Autores
Fortes, C.V.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)  ; Rocha, J.A.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)  ; Silva, M.W.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)  ; Abreu, A.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)  ; Mota, S.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)  ; Torres, T.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)  ; Santos, R.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)  ; Jorge, M.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)
Resumo
Realizar ensaios ecotoxicológicos de substâncias químicas com organismos-teste 
contribui para o biomonitoramento de ecossistemas aquáticos, que sofrem com o 
despejo indevido de compostos químicos. Com isso, o objetivo deste trabalho foi 
avaliar a toxicidade da substância de referência Dodecil Sulfato de Sódio - 
NaC12H25SO4 (DSS) para o organismo-teste Nitokra sp. Para tal, realizou-se uma 
exposição de 96h para cinco concentrações (substância dissolvida no meio) em 
triplicata e contendo 5 indivíduos adultos em cada frasco. Os resultados 
mostraram uma mortalidade de 7 a 79% da menor para a maior concentração (2,0 e 
4,0mg/L) e uma CL50(96h) de 3,15mg/L. Foi possível concluir que o DSS é tóxico 
para Nitokra sp. e que pode ser utilizado como substância de referência para o 
organismo em questão.
Palavras chaves
Ensaio ecotoxicológico; Microcrustáceo; Surfactante
Introdução
Compostos químicos de diversas classes são despejados frequentemente no 
ecossistema marinho, resultando na constante ameaça da biota local (MASON, 
1996). Um desses compostos é o Dodecil Sulfato de Sódio (DSS - NaC12H25SO4), que 
é um surfactante, muito utilizado mundialmente, principalmente na composição de 
produtos de limpeza e higiene pessoal. Devido a seu uso principal, é muito 
associado à poluição por efluentes domésticos (COELHO, 2008). Esse composto 
também é usado como substância de referência em teste de sensibilidade, ainda 
que tenha capacidade de se degradar em solução líquida (ZAGATTO E BERTOLETTI, 
2008).
 Para avaliar os danos causados por esses poluentes a nível de organismo, 
populações ou comunidades aquáticas, utiliza-se de ensaios ecotoxicológicos, que 
consiste na análise dos efeitos de substâncias químicas, individuais ou 
combinadas, na biota (MAGALHÃES E FILHO, 2008). Para desenvolver testes de 
toxicidade é necessário selecionar previamente um bom organismo-teste, sensível 
e com representatividade do meio, e posteriormente testar a sensibilidade desses 
organismos, com a exposição dos mesmos a uma substância de referência (com 
toxicidade conhecida) (ZAGATTO E BERTOLETTI, 2008).
Os microcrustáceos estuarinos Nitokra sp. vêm sendo aplicados em testes de 
toxicidade crônica com elutriato e sedimento, devido ao seu ciclo de vida 
completo ser relativamente curto (3-4 semanas), por serem resistentes às 
variações de salinidade e por sua relevância ecológica (LOTUFO & ABESSA, 2002). 
Além disso, também se observa na literatura testes de toxicidade aguda em meio 
líquido.  Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar a toxicidade do DSS para 
a Nitokra sp. cultivadas em laboratório. 
Material e métodos
Os indivíduos de Nitokra sp. utilizados nos ensaios foram cultivados no 
Laboratório de Ecotoxicologia (LabEcotox) da Universidade Federal do Maranhão 
(UFMA), de acordo com Lotufo e Abessa (2002). Os organismos foram mantidos em 
erlenmeyers de 1L, contendo cerca de 700 mL de água do mar artificial em 
salinidade 17 g/kg e pH 7.6. Os frascos foram acondicionados em câmara 
incubadora, sob temperatura de 25 ± 1°C e fotoperíodo 12h claro:12h escuro.
Para a avaliação da toxicidade do DSS, determinou-se 5 grupos de exposição, 0 
(controle, contendo apenas água de salinidade 17 g/kg); 2,0; 2,5; 3,5 e 4,0 mg/L 
de DSS diluído em meio de cultivo salinidade 17 g/kg. O ensaio foi montado em 
frascos de vidro, em triplicata, nos quais foram adicionados 15 mL de cada 
solução e em seguida 5 indivíduos adultos (machos e fêmeas não ovadas) em cada 
um. Os frascos foram cobertos com parafilme furado, para permitir as trocas 
gasosas e evitar a evaporação, e posteriormente foram colocados na incubadora, 
sob as mesmas condições de cultivo (temperatura e fotoperíodo). No início e no 
final do experimento foram medidos a salinidade, o pH, a temperatura, o oxigênio 
dissolvido (OD) e a condutividade das soluções de exposição. A exposição ocorreu 
por 96h e no final foi feita a contagem do número de mortos. O resultado foi 
utilizado para o cálculo da toxicidade, expressa em CL50 (concentração letal 
média), determinada através do método matemático probit (FINNEY, 1952).
Resultado e discussão
Os resultados dos parâmetros físicos e químicos estão na tabela 1. De modo 
geral, a salinidade, o pH, a temperatura e a condutividade não apresentaram 
grandes variações do início ao fim da exposição. Já para o OD houve aumento ao 
final do ensaio, porém ainda se encontra dentro da faixa de recomendada para o 
ensaio (4,5-6,0 mg/L).
A curva dose-resposta do DSS se encontra na figura 1. Com relação ao percentual 
de mortalidade, no grupo controle houve mortalidade dentro do esperado (<10%). 
Já com relação ao DSS, a mortalidade variou de 7 a 79% da menor para a maior 
concentração, de 2,0 e 4,0 mg/L, respectivamente.
A porcentagem de CL50 (96h) foi obtida através da tabela probit, após isso 
realizou-se uma regressão a partir dos dados de mortalidade e concentração, 
resultando, assim, na CL50 (96h) para o DSS de 3,15 mg/L (Figura 1), estando 
dentro do limite de aceitabilidade proposto por Cariello (2012), de <9,25 mg/L. 
SILVA et al. (2018) também obteve CL50 (96h) abaixo de 9,25 mg/L, com valores de 
4,66; 5,73 e 4,38 mg/L em seus estudos com exposição de Nitokra sp. ao DSS. 
Nilin (2008), obteve CL50 (96h) de 2,6 mg/L ao testar a sensibilidade do 
organismo com DSS como substância de referência. Pode-se observar que esses 
valores variam, mas sempre estão abaixo de 9,25 mg/L.

Curva dose-resposta toxicidade de DSS em Nitokra sp.

Parâmetros físico-químicos das amostras iniciais.
Conclusões
O surfactante DSS é tóxico para o microcrustáceo do gênero Nitokra sp., podendo 
levar à mortalidade dos organismos. Esse composto tem potencial para ser usado 
como substância de referência no teste de sensibilidade destes copépodes 
estuarinos e as concentrações utilizadas neste ensaio são indicadas para o teste 
de sensibilidade com Nitokra sp. e elaboração de carta-controle, pois abrange uma 
ampla faixa de percentual de mortalidade. Por fim, conclui-se que esses organismos 
podem ser úteis em testes agudos com compostos químicos em meio aquoso.
Agradecimentos
Referências
COELHO, K. S. Estudos Ecotoxicológicos com Ênfase na Avaliação da Toxicidade de Surfactantes Aniônicos aos Cladóceros Daphnia similis, Ceriodaphnia dúbia e Ceriodaphnia silvestrii. Dissertação (Pós-graduação) - Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, p. 166, 2008.
FINNEY, D. J. The estimation of the ED50 for a logistic response curve. Sankhyā: The Indian Journal of Statistics, p. 121-136, 1952.
FONSECA, A. L. A Biologia da Espécie Daphnia laevis, Ceriodaphnia dubia silvestre (Cladocera, Crustacea) e Poecilia reticulata (Pisces, Poecilidae) e o Comportamento destes em Testes de Toxicidade Aquática com Efluentes Industriais. Universidade de São Paulo, São Carlos, 210 p., 1991.
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LUPI, C.; NHACARINI, N. I.; MAZON, A. F.; SÁ, O. R. Avaliação da poluição ambiental através de alterações morfológicas das brânquias de Oreochromis niloticus (tilápia) nos córregos Retiro, Consulta e Bebedouro, município de Bebedouro-SP. Revista Fafibe on-line, Bebedouro, n. 3, 2007.
MAGALHÃES, D. P.; FILHO, A. S. A ecotoxicologia como ferramenta no biomonitoramento de ecossistemas aquáticos. Oecol. Bras, v. 12, n. 3, p. 355–381, 2008.
MASON, C. F. Biology of freshwater pollution. 3. ed. Londres: Longman, 1996.
NILIN, J. Avaliação da qualidade do sedimento do estuário do rio Ceará. Dissertação (Pós-graduação) - Pós-graduação em Engenharia de Pesca. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, p. 107, 2008.
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ZAGATTO, P. A.; BERTOLETTI, E. Ecotoxicologia aquática – Princípios e aplicações. Editora Rima, São Carlos. 464 p., 2006.









 
  
  
  
  
  
  
 