• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Síntese e avaliação de novos híbridos 1,2,4-triazol-isatina como inibidores de corrosão do aço-carbono para aplicação na indústria de petróleo e gás

Autores

Santoro, A.S. (UFF) ; Campos, V.R. (UFF) ; Ponzio, E.A. (UFF)

Resumo

Os problemas gerados pela corrosão representam um grande prejuízo econômico para o setor de petróleo e gás, não somente devido aos gastos com inspeção, manutenção e perdas de estruturas, mas também pela ocorrência de acidentes que colocam em risco a saúde humana e a preservação do meio ambiente. Diante disto, neste trabalho pretendeu-se realizar a síntese dos novos híbridos 1,2,4-triazol- isatina em duas etapas reacionais, sendo a primeira consistindo na síntese dos precursores amino-triazólicos e a segunda etapa na reação destes com a isatina apresentando rendimentos entre 82-92% e 24-30%, respectivamente. A substâncias sintetizadas foram avaliadas como inibidor de corrosão do aço-carbono em HCl 1 mol/L por ensaios gravimétricos de perda de massa, obtendo-se eficiências de 50,2 a 84,7%.

Palavras chaves

1,2,4-triazol; isatina; inibidor de corrosão

Introdução

Diversas estratégias são implementadas pelo setor de petróleo e gás para aumentar a produtividade de um poço. Dentre elas, destaca-se a estimulação ácida de poços, uma técnica aplicada em unidades offshore, inclusive no pré-sal brasileiro. Nestes processos muitos dos equipamentos e estruturas empregadas são constituídos por aço carbono devido ao seu ótimo custo-benefício se comparado a outros tipos de materiais.(API, 2014; IABr, 2020) Todavia, é imprescindível destacar que as estruturas de aço carbono têm sua integridade afetada quando expostos a ambientes agressivos, tais como meios salinos e ácidos, sendo a indústria petroquímica uma das mais atingidas pelos prejuízos da corrosão. Estima-se, por exemplo, que cerca de 20% do aço produzido seja destinado a reposição de peças, partes de equipamentos e/ou trechos de instalações corroídas, ou seja, o equivalente a cerca de 400 mil toneladas, tendo como base a produção de aço mundial em 2021. (FRAUCHES-SANTOS et al., 2014; NACIRI et al., 2020; WSA, 2021) Desta forma, medidas de prevenção e mitigação da corrosão são frequentemente avaliadas nos processos de produção de petróleo. Uma das medidas que viabiliza o processo é a adição de inibidores de corrosão ao fluído de acidificação. Entretanto, há uma carência por inibidores cada vez mais eficientes, que atendam às especificações particulares do setor. (CARNEVAL, 2021; GENTIL, 2017) Dentre os núcleos relatados na literatura como potenciais inibidores de corrosão, o 1,2,4-triazol e a isatina vêm ganhando notoriedade nos últimos anos devido a algumas características estruturais como presença de átomos doadores de elétrons, como N e O, elétrons π e planaridade. (CALDONA et al., 2020; KHARBACH et al., 2017). Assim , a hibridação 1,2,4-triazol – isatina configura-se uma estratégia interessante para obtenção de uma nova classe de compostos aplicados a inibição da corrosão, sendo, portanto, o principal objetivo deste trabalho.

Material e métodos

Na primeira etapa reacional, uma mistura de 2,0 g (0,015 mol) de bicarbonato de aminoguanidina e 0,020 mol do ácido apropriado foi mantido sob agitação magnética a temperatura ambiente até a completa liberação de CO2. Em seguida, adicionou-se tolueno e aqueceu-se a mistura reacional ao refluxo com um aparelho Dean-Stark sob agitação durante 24 h. Formou-se um precipitado branco que foi resfriado, filtrado a vácuo e lavado com tolueno frio.(BOECHAT et al., 2011; JABOR et al., 2020) Já na segunda etapa, em um balão de fundo redondo de 250 mL, adicionou-se 8,1 mmol dos derivados de triazol e 5 mL de solução NaHCO3 1M. Em seguida adicionou-se 8,1 mol (1,19 g) de isatina solubilizada em etanol 95%. A reação foi monitorada por CCD, empregando-se como eluente uma mistura acetato de etila/metanol (3:1 / V:V). Após 24 horas, o solvente foi evaporado e o produto purificado por coluna cromatográfica utilizando sílica gel e como eluente uma mistura de acetato de etila/metanol (8:2). Os ensaios gravimétricos foram realizados tendo como base a norma ASTM G1-03 (2017). Os corpos de prova de aço carbono SAE 1020 foram polidos, sequencialmente, com lixas d’água de granulometria 220, 400 e 600 mesh. As dimensões da área exposta ao meio corrosivo foram medidas com paquímetro manual. Após, foram submetidos ao banho em acetona, secos e pesados. Os corpos de prova foram imersos a solução HCl 1 mol/L à 25°C, por 5 horas, na presença das substâncias com concentrações de 0,25; 0,5; 1,0 e 1,5 mmol/L. Após exposição, os corpos de prova foram retirados da solução e submetidos a seguinte sequência de imersões para limpeza, antes da nova pesagem: água e sabão; água destilada (2x); solução de Clark (HCl, Sb2O3, SnCl2), por 10 segundos; etanol 95%; acetona. Todos os ensaios foram feitos em duplicata.

Resultado e discussão

A síntese do híbrido 1,2,4-triazol-isatina 11 a-c envolveu duas etapas reacionais, conforme apresentado no Esquema 1. A primeira etapa consistiu em uma reação de substituição nucleofílica acílica entre os aldeídos substituídos 20a-c e bicarbonato de aminoguanidina 19 para obtenção dos precursores 4H-1,2,4- triazol-5-amina 10a-c com rendimentos entre 82-92 %. Já a segunda etapa da reação ocorreu por uma adição nucleofílica à carbonila cetônica (C-3) da isatina 18 pelos derivados amino-triazólicos substituídos previamente sintetizados na etapa anterior dando origem às substâncias alvo 1,2,4-triazol-isatina 11a-c com rendimentos entre 24 e 30 %, sendo 11b (-CH3) e 11c (-CF3) inéditos. Todos os produtos tiveram suas estruturas confirmadas por espectroscopia na região do Infravermelho (IV) e por RMN 1H. Devido a demanda por novos inibidores de corrosão, de maior eficiência, segurança e menor custo, pelo setor de Petróleo e Gás, pretendeu-se investigar a eficiência anticorrosiva das substâncias sintetizadas por ensaios gravimétricos de perda de massa. Os resultados dos ensaios apontaram a seguinte ordem crescente de eficiência de inibição: 11b (-CH3) < 11a (- H) < 11c (CF3), com eficiências variando de 50,2 a 84,7 %. Os dados de grau de cobertura θ e concentração do inibidor ajustaram-se ao modelo de adsorção de Langmuir, indicando adsorção em monocamada (Gráfico 1). Já os parâmetros termodinâmicos Kads e ΔGads (Tabela 1), incidiram a espontaneidade do processo e a natureza das interações, sendo tanto fisissorção quanto quimissorção tendo em vista os valores intermediários de ΔG°ads, de -29,9 a - 32,8 kJ/mol. A Figura 1 destaca algumas das possíveis interações das substâncias 11a-c na superfície de aço carbono, considerando meio de ácido.







Conclusões

Por conseguinte, conclui-se que substâncias 11 a-c são potenciais inibidores de corrosão para aço-carbono em HCl 1 mol/L, com destaque para o derivado inédito 11c (-CF3) que, mesmo em concentrações mais baixas, apresenta eficiência superior ao inibidor comercial benzotriazol e a diversos inibidores relatados na literatura.

Agradecimentos

PIBIC/CNPq, CAPES, PPGQ-UFF

Referências

AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE. Treatment in Oil and Gas Operators. American Petroleum Institute, p. 1–5, 2014.
ASTM. Standard Practice for Preparing, Cleaning, and Evaluating Corrosion Test Specimens. Designation: G1-03. ASTM Special Technical Publication, p. 505–510, 2017
BOECHAT, N. et al. Design and synthesis of new N-(5-Trifluoromethyl)-1H-1,2,4-triazol-3-yl benzenesulfonamides as possible antimalarial prototypes. Molecules, v. 16, n. 9, p. 8083–8097, 2011.
CALDONA, E. B. et al. Corrosion inhibition of mild steel in acidic medium by simple azole-based aromatic compounds. Journal of Electroanalytical Chemistry, p. 114858, 2020.
CARNEVAL, R. DE O. Inspeção de mecanismos de danos. IBP, p. 91–94, 2021.
FRAUCHES-SANTOS, C. et al. A Corrosão e os Agentes Anticorrosivos. Revista Virtual de Quimica, v. 6, n. 2, p. 293–309, 2014.
GENTIL, V. Corrosão. p. 30- 45,132- 137,181- 191,728-731, 2017.
INSITUTO AÇO BRASIL. Mercado Brasileiro do Aço. Análise setorial e regional. p. 39, 2020.
JABOR, V. A. P. et al. Comparative study between the anti-P. falciparum activity of triazolopyrimidine, pyrazolopyrimidine and quinoline derivatives and the identification of new PfDHODH inhibitors. European Journal of Medicinal Chemistry, p. 112941, 2020.
KHARBACH, Y. et al. Anticorrosion performance of three newly synthesized isatin derivatives on carbon steel in hydrochloric acid pickling environment: Electrochemical, surface and theoretical studies. Journal of Molecular Liquids, v. 246, p. 302–316, 2017.
NACIRI, M. et al. Exploring the potential of a new 1 , 2 , 4-triazole derivative for corrosion protection of carbon steel in HCl : A computational and experimental evaluation. Colloids and Surfaces A, v. 597, n. November 2019, p. 124604, 2020.
WORLD STEEL ASSOCIATION. Total production of crude steel. Disponível em: <https://worldsteel.org/steel-by-topic/statistics/annual-production-steel-data/P1_crude_steel_total_pub/CHN/IND>. Acesso em: 23 abr. 2022.

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau