Autores
Silva, S.R.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Melo, K.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Moura, A.A.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Gatti, L.C.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Costa, C.E.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Nascimento, L.A.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)
Resumo
As oleaginosas andiroba e pracaxi são plantas nativas do Brasil, comumente
encontradas na região Norte. Ambas são reconhecidas pelas suas propriedades
medicinais e bioativas. O objetivo desse estudo consiste na caracterização
físico-química desses óleos vegetais de acordo com as normas oficiais da
American Oil Chemist’s Society (AOCS) determinando os seguintes parâmetros de
qualidade: acidez, peróxido, saponificação, iodo, estabilidade oxidativa e
perfil de ácidos graxos. Obteve-se como resultados que ambos são constituídos
principalmente de ácidos graxos insaturados, tendo como majoritário o ácido
oleico. Apesar disto, o óleo de pracaxi apresentou uma estabilidade oxidativa
(37,10 h) até quatro vezes maior que o óleo de andiroba (9,76 h), isso pode
estar atrelado a compostos bioativos.
Palavras chaves
Ácidos graxos; Estabilidade oxidativa; Óleos vegetais
Introdução
O Brasil apresenta um grande potencial para a produção de óleos vegetais, no
qual ocupa a 7ª posição com uma produção de 9,85 milhões de toneladas anuais
(SANTOS et al., 2022). Dentre os estados brasileiros, o Pará possui uma vasta
espécie de oleaginosas características da região, sendo que o mesmo está
localizado na região amazônica, rica em espécies vegetais (CONCEIÇÃO et al.,
2015; PANTOJA et al., 2013). Entre as incontáveis espécies da Amazônia, as
sementes oleaginosas, das quais se extraem óleos vegetais, ganham destaque por
apresentarem em sua composição química compostos bioativos com potencial para
produção de produtos cosméticos, alimentícios, farmacêuticos e entre outros
(KAMINSKI et al., 2007).
Dentre essas espécies destacam-se a andirobeira (Carapa guianensis Aubl), no
qual é uma árvore nativa da região amazônica comumente encontrada no norte do
país. O óleo de Andiroba é composto por altos níveis de triacilgliceróis
insaturados e limonóides que atribuem atividade biológica ao óleo LIRA et al.,
2021). Assim como o Pracaxi (Pentaclethra macroloba), também conhecido como
paraocaxi ou paranacaxi, e que no Brasil, cresce especificamente, nos estados do
Amapá, Pará e Amazonas (DUARTE JUNIOR, 2016; OLIVEIRA et al., 2019). O óleo de
pracaxi é composto de vários ácidos graxos, estando em maior quantidade o ácido
oleico (53%) e o ácido behênico (16%), seguido dos ácidos linoleico e
lignocérico, per-fazendo 96% do total de ácidos graxos presentes neste óleo
(MORAIS, 2005).
Os óleos oriundos de fontes vegetais podem de acordo com sua composição trazer
inúmeros efeitos benéficos à saúde, como por exemplo, os relacionados aos
estudos alimentícios (SILVA, 2018). Apesar dos óleos de andiroba e pracaxi
serem bem relatados na medicina popular, poucos são os trabalhos experimentais
relacionados ao amplo espectro de ação, eficácia e atividade biológica serem bem
relatados (SILVA, 2018). Com isso, considera-se que um estudo relacionado à
valorização dos óleos de andiroba e pracaxi como fonte potencial de
constituintes funcionais é de suma importância, que pode contribuir para o
conhecimento mais completo da composição dessas espécies gerando assim novas
alternativas de aproveitamento pela comunidade e/ou indústria. Mediante o
exposto, objetivou-se identificar neste estudo as características físico-
químicas e a composição de ácidos graxos, para a melhor utilização desses óleos
vegetais quando destinados para fins medicinais e industriais, como também,
visando contribuir no conhecimento do potencial desses óleos.
Material e métodos
Os óleos de pracaxi e andiroba foram adquiridos por uma empresa local, ambos
brutos e sem a adição de antioxidantes. As análises foram realizadas no
Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA) da Universidade Federal do Pará – UFPA. A
caracterização das amostras foi realizada de acordo com a metodologia da
American Oil Chemists Society (AOCS), mediante as seguintes propriedades físico-
químicas: índice de acidez (AOCS Ca 5a-40) em que consiste na determinação de um
número de miligramas de hidróxido de potássio (KOH) necessário para neutralizar
os ácidos graxos livres em um grama de amostra, índice de peróxido (AOCS Cd Ja
8-87) no qual é usado para determinar o grau de oxidação do óleo, índice de
saponificação (AOCS Cd 3-25) que define a quantidade de hidróxido de potássio
(KOH) necessária para saponificar 1 grama de óleo ou gordura, índice de iodo
(AOCS Cd 1c-85) o qual corresponde ao número de duplas ligações da gordura
avaliada, sem indicar sua distribuição entre os ácidos graxos presentes e sem
identifica-los e a estabilidade oxidativa (AOCS Cd 12b-92) pelo aparelho
Rancimat 873 (Metrohm), em que o fluxo de ar (10L/h) passa através do óleo que é
mantido sob aquecimento em uma temperatura de 110 °C, e em seguida é borbulhado
em água deionizada, arrastando os ácidos carboxílicos voláteis que se
solubilizam, aumentando a condutividade elétrica da água e que depois de um
certo tempo esses ácidos graxos são completamente oxidados. A composição em
ácidos graxos (AOCS Ce 2-66) foi determinada usando um cromatógrafo a gás,
modelo GC-2010 (Shimadzu), equipado com um detector de ionização de chama (FID)
e uma coluna capilar TG-WAX MS de 30 m de comprimento com 0,32 mm diâmetro
interno e filme de 0,25 μm. A identificação dos principais ácidos graxos
presentes nos óleos foi realizada por comparação dos tempos de retenção dos
picos das amostras com os dos padrões conhecidos de ácidos graxos metilados
(SIGMA) e a quantificação, por cálculo das áreas dos picos.
Resultado e discussão
Os resultados da determinação das propriedades físico-químicas desses óleos
estão presentes na Tabela 1. Em 22 de setembro de 2005 foi aprovada a Resolução
n° 270 da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), que trata do “Regulamento
técnico para óleos vegetais, gorduras vegetais e creme vegetal”, esta resolução
estabelece que os índices de acidez e peróxido máximos para óleos e gorduras não
refinados e prensados a frio é de 4 mg de KOH/g e 15 meq O2/kg, respectivamente.
É possível concluir que os óleos de andiroba e pracaxi estão de acordo com a
legislação brasileira vigente quanto aos índices supracitados.
O óleo de andiroba apresentou resultados muito próximos aos limites máximos
determinados pela resolução da 270/2005 da ANVISA, com índice de acidez 2,61 mg
KOH/g e o índice de peróxido 12,60 meqO2/kg revela que esse óleo se encontra com
maior grau de oxidação quando comparado ao óleo de pracaxi que obteve 1,99
meqO2/kg de peróxido e 1,06 mg KOH/g sua acidez. Os índices de saponificação,
que se relacionam à natureza dos ácidos graxos constituintes do óleo, para os
óleos de andiroba e pracaxi foram 192,74 e 191,61 mg KOH/g, respectivamente. O
índice de iodo calculado para os óleos de andiroba e pracaxi foram 54,16 e 57,94
gI2/100g, esses óleos tiveram menor índice de iodo, pois apresentam maior
porcentagem de ácidos graxos insaturados.
A composição de ácidos graxos de ambos os óleos obtidas mostrou que os
principais ácidos graxos são insaturados, com 60,71% no óleo de andiroba e
66,11% no óleo de pracaxi (Tabela 2). Na sua composição o óleo de andiroba
obteve como majoritários o ácido oléico com 50,26%, seguido do ácido palmítico
com 28,50%, linoleico com 9,45% e 8,99 de esteárico. Dentre os ácidos graxos
saturados presente no óleo de andiroba, o ácido palmítico (C16:0) foi o
predominante, igualmente como relado por Silva (2018).
O óleo de pracaxi em seu perfil em ácidos graxos revelou como predominantes o
ácido oleico com 52,97%, behênico com 16,23%, linoléico com 12,26% e lignocérico
com 10,77%. Todos esses resultados estão de acordo com os obtidos por Costa et
al., (2013) que foram de 53,55% em oleico, 16,13% em behênico, 13,05% em
linoléico e 10,44% em lignocérico. A presença de teores adequados de ácido
linoleico nos óleos vegetais também é de fundamental importância, já que a
ocorrência deste ácido graxo tende manter a qualidade do óleo em evitar a
formação do colesterol total e ruim (LDL) e proporcionar o aumento do bom
colesterol (HDL) (MARTIN et al., 2006). Quanto à estabilidade oxidativa, o óleo
de andiroba apresentou menor estabilidade oxidativa quando comparado ao óleo de
pracaxi. Os períodos de indução desses óleos foram: andiroba: 9,76h; pracaxi:
37,10h. Esses resultados revelam a presença de uma grande quantidade de ácidos
graxos livres no óleo de andiroba, o qual apresenta maior índice de acidez e de
peróxido. Estudos estão sendo realizados na investigação de compostos bioativos
presentes nos mesmos, como atividade antioxidante, compostos fenólicos e
carotenoides. Além de possíveis misturas dos óleos de andiroba e pracaxi para
potencializar suas ações popularmente já conhecidas na medicina popular e
avaliar a resistência a oxidação com a estabilidade oxidativa.
Conclusões
Os óleos estudados apresentaram resultados físico-químicos dentro da resolução da
270/2005 da ANVISA. Esses parâmetros analisados contribuem na estimativa de outras
propriedades, especial potencial para a indústria de medicamentos e fitoterápicos,
pois apresentou a maior porcentagem de ácidos insaturados em detrimento dos
saturados, perfil este considerado ideal para óleos convencionais.
Embora os ácidos graxos insaturados possam ser mais propensos a oxidação, neles
que possuem as atividades bioativas, que podem ser utilizados na indústria
farmacêutica. Ação terapêuticas e até mesmo como uso medicinal, para isto serão
realizados estudos mais aprofundados para caracterização dessas propriedades, que
possam mostrar indícios, como atividade antioxidante, composto fenólicos,
carotenoides. Além de mistura dos óleos para potencializar essas ações e
propriedades desses óleos.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA), Universidade
Federal do Pará (UFPA) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Referências
CONCEIÇÃO, L.R.V.; COSTA, C. E. F.; ROCHA FILHO, G. N.; PEREIRA FILHO, E. R.; ZAMINIAN, J. R. Ethanolysis optimisation of jupati (Raphia taedigera Mart.) oil to biodiesel using Response Surface Methodology. J. Braz. Chem. Soc., Vol. 26, No. 7, 1321-1330, 2015.
COSTA, M.N.F.S.; MUNIZ, M.A.P.; NEGRÃO, C.A.B.; COSTA, C.E.F.; LAMARÃO, M.L.N.; MORAIS,L.; SILVA JÚNIOR, J.O.C.; COSTA, R. M.R. Characterization of Pentaclethra macroloba oil. Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, p.1, 2013.
DUARTE JUNIOR, A. P. Preparação de carreadores lipídicos nano estruturados a partir de cera de carnaúba e óleo de pracaxi contendo dexametasona para tratamento tópico de inflamações cutâneas. 2014. 117p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêutica, Santa Maria, RS, 2014.
KAMINSKI, P. E., H. TONINI, P. COSTA. Estrutura e produção de sementes de uma população nativa de andiroba (Carapa spp) no sul do estado de Roraima. In: VIII Congresso de Ecologia do Brasil. Anais. ABES: 2007, Caxambu-MG.
LIRA, G. B., LOPES, A. S. C., NASCIMENTO, F. C. A., CONCEIÇÃO, G. S., BRASIL, D. S. B. Processos de extração e usos industriais de óleos de andiroba e açaí: uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 12, 2021.
MORAIS, L. R. Produção de óleo de duas espécies amazônicas por prensagem: Bacuri Platonia insignis (Mart.) e Pracachy Pentaclethra macroloba (Willd). 2005. 76p. Dissertação (Mestrado) – Química Orgânica, Universidade Federal do Pará, Centro de Ciências Exatas e Naturais, Pará, 2005.
OLIVEIRA, W. S.; SILVA. J. A. M.; ROCHA, C. A. M. Scientiic and Technological Prospection of the use of Pracaxi Oil. Cadernos de Prospecção, v. 12, n. 5, p. 1560-1571, 2019.
PANTOJA, S. S.; CONCEIÇÃO, L. R. V.; COSTA, C. E. F.; ZAMIAN, J. R.; ROCHA FILHO, G. N. Oxidative stability of biodiesels produced from vegetable oils having diferente degrees of unsaturation. Energy Conservasion and Management, v. 74, p. 293-298, 2013.
SANTOS, A. C.; FERREIRA, P. M.; LOPES, C. L.; BRAGA, M.; VIANA, M. N.; Estudo prospectivo de óleos vegetais. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Agroenergia, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília, DF, 2022.
SILVA, L. R. Propriedades físico-químicas e perfil dos ácidos graxos do óleo da andiroba. Nativa, v. 6, n. 2, p. 147-152, 2018.