Autores
Freire, E.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; dos Santos, J.C.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Costa, A.S.P.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Barros, E.S.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; da Silva, S.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS) ; Félix, C.S.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ; dos Anjos, J.P. (CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAI CIMATEC) ; Anunciação, D.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS)
Resumo
O Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM) é um dos mais importantes
ecossistemas do Brasil, exercendo um expressivo papel para o ecossistemas e
economia local. No entanto, é nítido que sofre com odesenfreado e mal planejado
processo de urbanização. O objetivo deste trabalho foi monitorar o teor de Hgtotal
presente no sedimento do CELMM ao longo de 2 anos. No período de 2021 a 2022 foram
realizadas três amostragens, em 11 pontos de coleta ao longo da laguna Mundaú. As
amostras de sedimento foram analisadas por DMA-80. A concentração de Hg
quantificado nas amostras de sedimento da primeira coleta variaram de 0,004±0,002
a 0,739±0,049 mg/kg. Na segunda coleta variaram de 0,002±0,002 a 0,373±0,041 mg/kg
e na terceira de 0,003±0,003 a 0,346±0,016 mg/kg.
Palavras chaves
Contaminação; CELMM; Mercúrio
Introdução
O Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM) é um dos mais importantes
ecossistemas do Brasil, exercendo um expressivo papel na manutenção dos
microclimas e ecossistemas, na valorização da paisagem urbana das cidades em que
se encontra, além de constituir-se num potencial para o desenvolvimento da
pesca, recreação e turismo (FREIRE et al., 2021). No entanto, é nítido que sofre
com o desenfreado e mal planejado processo de urbanização, que leva à
eutrofização de seu recurso hídrico devido aos lançamentos de diferentes
efluentes no mesmo, resultando na perda de sua qualidade sanitária e do aspecto
estético de suas paisagens. A avaliação da qualidade de um ecossistema envolve o
monitoramento de metais potencialmente tóxicos como o mercúrio (Hg), um
indicador de contaminação por esgotos domésticos e industriais (NAG; CUMMINS,
2022). Quando o Hg é liberado em ambientes aquáticos, as partículas e biota
podem absorvê-lo através de ciclos biogeoquímicos resultando em efeitos letais
ou subletais no ecossistema. O sedimento é capaz de reter espécies químicas
presentes no ambiente aquático principalmente por meio de adsorção ou
complexação com susbstâncias húmicas presentes no ambiente natural. Por outro
lado, processos físico-químicos e as condições do meio podem disponibilizar
essas espécies químicas à coluna de água e aos organismos do referido habitat
por ressuspensão de sedimentos, reações redox, dessorção, dentre outros (ELSAGH
et al., 2021). O objetivo deste trabalho foi monitorar o teor de Hgtotal
presente no sedimento do CELMM ao longo de 2 anos (2021 e 2022)
Material e métodos
No período de julho de 2021 a março de 2022 foram realizadas três amostragens,
em 11 pontos de coleta ao longo da laguna Mundaú, local do CELMM que possui
maior influência de atividades antrópica pela localização na cidade de Maceió
(DOS SANTOS et al., 2021). Após a amostragem as amostras de sedimento foram
secas a temperatura ambiente, trituradas e peneiradas (com uma peneira de náilon
1,0 mm) e armazenadas a temperatura ambientes.
As amostras de sedimento (100 mg) foram pesadas com em barcos de níquel,
inseridos no DMA-80. No equipamento, as amostras foram submetidas a uma etapa de
secagem (200 °C, 80 s), seguida de decomposição térmica e atomização
eletrotérmica do mercúrio (650 °C, 180 s) com etapa final de resfriamento (100
s).
As principais figuras de mérito consideradas na determinação de mercúrio
empregando o analisador direto de mercúrio (DMA-80) foram: faixa linear (célula
0 = 0,0010 - 3 ng; célula 1 = 3-10 ng; célula 2 = 10-100 ng); regressão linear
(célula 0 = 0,1454 mHg + 0,0024; célula 1 = 0,0445 mHg + 0,0017; célula 2 =
0,00092 mHg + 0,00062); coeficiente de determinação (R2) = 0,9990; 0,9998;
0,9998, respectivamente; LOD = 0,004 ng, LOQ = 0,012 ng.
Resultado e discussão
A concentração de Hgtotal quantificado nas amostras de sedimento da primeira
coleta (07/2021) variou de 0,004 ± 0,002 a 0,739 ± 0,049 mg kg-1. Na segunda
coleta (10/2021), os níveis desse elemento variaram de 0,002 ± 0,002 a 0,373 ±
0,041 mg kg-1. Para as amostras da terceira coleta os níveis de mercúrio
variaram de 0,003 ± 0,003 a 0,346 ± 0,016 mg kg-1. Observando os valores de
Hgtotal quantificados nas amostras das três coletas, verificou-se que para a
maioria das amostras o teor de Hg esteve abaixo do limite máximo permitido para
esse elemento segundo a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
nº 454/2012, cujo nível máximo permitido para Hgtotal em sedimentos ou materiais
dragados de águas salobras de nível 1 é de 0,3 mg kg-1. Nas amostras da primeira
coleta o ponto amostral P7 possuía teor de mercúrio superior ao dobro do
permitido pela resolução (0,739 ± 0,049 mg kg-1). Nas amostras da segunda
coleta, o ponto amostral P7 ainda foi o único que apresentou uma concentração de
Hgtotal acima da concentração máxima permitida pelo resolução do CONAMA, porém o
nível de mercúrio reduziu cerca de 50% (0,373±0,041 mg kg-1), provavelmente
devido à renovação das águas do CELMM causada pelas chuvas e pelo fluxo de água
daquela região que é bastante dinâmico no que tange aos ciclos de renovação da
laguna Mundaú. Na terceira coleta, verificou-se mesmo teor de Hgtotal em relação
à segunda coleta permanecendo ainda acima do limite máximo permitido (0,346 ±
0,016 mg kg-1). No local onde as amostras do ponto P7 foram coletadas existe a
presença do despejo de materiais de dois esgotos o que pode justificar a alta
concentração de mercúrio nos sedimentos desse local, havendo assim uma
interferência antrópica naquela região de amostragem.
Conclusões
De acordo com os resultados obtidos a partir das amostragens realizadas pode-se
inferir que as concentrações de Hgtotal nas amostras de sedimento estavam de
acordo com os limites estabelecidos pela legislação brasileira vigente, exceto o
ponto amostral P7. Para os pontos P6, P8, P10 e P11 nas três coletas os valores de
Hgtotal estiveram próximos ao limite máximo permitido o que pode conferir elevado
risco de exposição crônica à biota local e à população ribeirinha que sobrevive do
extrativismo dessa região tanto pelo consumo da água quanto pela pesca.
Agradecimentos
UFAL / CAPES / CNPQ / LINQA / LUMIAM / IQB / CBQ
Referências
Freire ES, Wanderley ADP, Botero WG, Anunciação DS. J. Braz. Chem. Soc., 32, 3, 2021, 684-693.
Nag R, Cummins E, Ciência do Meio Ambiente Total, 810, 2022, 151168.
Elsagh A, Julilian H, Aslshabestari MG. Marine Pollution Bulletin. 167, 112314, 2021.
CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução No. 357, 13 de maio de 2009.