• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Síntese por fusão alcalina de sodalita a partir de argila de lavagem de bauxita

Autores

Almeida, A.L. (UFOPA) ; Bastos, K.F. (UFOPA) ; Couto, N.A.F. (IFPA/PPGMAT) ; dos Reis, B.R. (IFPA/PPGMAT) ; Ferreira, R.K. (IFPA/PPGMAT) ; Saldanha, L.S. (UFPA/CAMPUS ANANIDEUA) ; Figueira, B.A.M. (IFPA/PPGMAT)

Resumo

Neste trabalho, Ba-sodalita foi obtida com sucesso e sem impurezas por fusão alcalina seguido de tratamento hidrotermal empregando-se argila de bauxita da Amazônia como fonte barata de alumínio e silício. Este resíduo é gerado por processos de beneficiamento de bauxita através de lavagem do corpo de minério. Após o processo de síntese e trocaiônica, Ba-sodalita foi caracterizada por DRX, FTIR e MEV, mostrando assim que um subproduto industrial pode ser transformado em um material de valor agregado.

Palavras chaves

Amazônia; Rejeitos de bauxita; zeolita

Introdução

Sodalita é um dos mais conhecidos minerais do grupo das zeolitas, sendo descrito pela primeira vez por Thomson e Pauling em 1811. Sua composição química é Na8(AlSiO4)6Cl2 e sua estrutura em porosa motivaram sua obtenção em laboratório uma vez que é grande o leque de aplicações em melhoramento de solos, remediação de águas residuais, adsorvente iônico na remoção de metais pesados, peneiras moleculares, dentre outros. Sua estrutura consiste no compartilhamento das subunidades SiO4 e AlO4, que formam cavidades e canais interconectados, em que as entradas e saídas são controladas por anéis formados a partir de seis membros tetraédricos, com diâmetro cinético de abertura 2,65Å, podendo apresentar uma grande variedade de composições, se inserindo na categoria de clatratos, zeólitas efeldspatóides (Corma, 1997, Carvalho, 2011; Cejka et al, 2011; Hildebrando, 2012; Melo, Paz e Angelica, 2017). Embora os materiais zeoliticos sejam tradicionalmente sintetizada por reagentes comerciais, nas últimas duas décadas observa-se um aumento de uso de materiais de origem natural como fonte de Al e Si (caulim, rejeitos de caulim, cinza volátil, cinza de casca de arroz e lama vermelha), que tem a vantagem de contribuir para a preservação do meio ambiente agregando valor a um subproduto do setor industrial (PAZ, ANGÉLICA, NEVES, 2010; Nascimento, 2013; Maia, Angelica e Neves,2008) Neste trabalho investigou-se a possibilidade de reaproveitamento de argila de lavagem de bauxita da Amazônia través da sua conversão em material zeolítico por meio de fusão alcalina e síntese hidrotermal.

Material e métodos

O processo de síntese iniciou com a purificação de caulinita presente no subproduto, que após fusão alcalina e tratamento hidrotermal acima de 90ºC foi transformada em um material nomeado como Ka-zeo-sod, que após processo de troca iônica com BaCl2, foi lavado varias vezes com agua deionizada, secado e pulverizado, gerando um segundo produto (Ka-zeo-sod-1m). As caracterizações foram feitas em difratômetro de raios-X, modelo D2-phaser (Bruker), tubo de cobre(CuKa = 1.5406 Å) de 400 W de potência, tensão de 30 kV e 10mA, respectivamente. Os espectros de infravermelho no médio (4000 a 400 cm-1) foram obtidos utilizando-se pastilhas prensadas a vácuo contendo 0,200 g de KBre 0,0013 g de amostra pulverizada e um espectrômetro de absorção molecular na região IV com transformada de Fourier da Bruker, modelo Vertex 70. A caracterização morfológica do produto final foi por MEV/EDS através da sua metalização com ouro. O microscópio utilizado foi da da marca LEO-Zeiss, 430 Vp, em condições de análise utilizando imagens secundárias obtidas a 20 KV, com distância de trabalho de 11 mm.

Resultado e discussão

Os padrões DRX e IV das amostras zeolíticas obtidas por fusão alcalina (Ka- ZeoSod) e troca catiônica (Ka-ZeoSod-1m) são apresentados na Fig. 1. Para caracterização por DRX (Fig. 1a), Ka-ZeoSod mostrou picos bem definidos a13,81°, 24,04°, 34,27°, 42,31°, 51,41° (2 theta), que corresponderam aos planos (110), (211), (222), (330) e (431) de sodalita cúbica (PDF 01-082-1812). Os mesmos picos da fase sodalita trocada com Ba2+ permaneceram na amostra KaZeoSod- 1m, indicando preservação da estrutura zeolitica. O espectro FTIR de Ba-sodalita (Fig 1b) mostrou As bandas em torno de 444, 555, 613 e 664 foram bem correlacionadas a sodalita, pois referem-se as unidades TO4 (T=Si ou Al) com ligações do tipo Si-O-Si, Si-O-Al ou Si-O na estrutura (Mozgawa et al., 2011). A banda em torno de 989 cm-1 é referente a ligação Si-O-Al do tetraedro TO4 de unidades primárias de construção (MAIA et al., 2007; SELIM et al., 2004). De acordo com Felshe et al. 1987, a presença do grupo funcional OH- (bandas situadas entre 3500 e 3400 cm-1) nestas amostras, revelam a presença de água zeolítica, e caracterizam a presença da sodalita básica. A presença de H2O livre é observada pelas bandas nas regiões entre 3500 e 3000 cm-1 e 1646 cm-1. A inserção de cátions de Ba2+ não modifica a estrutura de sodalita. A fotomicrografia de Ba-sodalita (Ka-ZeoSod-1m) é apresentada na Fig. 2. Conforme observado, um glomerado de glóbulo sem tamanho padrão e dispersos aleatoriamente indicaram uma nítida mudança morfológica em relação a matriz argilosa descrita anteriormente. O tamanho médio dos cristais foi em torno de 1 μm. Vale ressaltar que o tempo de agitação pode influenciar na morfologia e tamanho dos cristais.

Fig. 1

Padrões de difração de raio X das amostras Ka-ZeoSod e Ka-ZeoSod-1m (a) e espectro FTIR de Ka-ZeoSod-1m (b)

Fig. 2

Fotomicrografia eletrônica de varredura de Ba- sodalita (Ka-ZeoSod-1m)

Conclusões

De acordo com os resultados obtidos, pode-se afirmar que argila de lavagem de bauxita se transformou com sucesso em material de grande importância tecnológica, sodalita, mostrando dessa forma uma nova fonte barata e abundante para obtenção de zeolita.

Agradecimentos

Os autores agradecem a CAPES, CNPQ, UFOPA, LCM (IFPA), LAMIGA (UFPA) e CETENE pelo apoio financeiro e analítico que permitiram a execução deste trabalho.

Referências

CARVALHO, Alexandre. Estruturas e classificação das zeólitas. In: DE CARVALHO, Alexandre. Sintese de zeólita "A" a partir de diatomita como fonte de alumino silicato. 2011. Dissertação (Mestrado em engenharia de materiais) – UFRN.
CEJKA, J.; BEKKUM, H. V.; CORMA, A.; SCHUTH, F. (Eds.). Introduction to Zeolite Science and Practice. 3 ed. rev.
Amsterdam: Elsevier, 2007.
CORMA, A. From microporous to mesoporous molecular sieve materials and their use in catalysis. Chemical Reiews, v. 97, n. 6, p. 2373-2420, 1997.
HILDEBRANDO, Edemarino. Síntese de zeólita tipo faujasita de caulim da Amazônia como fonte de silício e alumínio: aplicação como adsorvente. 2012. Tese (Doutorado em engenharia) - Universidade de São Paulo.
NASCIMENTO , Letícia. Síntese de zeólitas a partir do rejeito gibbisítico-caulinítico do beneficiamento de bauxita de Paragominas-Pa. 2013. Trabalho de conclusão de curso (Bacharel em Engenharia de Materiais) – UFPA.
PAZ, S. P. A. da. SIMÕES, R. NEVES, R de F. Síntese Hidrotermal de Sodalita básica a partir de um rejeito de caulim termicamente ativado Química. Nova, Vol 33, No. 3, 579-583, 2010
Melo, Caio César Amorim; Paz, Simone Patrícia Aranha; Angélica; Rômulo Simões. Fases sodalita formadas a partir de caulinitas amazônicas sob condições de digestão Bayer. Materia, v. 22, n. 3, 2017
A. A. B. Maia; R. S. Angélica; R. F. Neves. Estabilidade térmica da zeólita A sintetizada a partir de um rejeito de caulim da Amazônia. Cerâmica, v. 54, 331, 2008.

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