Autores
Ferreira, P.O. (FACULDADE DE CIÊNCIAS, UNESP) ; Almeida, A.C. (FACULDADE DE CIÊNCIAS, UNESP) ; Costa, G.P. (FACULDADE DE CIÊNCIAS, UNESP) ; Baptista, J.A. (CQC/IMS, UNIVERSIDADE DE COIMBRA) ; Ferreira, L.T. (INSTITUTO DE QUÍMICA, UNESP) ; Eusébio, M.E.S. (CQC/IMS, UNIVERSIDADE DE COIMBRA) ; Castro, R.A.E. (CQC/IMS E FACULDADE DE FARMÁCIA, U. DE COIMBRA) ; Caires, F.J. (FACULDADE DE CIÊNCIAS E INSTITUTO DE QUÍMICA-UNESP)
Resumo
O objetivo deste trabalho foi preparar e estudar o comportamento termodinâmico do
sistema LTTM formado entre o antihipertensivo valsartana junto com timol.
Utilizando moagem mecanoquimica para preparo das amostras e Calorimetria
exploratória diferencial, espectroscopia na região do infravermelho e
difratometria de raio-X do pó para caracterização. O primeiro aquecimento do
sistema formado apresentou uma mistura eutética entre os precursores, que no
segundo aquecimento apresentou-se amorfo. Análises de infravermelho demonstraram
interações após o aquecimento e de difratometria, a natureza amorfa das amostras,
o que confirmou a formação dos sistemas LTTMs de valsartana-timol.
Palavras chaves
LTTM; Análise térmica; Mistura eutética
Introdução
Misturas de baixa temperatura de transição (LTTM – Low Transition Temperature
Mixtures) são formadas por dois compostos que quando juntos geram uma mistura
que possui baixa temperatura de transição vítrea (Tg), sendo líquidos em
temperatura ambiente (MAT HUSSIN et al., 2020). Os mesmos ganharam visibilidade
a partir de estudos de solventes eutéticos profundos (DES – Deep Eutectic
Solventes) que são misturas de compostos puros que possuem a temperatura do
ponto eutético abaixo da temperatura de uma mistura liquida ideal (MARTINS;
PINHO; COUTINHO, 2019).
Esses tipos de misturas possuem aplicação em diversas áreas, destacando-se em
eletroquímica, preparo de materiais e síntese (FRANCISCO; VAN DEN BRUINHORST;
KROON, 2013). Uma possível aplicação que vem sendo estudada seria em formulações
farmacêuticas (OLIVEIRA; SANTOS; DUARTE, 2021; RODA; PAIVA; DUARTE, 2021), visto
que muitos princípios ativos possuem baixa solubilidade aquosa diversas
estratégias de melhorar essa propriedade vem sendo estudadas (BOLLA; SARMA;
NANGIA, 2022). Os LTTMs trariam a vantagem de por já trazerem os fármacos no
estado liquido, facilitaria o processo de absorção no organismo, sendo uma
excelente estratégia para fármacos das classes II e IV do sistema de
classificação biofarmacêutica (BCS – Biopharmaceutic Classification System), que
possuem baixa solubilidade aquosa, e o último ainda baixa permeabilidade (BENET,
2013).
Material e métodos
As amostras foram preparadas por meio de moagem mecanoquímica, as misturas de
VALc e THY foram moídas, em um moinho de bolas da RETSCH, modelo MM 400, em
jarros de Teflon utilizando uma esfera de Teflon, usando frequência de 10 Hz,
por um período de 10 minutos e massa total de amostra de 100 mg, sem uso de
solvente (NG – Neat grinding).
As amostras foram então caracterizadas por Calorimetria Exploratória Diferencial
(DSC) usando dois DSCs da Perkin-Elmer com compensação de potência, modelos DSC7
e Pyris 1 (para analises a temperaturas abaixo de 0 °C). Espectroscopia no
infravermelho (FTIR), usando espectrofotômetro da Thermo Scientific, modelo
Thermo Nicolet 380. E difração de raios X em pó (PXRD) usando difratômetro da
Rigaku, modelo miniflex600.
Resultado e discussão
O diagrama de fase binário, Figura 1a, foi construído usando as primeiras curvas
de aquecimento DSC, e mostra um sistema eutético, confirmado pelo FTIR, visto
que nenhuma interação antes da fusão foi observada.
Após o resfriamento do fundido, o segundo aquecimento revela sistemas amorfos
com eventos únicos de Tg, confirmados por PXRD e representados na figura 1b
juntamente com os valores de Tg calculados pela equação Gordon-Taylor.
Sistemas LTTMs foram observados em composições abaixo da razão molar xVALc =
0,4. As temperaturas experimentais de Tg das misturas em diferentes razões
molares estão em concordância com o previsto pela equação de Gordon-Taylor, o
que sugere que as interações intermoleculares presentes na mistura valsartana-
timol, possuem energia semelhante as interações timol-timol e valsartana-
valsartana (CORDEIRO et al., 2017). A amostra xVALc = 0,3 foi escolhida como
exemplo, seu difratograma, Figura 2a, após o aquecimento apresenta padrão
amorfo, e seu FTIR, Figura 2b, apresenta interação com deslocamento das bandas
da hidroxila do timol e da carbonila da VALc.
Conclusões
Com os dados apresentados conclui-se que a Valsartana quando preparada junto com
Timol apresenta uma mistura eutética, que após aquecimento se torna amorfa, sendo
liquidas em razões molares abaixo de 0,4 em temperatura ambiente (em torno de 25
°C), podendo essas serem classificadas como LTTMs.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos Programas Capes-PrInt, processo 88887.310463/2018-00,
mobilidade 88887.571008/2020-00 e de fundos nacionais de Portugal através da FCT,
I.P., no âmbito do projeto UIDB/00313/2020.
Referências
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