• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

O ESTADO DA ARTE DA MODELAGEM DE OZÔNIO TROPOSFÉRICO UTILIZANDO COMMUNITY MULTI-SCALE AIR QUALITY MODEL (CMAQ)

Autores

Costa, T.F. (UERJ) ; Carvalho, J.B.B. (UERJ) ; Pedruzzi, R. (UFMG) ; Martins, E. (UERJ)

Resumo

O ozônio é um poluente secundário e seu estudo é necessário na tomada de decisão regulatória e de intervenção. O Community Multi Scale Air quality (CMAQ) é um modelo para a previsão das concentrações deste poluente. Este artigo faz uma revisão bibliográfica e reúne publicações entre 2016-2021 mostrando as configurações mais utilizadas. A busca foi feita nas bases de dados Scopus e Web of Science e os artigos filtrados de acordo com ano da publicação, poluente alvo da modelagem, modelo meteorológicos, condições iniciais e de contorno, mecanismo químico e resolução de grade. Conclui-se que o arranjo de configurações foi mais aplicado em uma escala regional, mais pesquisado na China e nos Estados Unidos e com maior destaque em estudos de mecanismos de influência na simulação do ozônio.

Palavras chaves

Modelos fotoquímicos; Modelagem do ozônio; Revisão

Introdução

A formação do ozônio na superfície terrestre se dá por uma infinidade de reações complexas envolvendo diversas espécies precursoras e a radiação solar. Esse complexo mecanismo envolve diversas fontes de poluentes primários e processos meteorológicos que funcionam de maneira intrínseca e devem ser estudados como um todo para a mitigação desse gás(KARLSSON et al., 2017). Controlar a formação do ozônio na troposfera necessita de um estudo aprofundado da dinâmica de seus processos e dos precursores. É preciso então, uma ferramenta que seja capaz de não só determinar suas concentrações, mas também interligar quais processos irão levar a isso e de que forma. Isso pode ser alcançado utilizando modelos computacionais para simular as diversas condições do mundo real em diferentes cenários e locais(KWOK et al., 2015; LUECKEN et al., 2018). Os modelos computacionais da qualidade do ar são utilizados para determinar parâmetros físicos e químicos e como ambos se interrelacionam no ar das cidades. Eles servem como base de estudos científicos, projeção para cenários futuros, cenários de intervenção, assim como para nortear políticas ambientais e projeção de leis para melhorar a qualidade do ar de cidades e países(SHI, CHUNE; FERNANDO; HYDE, 2012). O modelo fotoquímico de 3ª geração (CMAQ) foi criado com a finalidade de modelar interações complexas na atmosfera, desde a formação do ozônio e diversos poluentes traço, deposição ácida até materiais particulados. A agência ambiental norte-americana (USEPA) o desenvolveu em 1990 com a finalidade regulatória, bem como para a realização de estudos das complexas relações da atmosfera. Sua modelagem é tridimensional sendo capaz de simular ozônio troposférico, material aerossóis secundários, visibilidade, acidificação, poluentes tóxicos, multiplicação dos poluentes na atmosfera e mercúrio. Os poluentes são resolvidos matematicamente de forma transiente, tridimensional e acoplada(BYUN; SCHERE, 2006). Portanto, objetiva-se com o trabalho apresentar e descrever as configurações mais usadas na modelagem do ozônio troposférico, utilizando o modelo CMAQ.

Material e métodos

Esta pesquisa exploratória é uma investigação metodológica do estado da arte da modelagem de ozônio troposférico, utilizando o modelo CMAQ. A reunião de literatura foi realizada em duas bases de dados: SCOPUS e WEB OF SCIENCE, considerando-se o período de 2016 a 2021.As strings de busca utilizadas foram: “( TITLE-ABS-KEY ( cmaq ) AND TITLE-ABS-KEY ( ozone ) ) AND PUBYEAR > 2015 AND PUBYEAR < 2022)” e “CMAQ (Todos os campos) AND ozone (Todos os campos)” , para o SCOPUS e WEB OF SCIENCE, respectivamente. Após isso os artigos foram selecionados utilizando como critério: o CMAQ sendo o modelo do estudo; o ozônio sendo o poluente modelado; estudos estatísticos envolvendo o CMAQ como modelo e o ozônio como poluente modelado e; outros artigos que realizassem estudos sobre fatores que influenciavam a modelagem do ozônio no modelo. Como critérios de exclusão: comparação entre modelos; artigos descritores de atualizações do modelo; artigos de validação de novos aprimoramento;, artigos que não utilizavam o CMAQ para modelar ozônio; artigos que não tinham ozônio como um dos poluentes simulados e; estudos secundários. Após essa fase mais um critério para fins de riqueza de dados foi adicionado. Os artigos aprovados na etapa anterior deveriam descrever todos os dados pedidos, sendo permitida a ausência de apenas três dados caso contrário o artigo era rejeitado. Os dados pedidos eram: modelo meteorológico, resolução de grade, mecanismo químico, condições inicias e de contorno. As publicações então foram fichadas selecionando quais configurações cada artigo utiliza, o país onde a simulação foi realizada e o tema do estudo. Para cada um desses tópicos foi calculada a porcentagem de uso das configurações em relação ao número total de publicações (n=148) seguindo a equação 1. Os diferentes arranjos mencionados então foram segregados de acordo com as maiores porcentagens de menção e transformados em gráficos. Por fim o item com maior porcentagem foi discutido. Porcentagem de uso = (nº de menções nos artigos / nº total de artigos) x 100 (eq.1)

Resultado e discussão

Modelo Meteorológico Os modelos de qualidade do ar necessitam de dados meteorológicos para realizar as simulações desejadas (RUSSELL; DENNIS, 2000).Estes chamados de modelos meteorológicos funcionam como entrada de dados e abastecedores de dados físicos da atmosfera para que o modelo fotoquímico seja capaz de resolver módulos de dispersão dos poluentes, efeitos radiativos, espalhamento, fator de fotólise, cinética química, reflexão de nuvens, dentre diversos outros fatores que irão afetar a reatividade e distribuição do poluente modelado(BYUN; SCHERE, 2006). O modelo mais utilizado foi o Weather Research and Forecasting (WRF), um modelo de mesoescala muito consagrado e já oficializado pela EPA como modular ao CMAQ. Ele apareceu em 91,22% das publicações, dentre o total de 148 artigos reunidos. Essa concentração de publicações neste modelo se dá principalmente pelo WRF já ser um acoplamento oficial do CMAQ reconhecido pelos desenvolvedores do modelo. O conjunto já gera adaptações online e reajustes automáticos de grade entre WRF- CMAQ nas versões mais atuais do CMAQ. Resolução de grade As resoluções de grade são responsáveis pela acomodação dos fenômenos simulados em um determinado espaço no qual os mecanismos irão trabalhar em conjunto em uma atmosfera uniforme. A grade como próprio nome diz compreende um conjunto de células de lados iguais. A medida dessas células que irão ocupar um determinado domínio é chamado de resolução da grade. (RUSSELL; DENNIS, 2000). A resolução com mais destaque foi de 36x36 km² com 18.92% , isto devido principalmente a dominios regionais serem mais práticos de utilização e não necessitarem de tanto desempenho computacional. Esta revisão também reuniu muitos estudos de influência de fatores meteorológicos como tufões e furacões, assim como, queimadas e dispersão de aerossóis, estes estudos por estarem ligados a dimensões maiores da troposfera também proporcionam o uso de grades mais extensas. Outro fator que influencia no grande número de trabalhos mencionando essa resolução está ligado há grande concentração de publicações estudando influências de fatores na simulação do ozônio nos Estados Unidos da América e China, dois paises de dimensões continentais (YANG, XIANYU et al., 2020, 2021b)(YAO et al., 2021). Com relação as camadas verticiais, o número de camadas determina a exatidão de fenômenos de difusão e advecção vertical assim como a distribuição de ozônio pelas camadas, possível transporte regional e relação com a camada limite planetária. O número de camadas mais utilizado foi de 35 camadas porém com apenas 8,11%. O maior número de estudos empregando 35 camadas se dá devido ao CMAQ utilizar esse número de camadas como padrão para resolver transporte por difusão vertical de ozônio, porém há subestimação das concentrações do poluente se houver produção e transporte em altitudes acima de 10km, logo resoluções com mais de 40 camadas são mais indicadas para o estudo de fenômenos dessa natureza(MATHUR et al., 2017). No entanto, há um maior custo computacional com o aumento de camadas verticais acarretando em uma possível exclusão dessa opção, de mais de 40 camadas, por maior parte dos estudos. Em seguida as Figuras 1 e 2, mostram o número de publicações que mencionam cada uma das configurações de grade e número de camadas verticais, respectivamente, utilizadas nas simulações. Mecanismo químico Os modelos fotoquímicos precisam de mecanismos químicos para caracterizar e calcular as reações, produtos e suas taxas de formação e consumo na atmosfera. Estes tem o papel de reunir espécies químicas e descrever o comportamento das mesmas na atmosfera. Os programas podem ter desde conjuntos simples de espécies com sete compostos até conjuntos complexos com mais de 4000 espécies. (LUECKEN et al., 2008). Dentre os artigos citados o mecanismo químico mais utilizado foi o Carbon Bond versão 5 (CB05) em 54,05%) das publicações analisadas, em seguida o carbon bond versão 6 (CB 06) com 10,81% e a mais nova geração do State Air Pollution Research Center (SAPRC-11) com 9,45%. O mecanismo carbon bond (04) foi criado no ano de 1989 e foi um dos primeiros mecanismos químicos criado para os modelos de terceira geração, esse mecanismo sofreu diversas atualizações acrescentando espécies químicas e reações. O carbon bond (05) é uma atualização do CB04 que foi criada no ano de 2005, essa atualização acrescenta mais espécies químicas e reações, assim como mais 10 espécies orgânicas para a representação melhor de espécies estáveis na atmosfera e formação de radicais(KITAYAMA et al., 2019; LUECKEN et al., 2008). O carbon bond (06) é uma atualização do CB05 para realizar correções de taxas de fotólise, rendimento quântico, efeito de espalhamento, efeito radiativo da superfície e albedo, ou seja, uma versão com um pacote de parâmetros físicos mais completa(EMERY et al., 2015). Embora certas diferenças entre esses mecanismos, a abordagem química não demonstra suficientes diferenças estatísticas na simulação de ozônio utilizando diferentes mecanismos químicos(KITAYAMA et al., 2019). A grande disseminação do carbon bond como mecanismo nas publicações se dá principalmente por ele ser um mecanismo com mais variedade de espécies e estar presente na maioria das configurações já presentes nos bancos de programas do CMAQ ao ser instalado. Para expressar melhor os números em relação aos mecanismos químicos, a Figura 3 mostra o número de publicações que utilizou determinado mecanismo químico na modelagem. Condições de contorno Condições iniciais e de contorno são dois módulos que irão ditar o progresso da simulação no CMAQ. Esses pré-processadores irão aplicar os primeiros dados de entrada do modelo para o início da simulação e continuidade da mesma. O módulo de condições de contorno irá ser responsável pelas condições na borda dos limites da grade aplicada na simulação. Os processos de borda podem ser estáticos ou dinâmicos. Estes também podem ser atualizados continuamente durante a simulação ou apresentarem apenas um único conjunto de dados de entrada(BYUN; SCHERE, 2006; TANG, YOUHUA et al., 2021). No conjunto de artigos estudados um grupo descrevia condições de contorno para apenas o modelo meteorológico, outro para apenas o CMAQ e um último descrevia para os dois. Visto que as condições de contorno para modelos meteorológicos não estão no escopo desse artigo, estas serão desconsideradas. Portanto, para as condições o observado foi que a utilização de perfis padrão do modelo foi a mais comum, em somatório responsáveis por 20,27%. Após isso temos o modelo global MOZART (Model for Ozone and Related chemical Tracers) em 10,81%. Nos modelos, as condições de contorno serão responsáveis por atenuar erros de contribuições externas ao domínio do modelo e aplicarem influências das partes externas ao domínio. A prática de utilização de perfis internos é comum justamente por não necessitarem de muitos dados de entrada ou acoplamentos no modelo, processos esses que requerem um maior desempenho das máquinas. Porém estes processos não apresentam uma grande sensibilidade(SHARMA; SHARMA; KHARE, 2017). Para uma melhor simulação o ideal é que modelos globais ou grades aninhadas alimentem o CMAQ de maneira constante, com atualizações constantes de dados e de grade. A Figura 4 mostra as diferentes configurações de condições de borda utilizadas pelos trabalhos considerados nesse trabalho.

Figuras 1 e 2

Gráfico de número de menções de resolução de grade e número de camadas verticais

Figuras 3 e 4

Gráfico de número de menções por tipo de mecanismo químico e gráfico de número de menções por tipo de condição de borda

Conclusões

Como foi observado, há um vasto acervo de publicações utilizando o CMAQ para a modelagem de ozônio mostrando diversas possibilidades de configurações e otimizações para a simulação desse poluente. WRF e CB05 são as configurações que mostraram as maiores porcentagens de referências. Mostrando que o modelo meteorológico e mecanismo químico são os fatores que funcionam basicamente como prédefinidos na maioria das simulações. Já as resoluções de grade mostram que resoluções regionais são as mais comuns na modelagem do CMAQ. Embora esse grande número de publicações utilizando resoluções mais grossas pode estar ligado ao grande número de publicações de análise de macroeventos na troposfera como tufões e queimadas e também ao grande número de publicações oriundas dos Estados Unidos e China, países de dimensões continentais. As configurações menos mencionadas nos artigos reunidos foram as condições de borda, resolução de grade vertical. A falta de informação e os resultados encontrados dessas configurações mostram que possivelmente elas já são utilizadas de alguma forma padronizada entre os estudos então permanecem não sendo mencionadas pois para os grupos de pesquisa elas já são triviais. A reunião dos artigos mostrou que as configurações mais usadas no CMAQ para ozônio são: como modelo meterológico Weather Research and Forecasting (WRF) por esse já ser considerado um modelo acoplado ao CMAQ pela agência americana de meio ambiente (EPA); como mecanismo químico o Carbon Bond 2005 (CB05); para as resoluções de grade a conformação 36x36km² com 35 camadas verticais; as condições de contorno o mais utilizadas foram os processos padrão do CMAQ. Com isso, podemos constatar que nas 148 publicações estudadas existe reflexões importantes sobre o CMAQ mostrando a necessidade de demonstar as configurações mais utilizadas para futuros trabalhos acadêmicos e inovação como também para instrumentos governamentais e de tomada de decisão.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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