Autores
Barros, E.S.S. (UFAL) ; Santos, J.C.C. (UFAL) ; Cunha, F.A.S. (UFBA) ; Anunciação, D.S. (UFAL) ; Costa, A.S.P.N. (UFAL) ; Queiroz, M.I.C. (UFAL) ; Sales, M.V.S. (UFAL) ; Marinho, C. (CESMAC)
Resumo
A laguna Mundaú (Maceió, AL) é um cenário de importante relevância sócio-
econômica, além de ser responsável por abarcar fonte de ação humana e a densa
ocupação populacional local. Neste sentido, o presente trabalho visa realizar
uma avaliação preliminar sobre a concentração das espécies orgânicas e
inorgânicas de mercúrio em amostras de água e a concentração do Hgtotal em
amostras de sangue de pescadores da Laguna Mundaú. A determinação dessas
concentrações foi realizada empregando a espectrometria de fluorescência atômica
acoplada à geração por vapor frio a fim de ser obter um comparativo dos dados
obtidos com os valores legislados. Assim, os valores obtidos mostram que as
concentrações do analito são majoritariamente superiores as legislações vigentes
indicando a contaminação de cenário.
Palavras chaves
Mercúrio; Sangue; Água
Introdução
O complexo estuarino lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM) está situado no estado de
Alagoas e engloba a laguna Mundaú e Manguaba, sendo um ambiente de relevância
sócio-econômico-cultural (ANA, 2006; MARQUES, 1987). Em destaque, a laguna
Mundaú (Maceió- AL) é considerada um espaço de grande desenvolvimento produtivo
e econômico, tendo como principal fonte de renda da população vizinha a pesca do
sururu, bivalve local que é definido como um organismo filtrante, que serve como
subsídio para vida de 300 mil pessoas. Apesar da importância desse ecossistema,
a acentuada produção de resíduos domésticos e industriais e o descarte deste em
locais inapropriado, como: ruas, lagoas, entre outros, inclui espécies com
toxicidade elevada contribuindo para o aumento do índice de contaminação
ambiental e riscos à saúde humana da população vizinha (MARQUES, 1987). Entre
as substâncias e espécies potencialmente tóxicas pode-se citar o mercúrio que é
empregado na fabricação de termômetros, medicamentos (conservantes para
vacinas), vidros e catalisadores nas indústrias de cloro estando disposto na
natureza na forma inorgânica e orgânica (AZEVEDO, 2003). Além disso, esse
elemento não apresentar função fisiológica para os seres vivos, porém é passível
de ser (bio)acumulado, em outras palavras, a concentração de Hg no organismo
tende a aumentar com a exposição por meio da alimentação ou inalação. Nosso
grupo de pesquisa tem realizado o monitoramento nestes sistemas nos últimos
anos, a fim de estabelecer possíveis correlações entre a contaminação ambiental
e a saúde da população (SILVA-FILHO et. al, 2021). Assim, o objetivo deste
trabalho consiste na determinação da concentração total de mercúrio em amostras
de água, assim como de sangue de pescadores da Laguna Mundaú (Maceió - AL) e
comparar com grupo controle para investigar possíveis impactos decorrente de
atividades antrópicas no ambiente.
Material e métodos
As amostras de sangue foram coletadas de pescadores da Laguna Mundaú e controle
(indivíduos com características físicas e biológicas semelhantes com o grupo de
interesse do trabalho), respeitando os protocolos do Comitê de Ética da UFAL
(CAAE: 57998116.8.0000.5013) e aplicando procedimentos bem estabelecidos para
este tipo de amostra. As amostras de sangue foram armazenadas em tubos de coleta
a vácuo da Olen (6 mL) contendo K3EDTA e refrigerado a -20°C até o momento da
análise no Laboratório de Desenvolvimento e Instrumentação em Química Analítica
(LINQA). Até o momento, foram analisadas sete (n = 7) amostras biológicas de
sangue total, sendo três (n = 3) do grupo controle e quatro (n = 4) dos
pescadores locais. Para o preparo da amostra, estas foram previamente digeridas
no dia da análise empregando sistema de digestão por micro-ondas fechado de alta
pressão (Milestone, modelo Ethos One, Sorisole, Itália). O procedimento
consistiu do uso de 1,0 mL de sangue, 6 mL de ácido nítrico concentrado (HNO3 14
mol L-1), 2 mL de peróxido de hidrogênio (H2O2 30% m/m) e 1,0 mL de água
ultrapura conforme o protocolo de Santos et al. (2021). Em seguida, empregou-se
espectrometria de fluorescência atômica com vapor frio (AFS CV, PS Analytical,
modelo 10.025 Millennium Merlin) para determinação da concentração de Hg total.
Neste sistema foi utilizado uma alíquota da amostra digerida (5,00 mL), sendo
adicionada 0,5 mL da mistura das soluções de KBr e KBrO3 a 100 e 17 mmol L-1,
respectivamente, 40 L ácido ascórbico (C6H8O6) a 12% (m/v) e, por fim, água
ultrapura até um volume de 25,00 mL. Por fim para a quantificação do analito foi
empregado SnCl2 2% (m/v) como redutor e HCl 5% (v/v) como sistema carreador,
tendo como fluxo respectivamente de 4,5 e 9,0 mL min-1. Por fim, foi usado
argônio ultrapuro (99,99%) como gás carreador do Hg0 gerado para o sistema de
detecção. Além disso, foi determinada a concentração de mercúrio total e
inorgânico em amostra de água proveniente da Laguna Mundaú (Maceió, AL), as quis
foram coletadas em frascos de vidro em quatro amostragens distintas entre os
períodos de julho/2021 a março/2022. Primeiramente estas amostras de água foram
filtradas empregando membrana de acetato de celulose (0,45 m), e o preparo para
análise seguiu protocolo similar aos digerido das amostras de sangue para
determinação do Hg total, enquanto que para o Hg inorgânico, realizou injeção
direta da amostra acidificada no sistema, sem adição de KBr/KBrO3/ácido
ascórbico.
Resultado e discussão
A determinação de Hg total em amostras biológicas como o sangue constitui um
importante parâmetro para avaliar o impacto da contaminação ambiental em relação
a saúde da população em um determinado local. Nesta avaliação preliminar foi
encontrado para o grupo controle (pessoas que não comem possuem hábitos e
condição econômica similar aos pescadores, mas não residem próximo a Laguna
Mundaú) valores de Hg total no sangue de 0,11 a 1,39 μg L-1, enquanto que para
os pescadores foi de 8,69 a 18,64 μg L-1 (Fig. 1). Desta forma, verifica-se que
o nível de Hg no sangue dos pescadores de no mínimo 4 vezes maior que o nível de
concentração no grupo controle. Considerando como referência os dados de Santos
et al. (2021) para a concentração de Hg em sangue dos pescadores da mesma
localidade, se obteve média de 9,59 μg L-1, a qual é similar a análise previa
realizada atualmente. Além disto, considerando os valores de referência para
mercúrio total em sangue, a EPA (Environmental Protection Agency) estabelece-se
5,80 g L-1 como valor máximo, enquanto a WHO (World Health Organization)
considera 10 g L-1 (Fig. 1) Desta forma, segundo a EPA 100% dos pescadores
teriam concentração de Hg total no sangue acima do valor de referência e para
WHO seria igual a 50%, o que torna preocupante esta situação. Salienta-se que
estamos em fase de análise de um número maior de amostras (controle e
pescadores) para consolidação dos dados e avaliação do real impacto na
população, uma vez que a exposição ao Hg pode estar relacionada as atividades
antropológicas na região.
Por fim, o teor de Hg na água Laguna Mundaú (Maceió, AL) referente às
concentrações de Hg inorgânico e na forma orgânica foram determinados. O
intervalo de concentração foi de 0,02 a 1,64 μg L-1 (Hg inorgânico) e 0,2 a 5,45
μg L-1 (Hg orgânico). Esses dados são alarmantes, sabendo que o analito na forma
orgânica apresenta maior percentual toxicidade, pois é mais facilmente acumulado
no organismo devido a formação de ligações covalentes vários alvos celulares
(CLARKSON et al., 2003; PATTERSON et al., 2004). Além disto, deve-se destacar
que o valor máximo para concentração de Hg total em água é igual a 0,02 μg L-1
(Resolução CONAMA, nº 357) o que implica a maioria das amostras estão acima do
preconizado pela legislação nacional. Por fim, um número maior de amostras
encontra-se em análise para uma avaliação mais completo do ambiente em estudo.
Valores de referência (linha tracejada para a WHO e EPA).
Conclusões
Ao realizar a análise das espécies de Hg em amostras de água, verifica-se que as
concentrações encontradas são superiores a permitida pelo CONAMA, além do fato
preocupante da forma majoritária do analito ser a orgânica a qual é associada o
percentual toxicológico. Podendo relacionar essas elevadas concentrações com as
ações humanas hábitos alimentares ou ambientes insalubres.
Agradecimentos
UFAL, IQB, PPGQB, CAPES, CNPq e FAPEAL
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS (ANA). Plano de Ações e Gestão Integrada do Complexo Esturiano-Lagunar Mundaú/Manguaba (CELMM). Brasília: ANA, 2006.
SILVA-FILHO, REGINALDO ; SANTOS, NERVESON ; SANTOS, MAYARA COSTA ; NUNES, ÁBNER ; PINTO, RAPHAEL ; MARINHO, CHIARA ; LIMA, TALITTA ; FERNANDES, MARIANA P. ; SANTOS, JOSUÉ CARINHANHA C. ; LEITE, ANA CATARINA R. . Impact of environmental mercury exposure on the blood cells oxidative status of fishermen living around Mundaú lagoon in Maceió - Alagoas (AL), Brazil. ECOTOXICOLOGY AND ENVIRONMENTAL SAFETY , v. 219, p. 112337, 2021.
MARQUES, R. C. C. Geomorfologia e evolução da região costeira do Complexo Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba. Rio de Janeiro, 1987, 151 f. Tese (Mestrado em Geografia) –Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1987.
SANTOS, M. C. D. Níveis de elementos potencialmente tóxicos na água e no sururu da Lagoa Mundaú (Alagoas, Brasil): contaminação ambiental e potencial exposição à saúde humana, 2021.
AZEVEDO, F.A. Toxicologia do mercúrio. 1. Ed. São Carlos: RiMa, 2003