• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Síntese de nanopartículas de prata mediada pelo óleo essencial da espécie Piper divaricatum

Autores

Dias, C.P. (UFPA/CAMPUS ANANINDEUA) ; Rosa, D.L.S. (UFPA/CAMPUS ANANINDEUA) ; Souza, G.S. (UFPA/CAMPUS ANANINDEUA) ; Franco, A.R.B. (UFPA/CAMPUS ANANINDEUA) ; Santos, I.S. (UFPA/CAMPUS ANANINDEUA) ; Ribeiro, A.F. (UFPA/CAMPUS ANANINDEUA) ; Paula, M.V.S. (UFPA/CAMPUS ANANINDEUA)

Resumo

Obtém-se nanopartículas de prata (AgNPs) por diferentes métodos, geralmente utiliza-se reagentes químicos de alto custo e potencialmente tóxicos. Por essa razão, esta pesquisa versa a preparação de AgNPs por um método “verde”, empregando o óleo essencial de Piper divaricatum como agente redutor dos íons Ag+. Para a síntese, utilizou-se diferentes volumes do óleo essencial, tendo o AgNO3 como precursor para formação das nanopartículas. As amostras foram caracterizadas por espectroscopia UV-Vis, onde apontou-se intensidades máximas da banda SPR para um intervalo de 400 a 500 nm, evidenciando a formação de AgNPs. Os resultados se mostraram satisfatórios para obtenção de AgNPs, destacando o referente óleo como uma matriz viável e de baixo custo, em relação aos agentes redutores nocivos.

Palavras chaves

Nanopartículas de prata; Óleo essencial; Método verde

Introdução

Os materiais nanoestruturados têm sido bastante investigado nos últimos anos. Parte desse fascínio ocorre devido as inúmeras propriedades e aplicações que esses materiais possuem quando reduzidos a escala nanométrica (ENDERLE et al., 2018; MELO JR et al., 2012). Dentre eles, destacam-se as nanopartículas metálicas, em especial as de Prata, altamente empregadas no campo da informática, engenharia de tecidos, fabricação de embalagens, biotecnologia (SENA et al., 2021; ALMEIDA et al., 2015) e na área das ciências médicas (NAJAFI-TARER et al., 2018). Dentre os diversos processos de sínteses de nanopartículas de prata (AgNPs), os métodos por redução química de sais metálicos ou íons metálicos na presença dos agentes redutores boroidreto e citrato de sódio, são considerados mais comuns (SENA et al.,2021; DURÁN et al., 2019). No entanto, pesquisas demonstraram que tais processos possuem várias limitações, por serem lentos, de custo elevado, e por envolverem o uso de reagentes químicos prejudiciais ao meio ambiente (RAJA; RAMESHI; THIVAHARAN, 2017). Visando essas desvantagens, os métodos biológicos, têm surgido como uma alternativa a síntese convencional, uma vez que reduz a produção de resíduos indesejáveis e consequentemente evita a poluição (SENA et al., 2021). São considerados economicamente viável e ecologicamente corretos, baseados no verde, onde emprega-se agentes redutores de recursos vegetais, bem como extratos de plantas e óleos essenciais (MACIEL et al., 2020). Em geral, a composição dessas matrizes, são ricas em flavonoides, terpenos, alcaloides, fenólicos e sacarídeos capazes de reduzir e estabilizar os íons metálicos formando as nanopartículas de prata (GUIMARÃES; AMARANTE; OLIVEIRA, 2021). Dentro desse contexto, encontram-se na literatura diversos relatos sobre diferentes espécies de plantas e óleos essenciais, que se destacam por serem fonte de compostos bioativos (ANDRÉ et al., 2018) e por apresentarem excelentes propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais, anti-inflamatórias e antioxidantes (BURT,2004; ZHANG et al., 2021; REHMAN, 2021). Dentre as quais são citadas Origanum vulgare (DA ROSA et al., 2020), Myristica fragrans (VILAS; PHILIP; MATHEW, 2014), Azadirachta indica (NAZERUDDIN et al., 2014) Rosmarinus officinalis L (AMARAL et al., 2019), Syzygium aromaticum L (COSTA et al., 2011), Cymbopogon martinii (JUMMES et al., 2020) e Piper divaricatum (SILVA et al., 2014). No que tange a espécie Piper divaricatum (Piperaceae), é reportado inúmeros benefícios e aplicações através de seu óleo essencial (SOUSA EM et al, 2018). No entanto, ainda não há relatos sobre sua utilização para produção de nanopartículas. Diante do exposto, esse trabalho teve por objetivo realizar uma síntese verde de nanopartículas de prata, utilizando o óleo essencial da espécie Piper divaricatum como agente redutor dos íons metálicos. Além disso, buscou-se analisar a composição química do óleo essencial por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG/EM), e investigar por espectroscopia na região do Ultravioleta-Visível (UV-Vis) o comportamento das amostras de AgNPs produzidas com diferentes volumes do óleo essencial ao longo dos meses.

Material e métodos

A espécie Piper divaricatum foi coletada na cidade universitária Prof. José da Silveira Netto/Guamá, no Campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), conforme as técnicas descritas por Rotta, Carvalho e Zonta (2008). Posteriormente, realizou-se a preparação da exsicata de acordo com Freitas et al. (2021). Em seguida, as folhas e ramos finos do material botânico coletado foram depositados sobre bandejas e secas em estufa, sob uma temperatura de 40°C e ventilação constante durante cinco dias. Após esse período, o mesmo foi triturado em moinho de facas e embalado para a extração, que foi realizada pela técnica de arraste à vapor durante 3 horas, seguindo o método de Cassel et al. (2009). O óleo obtido foi centrifugado durante 4 minutos a 4.000 rpm, e desidratado com Sulfato de sódio anidro (Na2SO4), sendo acondicionado em ampola de vidro âmbar, na ausência de oxigênio, etiquetado e conservado em ambiente refrigerado entre 5 e 10°C. A composição química do óleo essencial foi investigada por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG/EM) em sistema (SHIMADZU Qp Plus-2010, Tóquio, Japão). A síntese de AgNPs foi realizada conforme a metodologia reportada por Vilas; Philip e Mathew (2014), porém passando por algumas modificações. Para síntese, preparou-se uma solução de AgNO3 na concentração de 0,31 mmol.L-1, cujo o pH foi ajustado para 8 utilizando NaOH e KOH a 0,1 mol.L-1. Posteriormente, o óleo essencial foi previamente diluído em acetona na proporção de 0,5:85 (v/v). Na sequência, transferiu-se cinco amostras de 30 mL da solução para uma chapa de aquecimento, onde permaneceram até atingir seu estado de ebulição (100°C). Ainda estando quente, as mesmas foram levadas rapidamente para um agitador magnético, no qual foi adicionado gota a gota diferentes volumes do óleo essencial (1, 2, 3 e 4 mL respectivamente), para cada amostra, substituindo a base para o ajuste do pH. As soluções permaneceram agitando vigorosamente por 30 minutos, resultando na mudança de incolor para amarelo. Ao final, foram adicionadas em frascos, envolvidas em folhas de papel alumínio, para impedir a degradação, e armazenadas em ambiente refrigerado a ± 6°C. As soluções obtidas, foram caracterizadas por espectroscopia do Ultravioleta- Visível (UV-Vis), através de um espectrofotômetro (SHIMADZU-Modelo UV-1800, Tóquio, Japão) em modo de varredura, em uma faixa de comprimento de onda de leitura de 200 a 800 nm, utilizando-se água destilada como branco. As amostras foram lidas à temperatura ambiente (25 ± 2°C) em uma cubeta de quartzo de caminho ótico de 1cm, usando o software (UVProb 2.43), sendo observadas após terem sido sintetizadas no tempo zero (t-0) e após decorrido 30, 60, 90 e 120 dias, a fim de verificar a estabilidade das nanopartículas quanto a tendência agregativa.

Resultado e discussão

A composição química do óleo essencial da espécie Piper divaricatum obtida por CG/EM está exposta na Tabela 1. Através da análise, os componentes majoritários do óleo foram quantificados e classificados como fenilpropanóides. Os resultados apontaram uma quantidade bem diversificada de compostos, destacando o metil-Eugenol (38.17%) e o Eugenol (24.74%) como constituintes encontrados em maior abundância no óleo essencial. O segundo componente majoritário (Eugenol), trata-se de um composto fenólico frequentemente relatado na literatura por apresentar atividade antibacteriana (THIHARA et al., 2016), suas estruturas são acompanhadas pelos grupos hidroxila que são fundamentais para redução dos íons metálicos, resultando na formação de nanopartículas de prata (MACIEL et al., 2020). A formação de AgNPs ocorreu através da redução da Ag+ em Ag0 do nitrato de prata (AgNO3), mediante a utilização do óleo essencial de Piper divaricatum. Como já mencionado, o óleo em questão, possui um percentual bem significativo de Eugenol, e esse composto age como agente redutor, por meio da doação de prótons de sua estrutura, o que foi evidenciado após a transformação da coloração das soluções, que passaram de incolor para amarelo (CÂMARA; VIANA; VIANA, 2021; MACIEL et al., 2019). De acordo com Almeida et al. (2015) a cor amarela observada na solução coloidal é decorrente da absorção da radiação eletromagnética em ressonância com a banda plasmons de superfície (SPR), ocasionada devido a oscilação coletiva do elétron de condução das partículas, em ressonância com a onda de luz incidente durante o processo de síntese (DADA et al., 2019; MELO JR et al.,2012). Após a síntese tempo zero (t-0) e ao longo de 120 dias foi retroprojetado um feixe de luz através de um laser, nas cinco amostras de nanopartículas de prata produzidas com diferentes volumes do óleo essencial e da base, para o ajuste do pH. Notou-se que o feixe luminoso atravessou facilmente as amostras durante os meses propostos, como mostra as figuras 1(A-B-C-D e E) o que pode ser explicado devido as soluções apresentarem partículas dispersas em tamanho nanométrico. Logo, é característico que ocorra o fenômeno denominado como espalhamento múltiplo ou efeito Tynddall (ALMEIDA, 2017; TOMA, 2009). A análise de espectroscopia UV-vis verificou a formação de nanopartículas de prata pela banda plasmônica de superfície (SPR), onde intensidades máximas da mesma, foi observada em diferentes picos durante os tempos (t-0, t-30, t-60, t-90 e t-120 dias) como ilustrado na Figura 2. O aumento da intensidade da banda ocorre em virtude da variação dos volumes do óleo essencial utilizado durante as sínteses, o que ocasiona o aumento na formação das nanopartículas (VILAS; PHILIP; MATHEW, 2014). Os picos apresentados, foram de aproximadamente 412 nm, 429 nm, 434 nm, 435nm, 436 e 440 nm, indicando que houve formação de AgNPs para as diferentes condições de sínteses testadas. Resultados condizentes com os encontrados na literatura, ao apontar a formação da banda SPR para AgNPs no intervalo de 400 a 500 nm (ENDERLE et al ,2018).

Figura 1

Análise química do óleo essencial (Tabela-1) Retroprojeção do feixe luminoso nas amostras de AgNPs (Figura 1(A-B-C-D-E).

Figura 2

Leituras de espectroscopia UV-Vis para as amostras de AgNPs contendo 1mL-NaOH (A), 2mL-KOH (B), 3ml-NaOH (C), 4mL-NaOH (D) e 2mL-NaOH (E).

Conclusões

O presente estudo demonstrou uma síntese verde viável de nanopartículas de prata, a partir do óleo essencial da espécie Piper divaricatum. Os resultados obtidos pela espectroscopia UV-vis, apresentaram intensidades máximas da banda SPR, para um intervalo de 400 a 500 nm, evidenciando a formação de AgNPs para todas as condições de sínteses testadas. A quantidade do segundo composto majoritário (Eugenol) presente no óleo essencial, foi de suma importância para que houvesse a redução de Ag+ em Ag0. Portanto, destaca-se o o óleo essencial de Piper divaricatum, como uma matriz promissora para a obtenção de AgNPs, uma vez que é de baixo custo e minimiza os resíduos indesejáveis ao meio ambiente.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Universidade Federal do Pará, a Faculdade de Química/Campus Ananindeua, ao LEPRON e laboratório de espectrofotometria da Faculdade de Engenharia Química/Guamá, ao PIBIC, PROPESP, ao CNPq e a PROEX.

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