• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Avaliação das propriedades reológicas de misturas polihidróxibutirato/policaprolactona

Autores

Cavalcante, M.P. (UFRJ) ; Menezes, L.R. (UFRJ)

Resumo

Nesse trabalho foi avaliado a influência da proporção de policaprolactona na morfologia e propriedades viscoelásticas de misturas polihidróxibutirato/policaprolatona. As misturas foram preparadas nas proporções 90/10 e 70/30 em câmara de mistura e moldadas por compressão. Essas misturas poliméricas foram caracterizadas por microscopia (SEM) e reologia. Por SEM foi verificado a morfologia matriz-fase dispersa para todas misturas, com aumento do tamanho da fase dispersa em função da proporção de PCL na mistura. Por reologia foi verificado um comportamento diferenciado para a mistura 70/30 em que se observou maiores valores de viscosidade complexa e módulo de armazenamento, quando comparado ao PHB e 90/10. Tal comportamento pode ser relacionado a aumento da proporção e diâmetro da fase PCL.

Palavras chaves

Polihidróxibutirato; Misturas Poliméricas; Reologia

Introdução

O preparo de misturas poliméricas é uma estratégia importante no desenvolvimento de materiais poliméricos para uso comercial. Esse manejo é bastante atrativo devido a possibilidade de combinar as propriedades dos polímeros, sendo mais atrativo economicamente quando comparado a síntese de novos polímeros. Essas misturas poliméricas podem ser classificadas como miscíveis, parcialmente miscíveis e imiscíveis, sendo em maior parte dos casos imiscíveis. Misturas imiscíveis apresentam separação de fases e com baixa adesão, o que comumente leva a materiais com baixas propriedades mecânicas (XIE et al., 2015; TAMIYA et al., 2020). O poli(3-hidroxibutirato) (PHB) é um poliéster de origem natural, sintetizado por microorganismos .Esse polímero é tem sido bastante investigado para diversas aplicações como por exemplo embalagens e biomateriais devido a biodegradabilidade, biocompatibilidade e alto desempenho mecânico (DHAR et al., 2015; DEGLI ESPOSTI et al., 2019; MCADAM et al., 2020) No entanto, sua baixa resistência ao impacto, devido a elevada cristalinidade e baixa janela de processamento dificultam a aplicação desse polímero. A mistura do PHB com um polímero mais flexível, como a policaprolactona (PCL), pode ser uma estratégia interessante para melhoria dessas características (GARCIA-GARCIA et al. 2016; CHEN et al., 2017). Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi a obtenção e avaliação da morfologia e propriedades reológicas de misturas PHB/PCL.

Material e métodos

Inicialmente, o PHB (PHB Industrial S/A Biocycle®, Mw = 229.411 g mol-1, dispersidade = 3,35) e PCL (easycomposites, Mw, 86.576 g mol-1, dispersidade = 1,86) foram secos em estufa por 12 horas, respectivamente, a 80°C e 40°C, para remoção de umidade residual. As misturas de PHB e PCL foram preparadas em uma câmara de mistura Rheomix 600 acoplada a um reômetro de torque Haake Rhecord 9000, utilizando rotores do tipo Roller. Os sistemas foram preparados a 160°C e 100 rpm por 10 minutos. Os polímeros puros também foram processados nas mesmas condições. Os sistemas foram moldados por compressão utilizando um molde de 100x100x1 mm em uma prensa hidráulica Carver a 180°C a 3500 psi por 5 minutos, permanecendo por mais 5 minutos em outra prensa a 30°C para refrigeração do material. Os filmes foram fraturados criogênicamente e a fase de PCL foi extraída com acetona a 50°C por 48 horas para a caracterização por microscopia eletrônica de varredura (SEM) Hitachi (TM3030 Plus). As superficies fraturadas dos filmes foram recobertas com ouro (30 mA por 150 s) e as imagens foram obtidas operando a 15 kV. Análises de reológicas em regime oscilatório foram realizadas em um reômetro AR2000 da TA Instruments, utilizando geometria de placas paralelas com um diâmetro de 25 mm, gap de 1 mm a 190°C. A região viscoelástica linear do material foi determinada em ensaio de varredura de deformação de 0.01% a 600% em 1 Hz. A varredura de frequência foi realizada na faixa de 0,06283 a 565.5 rad/s em 2.0% de deformação para determinação da viscosidade complexa (|η*|) e módulo de armazenamento (G’).

Resultado e discussão

A morfologia das misturas PHB/PCL foi avaliada por SEM (Figura 1a) e foi verificado a morfologia do tipo matriz-fase dispersa em que os domínios esféricos dispersos são relativos a PCL. A presença de duas fases, confirma a imiscibilidade das misturas. Foi observado uma baixa adesão entre as fases devido a tensão interfacial. Também foi verificado um aumento do diâmetro e distribuição de tamanhos da fase dispersa com o aumento da proporção de PCL. Quanto a |η*| (Figura 1b), as misturas poliméricas exibiram um comportamento pseudoplástico similares ao PHB. A mistura 90/10 apresentou uma curva bem semelhante à do PHB. Por outro lado, a mistura 70/30 apresentou maiores valores, se aproximando aos valores da PCL. Isso pode estar relacionado com a deformação dos domínios esféricos passando a elipses até coalescerem. As misturas PHB/PCL exibiram um comportamento de G’ similar a dos polímeros puros, porém com uma dependência da fração de PCL (Figura 1c). Ambas misturas exibiram valores de G’ maiores que o PHB em baixas frequências, indicando um aumento do comportamento elástico. A mistura 90/10 exibiu comportamento intermediário ao dos polímeros puros, enquanto a 70/30 apresentou G’ ligeiramente maior que da PCL, em baixas frequências, bem como a presença de um ombro. Esse fenômeno é relacionado a relaxação da fase dispersa pois devido a área e energia de interface são alteradas periodicamente, apresentando maiores tempos de relaxação do que os polímeros puros. Esse comportamento é mais acentuado para 70/30 possivelmente devido a uma maior quantidade de fase dispersa (SANGRONIZ et al., 2021). Na plotagem cole-cole (Figura 1d) foi observado o comportamento típico de misturas imiscíveis, em que foi verificado a presença de dois semicírculos relativo a relaxação dos PHB e da PCL.

Figura 1

Micrografia eletrônica de varredura (a), viscosidade complexa (b), módulo de armazenamento (c) e plotagem cole-cole (d) das misturas PHB/PCL

Conclusões

Com base nos resultados foi possível confirmar a imiscibilidade de mistura PHB/PCL devido a morfologia do tipo matriz-fase dispersa. Também foi verificado uma baixa adesão entre as fases e o aumento de diâmetro com a aumento da proporção de PCL. Por meio das análises reológicas também foi confirmado a imiscibilidade e morfologia da mistura por meio do ombro observado em G’ e os dois semicírculos pela plotagem cole-cole. A mistura 70/30 apresentou maiores valores de |η*| e G’, que pode estar relacionado com o maior diâmetro da fase dispersa.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano (IMA/UFRJ)

Referências

CHEN, J.; WANG, Y.; YIN, Z.; TAM, K. C.; WU, D. Morphology and mechanical properties of poly (β-hydroxybutyrate)/poly (ε-caprolactone) blends controlled with cellulosic particles. Carbohydrate polymers, v. 174, p. 217-225, 2017.
DEGLI ESPOSTI, M.; CHIELLINI, F.; BONDIOLI, F.; MORSELLI, D.; FABBRI, P. Highly porous PHB-based bioactive scaffolds for bone tissue engineering by in situ synthesis of hydroxyapatite. Materials Science and Engineering: C, v. 100, p. 286-296, 2019.
DHAR, P.; BHARDWAJ, U.; KUMAR, A.; KATIYAR, V. Poly (3‐hydroxybutyrate)/cellulose nanocrystal films for food packaging applications: Barrier and migration studies. Polymer Engineering & Science, v. 55, n. 10, p. 2388-2395, 2015.
GARCIA-GARCIA, D.; FERRI, J. M.; BORONAT, T.; LÓPEZ-MARTÍNEZ, J.; BALART, R. Processing and characterization of binary poly (hydroxybutyrate)(PHB) and poly (caprolactone)(PCL) blends with improved impact properties. Polymer Bulletin, v. 73, n. 12, p. 3333-3350, 2016.
MCADAM, B.; BRENNAN FOURNET, M.; MCDONALD, P.; MOJICEVIC, M. Production of polyhydroxybutyrate (PHB) and factors impacting its chemical and mechanical characteristics. Polymers, v. 12, n. 12, p. 2908, 2020.
SANGRONIZ, L.; GANCHEVA, T.; FAVIS, B. D.; MÜLLER, A. J.; SANTAMARIA, A. Rheology of complex biobased quaternary blends: Poly (lactic acid)[poly (ethylene oxide)]/poly (ether-b-amide)/poly (amide 11). Journal of Rheology, v. 65, n. 3, p. 437-451, 2021.
TAMIYA, T.; CUI, X.; HSU, Y. I.; KANNO, T.; ASOH, T. A.; UYAMA, H. Enhancement of interfacial adhesion in immiscible polymer blend by using a graft copolymer synthesized from propargyl-terminated poly (3-hydroxybutyrate-co-3-hydroxyhexanoate). European Polymer Journal, v. 130, p. 109662, 2020.
XIE, X.; BAI, W.; WU, A.; CHEN, D.; XIONG, C.; TANG, C.; PANG, X. Increasing the compatibility of poly (l‐lactide)/poly (para‐dioxanone) blends through the addition of poly (para‐dioxanone‐co‐l‐lactide). Journal of Applied Polymer Science, v. 132, n. 4, 2015.

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