Autores
Corrêa, J.R. (UFRR) ; de Lima, R.C.P. (UERR) ; Teles, V.L.G. (UFAM) ; Medeiros, I.J.S. (IFRR) ; Rizzatti, I.M. (UFRR)
Resumo
O objetivo deste trabalho foi investigar novos indicadores ácido-base naturais
para aplicação em atividades experimentais e na contextualização do equilíbrio
ácido-base. Foram testados extratos alcóolicos e aquosos dos frutos Buriti
(Mauritia flexuosa), Camu-camu (Myrciaria dubia) e Dão (Ziziphus mauritiana), em
soluções de HCl e NaOH em pH 1 a 14, e em produtos com características ácidas e
básicas presentes em nosso cotidiano. Os extratos do fruto de camu-camu apresentou
melhor resultado como indicador ácido-base devido à maior distinção entre as cores
nos diferentes valores de pH. Logo, este extrato de indicador ácido-base pode ser
utilizado em aulas experimentais para abordar o conteúdo de equilíbrio ácido-base,
promovendo a contextualização do ensino de química.
Palavras chaves
ácido-base; Amazônia; indicador
Introdução
As atividades experimentais são uma ferramenta metodológica que permite ao aluno
investigar, questionar, discutir, argumentar para a construção do conhecimento
científico. Nessa direção, Del Pino e Lopes (1997), destacam que o ensino de
química eficiente e significativo deve abordar conteúdos que reflitam a
realidade cotidiana dos estudantes, sem deixar de lado a experimentação,
adotando-a como uma metodologia que pode ser praticada com materiais de fácil
aquisição.
Na busca de novos indicadores naturais ácido-base e apresentar possibilidades
para o ensino de química contextualizado aliada à diversidade de plantas da
região Amazônica, em especial de Roraima, este trabalho tem como objetivo
investigar os frutos das espécies vegetais Camu-camu (Myrciaria dubia), Buriti
(Mauritia flexuosa) e Dão (Ziziphus mauritiana), que contém antiocianinas.
O Camu-camu (Myrciaria dubia) é uma espécie arbustiva de origem Amazônica que
ocorre naturalmente às margens de lagos e rios (RIBEIRO; MOTA; CORRÊA, 2002),
com frutos globosos de superfície lisa e brilhante, com coloração variando de
vermelho-escuro a púrpuro-negro, quando maduros (MAEDA et al., 2006). É
consumido in natura e possui alto teor de vitamina C. O Dão (Ziziphus
mauritiana), nativo da Índia, pertence à família Rhamnaceae, com frutos também
conhecidos como “maçã do pobre” e jujuba, são muito populares no estado de
Roraima, apresentam casca fina, lisa e quando maduros são de coloração que
tendem do amarelo ao alaranjado.
O fruto do buriti é muito na região, seja na forma de vinho ou consumido puro,
com farinha ou qualquer outro complemento. Este fruto é muito nutritivo, em seu
vinho percebe-se a presença de um grande teor de óleo natural, que é comestível,
e possui elevados teores de vitaminas A (VIEIRA et. al., 2011).
Material e métodos
Primeiramente foi realizada a obtenção dos extratos alcóolicos e aquosos dos
frutos camu-camu, dão e buriti para elaboração da escala de pH. Os extratos dos
frutos do camu-camu, buriti e dão. Para a extração alcóolica do camu-camu, os
frutos foram macerados com o auxílio do almofariz e o pistilo em 100 mL de
álcool, em seguida, acrescentou-se 200 mL de água em um erlenmeyer de 250 mL,
onde permaneceu em repouso por 24 horas. Na extração com água, os frutos foram
novamente macerados, colocados em um bequer de 1L, acrescentou-se 300 mL de água
e deixou-se em ebulição por aproximadamente 15 minutos. Após resfriamento, este
extrato foi testado nas soluções de HCl e NaOH, com variações de escala de pH (1
a 14), já distribuídas nos tubos de ensaio.
O extrato alcóolico de buriti foi obtido a partir da maceração de 5 frutos, que
foram cortados com casca e polpa e macerados em 100 mL de álcool. Após, o
extrato foi transferido para um erlenmeyer de 250 mL e foram adicionados mais
200 mL de água, onde permaneceu em repouso por 24 horas. Para obtenção do
extrato aquoso do buriti, cortaram-se cinco frutos com casca para cozimento em
300 mL de água, até aparecimento da cor amarelada na água. Após a extração,
deixou-se esfriar para posterior teste na escala de pH. No caso do vinho de
buriti, pipetou-se uma alíquota de 40mL, adicionaram-se 20 mL de álcool para
preparo do indicador. Para a obtenção do extrato alcóolico e aquoso de dão,
seguiu-se o mesmo procedimento realizado para o camu-camu.
Todos os extratos alcoólicos obtidos foram armazenados em erlenmeyers de 250 mL
e permaneceram em repouso durante 24 horas antes de realizar os testes, enquanto
os extratos aquosos foram testados imediatamente à temperatura ambiente.
Resultado e discussão
O extrato alcoólico do camu-camu não apresentou bons resultados como indicador
natural de pH, pois não apresentou mudança de coloração nos diferentes valores
de pH. Acredita-se que esse fato deve ter sido em razão do tempo que o extrato
ficou armazenado. Desta foram, o extrato foi refeito e testado sem deixar de
repouso, obtendo bons resultados nos dois métodos de extração. O extrato
apresentou coloração rosa em meio ácido, em pH 7 apresentou coloração próximo de
um rosa quase transparente, evoluindo para coloração verde em pH básico em meio
básico, e em pH 14, assumiu coloração amarelada. Nos produtos do cotidiano
também se notou essa mesma variação de coloração. A escala de cores também foi a
mesma para o extrato aquoso de camu-camu. Apesar do extrato poder ser utilizado
como indicador natural de pH, ele apresenta estabilidade baixa, ou seja, para a
atividade experimental, o extrato deve ser preparado no mesmo dia, para garantir
a sua eficiência enquanto indicador ácido-base.
Os extratos alcóolico e aquoso de Buriti não apresentaram resultados positivos
enquanto indicador natural de pH, pois não apresentou variação de coloração em
meio ácido e básico, apresentando apenas uma graduação de cor pouco perceptível.
Para o indicador ácido-base do vinho de buriti, apesar de apresentar uma
coloração mais intensa, no entanto não houve variação como o esperado entre as
diferentes escalas de pH.
Tanto o extrato alcóolico quanto aquoso de dão apresentou menor eficiência para
agir como indicador ácido-base, pois durante o preparo dos extratos percebeu-se
que a maior viscosidade deste extrato interferia no processo de filtração.
Assim, em todos os testes, seus extratos não apresentaram mudança de cor.
Conclusões
Das plantas estudadas e avaliadas, apenas duas não demonstraram potencialidade
para o emprego como indicadores naturais de pH em sala de aula (buriti e o dão).
Observou-se também que o camu-camu é um indicador com caráter ácido enquanto o
sara tudo apresenta caráter básico.
Os indicadores naturais de pH de camu-camu se mostrou eficiente para experimentos
envolvendo ácidos, bases e equilíbrio químico.
Agradecimentos
Referências
DEL PINO, J. C. Y LOPES, C. V. M. Uma Proposta para o Ensino de Química Construída na Realidade de Escola. Espaço da Escola, 25(4), p. 43-54. 1997.
MAEDA, R. N.; PANTOJA, L.; YUYAMA, L. K. O.; CHAAR, J. M. Estabilidade de ácido ascórbico e antocianinas em néctar de camu-camu (Myrciaria dubia (HBK) McVaugh). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 27, n. 2, p. 313-316, 2007.
RIBEIRO, S. I.; MOTA, M. G. C.; CORRÊA, M. L. P. Recomendações para o cultivo do camucamuzeiro no Estado do Pará. Embrapa Amazônia Oriental. Circular técnica, 2002.
VIEIRA, D. A.; FACÓ, L. R.; CECY, A. BURITI: UM FRUTO DO CERRADO CONSIDERADO UMA PLANTA DE USO MÚLTIPLO. Cenarium Pharmacêutico, Brasília, n. 4, p.11-22, nov. 2011.