• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

DETERMINAÇÃO DE CONSTANTES DE VELOCIDADE DE HIDRÓLISE DA SACAROSE EM MEIO MICELAR

Autores

Castro, H.G.C. (SEEC-RN) ; Moura, M.F.V. (UFRN) ; Dantas, T.N.C. (UFRN) ; Neto, M.H.L. (UFCG)

Resumo

Neste trabalho determinou-se as constantes de velocidade de hidrólise da sacarose em meio micelar, ou seja, verificou-se a influência do meio micelar (presença de um tensioativo) sobre as constantes de velocidades de hidrólise da sacarose, catalisada pelo íons H+, além disso verificou-se a influência do meio salino (utilizando-se soluções de cloreto de sódio). Utilizou-se como meios micelares dois tensioativos (um catiônico e um aniônico) em diferentes concentrações, com e sem adição de sal. Observou-se que não houve diferença significativa na velocidade de hidrólise da sacarose num meio micelar simples, apenas houve leve diminuição quando do aumento na concentração do tensioativo, o que ocorreu tanto para concentração de sacarose a 5% quanto para 10%. Foram observadas maiores variações.

Palavras chaves

SACAROSE; HIDRÓLISE; TENSIOATIVOS

Introdução

O estudo de reações em meio micelar tem sido de muito interesse devido a sua grande importância em muitos campos. Por exemplo, muitas das reações que ocorrem nos organismos vivos ocorrem no meio micelar. Reações que dificilmente ocorreriam em meio não-micelar, se realizam rapidamente ou diminuem muito seu tempo de reação num meio micelar adequado. E, ainda, pode-se utilizar um meio micelar para impedir que uma reação ocorra. A cinética é a parte da físico-química que trata dos detalhes que ocorrem numa reação química, tomando como variável fundamental o tempo. A interpretação dos resultados das medidas de concentração em vários tempos, juntamente com os resultados obtidos da termodinâmica, permitem a compreensão dos mecanismos das reações. Assim, a cinética é usada para medir quantitativamente as variações de concentração que ocorrem com as reações químicas em intervalos de tempo. Essas medidas podem ser obtidas a partir da observação de propriedades aplicáveis ao meio reacional. Assim, pode-se utilizar propriedades que sofram variações conforme os reagentes se transformam em produtos; ou seja, à medida que a composição do meio reacional sofre variação. Exemplos desses tipos de propriedades são: medidas de variação de volume num sistema que evolui à pressão constante; medidas da variação de condutividade elétrica, que ocorrem com a maioria das reações com espécies iônicas em solução; medida da variação da rotação óptica, que ocorre quando reagentes ou produtos são opticamente ativos; medidas da intensidade de luz que atravessa uma solução quando reagentes ou produtos absorvem luz em diferentes comprimentos de onda. Neste trabalho, para medir a velocidade de reação entre a sacarose e a água, catalisada pelo íon H+, utilizou-se a medida do ângulo de rotação da luz polarizada que atravessa a solução contida no tubo de um polarímetro. A sacarose é uma substância opticamente ativa, desviando o plano da luz polarizada para a direita (dextrógira); entretanto, a mistura resultante de sua hidrólise é levógira. Portanto, pode-se observar o desenvolvimento dessa reação a partir da medida da rotação óptica, utilizando-se um polarímetro que é um instrumento a partir do qual se pode obter medidas da rotação do plano da luz polarizada. Um polarímetro consiste em um tubo reto cujas extremidades estão interrompidas por dois prismas de Nicol, dispostos em paralelo, onde a função do primeiro consiste em polarizar a luz recebida de uma fonte (que pode ser uma lâmpada de vapor de sódio), enquanto, que o segundo indica a medida de quanto foi o ângulo de desvio da luz polarizada ao atravessar a solução. Foram utilizados vários autores como base para o desenvolvimento da parte experimental dessa pesquisa, os principais estão descritos nas referências deste trabalho.

Material e métodos

Na parte experimental, tentou-se verificar a influência da presença de tensioativos sobre a reação de hidrólise da sacarose, que é uma reação bastante conhecida e cujo desenvolvimento é fácil de ser observado. A sacarose reage com água, numa reação que é catalisada pelo íon hidrogênio. Pode-se verificar o desenvolvimento da reação por meio de um polarímetro, porque, durante a reação, há inversão do ângulo da rotação da luz plano polarizada, que é positivo no início da reação e vai diminuindo até se tornar negativo no final da reação. As micelas são formadas por várias moléculas de tensioativo, chamadas monômeros, que se ajuntam por interações hidrofóbicas dos componentes da cadeia hidrocarbonada (forças de Van der Waals) e adquirem estabilidade devido à ação da dupla camada iônica na superfície da micela. Os monômeros se aglomeram geralmente em torno de 50 a 100 por micela, considerando a influência do tamanho da cadeia hidrocarbônica. A estabilidade da micela é afetada por adição de sais ao meio micelar, em decorrência da ação de íons de carga oposta sobre a parte iônica da micela. Dependendo da concentração de sal no meio, a micela pode ser precipitada por quebra da dupla camada iônica. A camada de íons que circunda a superfície externa da micela (contraíons) faz com que as micelas mantenham-se afastadas umas das outras por forças de repulsão. Num meio micelar, as micelas mantêm-se em equilíbrio dinâmico, o que significa que ao se estabelecer o equilíbrio há formação e destruição de micelas continuamente. As micelas se desfazem tão rapidamente quanto se formam (na escala de ms). Além disso, em concentrações maiores que a CMC, as micelas mantêm-se equilíbrio com o meio, perdendo e recebendo monômeros simultaneamente (na escala de ms). A influência dos meios micelares nos foi limitada à observação do aumento ou diminuição na velocidade de consumo de sacarose (g) por unidade de tempo (min). As misturas foram obtidas de modo que as concentrações de todas as substâncias no meio reacional fossem inicialmente conhecidas. Primeiro dissolveu-se a sacarose (no momento em que ia ser utilizada) em quantidade de água deionizada inferior à capacidade do tubo do polarímetro (capacidade do tubo do polarímetro era de 25 cm3); em seguida adicionou-se volume determinado do tensioativo, de solução salina (para os meios salinos) e, por último, de solução ácida.

Resultado e discussão

Quando a sacarose vai sendo consumida conforme a reação da Figura 01, a medida do ângulo de rotação indica que há um desvio deste para a esquerda. Considerando-se 0 o ângulo inicial de rotação e o ângulo ao final da reação, tem-se que a diferença, 0-, é proporcional à concentração inicial de sacarose. Então, pode-se determinar a concentração para tempos intermediários, desde que seja conhecida a concentração de sacarose no tempo infinito (quando se estabelece o equilíbrio e a medida do ângulo de rotação permanece constante nos tempos posteriores). A reação de hidrólise da sacarose, Figura 02, obedece à lei cinética de primeira ordem. Considerando-se que a reação ocorre em solução aquosa e, consequentemente, a massa de água no final da reação será quase constante, e o catalisador presente, íons H+, também permanece constante. Assim, a velocidade da reação dependerá apenas da concentração de sacarose a uma temperatura constante. A reação de hidrólise da sacarose é dita de pseudo-primeira ordem porque, ainda que não seja monomolecular, obedece à lei cinética para reações de primeira ordem. A ordem de reação e a equação de velocidade são determinadas a partir de resultados experimentais. Uma reação obedece à lei cinética de primeira ordem se sua velocidade de reação, a uma temperatura constante, depende somente da primeira potência da concentração de um dos reagentes. Muitos fatores podem alterar a velocidade de uma reação; fatores como temperatura, concentração e presença de catalisadores podem alterar sensivelmente a velocidade das reações químicas. A adição de tensioativos a um meio reacional, com consequente formação de micelas, pode levar a um aumento de muitas ordens de magnitude a velocidade de algumas reações químicas. A maioria das reações que têm sido investigadas na presença de micelas ocorrem entre substratos relativamente hidrofílicos ou entre substratos hidrofóbicos e íons. As micelas podem também limitar o mecanismo de reações; por exemplo, a fotodescarboxilação de dibenzilcetonas assimétricas que se obtém três produtos em solução homogênea passa a obter-se um só produto na presença de micelas de brometo de hexadeciltrimetilamônio (CTAB). Na Tabela 01 apresentam-se os resultados de condutância medidos para as soluções de CTACl a diversos valores de concentração. Para a solução de sacarose a 5% em meio SDS houve aumento na velocidade da reação de hidrólise da sacarose (consumo de sacarose por minuto) para o meio sem adição de sal, à medida em que se aumentou a concentração do tensioativo. Em meio salino, no entanto, na concentração de 5 mM não se verificou alteração na velocidade da reação e para a concentração de 10 mM houve diminuição no consumo de sacarose em função do tempo. Para a solução de sacarose a 10% em meio SDS os resultados mantiveram-se quase constante para as concentrações de tensioativo de 5, 10 e 20 mM, mas houve um aumento pequeno no consumo de sacarose para a concentração de 40 mM, quando se trabalhou em meio sem adição de sal. Em meio salino houve diminuição no consumo de sacarose em função do tempo para todas as concentrações deste tensioativo. Mas comparando-se os meios micelares entre si, observa-se leve aumento na velocidade de hidrólise da sacarose com o aumento gradativo na concentração do SDS. Para a solução de sacarose a 5% em meio CTACl houve aumento no consumo de sacarose para concentrações de tensioativo de 5 e 10 mM, enquanto que, em concentrações de tensioativo de 20 e 40 mM a velocidade de hidrólise da sacarose diminui, em meio não salino. Em meio salino houve diminuição no consumo de sacarose para concentrações de 5 e 10 mM de CTACl, e aumento de mais de dez vezes no consumo de sacarose, em função do tempo, para concentrações de tensioativo de 20 e 40 mM. Para a sacarose a 10% em meio CTACl 5 e 10 mM, a velocidade de reação se manteve constante, enquanto que à concentração de 20 e 40 mM de CTACl houve aumento na velocidade de hidrólise da sacarose, para o meio não salino. Em meio salino houve diminuição nas velocidades das reações de hidrólise da sacarose para todas as concentrações de tensioativo. Todos os experimentos foram realizados à temperatura constante. A Tabela 01 mostra os resultados obtidos para k calculados a partir dos dados utilizados para a construção dos gráficos colocados na Figura 03.

Reações da Sacarose

As figuras 1 e 2, mostram a inversão da sacarose e a reação de hidrólise da sacarose

Tabela 1: Valores de k e Figura 03: Comportamento da inversão da saca

Na Tabela 01 estão os valores da constante k e na Figura 03 os gráficos de Infravermelho, com o comportamento da inversão da sacarose em meio micelar.

Conclusões

Considerando-se os valores obtidos, pode-se afirmar que: Não houve diferença significativa na velocidade de hidrólise da sacarose num meio micelar simples. Apenas houve leve diminuição quando do aumento na concentração do tensioativo, o que ocorreu tanto para concentração de sacarose a 5% quanto para 10%. Considerando a concentração do tensioativo constante e duplicando-se a concentração do reagente de 5 para 10% não se observam diferenças. Também não se observou diferença quando da substituição de um tensioativo aniônico para um tensioativo catiônico. A mudança de meio não salino para meio salino causou mudanças significativas principalmente, quando se aumentou a concentração do tensioativo. O consumo de sacarose (g min-1) aumenta de uma casa decimal para a sacarose a 5%. Para a sacarose a 10% o aumento no consumo de sacarose foi menor que 5%. Para a solução de sacarose a 5% em meio SDS houve aumento na velocidade da reação de hidrólise da sacarose (consume de sacarose por minuto) para o meio sem adição de sal, à medida em que se aumentou a concentração do tensioativo. Em meio salino, no entanto, na concentração de 5 mM não se verificou alteração na velocidade da reação e para a concentração de 10 mM houve diminuição no consumo de sacarose em função do tempo. Para a solução de sacarose a 10% em meio SDS os resultados mantiveram-se quase constante para as concentrações de tensioativo de 5, 10 e 20 mM, mas houve um aumento pequeno no consumo de sacarose para a concentração de 40 mM, quando se trabalhou em meio sem adição de sal. Em meio salino houve diminuição no consumo de sacarose em função do tempo para todas as concentrações deste tensioativo. Mas comparando os meios micelares entre si, observa-se leve aumento na velocidade de hidrólise da sacarose com o aumento gradativo na concentração do SDS. Para a solução de sacarose a 5% em meio CTACl houve aumento no consumo de sacarose para concentrações de tensioativo de 5 e 10 mM.

Agradecimentos

Ao CNPq pelas bolsas concedidas.

Referências

MAHAN. B. H.; “QUÍMICA – UM CURSO UNIVERSITÁRIO”, 4ª edição, São Paulo, Editora Edgar Blucher Ltda. 1995.

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OHLWEILER. O. A.; “QUÍMICA ANALÍTICA QUANTITATIVA”, Vol. 3, Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos Editora S. A, 1974.

OLIVEIRA. J. X.; “MÉTODOS ABSORCIOMÉTRICOS”, monografia, UFRN, 1974.

VOGEL. A. L.; “A TEX BOOK OF PRATICAL ORGANIC CHEMISTRY”, 3ª edition; Longmans, 1966.

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