• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Correlação de medidas magnéticas com a dureza e precipitação de fases no aço inoxidável supermartensítico UNS S41427 tratado termicamente

Autores

Noris, L.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Furtado, A.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Garcia, P.S.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Velasco, J.A.C. (INSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGIA) ; Ponzio, E.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Alves, O.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Cardoso, J.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Pardal, J.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

Resumo

Os aços inoxidáveis supermartensíticos (AISM) são uma classe de materiais requisitados na exploração de petróleo. Entretanto, durante os tratamentos térmicos empregados para ajuste da dureza pode ocorrer precipitação de fases prejudiciais. Relacionar as propriedades magnéticas com a dureza pode fornecer, também, informação da quantindade de precipitados facilitando o controle de qualidade na fabricação ou aquisição. Neste trabalho, o AISM UNS S41427 passou por diverentes tratamentos na faixa de 300-670°C para relacionar a dureza com medidas magnéticas obtendo-se uma relação boa com a indução de saturação (Bs), além disso a análise do Bs por histerisígrafo apresentou resultados de 1 a 5% inferior aos de um magnetômetro de amostra vibrante, equipamento mais complexo.

Palavras chaves

Magnetismo; Simulações termodinâmicas; Microestrutura

Introdução

Os aços inoxidáveis supermartensíticos (AISM) são um aprimoramento dos martensíticos convencionais (AIM) para emprego em condições mais severas na exploração de petróleo. A redução do teor de carbono faz com que a microestrutura martensítica destes materiais passe a ser cúbica de corpo centrado (CCC) em oposição à tetragonal de corpo centrado dos AIM. Entretanto, durante os tratamentos térmicos empregados para ajuste das propriedades mecânicas pode ocorrer precipitação de fases prejudiciais, tais fases podem ser austenita e espécies do tipo metais + carbono e/ou nitrogênio (MX) que ocorre, preferencialmente, em aços contendo elementos estabilizadores como Ti, Nb e V. Estas fases podem alterar as propriedades mecânicas e magnéticas do material, sendo a martensita ferromagnética e mais dura, já a austenita paramagnética e menos dura. Os ensaios mecânicos são muito requisitados, mas medidas magnéticas podem dar infomações sobre quantidade de fases precipitadas e a relação desta com as propriedades mecânicas dos AISM são importantes para facilitar o controle de qualidade das peças fabricadas ou adquiridas. Dentre estes, as medidas magnéticas são capazes de indicar presença de fases prejudiciais diretamente relacionadas com queda da resistência destas ligas. Portanto, este trabalho tem como foco a relação das fases presentes (e sua composição química acessada por simulações termodinâmicas) e das respostas à técnicas de magnetização de saturação a com dureza em amostra de um AISM de designação UNS S41427 revenido em diversas temperaturas.

Material e métodos

De um tubo foram amostras para realização de 11 tratamentos térmicos distintos, tendo 3 amostras para cada condição. Todas passaram pelo tratamento de têmpera a 1000ºC por uma hora e com resfriamento em óleo. Destas 8 passaram por tratamentos de revenido na faixa de 300 a 650°C (8 amostras) todos por 1h, seguidos de resfriamento ao ar. Finalmente, 2 passaram por um duplo revenido, a 670°C por uma hora e a 600°C por 2 e 8 horas. Estes tratamentos foram escolhidos baseadas em um estudo prévio realizado por da Da Silva (2011), no qual foi abordado o efeito de tratamentos térmicos em um aço supermartensítico com adições de titânio. A composição química do AISM estudado é 12,7Cr5,6Ni1,9Mo0,2V estando de acordo com a categoria UNS S41427. A medida dureza foi realizada na escala Rockwell C com 6 medidas em cada amostra para estabelecer uma média, já a medida de fluxo magnético foi realizada num segundo conjunto de amostras envoltas em uma bobina e com um marco para fechar o circuito magnético, enquanto que a magnetização no magnetômetro de amostra vibrante (VSM) pertencente ao Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas foi feito em um terceiro conjunto, isso foi feito para melhorar as respostas das diferentes técnicas. A simulação termodinâmica foi realizada com o software Thermo-Calc pertencente a Universidade Federal do Ceará usando a base de dados TCFE6 seguindo a composição química do material.

Resultado e discussão

As simulações termodinâmicas indicam a presença de 3 fases, além da martensita, nas temperaturas escolhidas para revenido: austenita, MX (M=V, Fe, Cr e X = C e N), Cr23C6. Estas fases tendem a diminuir o caráter magnético do material, além disso a precipitação em temperaturas menores tende a ser mais fina o que endurece o material (possivelmente precipitação de VX) e em temperaturas maiores a precipitação se torna mais grosseira (austenita, Cr23C6) diminuindo a dureza. Isto fica evidente nos resultados de dureza Rockwell, pois a dureza cresce com o aumento da temperatura de revenido até 500°C (34 HRC) e depois desta ela decai até 25 HRC em 650°C, nas amostras duplamente revenidas ela fica por volta de 27 HRC (Figura 1). A norma NACE MR0175/ISO15156 (2015) prevê que a dureza adequada deve ser inferior a 29 HRC para ambientes contendo H2S, sendo muito importante para a indústria offshore. Como a queda da dureza está relacionada ao surgimento de fases paramagnéticas foi realizada uma comparação entre o Bs medido pelo histeresígrafo e a dureza Rockwell (Figura 2), mas isso só foi possível pois a diferença no Bs medido pelo histeresígrafo e o medido pelo VSM foi pequeno (entre 1 e 5%). Adotando o valor de 29 HRC fica claro que todas as amostras que estão dentro do limite apresentaram Bs inferior a 1,25T e estas são as que apresentam os maiores valores de austenita tanto pela simulação termodinâmica quanto por comparação da magnetização de saturação (ms). Acima deste valor não há muita precisão na relação com dureza, pois a precipitação que remove ferro da matriz ainda não é provavelmente de austenita, que tem papel principal na queda da dureza.

Figura 1

Dureza do AISM em cada condição de tratamento térmico.

Figura 2

Correleção da dureza com o Bs (histeresígrafo)

Conclusões

A técnica de fluxo magnético se mostrou eficaz para detectar o surgimento de fases paramagnéticas e, com isso, foi possível relacionar com a precipitação prevista pelo software Thermo-Calc. A indução de saturação (Bs) no histeresígrafo se mostrou um bom parâmetro qualitativo acerca da dureza da liga e, como esta propriedade é um dos requisitos para utilização pela indústria offshore esta técnica pode ser usada como uma possível técnica alternativa. Nesse sentido, as amostras com mais austenita e com dureza adequada apresentaram Bs inferior a 1,25T.

Agradecimentos

À PETROBRAS S.A. pelo apoio financeiro e a permissão de divulgar estes resultados, a EMBRAPII, a CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro e pela concessão de bolsas de estudo.

Referências

DA SILVA, G. F.; TAVARES, S. S. M.; PARDAL, J. M.; SILVA, M. R.; DE ABREU, H.
F. G. Influence of heat treatments on toughness and sensitization of a Ti-alloyed supermartensitic stainless steel. Journal of Materials Science, vol. 46, n. 24, p. 7737–7744, 2011.
NACE. NACE MR0175 Part 1 - Materials for use in H2S-containing environments in oil and gas production: General principles for selection of cracking-resistant materials, n. 21307, 2015.

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