• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

SILENCIAMENTO GÊNICO EM MICROALGAS MEDIADO POR NANOPARTÍCULAS CARREADORAS DE OLIGONUCLEOTÍDEO ANTISENSE

Autores

Sandoval-salazar, I.A. (CENTRO DE ENERGIA NUCLEAR NA AGRICULTURA, USP) ; Aratboni, H.A. (CENTRO DE ENERGIA NUCLEAR NA AGRICULTURA, USP) ; Rafei, N. (CENTRO DE ENERGIA NUCLEAR NA AGRICULTURA, USP) ; Winck, F.V. (CENTRO DE ENERGIA NUCLEAR NA AGRICULTURA, USP)

Resumo

Atualmente há um interesse em tecnologias de modulação da expressão genica em microalgas com foco em aplicações biotecnológicas em cepas não-transgênicas de interesse comercial. A integração da nanotecnologia com a biologia molecular e de sistemas se apresenta como uma alternativa importante para o desenvolvimento de novas formas de uso e entrega intracelular de oligonucleotídeos antisense (OAS) em microalgas. No presente trabalho, nanopartículas de ouro foram utilizadas como carreadoras de OAS para silenciar transitoriamente o gene NAGS da microalga modelo C. reinhardtii. Nos diferentes tratamentos observou-se internalização do complexo OAS-AuNPs, com indução química. A liberação dos OAS foi feita por processo fototérmico resultando na diminuição da expressão genica do gene de interesse.

Palavras chaves

Nanopartículas; Genes; Silenciamento

Introdução

As nanopartículas de ouro (AuNPs) têm sido usadas como ferramenta molecular para entrega intracelular não viral de biomoléculas, tais como os oligonucleotídeos antisense (OAS) de DNA. Tais OAS podem formar um complexo com as nanopartículas de ouro (OAS-AuNPs) e um vez liberado o antisense no interior celular podem atuar na redução ou silenciamento da expressão gênica intracelular, modulando a expressão de proteínas específicas em células vegetais (PON ET AL., 2010; ROSSI, 2006). A partir das informações da sequência do RNA mensageiro do gene alvo, faz-se o desenho do oligonucleotídeo antisense que é sintetizado complementar a essa sequência alvo. O OAS uma vez entregue e liberado na célula alvo pode interagir com o transcrito gênico do gene alvo e inibir sua tradução ou induzir sua degradação (LEBEDEVA & STEIN, 2001). No entanto, existem limitações nos processos de entrega das moléculas de OAS à célula, relacionados a ligação à membrana celular e internalização celular do complexo OAS-AuNPs causadas pelas características inerentes das paredes celulares vegetais e sua complexa rede de biopolímeros, liberação de OAS ao citosol, ligação a um mRNA particular e clivagem dos duplexes OAS/mRNA para inibir ou reduzir a expressão da proteína de interesse. Nesse sense, esforços são necessários para desenvolver diferentes métodos que permitam a interiorização e transfecção mais eficiente mediada por nanopartículas em células vegetais (EL-ANEED, 2004; KARINAGA, 2006; ZHANG ET AL., 2021, ZUHORN, 2007). No presente trabalho, sintetizou-se nanopartículas de ouro que foram funcionalizadas com oligonucleotídeos sense (contendo grupo Tiol) e antisense (contendo fluoróforo Cy5) que atuam como um interruptor para o controle remoto da interferência gênica em células de microalgas. Como gene candidato ao silenciamento, selecionamos o gene que codifica a enzima N- Acetilglutamato sintase (NAGS) envolvida com o metabolismo de aminoácidos, crescimento e síntese lipídica na microalga Chlamydomonas reinhardtii. A liberação do OAS foi induzida por termogênese com luz LED azul, e a alteração na transcrição gênica verificada por PCR em tempo real.

Material e métodos

A microalga Chlamydomonas reinhardtii foi cultivada em condições mixotrópicas no meio de cultura líquido. A síntese de nanopartículas de ouro (AuNPs) foi realizada pelo método de redução de citrato (KIMLING ET AL., 2006), na qual utilizou-se uma solução 0.5 mM de cloreto áurico (AuCl3) e uma solução 38.8 mM de citrato de sódio. O processo de conjugação das AUNPs com os oligonucleotídeos sense (OS) marcados com tiol e antisense marcados com Cy-5 para o gene do N- Acetilglutamato sintase (NAGS) foram realizados primeiramente utilizando uma solução 50 mM de DTT em tampão de fosfato de pH 8.3 e foi misturado com 11 uL de OS para reduzir as ligações dissulfeto dos oligonucleotídeos e assim atingir a forma sulfidrila ativa. seguidamente foi adicionado a solução de tampão de fosfato de pH 6 para realizar a purificação das formas sulfidrila ativadas dos oligonucleotídeos usando colunas e adicionou-se 40 uL do buffer fosfato salino. Seguidamente foi misturada com 3 mL de AuNPs e deixou-se em incubação em agitação constante em escuridade durante 3 horas, dessa forma os foram ligados a traves do grupo tiol (-SH) na extremidade 3‘. Após a incubação foi adicionado 22 µL da solução com os OAS e foram incubados durante 2 minutos a 80 ºC e a 15 minutos a 65 ºC, finalmente foram incubadas em agitação constante em escuridade durante 3 horas. A caracterização tanto das nanopartículas como da funcionalização dos oligonucleotídeos foi realizada através de espectrofotometria com varredura de absorbância entre 230 nm e 900 nm. Três métodos de transfecção celular foram testados: Eletroporação a 500 V, 30 ms, indução quimica utilizando solução de sorbitol 60 mM e um kit comercialmente disponível (Max Efficiency, Thermo, EUA). finalmente, para verificar a eficácia dos métodos de transfecção na introdução de OAS, foram analisadas por microscopia confocal por fluorescência. A liberação dos OAS do complexo OAS- AuNPs dentro da microalga foi realizado através da indução fototérmica utilizando LEDs azul até atingir a temperatura de fusão das fitas sense e antisense (45.5 ºC). As amostras foram incubadas durante 1h e 2h após a transfecção, e logo submetidas a extração de RNA total usando o RNeasy® Plant Mini Kit (Qiagen, EUA). As amostras de RNA total foram tratadas com turbo DNaseI (RNase-free kit, Invitrogen™, USA) e 1ug de RNA total foi usado para a síntese do cDNA usando kit SuperScript™ IV (Invitrogen™, USA). A quantificação da expressão gênica foi feita por PCR em tempo real (RT-PCR) utilizando-se o SYBR Green dye master mix (Thermo, EUA) e sistema CFX384 (Bio-Rad, USA). As reações de RT-PCR foram realizadas em um volume total de 20 µl, com 10 µl SYBR Green PCR Master Mix, 1 µl de primer Forward e Reverse (1 µM), 100 ng de cDNA como molde (LIVAK & SCHMITTGEN, 2001). Os primers para os s gene Ubiquitina ligase (UBQ) e para região intergênica 13 (IGR13) foram usados como controle interno (genes de referência e de contaminação de cromossômica) para os ensaios de expressão.

Resultado e discussão

A Figura 1 mostra os resultados da síntese de nanopartículas de ouro e a conjugação de oligonucleotídeos sense e antisense na superfície das nanopartículas de ouro. Pode-se observar que tanto as nanopartículas de ouro quanto os oligonucleotídeos apresentaram os máximos picos de absorção entre 520-525 nm, indicando que o preparo das nanopartículas de ouro e conjugação de oligonucleotídeos antisense foram bem-sucedidos. No entanto, de acordo com as pesquisas realizadas por Marcel et al., (2021) podem-se apresentar pequenas diferenças entre os espectros de absorção das nanopartículas de ouro e a conjugação dos oligonucleotídeos gerando diminuição do máximo pico e picos em comprimentos de onda mais longos, evidenciando assim processos de agregação dos oligonucleotídeos nas nanopartículas. Observou-se com sucesso as células de microalgas após a transfecção com nanopartículas de ouro e oligonucleotídeos antisense-Nanopartículas de ouro. Os resultados indicam que os métodos testados permitiram a transfecção das células, mostrando que as nanopartículas de ouro podem se difundir através da parede e membrana celular por difusão passiva e podem também ser incorporadas pela célula por eletroporação. No entanto, a eletroporação afeta e deteriora a estrutura celular, podendo causar a morte celular, gerando uma diminuição da concentração celular após o evento de transfecção. A distribuição das nanopartículas de ouro nas células é um fator importante para identificar o efeito biológico de acordo com os objetivos da sua aplicação. No entanto, o tamanho do complexo OAS-AuNPs tem uma relação direta com a sua distribuição intracelular, no caso do silenciamento gênico com os OAS, devem-se localizar no citoplasma pelo qual de acordo com diferentes pesquisas AuNPS de 15-20 nm foram encontradas no citoplasma e não conseguiram atingir uma penetração mais profunda. Em nosso caso, o tamanho aproximado de 20nm das OAS-AuNPs obtidas nos permite realizar a função de interesse de inibição citoplasmática de NAGs. As AuNPs de 15-20 nm podem-se internalizar por difusão direta facilitando a sua penetração nas células, no entanto, tamanhos superiores de 45 nm precisam ser internalizadas por endocitose as quais depende de diferentes vias endocíticas (GONG ET AL., 2015; HUANG ET AL., 2012; OH ET AL., 2011; WANG ET AL., 2010). Foi realizado com sucesso a entrega dos oligonucleotídeos antisense mediante processo fototérmico usando LED azul, onde a temperatura nas amostras foi aumentando 5 ºC por minuto até atingir a temperatura de fusão do gene NAGs a qual é 45.5 ºC. Após atingir essa temperatura, as amostras foram incubadas em condições de cultivo mencionadas e foi realizado a extração do RNA total cuja qualidade foi analisada através da eletroforese em gel e utilizado finalmente para a síntese do cDNA. A Figura 2 apresenta as curvas de amplificação em relação ao número do ciclo de PCR obtidos pelo PCR em tempo real, foram realizados testes em triplicata para cada hora de incubação após a liberação do oligonucleotídeo antisense. Observou-se mudanças nas curvas de amplificação e aumento do valor de ciclo de quantificação (CQ) de 20,37 ± 0,07 para 22,87 ± 0,1 para as diferentes amostras, obtidas após 1 hora e 2 horas da liberação do oligonucleotídeo antisense indicando que houve redução da quantidade de transcritos para NAGS e possível diminuição da expressão gênica do gene NAGS. Novos testes estão sendo feitos para análise de tempos maiores de liberação de antisense e respostas de redução do conteúdo de transcritos do gene alvo.

Figura 1.

Síntese de AUNPs e conjugado de DNA oligonucleotídeo sense e antisense

Figura 2.

Curvas de amplificação em relação ao número do ciclo de PCR. (A) Controle sem OAS-AuNPs; (B) 1 h da liberação do OAS; (C) 2 h da liberação do OAS.

Conclusões

As nanopartículas de ouro funcionalizadas com oligonucleotídeos sense e antisense podem ser usados para processos de redução de expressão de genes em microalgas Chlamydomonas reinhardtii. As nanopartículas são uma fonte promissora de transporte de moléculas de DNA que, dependendo da natureza das AuNPs e de sua concentração, não geram problemas de toxicidade para as microalgas. Para a internalização de OAS-AuNPs em microalgas não são necessários processos físicos externos, pois por difusão direta conseguem penetrar na membrana celular, tornando-se um mecanismo promissor para aplicações biotecnológicas com controle transiente da expressão gênica de genes alvo, sem a necessidade de produção de cepas geneticamente modificadas ou mutantes constitutivos. A entrega dos oligonucleotídeos antisense a partir de processo fototérmico permitiu obtenção de cepas com diminuição da abundância do transcrito para o gene NAGS 2h após a entrega do oligonucleotídeo antisense.

Agradecimentos



Referências

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