• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

TOXICIDADE DO DODECIL SULFATO DE SÓDIO PARA O COPÉPODE ESTUARINO Nitokra sp.

Autores

Fortes, C.V.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Rocha, J.A.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Silva, M.W.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Abreu, A.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Mota, S.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Torres, T.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Santos, R.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Jorge, M.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)

Resumo

Realizar ensaios ecotoxicológicos de substâncias químicas com organismos-teste contribui para o biomonitoramento de ecossistemas aquáticos, que sofrem com o despejo indevido de compostos químicos. Com isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar a toxicidade da substância de referência Dodecil Sulfato de Sódio - NaC12H25SO4 (DSS) para o organismo-teste Nitokra sp. Para tal, realizou-se uma exposição de 96h para cinco concentrações (substância dissolvida no meio) em triplicata e contendo 5 indivíduos adultos em cada frasco. Os resultados mostraram uma mortalidade de 7 a 79% da menor para a maior concentração (2,0 e 4,0mg/L) e uma CL50(96h) de 3,15mg/L. Foi possível concluir que o DSS é tóxico para Nitokra sp. e que pode ser utilizado como substância de referência para o organismo em questão.

Palavras chaves

Ensaio ecotoxicológico; Microcrustáceo; Surfactante

Introdução

Compostos químicos de diversas classes são despejados frequentemente no ecossistema marinho, resultando na constante ameaça da biota local (MASON, 1996). Um desses compostos é o Dodecil Sulfato de Sódio (DSS - NaC12H25SO4), que é um surfactante, muito utilizado mundialmente, principalmente na composição de produtos de limpeza e higiene pessoal. Devido a seu uso principal, é muito associado à poluição por efluentes domésticos (COELHO, 2008). Esse composto também é usado como substância de referência em teste de sensibilidade, ainda que tenha capacidade de se degradar em solução líquida (ZAGATTO E BERTOLETTI, 2008). Para avaliar os danos causados por esses poluentes a nível de organismo, populações ou comunidades aquáticas, utiliza-se de ensaios ecotoxicológicos, que consiste na análise dos efeitos de substâncias químicas, individuais ou combinadas, na biota (MAGALHÃES E FILHO, 2008). Para desenvolver testes de toxicidade é necessário selecionar previamente um bom organismo-teste, sensível e com representatividade do meio, e posteriormente testar a sensibilidade desses organismos, com a exposição dos mesmos a uma substância de referência (com toxicidade conhecida) (ZAGATTO E BERTOLETTI, 2008). Os microcrustáceos estuarinos Nitokra sp. vêm sendo aplicados em testes de toxicidade crônica com elutriato e sedimento, devido ao seu ciclo de vida completo ser relativamente curto (3-4 semanas), por serem resistentes às variações de salinidade e por sua relevância ecológica (LOTUFO & ABESSA, 2002). Além disso, também se observa na literatura testes de toxicidade aguda em meio líquido. Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar a toxicidade do DSS para a Nitokra sp. cultivadas em laboratório.

Material e métodos

Os indivíduos de Nitokra sp. utilizados nos ensaios foram cultivados no Laboratório de Ecotoxicologia (LabEcotox) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), de acordo com Lotufo e Abessa (2002). Os organismos foram mantidos em erlenmeyers de 1L, contendo cerca de 700 mL de água do mar artificial em salinidade 17 g/kg e pH 7.6. Os frascos foram acondicionados em câmara incubadora, sob temperatura de 25 ± 1°C e fotoperíodo 12h claro:12h escuro. Para a avaliação da toxicidade do DSS, determinou-se 5 grupos de exposição, 0 (controle, contendo apenas água de salinidade 17 g/kg); 2,0; 2,5; 3,5 e 4,0 mg/L de DSS diluído em meio de cultivo salinidade 17 g/kg. O ensaio foi montado em frascos de vidro, em triplicata, nos quais foram adicionados 15 mL de cada solução e em seguida 5 indivíduos adultos (machos e fêmeas não ovadas) em cada um. Os frascos foram cobertos com parafilme furado, para permitir as trocas gasosas e evitar a evaporação, e posteriormente foram colocados na incubadora, sob as mesmas condições de cultivo (temperatura e fotoperíodo). No início e no final do experimento foram medidos a salinidade, o pH, a temperatura, o oxigênio dissolvido (OD) e a condutividade das soluções de exposição. A exposição ocorreu por 96h e no final foi feita a contagem do número de mortos. O resultado foi utilizado para o cálculo da toxicidade, expressa em CL50 (concentração letal média), determinada através do método matemático probit (FINNEY, 1952).

Resultado e discussão

Os resultados dos parâmetros físicos e químicos estão na tabela 1. De modo geral, a salinidade, o pH, a temperatura e a condutividade não apresentaram grandes variações do início ao fim da exposição. Já para o OD houve aumento ao final do ensaio, porém ainda se encontra dentro da faixa de recomendada para o ensaio (4,5-6,0 mg/L). A curva dose-resposta do DSS se encontra na figura 1. Com relação ao percentual de mortalidade, no grupo controle houve mortalidade dentro do esperado (<10%). Já com relação ao DSS, a mortalidade variou de 7 a 79% da menor para a maior concentração, de 2,0 e 4,0 mg/L, respectivamente. A porcentagem de CL50 (96h) foi obtida através da tabela probit, após isso realizou-se uma regressão a partir dos dados de mortalidade e concentração, resultando, assim, na CL50 (96h) para o DSS de 3,15 mg/L (Figura 1), estando dentro do limite de aceitabilidade proposto por Cariello (2012), de <9,25 mg/L. SILVA et al. (2018) também obteve CL50 (96h) abaixo de 9,25 mg/L, com valores de 4,66; 5,73 e 4,38 mg/L em seus estudos com exposição de Nitokra sp. ao DSS. Nilin (2008), obteve CL50 (96h) de 2,6 mg/L ao testar a sensibilidade do organismo com DSS como substância de referência. Pode-se observar que esses valores variam, mas sempre estão abaixo de 9,25 mg/L.

Figura 1

Curva dose-resposta toxicidade de DSS em Nitokra sp.

Tabela 1

Parâmetros físico-químicos das amostras iniciais.

Conclusões

O surfactante DSS é tóxico para o microcrustáceo do gênero Nitokra sp., podendo levar à mortalidade dos organismos. Esse composto tem potencial para ser usado como substância de referência no teste de sensibilidade destes copépodes estuarinos e as concentrações utilizadas neste ensaio são indicadas para o teste de sensibilidade com Nitokra sp. e elaboração de carta-controle, pois abrange uma ampla faixa de percentual de mortalidade. Por fim, conclui-se que esses organismos podem ser úteis em testes agudos com compostos químicos em meio aquoso.

Agradecimentos



Referências

COELHO, K. S. Estudos Ecotoxicológicos com Ênfase na Avaliação da Toxicidade de Surfactantes Aniônicos aos Cladóceros Daphnia similis, Ceriodaphnia dúbia e Ceriodaphnia silvestrii. Dissertação (Pós-graduação) - Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, p. 166, 2008.
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LUPI, C.; NHACARINI, N. I.; MAZON, A. F.; SÁ, O. R. Avaliação da poluição ambiental através de alterações morfológicas das brânquias de Oreochromis niloticus (tilápia) nos córregos Retiro, Consulta e Bebedouro, município de Bebedouro-SP. Revista Fafibe on-line, Bebedouro, n. 3, 2007.
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NILIN, J. Avaliação da qualidade do sedimento do estuário do rio Ceará. Dissertação (Pós-graduação) - Pós-graduação em Engenharia de Pesca. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, p. 107, 2008.
SILVA, A. et al. Sensibilidade do copépode Nitokra sp. à exposição ao agregado óleo-material particulado em suspensão (OSA). Geochimica Brasiliensis, v. 32, n. 1, p. 47–61, 2018.
ZAGATTO, P. A.; BERTOLETTI, E. Ecotoxicologia aquática – Princípios e aplicações. Editora Rima, São Carlos. 464 p., 2006.

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