados pelas TDICs. Após 2020 os
professores começaram a dialogar mais com as tecnologias no ensino remoto, o que
evidenciou a importância de uma formação docente inicial ou continuada, na qual
o professor aprenda a usar recursos digitais, promovendo um processo de ensino-
aprendizagem mais ativo e interativo.
As redes sociais fazem parte do cotidiano de grande parte dos estudantes e
demais integrantes da sociedade. Além do entretenimento, seu uso na prática
pedagógica pode promover a aproximação entre professores e estudantes,
possibilitando a construção de saberes de forma coletiva.
As TDICs são necessárias no processo de ensino-aprendizagem, pois promove a
alfabetização e o letramento digital. Ser letrado digitalmente é “saber usar as
tecnologias, respondendo ativa e criticamente a diferentes propósitos e
contextos”. Elas ainda promovem a inclusão digital, por garantir aos alunos
condições de acesso às tecnologias, tornando-os participantes ativos.
As novas mídias têm a missão de agregar e fortalecer o objetivo educacional:
possibilitar que o aluno se torne um cidadão coerente, crítico e criativo para a
vida em sociedade, dispondo dos recursos técnicos. Ampliam as possibilidades de
pesquisa, autoria, comunicação e compartilhamento em rede, ou seja, mais ativos
e engajados. Redefinem a troca entre os espaços formais e informais pelas redes
sociais.
Agradecimentos
À Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e ao seu Departamento de
Extensão (DEPEXT), pela bolsa concedida à estudante de graduação do Instituto de
Química do IQ/UERJ selecionada para o projeto.
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