• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

ESTUDO DO POTENCIAL DE DIFERENTES PONTOS QUÂNTICOS DE GRAFENO COMO SONDAS FOTOLUMINESCENTES PARA QUANTIFICAÇÃO DE PUTRESCINA

Autores

Carvalho, E.L. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) ; Peñafiel, M.J.P. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) ; Aucélio, R.Q. (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Resumo

Quatro sondas fotoluminescentes foram avaliadas para a quantificação de putrescina usando pontos quânticos de grafeno (GQDs) produzidos por fusão e hidro-esfoliação. Diferentes GQDs fotoluminescentes foram preparados usando ácido cítrico como precursor, sozinho ou misturado com outros compostos contendo heteroátomos (N e/ou S) visando funcionalização da nanoestrutura, no caso a tiouréia (TU), a ureia (U) e a glutationa reduzida (GSH). Entre os trabalhos futuros encontra-se o ajuste das condições experimentais para melhorar a resposta analítica e obter parâmetros analíticos de mérito que permitam a aplicação do método em amostra de carne bovina, associando uma estratégia para obter seletividade na determinação.

Palavras chaves

Putrescina; Sondas fotoluminescentes; Pontos quânticos de grafe

Introdução

A putrescina (1,4 diaminobutano) faz parte de um grupo de bases orgânicas nitrogenadas de baixo peso molecular denominadas aminas biogênicas, que são encontradas no corpo humano, em animais, plantas e microrganismos. Como consequência elas são encontradas em alimentos, tais como carnes bovinas, suínas, de frango, pescados, ovos, cogumelos, produtos à base de leite, vegetais fermentados, produtos de soja, bebidas como cervejas e vinhos, dentre outros (ÖZOGUL; ÖZOGUL, 2019). Apesar de participar de vários processos metabólicos importantes - como o ciclo celular - a intoxicação ocasionada por uma dieta rica em alimentos com putrescina pode ocasionar hipotensão, tétano, paresia das extremidades, bradicardia e ainda pode potencializar a intoxicação de outras aminas biogênicas (SHALABY, 1996). Além disso, a putrescina - e outras aminas biogênicas - são marcadores químicos para o sistema olfativo indicando estágio de decomposição em tecidos e contaminação bacteriana nas carcaças (HUSSAIN et al, 2013). Sendo assim, é possível apontar a putrescina como indicadores de qualidade de alimentos e estabelecer o controle do acúmulo em diversos tipos de produtos alimentícios, visto que o excesso pode afetar a saúde humana. Apesar disso, não existe uma legislação específica estabelecendo os limites permitidos de cada amina biogênica em alimentos. No Brasil, a legislação regulamenta apenas a histamina em pescados frescos e seus derivados, limitando a concentração máxima em 100 mg L-1 (BRASIL, 1997). Existem diversos métodos analíticos para a quantificação de aminas biogênicas. A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) com derivatização química (pré ou pós-coluna) é muito citada na literatura para a separação e quantificação dessas aminas em alimentos (ÖNAL, 2007). No entanto, os métodos baseados no HPLC apresentam alto custo operacional relativo e exige muito rigor na preparação das amostras para não sobrecarregar as colunas de separação. Atualmente, os nanomateriais de carbono, incluindo os ditos pontos quânticos de carbono (CQDs) e de grafeno (GQDs), estão sendo usados em aplicações para a segurança alimentar (SHI et al, 2019; ZHANG et al, 2022). Os CQDs e GQDs são materiais muito atraentes devido a sua alta biocompatibilidade, baixa toxicidade relativa e propriedades ópticas peculiares. Além disso, põem ser produzidos por diversas estratégias, inclusive algumas muito simples, gerando nanomaterias que se estabilizam coloidalmente em água, produzindo intensa fotoluminescência, larga faixa de extinção óptica e propriedades redox interessantes (NGAFWAN et al, 2022). O presente trabalho se propõe em apresentar um estudo visando avaliar o potencial dos pontos quânticos de grafeno (GQDs) como sondas analíticas fotoluminescentes para a quantificação da amina biogênica putrescina. Quatro dispersões de GQDs em dispersões coloidais aquosas produzidos por fusão e hidro- esfoliação foram analisadas para compara a sensibilidade de cada uma à presença de putrescina. Diferentes GQDs fotoluminescentes foram preparados usando ácido cítrico como precursor, sozinho ou misturado com outros compostos contendo heteroátomos (N e/ou S) visando funcionalização da nanoestrutura, no caso a tiouréia (TU), a ureia (U) e a glutationa reduzida (GSH).

Material e métodos

As medições de fotoluminescência foram feitas em um espectrômetro de luminescência modelo LS 55 (Perkin-Elmer) usando velocidade de varredura de 1000 nm min-1, com banda espectral passante de 10 nm. Cubetas de quartzo de comprimento de caminho óptico de 1 cm foram usadas para condicionar as sondas no momento da medição. Os GQDs foram preparados utilizando a hidro-esfoliação do ácido cítrico (1,0 g) sozinho ou na presença de outros precursores orgânicos (0,3 g) fundidos. Os outros precursores foram tiouréia (TU), ureia (U) ou glutationa (GSH), todos da Sigma Aldrich (EUA). A preparação foi adaptada de Franco (2019), em que o precursor sólido foi aquecido em um béquer, a cerca de 240ºC, até que o material fundido atingisse uma coloração marrom clara. Em seguida, a massa pirolisada foi despejada em um béquer contendo água ultrapura (18,2MΩ cm) na temperatura ambiente, obtida do ultra purificador Milli-Q gradient A10 (Millipore, EUA), sob agitação por 20 min, formando uma mistura amarelo-pálido rica em GQDs (dispersão coloidal denominada de dispersão original). A fotoluminescência foi medida após as dispersões de trabalho originais de GQDs terem sido diluídas em água ultrapura. Os parâmetros experimentais de todas as dispersões estão descritos na Tabela 1. A putrescina foi preparada a partir de uma solução estoque de 1000 mg L-1.

Resultado e discussão

As dispersões originais foram diluídas conforme o fator de diluição da Tabela 1 para se adequar a intensidade da fotoluminescência em função da saturação do detector do equipamento, pois a fotoluminescência dos GQDs funcionalizados é afetada conforme a natureza do modificador químico. O comprimento de onda máximo de emissão e excitação de cada dispersão são descritas na Tabela 2. Para comparação de desempenho, curvas analíticas foram construídas para cada tipo de dispersão com a adição de putrescina nas concentrações de 10, 30, 50, 70 e 90 mg L-1. Os espectros de emissão podem ser observados na Figura 1. Como pode ser observado na Figura 1, a dispersão de GQD-TU foi a única que apresentou resposta satisfatória em função da presença de putrescina. Ademais, a sonda fotoluminescente GQD-TU é do tipo turn-on, ou seja, de ativação, com aumento da fotoluminescência proporcional ao aumento da concentração de putrescina. Provavelmente, os grupos C=S do GQDs-TU interagem com o par de elétrons não ligantes dos grupos NH2 da putrescina, favorecendo a transferência eletrônica, aumentando a taxa de recombinação excitônica do nanomaterial (responsável pela fotoluminescência medida). A confirmação desta hipótese depende do estudo de caracterização que será realizado em etapas posteriores. Tomando como base a resposta encontrada, se realizou uma série de testes de diluição em água ultrapura do nanomaterial (GQDs-TU) a fim de otimizar a relação concentração de putrescina e quantidade de nanomaterial de forma a otimizar a sensibilidade da sonda. Foi encontrado respostas ainda melhores na proporção 2% (v/v; GQDs-TU:água) na qual foi possível detectar melhor sensibilidade da resposta (capacidade de diferenciar concentrações próximas de putrescina) e comportamento linear do sinal líquido (L –L0, onde L é a luminescência medida da sonda na presença de putrescina e L é a luminescência medida na ausência de putrescina). Para otimizar a faixa de trabalho, a curva analítica foi construída com adição de putrescina nas concentrações de 0,5; 1,0; 5,0; 10,0; e 30,0 mg L-1, conforme detalhado na Figura 2. Pode-se observar, na Figura 2A, que a intensidade da fotoluminescência fica mais intensa gradativamente na medida que a concentração de putrescina aumenta. A curva analítica foi construída usando a fotoluminescência líquida (L - L0) como mostrado na Figura 2B. A resposta linear (R2 = 0,9946) abrangeu uma ampla faixa desde 0,50 até 30,0 mg L-1, (concentração final). O modelo de equação da curva analítica foi (L - L0) = (0,160) [putrescina]mg L-1 + (19,708). O limite instrumental de quantificação (LOQ) foi considerado como a concentração mais baixa na faixa de 0,5 a 30 mg L- 1, que ainda mantêm a resposta linear pelo menos em R2 = 0,9946.

Tabelas

Tabela 1 - Parâmetros experimentais das dispersões de GQDs Tabela 2 - Comprimento de onda máximo de excitação e emissão das dispersões de GQS

Figuras

Fig1: Espectros das sondas de GQDS com adição de putrescina Fig2: A) Espectro da sonda GQDs-TU com adição de putrescina;B) Curva analítica

Conclusões

A viabilidade de uma sonda fotoluminescente para detecção de putrescina foi avaliada usando quatro tipos de GQDs, produzidos com diferentes precursores, com o objetivo de encontrar a mais sensível. A dispersão de GQDs-funcionalizados com tiouréia foi a única que demonstrou aumento da resposta em termos de intensidade da fotoluminescência, proporcional ao aumento da concentração de putrescina. A partir disso, é possível dizer que a sonda fotoluminescente GQDs-TU, apresenta grande potencial para aplicação em amostra real (carne bovina, por exemplo), depois de serem ajustadas condições para melhorar a seletividade da resposta analítica.

Agradecimentos

Os autores agradecem CAPES, FAPERJ e CNPq pelo fomento e bolsas de pesquisa.

Referências

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Portaria n°185, de 13 de maio de 1997 da Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, aprovado pelo Decreto n° 30.691, de 29 de março de 1952 e Considerando a Resolução Mercosul GMC n° 40/94, que aprovou o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Peixe Fresco (Inteiro e Eviscerado). Diário Oficial da União 1997; 19 maio.

FRANCO, Claudiomar Rodrigues. Evaluation of a turn-off photoluminescent probe based on graphene quantum dots for the determination of Hg2+ in water samples using flow injection analysis.. Rio de Janeiro, f. 90, 2019.. 169 p Dissertação (Química) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
HUSSAIN, A. et al. High-affinity olfactory receptor for the death-associated odor cadaverine. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 110, n. 48, p. 19579–19584, 2013.
NGAFWAN, Ngafwan et al. Study on novel fluorescent carbon nanomaterials in food analysis. Food Science and Technology, v. 42, 2022
ÖNAL, A. A review: Current analytical methods for the determination of biogenic amines in foods. Food Chemistry, v. 103, n. 4, p. 1475–1486, 2007.

ÖZOGUL, Y.; ÖZOGUL, F. Chapter 1: Biogenic Amines Formation, Toxicity, Regulations in Food. In: SAAD, B.; TOFALO, R. Biogenic Amines in Food: Analysis, Occurrence and Toxicity. 1 ed. Londres: Royal Society of Chemistry, 2019.. 330 p. cap. 1, p. 1-17. Disponível em: https://pubs.rsc.org/en/content/chapterhtml/2019/bk9781788014366-00001?isbn=978-1-78801-436-6. Acesso em: 1 jun. 2022.

SHALABY, A. R. Significance of biogenic amines to food safety and human health. Food Research International, v. 29, n. 7, p. 675-690, 1996.
SHI, X. et al. Review on carbon dots in food safety applications. Talanta, v. 194, p. 809–821, 2019.
ZHANG, W. et al. Carbon quantum dot fluorescent probes for food safety detection: Progress, opportunities and challenges. Food Control, v. 133, Part A, p.1-24. (2022).

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