Autores
Albuquerque, S.D. (INPA) ; Lages, A.S. (INPA) ; Silva, M.L. (INPA) ; Marques, S.M. (INPA) ; Ferreira, P.R.G. (INPA) ; Monte, M.J.M. (INPA) ; Abreu, A.C. (INPA) ; Matias, A.C.C. (INPA) ; Bolson, M.A. (INPA)
Resumo
Na região Amazônica tem uma alta disponibilidade de água, tanto superficial quanto
subterrânea e nela está situado o Aquífero Alter do Chão. A contaminação dos
aquíferos tem sido um grave problema na gestão das águas subterrâneas, porque são
apontados como fontes estratégicas para a sociedade, logo este trabalho tem como
objetivo fazer estudos, através da composição química, para avaliar um sistema de
recarga artificial do aquífero Alter do Chão. As análises foram feitas utilizando
a Cromatografia de Íons. As amostras recebidas do Sistema de Recarga Artificial
implantado no aquífero estudado demonstraram que a composição química das águas
traz os íons cálcio, sódio e sulfato como os mais representativos e os não
representam as condições das águas dele.
Palavras chaves
Recarga Artificial; Aquífero Alter do Chao; Bacia do Educandos
Introdução
A Região Amazônica tem uma alta disponibilidade de água, tanto superficial
quanto subterrânea. Pode-se presumir que o abastecimento de água nessa região é
uma problemática, e o recurso hídrico é abundante o suficiente para que não haja
preocupação quanto ao assunto. Porém, essa não é a realidade, apesar do grande
volume de água superficial, frequentemente, esta é inadequada para o consumo
humano, por efeito da poluição e contaminação (AZEVEDO, 2006).
O Aquífero Alter do Chão representado pela Formação Alter do Chão se estende nas
Bacias Sedimentares do Solimões e do Amazonas. Geologicamente os limites da
Bacia do Amazonas (CUNHA et al, 2007), situados entre os crátons das Guianas ao
norte e do Brasil ao sul, com área de aproximadamente 500.000km2, abrange os
Estados do Amazonas e Pará, é classificado como aquífero poroso muito produtivo,
livre a semiconfinado na porção aflorante e confinado na porção centro-oeste de
Manaus. (GONÇALES, 2014).
Segundo Gómez et al. (2010), o conhecimento da recarga das águas subterrâneas é
necessário na resolução de questões relacionadas à qualidade das águas, ecologia
e bem-estar humano e ambiental, além do fluxo subterrâneo e transporte de
contaminantes.
A recarga é definida como o fluxo descendente de água que atravessa o nível
freático e atinge a zona saturada, acrescentando água ao armazenamento
subterrâneo (DOBLE & CROSBIE, 2016). É importante fazer estudos de recarga,
visto que constituem ferramentas essenciais para conhecer a área de uma
determinada massa de água subterrânea e garantir a gestão sustentável. Sendo
assim, este trabalho tem o objetivo de caracterizar a composição química das
águas do sistema de recarga do aquífero Alter Do Chão, em Manaus-AM, no sentido
de possibilitar melhor gestão dos recursos hídricos da região.
Material e métodos
A área de estudo está localizada na Reserva Florestal Adolpho Ducke, na cidade
de Manaus, capital do estado do Amazonas, onde foram feitas 6 coletas em 2
meses. As amostras foram levadas até o laboratório de Química Ambiental do INPA.
Por conta da dificuldade da coleta nos extratores, o volume coletado foi
consideravelmente baixo(15mL), assim impossibilitando fazer análise de pH e
bicarbonato
No laboratório, as amostras foram filtradas em filtros de 0,45 µm para remoção
de partículas sólidas, e preparadas para as análises dos íons Fluoreto (F),
Cloreto (Cl), Nitrato (N-NO3), Nitrito (N-NO2), Nitrogênio Amoniacal (N-NH3),
Sulfato (SO4), Sódio (Na), Potássio (K), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg), em um
cromatógrafo de íons Thermo Scientific™ Dionex™ Aquion™ IC, a fim de
caracterizar as amostras. Como eluente na coluna de troca catiônica foi
utilizado ácido metanossulfônico 20mM e para a coluna de troca aniônica
carbonato (4,5 mM)/bicarbonato (1,4 mM) de sódio, ambos os eluentes para 2 L de
solução.
Resultado e discussão
Os resultados mostram que ocorre uma prevalência dos íons sódio, cálcio e
sulfato entre o conjunto de amostras, conforme figura 2. Em algumas amostras, o
cálcio é o íon mais representativo, mas sempre trazendo sódio e sulfato em
seguida.
Os valores de sulfato observados nessas águas não são normais para a região. Na
linha vermelha apresentada na figura 2A, há o limite de sulfato para águas
subterrâneas (3,00 mg L-1), conforme vários autores que já trabalharam no
aquífero Alter do Chão. Na figura 2B, se percebeu uma mudança, com predomínio do
íon sódio em relação ao íon cálcio, seguido pelo íon sulfato. No entanto, na
primeira avaliação, conforme figura 2C, se observou uma redução nos teores de
cálcio.
Não foi possível medir o pH e tampouco realizar a análise de alcalinidade –
expressa em termos de bicarbonato. O bicabornato tende a ser o ânion mais
abundante em águas continentais, seguido pelo cloreto. Como não foi possível
determiná-lo, o íon bicarbonato e os teores de cloreto são muito baixos, buscou-
se determinar o balanço de cargas para identificar a influência do sulfato nas
cargas dessas águas.
O balanço de cargas pode ser visto na figura 2D, onde mostrara predomínio das
cargas positivas (Na+, K+, Mg2+, Ca2+) sobre as cargas negativas (Cl-, NO3-,
PO43-, SO42-), em uma diferença maior que o dobro em todas as medidas. Em
ambientes naturais essa diferença não pode ser superior a 5%. Os resultados
expressos não representam as condições das águas da Formação Alter do Chão, em
que há predomínio de cargas negativas em decorrência dos ácidos orgânicos
oriundos da matéria orgânica da floresta.
A) prevalência de sódio, cálcio e sulfato; B) predomínio dos íons sódio, cálcio e sulfato; C) predomínio de sódio e sulfato e D) Balanço de cargas
Conclusões
No conjunto de amostras recebidas do Sistema de Recarga Artificial implantado no
Aquífero Alter do Chão demonstrou que a composição química das águas traz os íons
cálcio, sódio e sulfato como os mais representativos. Entretanto, o íon sulfato
não é o ânion mais representativo nesse conjunto de amostras, dado o pouco peso
que ele trouxe para o conjunto de todas as cargas negativas. Em verdade, esses
valores de sulfato podem ser resultantes da lixiviação provocada pelas chuvas e
pela proximidade do experimento de injeção com a matéria orgânica presente no solo
da Reserva Ducke.
Agradecimentos
Agradecemos a equipe IETÉ pelo suporte e logística. Este trabalho é resultado de
projeto de PD&I realizado a partir da parceria INPA/SAMSUNG, com recursos
previstos na Lei nº 8.387 de acordo com o artigo 39 do decreto 10.521/2020
Referências
AZEVEDO, R. P. Uso de água subterrânea em sistema de abastecimento público de comunidades na várzea da Amazônia central. Acta Amazonica, 36(3), 313-320. 2006.
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GÓMEZ, A. A.; RODRÍGUEZ, L. B.; VIVES, L. S. The Guarani Aquifer System: estimation of recharge along the Uruguay–Brazil border. Hydrogeology Journal, n. 18, p.1667–1684, 2010.
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