• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA DEPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA ÚMIDA NO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS (UFAM)

Autores

Silva, L.F.M. (UFAM) ; Machado, C.M.D. (UFAM)

Resumo

Um dos principais mecanismos de deposição atmosférica ocorre através da chuva. Com o objetivo de avaliar de forma indireta o grau de poluição atmosférica em uma área urbana de Manaus (AM), a água da chuva na UFAM foi analisada em termos de acidez, composição iônica e OOD. As amostras foram coletadas entre setembro/2019 e fevereiro/2020. A chuva apresentou valor médio (MPV) de pH menor que 5,60, indicando a influência de outros ácidos na sua composição, além do H2CO3. A sequência decrescente de concentração iônica na composição:NO3-,Cl-,SO42-,F-. As maiores taxas de deposição foram de COD e NO3- sobretudo no período seco. Sendo assim, é necessário um melhor conhecimento sobre a acidez e composição da precipitação e dos aerossóis sobre a Amazônia e dos efeitos destes contaminante.

Palavras chaves

Deposição atmosférica; chuva ácida; Amazônia

Introdução

A poluição atmosférica aumentou nos últimos anos devido ao crescente desenvolvimento econômico global (ZHOU et al., 2021). Aumentando o número de fontes de emissão de poluentes que posteriormente são transportados e acumulados na superfície por meio da deposição atmosférica (DONG et al., 2015; MARTINS et al., 2019). Neste sentido, a precipitação é uma das principais vias de transporte de poluentes atmosféricos, no processo denominado deposição úmida. Os compostos depositados auxiliam na verificação da qualidade do ar, bem como na compreensão dos possíveis efeitos de sua deposição em determinada região (SEINFELD; PANDIS, 2016). Na região Amazônica não existe rede de monitoramento da composição química da deposição atmosférica e os dados disponíveis são geralmente obtidos por iniciativas isoladas ou pesquisas em regiões específicas e por períodos de tempo restritos. Neste estudo foi avaliado a deposição úmida em termos de acidez, composição iônica, carbono orgânico dissolvido em uma área verde urbana de Manaus/AM. Trata-se de um fragmento florestal de 6,7 milhões de km², onde foi instalado o Campus Universitário Senador Arthur Virgílio Filho (CAVF) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Este é o terceiro maior fragmento verde em área urbana do mundo e o primeiro do Brasil (HONÓRIO, 2010; RIBEIRO, 2018). O local estudado foi monitorado no período de setembro de 2019 à fevereiro de 2020 para (i) medir a composição química da água da chuva, (ii) inferir as possíveis fontes dos poluentes encontrados relacionando-os com a qualidade do ar no local e (iii) determinar a deposição úmida da área para conhecer os possíveis efeitos dos poluentes atmosféricos no ambiente.

Material e métodos

As amostras de chuva foram coletadas manualmente em frasco de polietileno com um funil adaptado devidamente limpos em um fragmento florestal urbano pertencente ao Campus da UFAM na cidade de Manaus. As coletas foram realizadas no período de setembro de 2019 a fevereiro de 2020. As amostras foram filtradas através de uma membrana de 0,45μm e divididas em alíquotas usadas para medir pH, condutividade, íons (Cl-, NO3-, F- e SO42-) e carbono orgânico dissolvido (COD). A concentrações dos elementos foram padronizadas pela média ponderada por volume (MPV) de acordo com a fórmula: MPV= ∑CiVi)/(∑Vi) (equação 1) Onde MPV é média ponderada pelo volume; i: número de coleta; Ci: valor de pH, condutividade, concentração de íons, COD; Vi: é o volume da coleta (mL). A contribuição relativa de cada ânion na acidez livre potencial (ALP) das amostras de água de chuva foi estimada através da equação 2: ALP (%)= ([X])/(∑Ânions) (equação 2) Onde [X] é a concentração MPV dos ânions multiplicada pelo número de átomos de hidrogênios ionizáveis. A deposição de cada espécie presente na chuva (DU em mg m2) é calculada de acordo com a equação proposta por Seinfeld e Pandis (2016). DU= ∑ (C V)/A (equação 3) Onde, A é área do coletor (m2). Os valores dos parâmetros analisados foram tratados estatisticamente utilizando o software OriginPro 8.0 e MiniTab®. A discussão dos resultados foi feita a partir da análise estatística descritiva dos dados (média, mediana, distribuição, correlações etc), teste estatístico de Shapiro-Wilk, análise de variância ANOVA e o teste de Tukey, com nível de confiança de 95%.

Resultado e discussão

Os resultados apresentados correspondem a 22 amostras de água de chuva coletadas na UFAM. Cerca de 90,1% possuem valores de pH inferiores a 5,60, indicando a influência de outros ácidos na sua composição, além do ácido carbônico. O ânion NO3- apresentou maior concentração na chuva, contribuindo com 50,2% da acidez das amostras coletadas, seguido por Cl- (24,7%), SO42- (20,4%), F- (4,7%). O MPV de NO3- foi 1,48 mg L-1, duas vezes maior que encontrado em estudos feitos na região por Honório (2010) e Fernandes (2013) e sua deposição foi sete vezes maior que todos os íons. Valores estes podendo estar relacionados à direção dos ventos predominantemente da região onde há fluxo intenso de veículos, e a queima de biomassa (0,941, p=0,014). SO¬42- apresentou MPV 0,25 mg L-1, sete vezes menor encontrado por Honório (2010) e Fernandes (2013). A razão em massa de NO3-/SO¬42- sugere influência de fonte móvel. Cl- também apresentou 0,56 mg L-1 de MPV, acima dos estudos feitos na região, sendo proveniente de contribuição marinha. F- obteve MPV de 0,06 mg L-1, onze vezes acima do encontrado em área remota da Amazônia por Paulivequis et al. (2012), podendo advir do material particulado ou ainda do processo de combustão (0,941, p=0,0001). COD apresentou MPV de 1,5 vezes acima do encontrado por Freitas (2019) na Amazônia central e teve a maior taxa de deposição. As diferenças sazonais nos fluxos de deposição são aparentes para todos os componentes. As maiores deposições foram no período seco devido menor quantidade de chuva e o acumulo desses elementos na atmosfera.

Conclusões

Os resultados encontrados mostram os impactos de atividades antrópicas e os principais poluentes atmosféricos depositados na região. Da sequência de íons: NO3->Cl->SO42->F-, o NO3- pode ser considerado o principal indicador de poluição atmosférica, alertando para sua contribuição na acidez da chuva. A influência da sazonalidade foi verificada pela maior deposição no período seco. Os poluentes presentes na chuva podem causar impactos ao ecossistema amazônico, por exemplo, pela deposição ácida nos solos tropicais que são geralmente intemperizados.

Agradecimentos

FINEP, FAPEAM, CAPES, INPA, UFAM.

Referências

ZHOU F, NIU M, ZHENG Y, SUN Y, WU Y, ZHU T & SHEN F. 2021. Impact of outdoor air on indoor airborne microbiome under hazy air pollution: A case study in winter Beijing. J Aerosol Sci. n 156.

DONG L, DONG H, FUJITA T, GENG Y & FUJII M. 2015. Cost-effectiveness analysis of China's Sulfur dioxide control strategy at the regional level: regional disparity, inequity and future challenges. J. Cleaner Prod. 90: 345-359.

MARTINS EH, NOGAROTTO DC, MORTATTI J, POZZA SA. 2019. Chemical composition of rainwater in an urban area of the southeast of Brazil. Atmos. Pollu. Res. 10: 520-530.

SEINFELD, J. H.; PANDIS, S. N. Atmospheric chemistry and physics: from air pollution to climate change. New York: John Wiley, 2016.

HONÓRIO, B. A. D.; HORBE, A. M. C.; SEYLER, P. Chemical composition of rainwater in western Amazonia - Brazil. Atmospheric Research, p. 416-425, 2010.

RIBEIRO, R. M. Implicações do ambiente físico do Campus Universirário no bem-estar subjetivo dos estudantes. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, v. dissertação (Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia), 2018.

FREITAS, E. Caracterização da variabilidade espacial do carbono em uma microbacia de floresta primária na Amazônia Central. Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA v. dissertação (Clima e Ambiente – CLIAMB), 2019.

FERNANDES, K. S. Estudo das propriedades químicas da água de chuva coletada na UFAM em Manaus. Relatório final de iniciação cientifica. Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013.

PAULIQUEVIS, T. et al. Aerosol and precipitation chemistry measurements in a remote site in Central Amazonia: the role of biogenic contribution. Atmos. Chem. Phys., v. 12, p. 4987–5015, 2012.

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau