• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Síntese de Na-Cancrinita por fusão alcalina através de fonte natural e abundante da Amazônia

Autores

Couto, N.A.F. (IFPA) ; Cancio, A.K.C. (UFOPA) ; Almeida, A.L. (UFOPA) ; Lima, A.K.O. (UNB) ; da Luz, P.T.S. (IFPA) ; Costa, M.L. (UFPA) ; Figueira, B.A.M. (UFOPA)

Resumo

Neste trabalho, zeólita com estrutura Na-cancrinita foi sintetizada por fusão alcalina seguido de tratamento hidrotermal, empregando-se uma fonte abundante e natural da Amazônia: argila de bauxita da Amazônia. A caracterização dos produtos envolvidos no trabalho foi feita por DRX, IV-FTIR e MEV e mostrou que o material de partida composto por hematita, quartzo e caulinita pode ser convertido com sucesso em Na-cancrinita com boa cristalinidade e morfologia em espiculas.

Palavras chaves

Amazônia; Argila de bauxita; Na-cancrinita

Introdução

A argila de bauxita da Amazonia é um material presente em minas lavráveis na Amazonia, rica em caulinita, com a possível presença de fases de oxi-hidroxidos de Fe, Al e Ti (Negrão, Costa e Poellmann, 2021; Angelica et al, 2018). Devido a essa composição mineral seu emprego como material de partida de baixo custo na produção de materiais zeoliticos e lamelares como zeólita 13 X, SAPO-44, zeólita A e hidróxido duplo lamelar tem sido proposta (Ma et al., 2014; Qiang et al, 2019; Melo et al, 2019; Zhang, Wang e Wang, 2020). Neste trabalho, apresenta-se os resultados de síntese e caracterização de transformação de argila de bauxita em zeólita estruturada em Na-cancrinita. Esta fase zeolitica é um tectosilicato do grupo dos feldspatóides que forma uma série de solução sólida com a vishnevita em composições intermediárias denominadas cancrinita sulfática e vishnevita carbonática. Estruturalmente os minerais cancrinita-vishnevita consistem em anéis paralelos de 6 membros de tetraedros alternados de AlO4 e SiO4, ligados lateralmente e acima uns dos outros para formar uma estrutura tridimensional do tipo gaiola com composição SiAlO4, conhecida como gaiola de cancrinita (Deng et al., 2006). As rotas comumente empregadas para a obtenção de cancrinita sintética baseia-se na conversão hidrotermal alcalina de matérias- primas como a cinza volante, cinza da casca de arroz, resíduos de cana de açúcar e caulinita, por serem compostos majoritariamente de alumínio e silício. A conversão de materiais sílico-aluminosos em zeólitas ocorre por meio da ativação alcalina utilizando hidróxido de sódio(NaOH), essa metodologia de obtenção tem como uma das principais características o baixo custo, tornando viável a sua produção em larga escala (Esaifan et al., 2019; MEDEIROS et al.,2017

Material e métodos

A obtenção do material zeolítico aconteceu através de tratamento hidrotermal. Primeiramente foi preparada uma mistura de 6g de NaOH, 3g de caulinita obtida a partir de argila de bauxita e 46mL de água deionizada, os quais foram adicionados em um frasco tampado, ficando em agitação magnética por 1 hora. Em seguida, o frasco foi colocado em estufa na temperatura elevada por um certo período. A amostra foi lavada com 300mL de água deionizada, filtrada e secada em temperatura ambiente durante a noite. Posteriormente, seguiu para a pulverização e foi nomeada como NAY-ZEO-X3. As caracterizações foram feitas em difratômetro de raios-X, modelo D2-phaser (Bruker), tubo de cobre (CuKa = 1.5406 Å) de 400 W de potência, tensão de 30 kV e 10mA, respectivamente. Os espectros de infravermelho no médio (4000 a 400 cm-1) foram obtidos foram obtidos utilizando- se pastilhas prensadas a vácuo contendo 0,200 g de KBr e 0,0013 g de amostra pulverizada e um espectrômetro de absorção molecular na região IV com transformada de Fourier da Bruker, modelo Vertex 70. A caracterização morfologica do produto final foi por MEV/EDS através da sua metalização com ouro. O microscópio utilizado foi da da marca LEO-Zeiss, 430 Vp, em condições de análise utilizando imagens secundárias obtidas a 20 KV, com distância de trabalho de 11 mm.

Resultado e discussão

O difratograma de raio X da matéria prima e seu produto sintético é mostrado na Fig 1. Verificou-se que a amostra natural (Fig 1a) é formada pelo mineral gibbsita (PDF 00-012-0460) com a presença dos seus dois picos principais em 18,4°e 20,45° (2 theta) e caulinita (PDF 00-029-1488) com os picos principais em 12,5°e 25,1° (2 theta). Também foi possível identificar picos referentes a hematita (PDF 00-013-0534), anatásio (PDF 01-078-2486) e quartzo (PDF 01-082- 0512). Esses resultados estão de acordo com a mineralogia descrita por Negrao, Costa e Poellmann (2021) e Angelica et al. (2018), que investigaram a composição mineral de bauxita da Amazonia. O padrão DRX de NAY-ZEO-X3 mostrou picos em 14,18; 19,16; 24,46 e 27, 7º (2theta) que são característicos da zeólita cancrinita (PDF 00-046-1332). O pico a 26º (2 theta) se refere ao mineral quartzo que está presente na amostra inicial. O espectro de IV-FTIR de NAY-ZEO- X3 é mostrado na Fig 1b, no qual identificou-se bandas em 700 e 400 cm-1 de estiramentos de ligação Al-O-Si dos tetraedros TO4 da estrutura zeolitica (LINARES et al., 2005). Os picos de impressão digital característicos para cancrinita também ocorrem em aproximadamente 559, 615 e 684 cm-1(BARNES et al., 1999). A Fig 2 mostra a fotomicrografia de NAY-ZEO-X3 obtida por MEV, em que se verifica a formação de agregados bem definidos de bastões/agulhas com tamanho médio de 0,49 m de espessura. Estes resultados estão de acordo com alguns trabalhos que mostram morfologias bem definidas para cancrinita obtida por processos de sínteses (Buhl et al.,2000, DANG et al.2021).

FIGURA 1

a) O difratograma de raio X da matéria prima e b) seu produto sintético obtido

FIGURA 2

Fotomicrografia da amostra NAY-ZEO-X3 obtida por MEV

Conclusões

Argila de bauxita, um produto abundante da Amazônia foi transformado em produto de valor agregado como material zeolítico com estrutura Na-cancrinita, com bom grau de cristalinidade e morfologia bem definida de espiculas.

Agradecimentos

Os autores agradecem a CAPES, CNPQ, UFOPA, LCM (IFPA), LAMIGA (UFPA) e CETENE pelo apoio financeiro e analítico que permitiram a execução deste trabalho

Referências

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