• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

ERVA-MATE COMO BIOSSORVENTE NA REMOÇÃO DE CHUMBO DE SOLUÇÕES AQUOSAS

Autores

Ribas, B.V. (INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ) ; Borges, A.R. (INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ) ; Giusti, E.D. (INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ)

Resumo

A alta necessidade de medidas que melhorem a qualidade da água tem sido buscada atualmente, visando essa melhoria a biossorção utilizando de erva-mate como biossorventes pode ser empregada na descontaminação de chumbo em águas. Entre seus benefícios estão, a redução de gastos com técnicas tradicionais de descontaminação, a sua utilização e sua eficiência em remoção de metais pesados em baixas concentrações, baixa geração de resíduos e possibilidade de reutilização do biossorventes. Nesse sentido, a biossorção consiste na adsorção de metais pesados por meio da utilização de resíduos como adsorventes, ou seja, a utilização de materiais abundantes na natureza e que não requerem nenhum tratamento para seu uso.

Palavras chaves

BIOSSORÇÃO ; ERVA-MATE ; CHUMBO

Introdução

A água é um recurso natural abundante no planeta, essencial para a existência e sobrevivência das diferentes formas de vida. Os impactos ambientais que possam causar dano a esse recurso natural afetam todos os seres vivos (BRUNI, p. 53-65, 1993). Os metais são encontrados na natureza e muitos são essenciais a vida humana. Entretanto, em elevadas concentrações são tóxicos aos seres vivos e ao meio aquático, pois podem bioacumular na cadeia alimentar, com persistência no meio ambiente, já que quando dispostos de maneira inadequada contaminam a água (LIANG et al., 2017; PASCALICCHIO, p. 13, 2000). Efluentes domésticos e industriais, substâncias químicas de pesticidas e fungicidas, utilizados principalmente na agricultura, e rejeitos da mineração são grandes fontes de metais para o sistema aquático (PYLE et al. 2005). Dentre os metais potencialmente tóxicos está o chumbo, o qual pode ser encontrado na água potável através da corrosão de encanamentos, o chumbo é um dos metais mais utilizados industrialmente, pois o mesmo tem uma maleabilidade e uma maior resistência à corrosão. O chumbo tem sido estudado intensamente devido os seus danos nocivos à fauna, flora, contaminação de águas superficiais e subterrâneas, reservatórios de abastecimento de cidades, solos e à saúde dos seres humanos (ANDRADE, 2001). Segundo PASSAGLI (2011, p. 318), a exposição ao chumbo pode causar irritação, dor de cabeça, perda de memória, entre outros sintomas graves, quando a uma exposição crônica sobre o sistema nervoso. Quando o efeito ocorre no sistema periférico, o sintoma é a deficiência dos músculos. Para a recuperação de águas contaminadas são utilizados vários tratamentos convencionais como a Coagulação, Floculação, Decantação, e Filtração para a Clarificação da água, seguida da Correção do pH, Desinfecção e Fluoretação (BOTERO, 2009). Porém, ocorrem algumas desvantagens como os custos de operação devido as falhas que se podem ocorrer durante o processo, a manutenção da energia necessária e dos reagentes químicos para operar o sistema (ACHON, 2008). Porém, uma alternativa eficiente e economicamente viável para a remoção de metais potencialmente tóxicos do meio ambiente ocorre pela biossorção, a qual é baseada na capacidade que alguns sólidos possuem de remover substâncias solúveis, ou seja, a capacidade de ligação entre o metal e o adsorvente, que pode ser bactérias, argila bentonita, o carvão ativado, a sílica, materiais lignocelulósicos (DA SILVA, et al., p. 138, 2014). Nesse sentido, o processo de biossorção apresenta algumas vantagens como: alta eficiência removendo metais, baixo custo do biosorvente, possibilidade de recuperação do metal extraído, também flexibilidade de variáveis operacionais como de pH, pressão e temperatura (GUPTA e RASTOGI, 2008). A parede celular é um importante responsável pela biossorção, uma vez que os grupos funcionais localizados nas paredes dos biossorventes possuem grande afinidade pela sorção de metais. O processo de biossorção de metais ocorre através de complexação, coordenação, adsorção física, formação de quelatos, troca iônica, precipitação inorgânica e/ou combinação destes processos (VOLESKY, 2007; ABDEL-GHANI, 2014). A erva-mate é composta de lignina e celulose como constituintes principais. Esses componentes são avaliados em diversos estudos por apresentarem grupos funcionais com propriedades para atuarem nos mecanismos presentes na biossorção(DAHLEM, et al, 2019). A erva-mate é uma árvore nativa da América do Sul, encontrada no Sudoeste do Paraguai, Norte da Argentina e nos estados do Sul do Brasil (Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) (GERHARDT, 2006, p. 17). Em 1820 o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, coletou exemplares da planta nas proximidades de Curitiba e classificou o mate, como Ilex paraguariensis St. Hill da família Aquifoliaceae (KOOP, 2014, p. 18). O Brasil é o principal produtor de erva-mate do mundo, com 880 mil toneladas produzidas no ano de 2019, seguido pela Argentina com 837 mil toneladas e o Paraguai com uma produção de 171 mil toneladas (DERAL, 2020 p. 01). Aproximadamente, 80% da produção brasileira de erva-mate destinam-se ao mercado interno, em que 96% são consumidas como chimarrão e 4% na forma de chás e outros usos (EMBRAPA, 2017). Tendo em vista tais fatos, este trabalho tem como objetivo, avaliar o potencial da erva-mate de chimarrão comercializada e da erva-mate após o uso para uso como biossorvente de chumbo em águas, visando assim a economia de recursos com a utilização de material renovável e contribuindo assim com uma metodologia mais sustentável.

Material e métodos

PREPARAÇÃO DA BIOMASSA E DA SOLUÇÃO DE CHUMBO A erva-mate como biossorvente foi investigada de duas maneiras: comercial e após o preparo do chimarrão. A erva-mate comercial foi seca em estufa a 90 °C por 1 hora, enquanto a erva-mate após o uso foi seca por 2 horas a 100 °C em estufa. Os materiais foram triturados em moinho de facas e peneirados em peneiras de poliéster de 354 µm. PONTO DE CARGA ZERO A fim de determinar o pH o ponto de carga zero (PCZ) é o valor em que a adsorção de íons (H+ e OH-) é igual, onde ocorre o cruzamento entre as diferentes curvas eletrolíticas (PÉREZ, et al, p. 249, 2017). O ponto de carga zero é importante porque permite prever a carga na superfície do adsorvente em função do seu pH e, desta forma, avaliar porque dependendo do pH da solução a adsorção ocorre de maneira mais eficiente do que em outro (DA SILVA, et al, 2010). A determinação do ponto de carga zero do biossorvente é um índice conveniente da tendência de uma superfície se tornar positiva ou negativamente carregada em função do pH. Para esta determinação, foram utilizadas 11 soluções com os seguintes pH: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11 e 12 preparadas com solução de NaOH ou HCl 0,1 mol L-1. Foram adicionados 50 mg de biossorvente em 50mL de cada solução, o sistema foi mantido sob agitação a temperatura ambiente durante 24 horas. Após este período, os valores do pH final foram novamente verificados. ESTUDO DO TEMPO DE CONTATO A fim de investigar o melhor tempo para o processo de biossorção, 50 mg de cada biomassa foi adicionada à 50 mL de solução de 2 mg L-1 de zinco. Os sistemas permaneceram sob agitação a pH 8 nos tempos de: 30 min, 1 hora, 3 horas, 6 horas, 9 horas, 12 horas e 24 horas. Após cada tempo, a solução foi filtrada a vácuo e a determinação de zinco foi realizada na Central de Análises da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Pato Branco por Espectrometria de Absorção Atômica de Chama (PinAAcle 900T, Perkin Elmer). Para a eficiência de remoção do íon metálico da solução aquosa, foi utilizado a seguinte Equação: Remoção (%)=(C_o-C_e)/(C_o ) em que: C0: concentração inicial (mg L-1); Ce: concentração no equilíbrio (mg L-1).

Resultado e discussão

PONTO DE CARGA ZERO (PZC) A determinação do ponto de carga zero do biossorvente é um índice que uma superfície tem de se tornar positiva ou negativamente carregada em função do seu pH. Para os valores de pH inferiores ao pH do PZC, a carga superficial é positiva o que favorece a adsorção e para valores de pH superiores ao pH do PZC, a carga superficial é negativa e a adsorção de cátions é favorecida (ELLIOTT; HUANG, 1981). O ponto de carga zero corresponde que o pH se mantém constante, depois do sistema ter atingido o equilíbrio. O valor do pH da solução é um dos fatores que mais afeta a sorção de metais pesados. A sorção aumenta com o aumento do valor de pH, devido ao aumento da densidade de carga negativa na solução, gerando sítios ativos para interação como metal pesado. Além de mudar o estado dos sítios da ligação metálica, valores extremos de pH, como os usados na regeneração (dessorção), podem danificar a estrutura do material biossorvente (KUYUCAK et al, p. 809-814, 1989). O ponto de carga zero relativo à erva-mate comercial e a erva-mate após o uso encontra-se no gráfico 1. A partir desses dados foi possível calcular o ponto de carga zero, nesse caso foi 7,1 para a erva-mate comercial e 6,2 para a erva-mate após o uso dp chimarrão. Quando um material sólido entrar em contato com uma solução líquida com pH abaixo do PCZ, a superfície é carregada positivamente e muitos ânions são adsorvidos para balancear as cargas positivas. Assim, os adsorventes são mais eficazes para a remoção, por exemplo, de materiais aniônicos (RIBEIRO et al., 2011). Portanto, para este estudo foi escolhido o pH 8 para o seguimento dos estudos. O valor de pH foi elevado para 8 a fim de possibilitar uma melhor desprotonação, deixando a superfície negativamente carregada, o que favorece a interação eletrostática. TEMPO DE CONTATO Para avaliar a capacidade de remoção de chumbo quando em contato com as biomassas de erva-mate, foram realizados testes em cinco diferentes tempos com a solução padrão de Pb (NO3)2. O gráfico 2 mostra os resultados obtidos nas análises de chumbo das soluções iniciais, tratadas com as biomassas de erva-mate. Assim, observou-se a ótima eficiência na remoção de chumbo pela biomassa de erva-mate comercial, chegando a uma média de 83%. A média de remoção para a biomassa da erva-mate após o uso foi de 84%. Observa-se que à medida que a solução vai ficando mais tempo em contato com a biomassa a quantidade de chumbo adsorvido diminui isso acontece porque indicam a saturação dos poros o que independem de os mesmos removerem os íons de cobre na solução. Além disso, um tempo menor visa a diminuição do custo energético referentes ao processo de agitação da mistura. Os valores obtidos foram próximos ao de MEUER e VARGAS (2019) que obteve remoção de 88,6% e 85,1% de chumbo ao se utilizar a biomassa de erva-mate. Nesse estudo foram feitas duas biomassas de erva-mate, uma ativada com ZnCl2 e outra não, assim segundo MEUER e VARGAS a biossorção feita com a erva-mate sem ser ativada obteve-se melhor desempenho. Também foram muito próximos ao MONTEIRO et al, (2012), que chegaram a uma remoção de 90% de chumbo ao testarem adsorção com palha de côco.

Ponto de carga zero dos biossorventes de erva mate comercial e após o

Gráfico 1- Ponto de carga zero dos biossorventes de erva mate comercial e após o uso no chimarrão

Concentrações e percentuais de remoção do chumbo

Gráfico 2- Concentrações de remoção do chumbo Figura 1- Percentuais de remoção do chumbo

Conclusões

Este artigo apresentou os dados relativos à remoção de metais da água a partir do método de adsorção com biomassa, que foi obtido do resíduo de erva-mate proveniente de chimarrão consumido e de erva-mate comercial. Verificou-se ser este um método eficiente e alternativo para a remoção de chumbo da água. Em relação aos ensaios de absorção, pode-se concluir que a capacidade de adsorção depende do pH inicial da solução e do tempo de contato, onde pode-se observar que a erva-mate é capaz de realizar a biossorção de metais, com uma porcentagem de 83% para a erva-mate comercial e 84% para a erva-mate após o uso no chimarrão. Os resultados apresentados nesse estudo demonstraram que a biomassa de erva-mate pode ser utilizada para a adsorção de íons chumbo como uma alternativa eficiente a fim de, evitar a contaminação dos corpos d’água, o qual consiste em um método barato diante de outras técnicas empregadas.

Agradecimentos

Auxílio PIAP IFPR 2021

Referências

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