Autores
de Aguiar, A.P.T. (UERJ) ; Costa, T.F. (UERJ) ; Carvalho, J.B.B. (UERJ) ; Martins, E. (UERJ)
Resumo
As emissões de fontes fixas possuem papel extremamente significativo na questão da
poluição do ar em áreas urbanas. Dessa forma, neste trabalho, foi realizada uma
análise das auto declarações de emissões atmosféricas no Relatório de Atividades
Potencialmente Poluidoras em 2013 e 2018 das empresas localizadas na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. A partir dos dados federais, a pesquisa consiste
na avaliação das empresas, além do refinamento de incoerências. Assim, observou-
se que em 2013 e em 2018 o monóxido de carbono foi o poluente com maior taxa e o
material particulado a menor taxa de emissão. Além disso, devido as diversas
incoerências encontradas, foi possível concluir que os dados não podem ser
considerados confiáveis por falta de validação dessas auto declarações.
Palavras chaves
Fontes Estacionárias; Inventário de Emissão; Emissões Atmosféricas
Introdução
conhecidos por causarem fortes impactos na saúde humana. Em alguns países do
mundo é considerada a segunda maior preocupação ambiental, perdendo somente para
as mudanças climáticas. Este problema ambiental, por ser complexo e envolver
diversas áreas do conhecimento, apresenta variados desafios relacionados à
gestão e mitigação de poluentes nocivos. Esses desafios são ainda mais
enfatizados pelo fato de a qualidade do ar ser decorrente de atividades humanas
e alterações físicas e químicas na atmosférica (EEA, 2016; EEA, 2017).
Como consequência da popularização do assunto, ao longo dos últimos anos, o
interesse
político, midiático e público em questões de qualidade do ar cresceu
significativamente, junto com o apoio público para a criação e implementação de
ações mitigadoras. Dessa forma, o engajamento público em torno dos desafios da
poluição do ar cresceu, incluindo iniciativas empenhadas em apoiar o
monitoramento da qualidade do ar e iniciativas visando a conscientização pública
e mudanças comportamentais (EEA, 2018).
As regiões urbanas são constituídas de diversas fontes de poluição do ar,
fazendo com
que sejam ambientes mais complexos por englobarem diversos poluentes
provenientes da queima de combustíveis fósseis por indústrias e por veículos
automotores (BORGE et al., 2014; COUTO et al., 2018). Os principais poluentes
emitidos diretamente por essas fontes presentes em concentrações significativas
nas regiões urbanas são o monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2),
monóxido de nitrogênio (NO), material particulado (MP) e compostos orgânicos
voláteis (COV) (GIANNOULI et al., 2011; SANTANA et al., 2011). Diversos estudos
indicam que a qualidade do ar nessas regiões é vinculada até certo ponto às
características socioambientais, como o clima, relevo e as atividades econômicas
associadas à região (BRAGA et al., 2005; MILLER, 2007; DAVIS et al., 2008).
Nas principais regiões metropolitanas brasileiras, as emissões atmosféricas por
fontes estacionárias exercem papel fundamental na concentração de poluentes
atmosféricos (KAWASHIMA, 2015). Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro
(RMRJ), por exemplo, as fontes móveis representam 77% do total de emissões da
região e os 23% restantes são provenientes de fontes fixas, sendo os setores
petroquímico, naval, químico, alimentício e de transformação de energia os que
mais contribuem com as emissões da área (INEA, 2016). Para que sejam concebidas
e estabelecidas estratégias e políticas para mitigar as emissões atmosféricas e
os seus efeitos adversos é necessário conhecer as características dos poluentes
atmosféricos e sua dinâmica em ambientes urbanos, sendo a identificação das
fontes e as quantificações das taxas de emissões de poluentes uma das etapas
principais desse processo (GONZÁLEZ et al., 2017). Dessa forma, o presente
trabalho visa analisar as emissões atmosféricas declaradas no Relatório de
Atividades Potencialmente Poluidoras (RAPP) por empresas poluidoras da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro.
Material e métodos
COMPILAÇÃO DOS DADOS DE EMISSÕES DE POLUENTES DE 2013 E 2018.
A base para a execução da Etapa 1 foi o Relatório Anual de Atividade
Potencialmente
Poluidoras (RAPP). A área de estudo do trabalho escolhida foi a RMRJ. A
justificativa para a escolha dos anos foi que o ano de 2013 é o ano base do
Inventário de Fontes Móveis do RMRJ e o de 2018 ser o ano com dados mais
completos. Para o presente estudo, as empresas com plataformas e unidades
flutuante de armazenamento e transferência (FPSOs) de exploração e gás de
petróleo que se encontram offshore foram desconsideradas. Para que seja possível
fazer uma análise mais detalhada, a RMRJ foi separada em sub-regiões de estudo.
Para isso, a divisão foi baseada na segregação feita pela FIRJAN. Dessa forma, a
região foi dividida em cinco sub-regiões de estudo: 1- Região Serrana:
Petrópolis; 2- Baixada I: Itaguaí, Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu,
Paracambi, Queimados e Seropédica; 3- Baixada II: Belford Roxo, Duque de Caxias,
Guapimirim, Magé e São João de Meriti; 4- Leste Fluminense: Itaboraí, Maricá,
Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Tanguá e Cachoeiras de Macacu; 5- Capital: Rio
de Janeiro.
Os dados obtidos foram avaliados em busca de inconsistências em metodologias e
estimativas e dividido em subseções:
a) Avaliação dos dados brutos de emissões.
Nessa primeira sub divisão os resultados apresentados são relativos à avaliação
dos dados de emissões exatamente como foram declarados.
b) Ajuste das inconsistências observadas e metodologias de estimativa de
emissão.
A segunda, inicialmente, consiste no refinamento dos dados brutos a partir das
incoerências. Para isso, os dados brutos das cinco principais empresas foram
comparados com o que foi declarado pela mesma empresa em outros anos. Os dados
inconsistentes foram substituídos por dados reportados pela empresa no ano
seguinte. Entretanto, se o empreendimento só tivesse dado reportado para o
referente ano de estudo e este apresentasse inconsistência, as emissões eram
desconsideradas. Nessa etapa ocorreu tentativas de contato via e-mail com
algumas empresas. No mesmo tópico também é apresentado as metodologias
escolhidas pelas empresas para estimarem suas emissões.
c) Avaliação dos dados consolidados.
A última parte da primeira etapa consiste na avaliação das emissões atmosféricas
consolidadas totais, por tipologia e área, comparando a performance de um ano
para outro baseado nos dados já refinados, isto é, mais coerente com a
realidade.
Resultado e discussão
Em 2013, pouco mais de 50% das empresas estavam localizadas no Rio de Janeiro e
esse percentual se manteve praticamente igual cinco anos depois, em 2018. A
região da Baixada possuía aproximadamente 36,8% das empresas com cadastro no
CTF/APP para o ano de 2013. No ano de 2018, 35,7% das empresas estavam
localizadas na Baixada. As empresas com localização em outras regiões da RMRJ
representam 12,6% e 13,9% para 2013 e 2018, respectivamente. Nota-se que houve
um pequeno aumento de empresas localizadas em outras áreas da RMRJ, excluindo a
capital e a baixada, ou seja, novas fontes de poluição atmosféricas foram
instaladas em outros pontos da região de estudo. É possível notar que em ambos
os anos existe uma concentração maior de empresas na região de Duque de Caxias e
do Rio de Janeiro. Além disso, conforme apresentado na Tabela 1 é possível notar
o aumento do número de empresas de 2013 para 2018.
Compilação dos dados de emissões e avaliação de possíveis inconsistências.
a) Avaliação dos dados brutos de emissões e incoerências encontradas.
A Tabela 2 apresenta os totais brutos das emissões reportadas pelas empresas e
disponíveis para consulta pelo IBAMA para as fontes fixas consideradas nesse
trabalho.
Em 2013, considerando os dados brutos, o NOx, representou 72% do total de
emissões do ano, sendo o poluente mais emitido na região. O poluente com menor
emissão nesse ano foi o MP, representando 9% do total de emissões de 2013. Já em
2018, o poluente com maior emissão foi o MP, representando 98% do total de
emissões do ano e o menor foi o SOx, totalizando menos de 1% da emissão de
poluentes totais, devido à inconsistência nos valores de emissões de MP
reportados.
Ainda de acordo com os dados da Tabela 3, a emissão de CO apresentou um aumento
de 5% de 2013 para 2018. Já a emissão de SOx e NOx, de acordo com os dados
brutos, teriam sofrido um decréscimo de 75% e 93%, respectivamente. A quantidade
de MP sofreu um aumento de mais de 1000% do valor de 2013, de acordo com as auto
declarações de emissões. Ainda analisando a Tabela 3 é possível notar que o
valor de material particulado emitido em 2018 apresenta inconsistência. Em 2013,
considerando os dados brutos, a Indústria de Papel e Celulose foi responsável
por emitir maior quantidade de poluentes totais, sendo ainda a que emite maior
quantidade de NOx. A Indústria Metalúrgica foi a segunda categoria a emitir
maior quantidade de poluentes totais, sendo responsável pela maior emissão de CO
e SOx do ano.
Conforme Gráfico 1(a), para o ano de 2013, a Indústria Química representava 35%
do total de empresas da região, logo era esperado que ela tivesse uma
participação mais significativa nas emissões industriais da região. Conforme
Tabela 2, no ano de 2013 três empresas estão englobadas na categoria Indústria
de Papel e Celulose na região de estudo, sendo que o alto valor de emissão de
NOx é declarado por exclusivamente uma. A emissão de NOx pela Indústria de Papel
e Celulose de acordo com os dados brutos representam 98% da emissão total de NOx
no período. Entretanto, categorias sabidamente conhecidas por emitirem
quantidades significativas de NOx como a Indústria Química, Serviços de
Utilidade e a Indústria Metalúrgica, totalizando 46 empresas em 2013, juntas
representam menos de 2% do total. De acordo com a Tabela 4, para o ano de 2013,
a categoria de Obras civis – não relacionadas no Anexo VIII da Lei nº 6.938/1981
emitiu mais de 30 mil toneladas de CO. Considerando a tabela 2, o valor de
emissão de CO dessa categoria vem de uma única obra de um empreendimento.
Analisando que a emissão de CO está relacionada a combustão incompleta de
combustíveis e que o empreendimento está localizado em uma área nobre do Rio de
Janeiro, não existe indicativos que uma única obra de infraestrutura possa
emitir quantidade tão alta. Em relação ao ano de 2018, descrito na Tabela 5, a
Indústria de Produtos Minerais não Metálicos é a categoria responsável pela
maior emissão, já que foi declarado um valor extremamente alto de emissão de MP.
A emissão de mais de 14 milhões de toneladas por um único empreendimento não é
coerente, Indústrias de Produtos Minerais não metálicos representa 99% das
emissões, todas as outras 120 empresas, incluindo a Indústria Metalúrgica
conhecida por altas emissões de MP, representam menos de 1% das emissões em
2018.
As emissões de CO e NOx da Indústria Têxtil, em 2018, também demostram não serem
coerentes. Para o mesmo ano, somente uma empresa estava enquadrada como
Indústria Têxtil, onde essa foi responsável por 13% das emissões de CO e 73% de
NOx na região, sendo mais representativo do que as emissões de CO e NOx da
Indústria Química e Serviços de Utilidades juntas. Ao comparar as Tabelas 4 e 5,
chama a atenção o decréscimo de 55% que as emissões totais da Indústria
Metalúrgica teriam sofrido.
b) Ajuste das inconsistências observadas e metodologias de estimativa de
emissão.
A Tabela 6 apresenta a quantidade de empresas por categoria que tiveram seus
dados alterados por apresentarem valores que resultavam nas inconsistências
apresentadas na etapa anterior. Em 2013 foram substituídos os dados de duas
empresas de Indústria de Papel e Celulose pelos valores reportados para o ano de
2014. A alta emissão da Indústria Metalúrgica fez com que fossem observadas
inconsistências nos valores apresentados pela empresa, já que eram muito
discrepantes dos reportados nos anos anteriores, dessa forma foi alterado os
dados reportados por uma empresa da Indústria Metalúrgica pelo valor reportado
para o ano de 2014. A quantidade de MP emitida pela Indústria de Produtos
Minerais e Não Metálicos em uma mesma região também chamou atenção, ao comparar
os dados da empresa reportados em outros anos. Dessa forma, o dado também foi
alterado pelos valores de emissão reportados para o ano de 2014. Por fim, para o
ano de 2013, conforme dito na etapa anterior, a quantidade de CO emitido por uma
única obra foi muito alta. Como a obra responsável por reportar a grande
quantidade de emissão de CO não tinha reportado valor para mais nenhum ano,
esses dados foram desconsiderados.
Em 2018, somente duas empresas demonstraram grandes inconsistências e tiveram
seus dados substituídos por valores reportados em outros anos. A primeira
empresa de Indústria de Produtos Minerais Não Metálicos, responsável por
reportar mais de 14 milhões de MP, ao Comparar os valores reportados em 2018 com
os reportados em outros anos, foi possível notar que o valor reportado,
possivelmente, estava errado. Assim, como a empresa ainda não tinha reportado
dados para 2019, os valores foram substituídos pelo reportado em 2017. Além
disso, os valores incoerentes reportados pela Indústria Têxtil, de Vestuário,
Calçados e Artefatos de Tecidos no ano de 2018, fizeram com que os dados das
empresas dessa categoria fossem revisados. Dessa forma, os valores reportados em
2018 foram substituídos pelo valor reportado para 2019. A metodologia escolhida
pelas empresas para quantificar suas emissões podem ter contribuído para as
inconsistências encontradas nos dados reportados. Os Gráficos 2(a) e 2(b)
apresentam as metodologias utilizadas para a quantificação das emissões
atmosféricas para o RAPP. Nos dois anos de estudos, mais de 50% das emissões
foram estimadas. Em 2013, 57% do total de empresas estimaram suas emissões,
enquanto 25% e 18%, respectivamente, optaram por medir e calcular suas emissões.
Analogamente, em 2018, houve um crescimento no percentual de empresas que
estimaram suas emissões, alcançando 65% das empresas. Os valores medidos
representam 22% e os calculados sofreram um decréscimo em relação a 2018
alcançando 13%.
Conclusões
No ano de 2013 e 2018 foram identificadas 95 e 143 empresas, respectivamente,
com cadastro ativo no CTF/APP do IBAMA. De maneira geral, em cinco anos, a
quantidade de empresas poluidoras cresceu 51% na região de estudo, o que explica
o aumento de emissões atmosféricas comparando os anos de estudo do trabalho. Em
termos quantitativos, nos anos de 2013 e 2018, foram emitidas aproximadamente
173 mil e 181 mil toneladas de poluentes, respectivamente, sendo o monóxido de
carbono o poluente com maior taxa de emissão em ambos os anos. Em contrapartida,
o material particulado apresentou a menor emissão nos mesmos anos. A emissão de
óxidos de enxofre em 2013 foi aproximadamente 26.900 toneladas por ano, enquanto
em 2018 foi aproximadamente 37.000 toneladas. Já a taxa de emissão de óxidos de
nitrogênio foi aproximadamente, 23.710 e 17.820 toneladas por ano,
respectivamente. Observa-se que o aumento das emissões atmosféricas não foi tão
significativo se considerarmos o aumento de empresas na região. Entretanto, o
pequeno aumento das emissões da região em cinco anos pode ser explicado pela
utilização de novas tecnologias nas chaminés e caldeiras e por possíveis
aprimoramentos dos sistemas de produção das empresas, já que, nos últimos anos,
várias empresas adotaram a cultura de uma produção mais sustentável. A RMRJ
possui algumas áreas com grande concentração de emissões de poluentes
atmosféricos, como por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro, que em ambos os anos
foi a região com maior emissão de poluentes totais. Outro destaque é a área de
Duque de Caxias, área abrangida pela região da Baixada II, que em ambos os anos
foi a segunda área com maior emissão de poluentes. A Indústria Química e a
Indústria Metalúrgica são as principais atividades responsáveis pela poluição
atmosférica da região em ambos os anos de estudo, emitindo, respectivamente, em
2013, 24.977 e 128.458 toneladas de poluente, já em 2018, 31.746 e 132.696
toneladas de poluentes.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
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